Causa Perdida? escrita por Gabriela Maria


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Depois do trauma com o Word, aqui está o novo capítulo, saído do forno (literalmente acabei de digitar nesse minuto). Peço mil desculpas pelo atraso mais uma vez. E espero que tenham piedade quando lembrarem que tive de digitar o mesmo trecho duas vezes. Espero postar o próximo em menos tempo. Perdão pela demora outra vez.

Boa leitura, pessoal!



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No dia seguinte, a maioria dos alunos deixou a escola para passar as férias de Natal com a família. Para Lily, o momento mais estranhamente feliz do feriado foi, sem dúvidas, quando James cumpriu uma promessa na qual ela jamais acreditara e telefonou para sua casa na noite de Natal. Petúnia, que, no fim das contas, concordara em passar o recesso com os pais, ficou horrorizada quando atendeu o telefone e ouviu:

– Oi. Meu nome é James Potter e eu estudo com a Lily. Será que posso falar com ela por um instante? – e depois de ela ter murmurado uma atrapalhada confirmação: – Obrigado. Ah! E feliz Natal!

– James?! – Lily indagou logo que Petúnia lhe passou o telefone.

– Feliz Natal, ruivinha! – ela riu tolamente.

– Meu Deus, James, a Petúnia não para de me encarar! – ele riu também.

– Eu nem sabia que era ela no telefone. Se soubesse teria dito umas verdades.

– Nem brinque com isso – Lily censurou. Ele claramente não se importou.

– Relaxe. Eu fui todo educado.

– Falando nisso, como você aprendeu a usar o telefone mesmo?

– Assisti a todas aquelas aulas de Estudo dos Trouxas por sua causa, Evans, agora é sua vez de fazer um esforço – Lily riu, adorando a confissão.

– Que tipo de esforço?

– Minha mãe não para de dizer que você precisa nos visitar. E eu concordo – isso a preocupou um pouco.

– Sua mãe? Então você já contou tudo aos seus pais? – James confirmou.

– Não podia?

– Claro que podia. Eu só... – Lily olhou de relance para os próprios pais, que estavam conversando animadamente entre si. – Bem, mamãe sempre disse que eu reclamava demais de você para não se importar, então acho que ela nem vai ficar surpresa – James riu do outro lado da linha.

– Eu chamaria todos vocês para passarem um dia aqui, mas mamãe está doente outra vez. Descobri quando cheguei de Hogwarts. Ela disse que você será convidada assim que ela estiver em condições de receber visitas outra vez.

– Que pena. Espero que ela melhore logo.

– É... – ele não soou muito seguro. – Vamos esperar.

– Feliz Natal, James. Mande meus votos para os seus pais também. E para o Sirius, claro!

– Com certeza. Feliz Natal, Lily. Mande lembranças para a sua família também.

Contudo, apesar da satisfação de provar para Petúnia que os bruxos não eram monstros insensíveis ao Natal, Lily teve o feriado mais turbulento de sua vida nos dias seguintes. E a culpa nem era de Petúnia.

A mãe de James simplesmente faleceu no final de dezembro, numa tarde fria de nevasca, e Lily teve de aparatar pela primeira vez na vida assim que recebeu o patrono de Sirius para comunicar o ocorrido. Foi horrível chegar à mansão dos Potter para ver dezenas de bruxos mais velhos com trajes escuros e expressões deprimentes. Felizmente, Sirius a recebeu logo que ela aparatou na calçada.

– O Pontas está lá em cima – ele informou. – Talvez você consiga acalmá-lo...

Lily percebeu que ele também estava com os olhos vermelhos e a expressão abatida. Lembrou pela primeira vez que Sirius tratava os Potter como se eles fossem sua própria família. Segurou a mão do amigo em solidariedade.

– Sinto muito, Sirius – ele esboçou um sorriso sem graça.

– Peter deve estar a caminho. Remo, como você sabe, ficou em Hogwarts para o Natal, mas talvez ele dê um jeito de vir para o cerimonial.

– Sirius – Lily chamou quando ele fez menção de caminhar para dentro da casa. – Obrigada por me avisar – ela tinha de admirar a capacidade dele de conjurar feitiços complexos numa situação daquelas. Sirius apenas assentiu em resposta.

– Vamos logo. O Pontas não está muito normal.

E então veio a pior parte, que foi ver James chorar como um menino enquanto explicava entre soluços a Lily que a tal doença tinha se complicado de repente há cerca de dois dias.

– Ela já não era tão nova – James disse. – Isso dificultou. E foi tudo de uma hora para outra... Ontem a febre alta voltou, mas ela não quis ir para o Saint Mungus. Então quando papai foi acordá-la hoje para o almoço...

Durante quase uma semana, incluindo a noite de Ano Novo, Lily se dedicou a ajudar James em tudo o que podia. Desde comunicar a familiares e amigos sobre o falecimento da sra. Potter até ajudar diretamente em preparativos para o enterro. Foi ela quem falou com a professora McGonagall pela lareira para convencê-la a deixar que Remo fosse para o enterro. Ela também conseguiu permissão para que James e Sirius voltasse a Hogwarts algum tempo depois da data prevista.

Enquanto isso, os garotos cuidavam do sr. Potter.

– Ele vai morrer junto! – James esbravejou, na véspera de Lily voltar para Hogwarts. Ela estava na sala de estar com Sirius, aproveitando a última tarde do recesso. Os dois se viraram para ver James descendo as escadas, irritado.

– O que houve? – Sirius disparou, alerta.

– Papai não come, não dorme direito, não faz nem a barba! E toda hora que chego no quarto ele está com aquele maldito uísque de fogo!

– Ele não aceitou o sanduíche que você levou então – Lily concluiu baixinho. James bufou enquanto ia até o sofá para sentar ao lado dela.

Ele escondeu o rosto nas mãos e não disse mais nada. Lily ficou com o coração apertado, incapaz de pensar em algo que o ajudasse. Trocou um olhar com Sirius, mas ele apenas encolheu os ombros e saiu da sala. Finalmente, Lily tocou as costas de James com cuidado.

– Ele só está abalado, James. É normal. Daqui a pouco ele vai se cuidar de novo.

Não houve resposta.

– James...

Lily apoiou a testa no ombro dele. Sentiu uma mão de James apertando a sua.

– Não estou pronto para fazer isso sozinho – ele sussurrou.

– Você não está sozinho – Lily garantiu. – Eu estou bem aqui.

Ele fungou. Ela arriscou um beijo em seu rosto.

– Estou com você para tudo, James. Sempre.

James finalmente a olhou. Ele estava com os olhos vermelhos e marejados, mas parecia profundamente agradecido. Lily não conseguia se acostumar a vê-lo tão vulnerável.

– O que você disse a seus pais mesmo? – ela deu de ombros.

– A verdade: que meu namorado precisa de ajuda e que isso é muito importante para mim – por um segundo, ele quase sorriu.

– Imagino a impressão que eles têm de mim – Lily encostou a testa na dele.

– Você vai ficar bem, James Potter. Seu pai vai ficar bem. E, ainda que você não acredite que o mundo inteiro vai entrar nos eixos um dia, eu vou te dizer uma coisa muito séria – ela se afastou para olhá-lo nos olhos. – Eu amo você e nós dois já estamos muito bem, ok? – ele assentiu lentamente., a expressão maravilhada.

Lily o encarou por um longo momento, até que James se inclinou um pouco e a beijou. Ela retribuiu o beijo enquanto ele segurava seu rosto com carinho. James soltou sua mão para passar um braço por sua cintura. Pela primeira vez, naquele beijo, ela se deu conta do que acabara de dizer.

– Você disse que me ama – James murmurou após um tempo, com o rosto junto do dela. Lily deu um risinho nervoso. Não tinha pensado nas consequências de nada disso antes de falar. Mas James parecia calmo. Ele fechou os olhos despreocupadamente. – Foi a melhor coisa que eu já ouvi.

Lily sentiu o coração batendo com força no peito.

– Sonhei com esse momento por sete anos, Lily, e ele chegou quando eu mais precisava – James abriu os olhos enfim. Lily estava corada e despreparada enquanto o encarava. – E você nem imagina o quanto eu te amo por ter me dito isso justo agora. Por ter me feito esperar sete anos.

Ela sorriu, aliviada. Ao menos, James já tentava fazer piada. Sentiu um tipo completamente novo de alívio quando ele a beijou de novo.

– Amo você, Lily...

Ele falou com a boca junto da dela e foi naquele momento que Lily Evans percebeu, com todo o seu raciocínio, que ela tinha falado a verdade. Não precisava repetir nada para que James acreditasse. Algo na forma como ele a beijava agora já deixava claro que ele estava convencido.

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Por causa de todas as pendências sobre a morte da sra. Potter, James só voltou para Hogwarts alguns dias depois dos outros alunos, num fim de semana. Sirius, que o estivera acompanhando o tempo todo, entrou primeiro no salão comunal e ofereceu um sorriso cansado para Alice e Frank, que estavam estudando perto de uma janela. James veio logo depois.

– Finalmente! – ofegou Alice, correndo para cumprimenta-los. – A Lily já estava impaciente, James.

James sorriu, assanhando os cabelos.

– Ela não está por aqui?

– Não, mas eu vou chama-la no dormitório. Só um instante!

Ela correu escada acima enquanto Frank se aproximava dos amigos. James sentia uma afeição enorme por aqueles dois. Na verdade, quase todos os seus amigos de Hogwarts tinham comparecido ao funeral de sua mãe. Melanie, que passara o recesso com a família na França, e Claire, que não pudera sair de Hogwarts por motivo de segurança, tinham lhe enviado longas cartas de apoio. Por fim, havia Sirius, que cuidava do sr. Potter como se ele fosse seu próprio pai. James jamais conseguiria agradecer o suficiente a todos eles. Especialmente porque a notícia já se espalhara pela escola e era sempre bom saber que ele estaria cercado de pessoas queridas.

– E aí, sumido? – Marlene entrou no salão comunal, sorrindo e acenando para James. Demorou, hein?!

– Oi, Lene – eles se abraçaram demoradamente. Quando se afastaram, os olhos de Marlene caíram em Sirius.

– Oi, Black.

Não era o mesmo “Black” que ela sempre usava. Era um “Black” cheio de frieza, dito com ar de repreensão, verdadeiro demais para ser ensaiado. James teve certeza de que Sirius também percebera.

– Marlene – ele respondeu sem graça. Alguém pigarreou atrás dela.

– Potter – era McLaggen. – Eu soube do que houve. Vi um obituário no Profeta há alguns dias – ele deu um passo à frente e estendeu uma mão para James. – Sinto muito.

– Obrigado, McLaggen.

Durante o aperto de mãos, James quis olhar para Sirius e dizer que ele virasse homem para pedir desculpas a Marlene. Mas ele não disse nada, porque sabia que, naquele momento, Sirius já estava arrependido o suficiente. Ele lhe contara sobre sua conversa desastrosa com Marlene e parte de James detestava saber que McLaggen estava sendo mais digno da garota do que seu melhor amigo.

– James! Até que enfim!

Ele se virou para Lily e sorriu, aliviado por poder sair de perto daquele triângulo amoroso esquisito. Abriu os braços sem hesitar e sentiu um solavanco gostoso no estômago quando Lily o abraçou. Ela dominava o estranho poder de acalmá-lo.

– Demorei muito? – ele perguntou baixinho.

– Talvez não, mas eu senti saudades.

Com o passar dos dias, todos estavam de volta à velha rotina. A crise entre Sirius e Marlene, porém, eventualmente se tornou indisfarçável. Ainda havia momentos em que um ou outro tentava voltar ao clima descontraído que existia entre eles, mas, no geral, eles se tratavam com excessivas cautela e educação. Marlene não se esforçou para esconder sua revolta, como se realmente quisesse dificultar as coisas. Contudo, o que todo mundo queria saber era se McLaggen estava a par dos últimos acontecimentos.

– Não se preocupem – Marlene garantiu a Lily, Alice e Claire, depois de uma aula de Herbologia. – Está tudo sob controle.

Ela evitava tratar do assunto desde quando as garotas finalmente a fizeram contar o que exatamente tinha acontecido. Durante alguns momentos, todas ficaram surpresas demais para acreditar que Sirius diria algo assim, mas Marlene só perdera de vez a paciência quando Alice defendera que ela estava frustrada.

– Com o quê, Lice?! – Marlene se indignara.

– Com o fato de o Sirius não sentir o que você gostaria que ele sentisse.

– Não insulte minha inteligência desse jeito!

E, desde então, por mais que concordassem com Alice, ninguém mais insistia na questão. Lily tinha lá suas dúvidas sobre Sirius não sentir o que Marlene gostaria. Desde as férias de Natal, ele não estava mais com Jenna Edgecombe, fato que Marlene parecia ignorar completamente.

– Bem, talvez o McLaggen não esteja com nenhum problema – Lily começou –, mas o Sirius ainda está diferente. James comentou comigo que, depois de a sra. Potter ter morrido, ele ficou estranho... você sabe, ele gosta muito dos Potter.

Marlene não respondeu.

– Merlin – Claire murmurou. – Só eu tenho a impressão de que esses dois estão apaixonados?! – Alice e Lily riram, mas Marlene retrucou:

– James e Sirius? Acho que não. O James só tem olhos para Lily ultimamente.

Lily suspirou. Pelo visto, Marlene era tão teimosa quanto ela.

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Apesar de desconsiderar a insistência das amigas, Marlene não pôde evitar que Sirius povoasse seus pensamentos pelo resto do dia. Pensou em quando o vira no funeral da sra. Potter, olhando desolado para o caixão, e na vontade que sentira de abraça-lo.

No final da tarde, quando foi ao corujal para enviar uma carta a sua mãe, ainda estava se remoendo sobre o assunto. Marlene entrou na pequena construção circular e localizou Wendy, sua coruja de estimação. Brincou um pouco com ela antes de lhe entregar a carta.

– Boa viagem, Wendy.

Um barulho ali perto assustou várias corujas e Marlene girou bruscamente a cabeça, procurando uma forma humana nas sombras.

– Quem está aí? – sacou a varinha. Depois de todas as histórias que ouvira nas férias de Natal sobre Comensais se infiltrando em toda a parte, seu instinto defensivo estava mais aguçado.

– Ai! – exclamou uma segunda voz. Subitamente, Marlene ficou irritada.

– Black – ela falou, emburrada, quando Sirius entrou em seu campo de visão, sob uma réstia de luz do sol poente. – O que você fez?

– Oi para você também – ele retrucou, massageando um cotovelo. – Eu apenas escorreguei na entrada e bati o braço na porta. Voltou a nevar e os degraus ainda estão cheios de gelo, então...

– Voltou a nevar? – lamentou-se Marlene. Sirius deu de ombros.

– É, mas ainda não virou uma nevasca de verdade.

Ele caminhou até uma grande coruja da escola e amarrou uma carta em sua perna. Marlene ficou inquieta. Para quem Sirius escreveria? Ele não mantinha contato com a família...

– É melhor nós voltarmos – ele falou enfim. – Não podemos ficar fora do castelo depois que o sol se põe, não é?

– Você, Sirius Black, desde quando cumpre o regulamento?

– Não cumpro – ele falou com indiferença. – Mas não quero ficar perdido numa nevasca, no escuro e com fome – então caminhou até a porta. – Vamos?

Marlene ainda estava se perguntando por que esperara por Sirius para ir embora quando eles começaram a caminhar juntos sobre o jardim congelado. Felizmente, o uivo do vento ajudava a disfarçar o silêncio constrangedor.

– Como você está? – Sirius perguntou de repente.

– Tudo certo – Marlene virou o rosto para olhá-lo. – E você? – ele deu de ombros.

– Tudo bem – os cabelos dele estavam cheios de pequenos flocos de neve e Marlene percebeu como sua postura estava diferente, mais curvada, como seu semblante era abatido.

– Você sabe que nossas cartas não sairão tão cedo, não é? – ela tentou puxar assunto.

– Não faz mal. Eu só mandei encomendar um novo caldeirão no Beco Diagonal, porque perdi o meu trabalhando numa peça nova e o Pontas não quer me emprestar o dele.

– Você destruiu o seu caldeirão enquanto tentava pregar uma peça em alguém. Foi isso? – Sirius assentiu. Marlene balançou a cabeça. – Francamente, Black...

Sirius deu um sorriso torto.

– “Black” – ele repetiu. – Quase como você falava antes...

Eles se encararam. Marlene podia ver a hesitação na maneira como Sirius a olhava. Foi ele quem virou o rosto primeiro.

– Eu sei que está sendo difícil para você – Marlene recomeçou cuidadosamente. – Tudo que aconteceu com os Potter e... – pigarreou. – Eu realmente sinto muito.

O céu já estava mais escuro agora, então ela não pôde ver com perfeição a expressão no rosto de Sirius quando ele suspirou e respondeu:

– É, eu também sinto muito – chutou uma pedra fora do caminho. – Pelos Potter e... – ele engoliu em seco. – E pelo que eu disse a você.

Marlene tentou encará-lo, mas Sirius apressou o passo e se afastou rapidamente, sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

Galera, essa nota final é só uma amostra de gratidão. Vocês foram uns fofos nos últimos comentários e eu fiquei realmente muito feliz de saber que a fic ganhou tanto carinho de todos. Apesar da demora, nós vamos terminar essa história, hein?! Conto com vcs. =)