Causa Perdida? escrita por Gabriela Maria


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal!

Bem, eu sei que o capítulo demorou, mas, depois da correria nas festas de fim de ano, tive uma viagem também e só agora pude trabalhar na fic. Agradeço de coração pelos comentários (agora já está meio tarde, mas eu responderei a todos o quanto antes). Os próximos capítulos devem demorar um pouco, porque são bem trabalhosos e não quero que o trabalho fiquem mal feitos.
Enfim, espero que vocês curtam esse novo capítulo. Tentarei não demorar demais até a próxima postagem.

Até mais! o



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Apesar de saber que era mera questão de tempo até que todos os seus amigos decidissem comentar o assunto, Lily tentou não contar a ninguém que convidara James. De toda forma, quando Marlene lhe perguntou sobre a festa de Slughorn pouco antes de elas irem jantar no Salão Principal, ela teve de falar.

– Então é verdade! – Alice exclamou contente. – Quando o Frank me contou, eu realmente pensei que podia ser só dedução.

– Frank te contou? – espantou-se Lily.

– Parece que o James contou aos garotos logo que chegou ao dormitório depois da aula.

– Ah, não...

– Pare com isso! – Marlene interrompeu. – Você queria manter em segredo por acaso? – Lily não respondeu para evitar uma possível ofensa à amiga. – Eu sabia! – comemorou Marlene. – Eu disse que você não ia resistir! E eu também disse que não era tarde demais!

– Ainda não acredito – Lily murmurou, balançando a cabeça. – James Potter. Dentre todos os homens do mundo, eu convidei James Potter...

A alegria de Alice e Marlene lhe parecia suspeita, mas Lily acabou percebendo, com o passar dos dias, que seus amigos a olhavam de um jeito diferente agora. Era como se todos estivessem num surto de orgulho e expectativa. A pressão do momento era desconfortável, mas ainda era melhor do que lidar com a reprovação de todos. Lily só lamentava que não pudesse falar com James sobre isso. Ao que parecia, ele não tinha problemas com o assunto, enquanto ela ainda se perguntava o que era mais surpreendente: seu convite ou a resposta dele.

Então, na sexta à noite, enquanto ela estudava com Remo na biblioteca, a festa foi mencionada.

– Você está apaixonada pelo James – Remo falou naturalmente. – É a única explicação para isso.

– “Apaixonada” é uma palavra muito forte – Lily resmungou, corando. – Mas estou com medo. Daqui a pouco, a escola inteira vai saber que fomos juntos à festa e... – não soube como terminar.

– Bem, eu também ando meio preocupado – Remo confessou. – Não esqueci o que houve no último ciclo.

– Ah, não... – gemeu Lily. – Por que você se tortura desse jeito, Remo?

– Bem, só para começar, a família da Claire nunca aceitaria uma coisa dessas. Hoje, ela diz que não se importa, mas ela nunca me viu transformado e...

– Você se preocupa demais, Remo. Que tal um dia de cada vez? Além do mais, a família da Claire está se escondendo dos Comensais. Ela nem vai passar as festas com eles. Você não acha que o seu apoio seria bem vindo?

– Estou tentando protege-la – ele retrucou. – Acho que fomos precipitados ou...

– Remo – ela interrompeu, segurando a mão dele. – Vou dizer pela última vez: você não é um monstro.

– Eu quase te matei – ele sussurrou.

– Eu sei – apertou a mão dele. – E você ainda é meu melhor amigo e eu ainda te acho um dos melhores caras do mundo.

Ele a encarou por um tempo. Finalmente, deu um sorrisinho e retribuiu o aperto na mão.

– Não me admira que o James seja tão maravilhado com você – falou. – Aliás, ele diz que não, mas está contando os segundos até terça – Lily fez uma careta.

– Minha nossa, Remo... Eu nem lembro quando me convenci de que essa era uma boa ideia – ele riu, abraçando-a pelos ombros.

– Ele também se preocupa, sabia? – indagou. – O James é louco por você, Lils, mas ele também é meio traumatizado com isso.

Ela deu um risinho abafado.

– Então você acha que, bem...

– É claro que vocês podem dar certo. – Remo garantiu. Lily suspirou.

– Isso é tão estranho... – admitiu. – James nunca fez meu tipo. Eu até pensei que gostava de você por um tempo, sabia, Remo?

– Sério?! – ele arregalou os olhos. – E o que me tirou da sua cabeça então? – ela riu.

– Amos Diggory, é claro – Remo riu também. – Mais tarde teve o Adam Corner... – Lily suspirou. – Nunca deu certo com eles.

Remo não demonstrou preocupação, mas a cabeça de Lily continuou a mil pelos dias seguintes. Parte dela estava cheia de expectativas e outra não parava de pensar que tudo podia dar errado. Por fim, uma terceira parte achava que era muito cedo para esperar qualquer coisa.

O fato era que, dois dias depois, enquanto ajustava a lente de seu telescópio para estudar a Ursa Maior e terminar seu relatório de Astronomia, Lily não parava de pensar que estava sozinha com James numa torre escura.

– Me diga de novo por que eu me convenci de que deveria fazer esse relatório antes das férias de Natal – ele reclamou.

– Porque as constelações estão numa posição particularmente favorável agora e você preferiu não acumular os deveres – Lily respondeu calmamente, sem tirar os olhos do telescópio. James bufou.

– Deveres... Sirius vai me matar se souber disso.

Obviamente, era mentira. Sirius lhe lançara um olhar de orgulho quando James anunciara que iria com Lily à Torre de Astronomia. Ela tinha jantado mais tarde que o usual e chegara ao Salão Comunal queixando-se desesperadamente dos deveres atrasados. Então, quando James se deu conta de que também não tinha feito o dever de Astronomia, ele imediatamente se ofereceu para acompanha-la. Se ainda lembrava bem, havia um visgo por ali.

– Bem, eu acho que já tenho o bastante para terminar o trabalho – recomeçou. Astronomia não era sua matéria favorita e ele preferia ter uma boa desculpa para observar Lily, aproximando-se eventualmente para ajuda-la com o telescópio.

– Prometo que não vou demorar – ela falou. James deu de ombros.

– Tudo bem. Eu não tenho pressa.

Ele desmontou calmamente o próprio telescópio. Depois organizou e guardou todo o material numa mochila. Feito isso, ficou observando a silhueta de Lily ser banhada pela lua. Quis chegar mais perto.

– Parece que você tinha razão sobre o Sirius – Lily falou de repente. James não entendeu. – Jenna Edgecombe não para de hostilizar a Marlene – ela afastou o rosto do telescópio e sorriu para James. – Ela está morrendo de ciúmes – ele riu e caminhou para perto dela.

– Eu falei que ele gostava da Lene. Mas não sabia que a Jenna estava com ciúmes. Em geral, o Sirius engana muito bem todas as vítimas.

– Bem, ele não perde uma chance de chegar perto da Marlene. McLaggen também está furioso.

– Talvez ele se solidarize com a Jenna quando os dois forem devidamente trocados.

Lily ainda sorriu para ele antes de voltar ao telescópio. James continuou parado ao lado dela, incapaz de não olhá-la enquanto ela fazia suas últimas medições e anotava tudo num pergaminho.

Lily tentou disfarçar o próprio nervosismo. Sabia que James a estava observando e era a consciência disso que a deixava inquieta e com a mão trêmula na hora de escrever. Tentou respirar normalmente.

– Você não quer ajuda? – James ofereceu. – Eu posso anotar os dados, se você preferir – Lily hesitou.

– Eu sei que você não é o maior fã de Astronomia. Se preferir voltar logo para o salão comunal...

– Eu não estou com pressa – ele repetiu. – Só quero ajudar.

– Desculpe – ela pediu, sem jeito. – Eu não quis incomodar.

James apanhou o pergaminho e sorriu para Lily.

– Bobagem. Vamos lá, você dita e eu copio.

Quando exatamente James Potter se tornara tão gentil? Talvez ele sempre tivesse sido assim. Talvez Lily estivesse tão ocupada em julgá-lo e provocá-lo que James nunca conseguira lhe mostrar esse lado.

Eles trabalharam juntos durante uns poucos minutos, até que Lily se convenceu de que tinha dados suficientes e deu a tarefa por encerrada. James a ajudou a guardar o material na mochila, mas Lily se descuidou e o tinteiro caiu de sua mão, rolando pelo piso até as ameias da torre.

– Droga! – ela xingou baixinho antes de ir busca-lo. James a seguiu e parou ao seu lado, olhando para cima.

– Meus pais gostavam de me mostrar as estrelas – contou. Lily que acabara de ficar em pé após recuperar o tinteiro, o observou. – Não como na aula de Astronomia, claro. A gente só olhava um monte de pontinhos no céu. Minha mãe dizia que era a melhor forma de me deixar quieto – Lily sorriu com ternura.

– Você sente muita falta deles, não é? – ela o olhava fixamente, subitamente calma. Iluminado pelo brilho prateado da lua, o rosto de James tinha traços mais bem esculpidos do que ela já notara. Ele ainda fitava o céu.

– Eles estão velhos e encrencados com Você-Sabe-Quem – finalmente olhou para ela. – Tenho medo por eles, Lily.

Ela segurou suas mãos. Não havia algo certo a ser dito, mas as palavras saltaram de sua boca:

– Você pode contar comigo no que for preciso. Um dia vai ficar tudo bem.

Eles se encararam por um instante. James entrelaçou os dedos aos dela, mas Lily não conseguiu decifrar sua expressão. Antes que perguntasse qualquer coisa, porém, ele indicou o céu com a cabeça.

– É uma noite bonita – falou.

– Muito bonita – ela olhou para cima também. Apesar do inverno frio com tempo sempre fechado, o céu estava imaculadamente sem nuvens. Milhões de pontinhos luminosos a encararam, tentando distraí-la de todas as sensações que estar perto de James causava.

Lentamente, Lily baixou os olhos e o observou. James estava com o pescoço esticado, o rosto virado para o céu, a boca entreaberta. Se ele não fosse tão alto, Lily poderia apenas segurar seu rosto e...

Muito devagar, James também baixou a cabeça. Seus olhos encontraram os de Lily. Ela não se moveu. Naquele segundo, Lily teve certeza de que poderia olhá-lo durante um tempo indefinido, sem qualquer reclamação.

James se inclinou um pouco. Sua expressão era meio desligada.

– James – Lily sussurrou, como se tentasse alertá-lo de que não era hora para isso. – Estou aqui.

– Eu sei – ele murmurou de volta, afastando uma mecha ruiva do rosto dela. – Obrigado.

Lily ergueu as mãos e as pousou no peito de James. Deu um pequeno passo para frente, para perto dele. O hálito de James já soprava em seu rosto. Sem pensar, ela fechou os olhos. O polegar dele acariciou sua bochecha.

Então James a beijou. Ela largou o tinteiro e segurou o pescoço dele, puxando-o para perto, retribuindo o beijo. Ele a envolveu com um braço e a trouxe para mais perto. Uma de suas mãos se perdeu entre as ondas acaju. Foi quando tudo fez sentido. Foi quando Lily se ergueu na ponta dos pés e se segurou em James com toda a determinação que possuía. Era a primeira vez em que ela estava plenamente consciente de que beijava James Potter e de que esse era justamente o maior motivo de sua alegria.

Quando o vento começou a soprar com mais força, eles estavam apenas abraçados. Lily enterrou o rosto no peito de James, encolhendo-se nos braços dele. Ele a segurou com mais firmeza, escondendo o rosto nos cabelos dela.

– E o que acontece agora? – perguntou.

– Bem, – ela falou baixinho – num dia normal, nós faríamos a ronda e voltaríamos para a Torre da Grifinória. Mas eu não quero sair daqui – James deu uma risadinha em seu ouvido.

– Não foi isso que eu quis dizer.

Então, para completa decepção de Lily, ele se afastou.

– Não posso fingir que eu sou indiferente, Lily. Você sabe como eu me sinto. Então eu quero entender tudo porque, da última vez, eu te falei tudo e você... – ele não terminou a frase. Lily finalmente entendeu o que estava havendo. A expressão estranha de James era de receio. Ele tinha medo de como ela reagiria.

– Eu nunca pedi desculpas por aquilo – Lily falou, corando. James desviou o olhar, perturbado. – Eu estava confusa na época, James. Eu não soube como reagir e...

Estava confusa? – ele repetiu. – Não está mais? – Lily engoliu em seco.

– Não. Eu já sei o que está acontecendo comigo.

Mas não queria dizer. Não queria correr o risco de ser rejeitada. Não queria ter de olhá-lo nos olhos e admitir que ele a fizera jogar todo o orgulho no lixo. James a afetava mais do que qualquer um dos dois imaginava.

Ele a encarou demoradamente, cheio de apreensão. Ainda com os braços em torno dele, Lily podia sentir a tensão no corpo de James. Podia sentir sua caixa torácica meio trêmula, com a respiração pesada.

– E então? – James indagou com a voz rouca. Surpreendentemente, Lily sorriu e tocou delicadamente o rosto dele.

– Como é que você, James Potter, dentre todas as pessoas, ainda não percebeu?! – ele não pareceu mais tranquilo.

– Não percebi o quê, Lily?

– Eu aceitei um convite seu para sair e gostei tanto que te chamei para a festa do Slughorn. Há dias eu tentava me convencer de que isso era loucura, mas...

– Mas o quê, Lily?

A voz dele estava ansiosa. Lily deslizou as pontas dos dedos pelo queixo dele, reunindo coragem. Engoliu em seco e ficou na ponta dos pés. Deixou que seu nariz encostasse no de James.

– Eu gosto tanto de você, James...

Antes que ele reagisse, ela se segurou em seus ombros e o beijou. Sentiu os dedos gelados de James segurando seu rosto. Sentiu o vento soprando com mais força ainda, embora soubesse que ele não era a causa dos arrepios em sua espinha. Sentiu o corpo de James junto do seu como se eles nunca fossem se separar.

Então enterrou a mão nos cabelos espetados dele e o beijou por todo o tempo que ainda precisavam recuperar. Eles só deixaram a Torre de Astronomia um bom tempo depois, quando a neve começou a cair.

******************************************************************************

O jantar de segunda-feira tinha gosto de borracha. James vasculhou a mesa da Grifinória com os olhos pela milésima vez apenas para descobrir que Lily não tinha aparecido no Salão Principal nos últimos dois minutos. Alguém perto dele suspirou.

– Vá atrás dela – disse Sirius, balançando a cabeça.

– O quê?

– Lily. Vá logo atrás dela. Você não vai relaxar de outro jeito mesmo.

– Só estranhei o sumiço dela – ele respondeu. – Fico meio preocupado. Só isso.

– Sua namorada não sumiu – Peter falou de boca cheia. – Ela deve estar estudando ou...

– Você ouviu o que as garotas disseram – James retrucou. – Ela ficou abalada quando leu o Profeta Vespertino.

– Ela não foi a única – Remo soou infeliz. – Claire também está meio abatida. Com toda essa coisa de perseguirem a família dela, eles resolveram que seria mais seguro ela ficar em Hogwarts para o Natal. E com o que noticiaram no Profeta... – ele suspirou. – Ela está mais apavorada do que nunca.

– Bem, todos os nascidos trouxas estão assustados – disse Sirius. – Lily não é a única. E Claire é mestiça. O pai dela certamente foi registrado como um traidor do sangue.

James não queria que o assunto se prolongasse. Naquela tarde, o Profeta Vespertino trouxera uma manchete assustadora: “Dez trouxas e dois bruxos de origem trouxa são encontrados mortos num beco de Londres”.

Melanie deixara escapar um grito de pavor ao ler a matéria. Pouco depois, Alice e Marlene perceberam que Lily não estava mais na Torre da Grifinória. Ela também recebia o Profeta diariamente e as garotas tinham encontrado uma edição do jornal largada no chão do dormitório.

– Você vai passar o Natal aqui, Aluado? – James quis saber.

– Ainda não resolvi, mas acredito que sim. Quero dar uma força à Claire e não me apeguei à ideia de viajar com meus pais para visitar uns parentes – Remo fez uma careta. – Eles não lidam muito bem com a minha... condição.

– Você vem comigo, não é, Almofadinhas?

– Depende – Sirius respondeu distraidamente. – Você tem uma prima gata que se interesse pela ceia? – James revirou os olhos.

– É claro que eu vou, Pontas – virou-se para Peter. – E você, Rabicho?

Peter, que estivera concentrado em olhar alguma outra coisa, encarou os amigos sem emoção.

– Vou para casa – respondeu. Então, apontou para uma extremidade da mesa. – Vocês conhecem aquela garota?

James olhou na direção apontada. Uma garota magra e pálida comia lentamente, de cabeça baixa. Ela não era particularmente bonita e seus óculos folgados escorregavam ao longo do nariz, dando-lhe a aparência de uma pessoa desajeitada. Ainda assim, ela parecia legal, tinha o tipo de beleza que apenas as pessoas legais possuíam. Era fácil simpatizar com ela.

– Apreciando a paisagem, Pedrinho? – Sirius brincou.

– Eu a conheço – disse James. – Ela está no quinto ano e foi nomeada monitora, mas não lembro o nome.

– Ah – Peter olhou para o próprio prato, desanimado.

– Que foi, Rabicho? – Remo desconfiou. Peter balançou a cabeça.

– Nada – disse sem convicção. Os outros três se entreolharam.

Embora tivesse engordado bastante e desprezasse algumas boas maneiras, Peter não era exatamente feio. Talvez, se ele não tivesse aqueles surtos de ansiedade misturada à gula e ao excesso de timidez, as garotas não o olhassem com tédio.

No quinto ano, Sirius e James tinham armado para que ele ficasse com uma garota, mas depois disso, ela recusou os convites de Peter para sair. Na época, James chegou a cogitar que ela só tinha dado uns beijos em Peter para se aproximar dos outros Marotos.

– Monitora? – manifestou-se Sirius. – Ela está no Clube do Slugue?

– Não que eu saiba – disse Remo. – Mas talvez ela só tenha entrado esse ano.

Remo era o único deles que ainda frequentava uma ou outra reunião de Slughorn. Ele recebia convites com frequência e, geralmente, acompanhava Lily nas reuniões. James e Sirius só tinham participado realmente desses eventos ainda no primeiro ano, antes de James petrificar Snape num corredor escondido. Desde então, apenas Sirius continuou recebendo convites, embora ninguém achasse que Slughorn lamentasse suas ausências.

James sentira ciúmes inicialmente, como se não admitisse que Sirius recebesse mais atenção. Contudo, houve um momento em que ele se convenceu de que as preferências de Slughorn eram insignificantes e Sirius deixou de ser convidado logo que Régulo entrou em Hogwarts. A partir daí, ele e James só compareciam às festas de natal, onde marcavam encontros com garotas e bebiam vinho e hidromel de graça.

Quando a sobremesa foi servida, James desistiu de esperar e se levantou de repente.

– Aonde você vai? – espantou-se Peter. – Essa é a melhor parte!

– Vou atrás da Lily – James respondeu. – Tem alguma coisa errada.

Claro que tinha. Ele sabia que Lily não desapareceria sem motivo.

– Não seja invejoso, Rabicho – Sirius interveio. – Pontas só quer namorar um pouco.

– Ela não é minha namorada – James sorriu. – Ainda.

– Não foi o que pareceu mais cedo – Remo comentou. James apenas balançou a cabeça, desconsiderando.

– Vejo vocês mais tarde.

Ele saiu do Salão Principal com as entranhas mexendo. Não sabia ao certo o que tinha com Lily, mas eles iriam juntos à festa de Slughorn na noite seguinte. Até lá, evitavam contato físico em público porque, nas palavras de Lily, era melhor “ir com calma”. Contudo, ela não se opusera quando James sugeriu que fizessem toda a ronda juntos e não tentara se desvencilhar quando ele segurou sua mão nos corredores.

Mas o grande momento fora a realização de um velho sonho dele, quando, na manhã daquela segunda-feira, James a puxara para um armário de vassouras e a beijara. Mesmo surpresa, Lily não esboçara qualquer resistência, então eles acabaram perdendo a hora para a aula seguinte e James quase, quase conseguira convencê-la a passar logo o resto da manhã pelos jardins.

Em resumo, ele estaria vivendo seu maior sonho durante os últimos dias, se não fosse a maldita matéria do Profeta Vespertino.

Caminhou sem rumo certo pelos corredores, pensando num possível esconderijo para Lily. Ela certamente não estava na biblioteca nem no banheiro, que seriam óbvios demais e facilmente acessíveis a Alice e Marlene. Talvez ela aproveitasse que estavam todos jantando e...

Foi quando James a viu.

“É claro!” pensou.

Reconheceu imediatamente a forma esbelta que caminhava devagar, de costas para ele. Os cabelos ruivos estavam presos com uma liga frouxa. Lily vinha saindo do corredor onde ficava o banheiro da Murta-Que-Geme. James devia ter imaginado. A única pessoa em Hogwarts que sabia lidar com a Murta era Lily. No quarto ano, quando Murta alagou o banheiro por três dias seguidos, Lily contrariou as ordens dos monitores e foi falar com ela. Fosse por sua gentileza, fosse por seu pulso firme, ela conseguiu controlar a situação e, desde então, James a vira entrar naquele banheiro algumas vezes. Como ninguém mais andava ali, ele podia presumir que fosse um bom lugar para refletir.

Apressou o passo, mas Lily nem percebeu sua aproximação.

– Lily, espere – chamou ao alcançá-la. Ela o olhou por cima do ombro.

– James – disse surpresa. – O que você veio fazer aqui?

Seus olhos estavam rajados de vermelho e levemente inchados. Seu rosto estava com umas manchas rosadas e sua voz estava um pouco mais baixa e mais rouca que o normal. Ela claramente estivera chorando.

– Eu estava te procurando – ele falou. – Fiquei preocupado com seu sumiço na hora do jantar – Lily ficou com uma expressão vazia.

– Está tudo bem – murmurou. Então recomeçou a andar. James a seguiu, caminhando a seu lado.

– Eu entendo se você quiser ficar sozinha – ele disse com sinceridade. – Mas você sabe que pode me dizer qualquer coisa, certo?

– É uma idiotice, eu sei – ela olhava fixamente para frente. – Eu nem conhecia aquelas pessoas.

–Não é uma idiotice – James falou com firmeza. – O que houve foi uma barbaridade.

– Eu os odeio tanto... – mas o lampejo lacrimoso em seus olhos denunciou que aquilo era mentira. James sabia que Lily não era do tipo que odiava. – Como alguém apoia uma chacina?!

Eles pararam de andar. Lily esfregou um olho com os nós dos dedos.

– Você ficou preocupada – James falou enfim. – É normal.

– Não posso nem proteger minha família. Como eu vou saber...?

A voz dela quebrou e James quis sorrir. Aquela era sua garota: sensível, dedicada aos que amava, idealista.

– Que bela grifinória, eu sou – Lily disse sem emoção. – Já estou chorando pelos inimigos que nem sei quem são.

– Você sabe o que eles querem e o que fazem. Sabe que eles são horríveis. Isso já assusta qualquer um – segurou as mãos delas. – Eles perseguem trouxas e...

– Não – ela interrompeu, olhando-o com firmeza. – Dez trouxas e dois bruxos, James. Doze famílias foram destruídas por nada. Doze pessoas... – ela estremeceu. – Tinha uma foto no jornal.

O estômago de James embrulhou. Lily apoiou a testa no peito dele.

– Imagine só o que Petúnia não diria sobre isso.

– Pare – ele tocou carinhosamente as costas dela. – Pare de ficar se torturando. Nós todos estamos preocupados com nossas famílias. Não piore sua situação, Lily.

Ela o abraçou. O gesto pegou James de surpresa, mas ele a envolveu com cuidado e beijou o topo de sua cabeça. Depois de um tempo, os dedos dela começaram a acariciar suas costas.

– E para coroar a noite – Lily recomeçou –, eu perdi o jantar.

– Nada disso – James recuou. – Eu sou amigo dos elfos que trabalham nas cozinhas. Vamos resolver isso – Lily sorriu timidamente. Ele começou a conduzi-la pela mão até lá.

– James – chamou baixinho.

– Sim – ele a olhou.

– Obrigada por me achar – James sorriu.

– Não foi nada – ela engoliu em seco.

– Sabe que uma coisa muito ruim nisso tudo é que eu já fui amiga de um deles – ela estremeceu. – Fui amiga de um Comensal.

Eles nunca tinham falado sobre Snape antes. James não sabia como ela lidava com o assunto nem como ele próprio se sentia acerca daquele comentário. Ainda assim, disse:

– Não é sua culpa – Lily balançou a cabeça.

– Será? Será que eu não desisti muito cedo dele? Será que...

– Não – James foi firme. – Você conhece Snape muito bem, Lily. Você sabe que ele sempre foi inclinado ao poder.

– Mas o Snape que eu conhecia... – houve um lampejo lacrimoso nos olhos dela. – Bem, ele não era ruim. Era gentil, meu amigo...

– Sim, mas as pessoas mudam – tentou não demonstrar seu incômodo. Como Lily se sentia tão mal por Snape depois de ter rejeitado James durante todo o ano? James, a prova viva de que as pessoas podiam mudar.

– Só estou dizendo – Lily insistiu – que ele nunca foi ruim comigo...

– Como é que é?! – James soltou bruscamente a mão dela. – Depois do que houve no quinto ano, como você fala uma coisa dessas?!

– Não estou defendendo o Snape – ela pareceu assustada com a explosão. – Só quis dizer... que... sei lá... essa coisa cega as pessoas...

– Ah, então as vítimas são eles!

– Não foi isso que eu falei – ela amarrou a cara. – Não leve isso para o lado pessoal, James.

– Como eu não levaria para o lado pessoal?!

Ele estava furioso. Snape não era um assunto encerrado. Os dois ainda trocavam olhares hostis nos corredores e já tinham lançado azarações um no outro várias vezes. A única coisa que tinham em comum, além da aversão mútua, era o cuidado em esconder esses malfeitos de Lily. Além disso, James não estava certo de que ela sabia, mas Snape claramente nutria sentimentos românticos pela antiga amiga. E o pior era que, pelo visto, Lily sentia falta dele.

– Como você diz uma coisa dessas a mim, Lily? Depois de tudo...

– Pelo amor de Deus! – assombrou-se Lily. – Não precisa ser infantil!

– É só isso que você vai ver para sempre em mim? – ele quis que não tivesse soado tão amargurado. – Logo eu, Lily? – ela fez menção de responder, atordoada demais para se irritar, mas James saiu na frente. – Honestamente, Lily, o Snape te humilhou na frente de todo mundo. Ele sempre quis ser Comensal, você sabe! Mas eu... eu estive aqui o tempo todo, sempre defendi você. Eu mudei quase tudo que você queria que eu mudasse. Eu... – ele ofegou. – Eu sou apaixonado por você. E você vem se lamentar pelo Ranhoso... – fez uma careta. – Aliás, antes que você o defenda de novo, eu me corrijo: Ranhoso não, Snape.

James apoiou as costas na parede do corredor, respirando com dificuldade. Lily não falou nada por um longo momento e ele começou a acreditar que estava condenado a morrer sem que ela correspondesse seus sentimentos. Assanhou nervosamente os cabelos.

– James – ela chamou baixinho. – Me desculpe – Lily se aproximou, mas James olhou para o lado. – Eu só... – ela engoliu em seco. – Ele era meu amigo e eu sei que ele tem um lado bom, mas você tem razão.

Finalmente, ele a encarou. Apesar do rosto corado, Lily tinha uma expressão decidida. Ela segurou as mãos dele.

– Eu sei que você sempre me defendeu de todo o mundo: do Snape, do Malfoy, do Régulo e, bem... – as mãos dela estavam suando. – Eu não quis defender o Snape nem desmerecer o que você fez por mim. É só que... – hesitou. – É só que eu me eduquei a te odiar, então, às vezes, eu esqueço que você sempre mexeu comigo e...

– Eu sempre o quê? – ele deixou escapar num sussurro. Lily deu um pequeno sorriso.

– Você sempre mexeu comigo do seu próprio jeito esquisito.

– Esquisito como?

Ela pensou por um segundo. Então chegou mais perto.

– Você sabe – murmurou, olhando-o bem nos olhos. – Esquisito... Do tipo que fez eu me apaixonar por você.

Ele a olhou, surpreso, mas Lily simplesmente o beijou.

– Desculpe – disse baixinho, roçando os lábios nos dele enquanto falava. – Você sabe que eu sou complicada.

– Tudo bem – ele falou, entorpecido pelo toque dela. – É só uma velha frustração...

– Bom, eu me apaixonei por você, não pelo Snape – ela disse com firmeza. – Se era esse o problema, você já pode se sentir melhor.

Lentamente, ela o beijou de novo. James a envolveu pela cintura, retribuindo o beijo, segurando-a com firmeza antes que a velha Lily ressurgisse e encerrasse o momento de trégua. Embora não soubesse ao certo o que estava havendo, ele a abraçou com força quando interromperam o beijo.

– Eu sei o que você está pensando – Lily sussurrou, a bochecha encostada no peito dele. James sabia que ela estava percebendo seu nervosismo, sua inédita crise de insegurança. – E eu não vou a lugar nenhum.


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