Pov Katniss

Aquele maldito cheiro de rosas não saía do meu quarto por mais que eu tivesse aberto as janelas e borrifado desinfetante por todo lugar. Arranquei a colcha e os lençóis querendo ter paz para pelo menos deitar na minha cama.

Podia ouvir os gritos da minha mãe e de Finnick lá embaixo, o que quase me fez sentir culpada por tê-lo entregado a nossa mãe. Saí do quarto devagar e fiquei no começo das escadas ouvindo a conversa dos dois.

- Finnick, eu não quero ouvir uma palavra. Sem videogame e sem computador por duas semanas.

- Mas mãe...

- Eu criei vocês aprendendo a respeitarem uns aos outros. E você entra no quarto da sua irmã sem permissão, e pra piorar coloca outros garotos lá dentro para espionar o quarto da Katniss!

- Nós não fizemos nada demais. Peeta só queria colocar as flores lá, ele é meu melhor amigo, mãe.

- E Katniss é sua irmã.

- MAS EU FIZ ISSO POR ELA!

- Não levante a voz ou aumento ainda mais sua punição.

Não ouvi mais vozes e pude ouvir os passos do meu irmão indo em direção ao quarto dele, e passando com raiva por mim.

- Espero que esteja feliz! – ele diz batendo a porta com força.

Ótimo agora Finn me odiava. Minha semana realmente tinha como ficar melhor?

Entrei no quarto e deitei na cama começando a chorar. Por que Peeta não podia me deixar lidar com a minha dor sozinha? Por que ele estava lutando tanto pra tornar tudo ainda pior?

E a pergunta que mais me angustiava no momento: quando ele finalmente vai parar?

Estava perdida nos meus soluços, quando sinto alguém acariciando meu cabelo e vejo os olhos verdes do meu irmão ao levantar o rosto.

- Kat, eu não queria fazer você chorar.

- Então diga ao seu amigo pra me deixar em paz.

- Se você quiser eu posso fazer Peeta te deixar em paz, mas Kat você realmente quer que ele desista?

- Finn... – eu não consegui mais nada além de voltar a chorar. Senti quando Finnick me colocou em seu colo, o que me fez sentir bem melhor. Tanto que nem percebi quando adormeci.

Já amanhecia quando eu acordei ali sozinha. Ainda conseguia sentir um leve cheiro de rosas, mas aquilo não me incomodou tanto assim.

Tomei um longo banho e desci para preparar um pouco de comida, quando vi Finnick e Prim comendo panquecas na cozinha.

- Kat, Finn fez panquecas. – disse minha irmãzinha animada como sempre.

- Bom dia, Kat. – meu irmão falou e colocou duas panquecas no meu prato.

- Você sabe que não como carboidrato quando estamos ensaiando apresentação.

- Só uma vez, quebre as suas regras só um pouquinho, Katniss.

E pela primeira vez não tentei argumentar. Eu estava com fome e cansada, e aquelas panquecas pareciam a comida mais saborosa do mundo pra mim naquele momento.

Tive tempo de conversar mais um pouco com meus irmãos, até ter que ir pra estação de metrô. Fiz toda viagem ouvindo música e já estava me sentindo bem melhor quando cheguei finalmente á escola.

O local estava silencioso por ainda ser cedo e eu pude ensaiar por meia hora até que as outras meninas começassem a chegar e tomarem seus lugares.

Era o primeiro ensaio que teríamos juntas com Glimmer, que estava ensaiando sozinha com seu par desde que conseguira o papel principal. Aquele era um dia importante e eu estava nervosa.

Mas meu nervosismo só durou até que a música começasse. Era sempre assim, a música conseguia fazer meu corpo flutuar por horas para um lugar desconhecido e só meu.

Onde nenhum dos meus problemas conseguiam me atrapalhar.

O ensaio foi longo, Glimmer estava dançando sublimemente e aquilo era lindo de se ver. Eu esperava um dia dançar tão bem assim.

Quando finalmente acabou, mal podia sentir os meus pés, mas estava feliz. Por dias aquela sensação de estar bem fazendo o que eu mais amava não aparecia, e hoje podia realmente dizer que não importava o que acontecesse, eu iria ficar bem.

Peguei minha mochila e fui me trocar vendo algumas meninas olhando pra mim, algumas com olhares de medo outras com cara de espanto. Eu não entendia o que droga Peeta havia feito dessa vez até ver meu armário e estar escrito nele com tinta “Eu ainda amo você. Sei que você ainda me ama.”.

Ele tinha ficado louco? Peeta sabia como Giulliard era rígida em questão de disciplina e ele tinha simplesmente pichado meu armário. Portia ia ter um surto quando visse o que ele fez.

Ele iria ser suspenso no mínimo. Ou algo pior.

Minha respiração falhou com aquele pensamento e sai do vestiário feito louca atrás de Annie.

- Você tem que me ajudar?- disse praticamente a puxando do grupinho que ela estava quando finalmente a encontrei. - Peeta pichou o meu armário.

-PEETA O QUÊ?

- Fala baixo! – continuei a arrastando até chegar ao vestiário e deixá-la ver por si mesma.

- Ele tá tão ferrado.

- Como a gente limpa isso?

- Eu não sei, acho que só pintando por cima de novo. Eu não sei, Kat.

Peguei meu celular e liguei para única pessoa do mundo além de Annie que poderia me ajudar.

- Finn, eu preciso de você agora. Por favor, eu preciso de verdade.

- Kat, o que aconteceu?

- Peeta!

Ouvi meu irmão soltar um longo suspiro.

- Eu disse para ele não fazer isso. Tou indo para aí, vamos dar um jeito.

Pareceu uma eternidade até que Finn apareceu no meu vestiário trazendo uma lata de algo com cheiro muito forte e ruim.

- Que diabos é isso?

- Solvente. Vai borrar e com sorte apagar o que Peeta pintou, mais vamos ter que esfregar muito.

Nós três começamos a esfregar em silêncio, o clima entre Annie e Finn também não era dos melhores há muito tempo. Pareciam já horas que eu estava ali esfregando aquilo até que finalmente aquela tinta maldita começou a largar do meu armário.

Meus dedos já doíam e o cheiro de solvente me deixava enjoada.

- Eu odeio Peeta Mellark.

- Mesmo? E por que não deixou ele se ferrar e ser suspenso? – disse meu irmão revirando os olhos.

- Não enche Finnick.

- Como você sabe ser grata por eu estar aqui matando aula pra te ajudar, você e Peeta só me metem em problemas.

- Como se você não se metesse em problemas sozinho. – foi a primeira frase que Annie falara desde que Finn chegara.

- Nossa, Annie. Você ainda fala? Achei que o gato tinha comido a sua língua.

- Chega vocês dois. Eu estou cansada, enjoada, com dor em todo corpo pelo meu ensaio, vocês podem discutir a relação quando a gente terminar...

- Você está apagando! – me virei instantaneamente ao ouvir a voz dele. A voz de Peeta tinha uma nota de dor que eu não aguentava mais escutar. - Por que você apagou?

- Porque você ia ser suspenso se minha professora visse seu idiota.

- Eu não me importo.

Eu não consegui conter a minha raiva e dei uma tapa na cara dele. Podia ouvir Finn e Annie respirando ruidosamente pela surpresa do que eu fiz.

- Qual seu problema? A gente se matou de estudar e treinar para entrar aqui. A melhor escola de artes do país e você não se importa? Eu passei horas esfregando essa droga para te ouvir dizendo isso?

- Katniss...

- Você é um imbecil!

- Você ficou aqui e fez tudo isso pra que eu não fosse suspenso? Eu achei que você tinha dito que me odiava... – ele disse e eu pude ver seus olhos azuis brilhando.

Pov Peeta

Eu realmente não tive medo de ser suspenso quando decidi pintar o armário dela. Finnick havia me avisado que aquilo já era burrice, mas precisava que ela soubesse que eu ainda a amava. E como ela não me deixava mais chegar perto dela pra dizer.

Aquela foi minha única solução. Mas havia sido melhor do que eu esperava, ela ainda se importava comigo.

Aquilo só podia querer dizer que ela ainda me...

Fui arrancado dos meus pensamentos com a Katniss jogando aquele pano sujo em mim.

- Ah vê se me esquece, Mellark! Você e Finn que se virem para limpar o resto. – ela disse com raiva e puxando Annie junto com ela.

- Mulheres! – meu amigo disse e eu comecei a rir e fui ajudá-lo a consertar a bagunça que eu tinha feito. - Então você e a Annie?

- Ela nem sequer olhou na minha cara.

- Você devia pedir desculpas a ela.

- Ela não era minha namorada. Eu não fiz nada de errado.

- Se você diz.

E ficamos trabalhando em silêncio até finalmente limpar todo armário da Katniss.

- Finn, você acha que ela ainda me ama?

- Acho... Mas se você disser que eu te disse isso, você é um cara morto, Peeta. Não quero mais problemas ainda com a Kat.

- Ok. – eu disse levantando as mãos e nós dois começamos a rir. - Finn, obrigado.