As palavras de Gale ainda ressoavam no meu ouvido, tanto pelo fato de não entender porque ele dizia isso pra uma estranha como eu, tanto por uma parte minha pensar se não havia um pouco de razão no que ele havia dito. Em nenhum momento acharia que meu amor por Peeta não valia a pena, mas que ele complicava muito a minha vida eu tinha que concordar. E a vida de Peeta também.

Fechei o chuveiro e saí do vestiário enxugando meu cabelo e indo até o meu armário guardando minhas roupas suadas na mochila. Algumas garotas estavam saindo e eu via Clove me encarando enquanto amarrava um de seus tênis. Nós não nos falávamos desde que Peeta e eu tínhamos voltado. E não estava interessada em nada que ela tivesse a me dizer, se é que ela estava realmente pensando em falar comigo.

— Você é uma hipócrita sabia? – ela disse e eu podia ouvir muita raiva na voz.

— Sério? Qual seu problema comigo agora, Clove? Tentar roubar meu namorado já não foi suficiente?

— Meu problema é que você se finge de boazinha, mas adora ser o centro das atenções. Peeta não é o suficiente, você tem que ficar com Cato também?

— Você bebeu, sua louca? Cato é meu amigo e meu parceiro! – disse já começando a ficar com raiva também.

— Eu vi vocês dois! Eu vi lá no estúdio, só os dois e ele se declarando pra você, o quanto você é incrível! Uma incrível vaca isso sim.

— Vaca? Clove se você não quiser que eu meta a mão na sua cara é bom você sumir daqui agora!

— Eu vou! Mas o Peeta não merece isso. - ela disse pegando a mochila mas eu a segurei pelo braço antes que ela saísse.

— Cato é um amigo e eu NUNCA faria nada pra magoar Peeta. Se você ousar entrar no nosso caminho de novo eu acabo com sua raça, Clove. E ainda peço pra Annie me ajudar!

— Só não quero que você magoe o Peeta.

— Eu não te devo satisfações, mas eu nunca faria isso. Você deveria saber disso já que fingiu por anos ser minha amiga, mas claro que como você foi uma traíra comigo deve achar que todo mundo é como você. – eu falei enquanto soltava o braço dela e a via ir embora quase chorando dali.

Se eu tinha alguma dúvida que nunca poderia reconstruir nenhuma convivência com Clove, agora eu não tinha mais nenhuma. Saí do vestiário morrendo de dor de cabeça e louca pra ir embora dali o mais rápido possível só que claro que meus desejos ultimamente nunca vinham se tornando realidade.

Peeta estava ali fora esperando por mim e eu suspirei já que não ia aguentar um segundo round de briga com ele agora.

— Se você veio brigar pode por favor ser amanhã? Meu dia todo foi uma grande droga. – eu disse suspirando.

— Eu só queria pedir desculpas. Não vim brigar, Kat.- ele disse se aproximando e segurando a minha mão. – Você tem razão de tudo, a discussão foi minha culpa, eu que estou inseguro e com medo de perder você.

— Você disse que achava que eu não te amo, Peeta. – eu disse relembrando e já sentindo dor com aquilo de novo.

— Eu fui um idiota... eu sei que você me ama. Eu só estou com medo. Por favor, Katniss, me desculpa por ter duvidado de você. Eu só ando sentindo que você tem tantas novas opções agora e eu fico com medo que você decida que um deles pode ser melhor pra você do que eu. Menos complicado do que eu.

— Não tem novas opções nenhuma, Peeta!

— Você e o Tresh... – ele falou mas eu não aguentava mais ele sempre bater naquela mesma tecla.

— Eu não fiquei com ele, Peeta! Nunca! Naquele dia, no meu quarto, a gente só ouviu música enquanto eu esperava passar um tempo pra você achar que tínhamos ficado.

— Mas eu vi...

— O que? Meu batom nele? Pelo amor de Deus, Peeta. – eu disse pegando meu batom na mochila e passando um pouco na bochecha dele e no pescoço. – Foi tão fácil fazer você acreditar porque você queria acreditar. – eu disse dando de ombros.

— Por que ele não me contou? Eu passei todo esse tempo me martirizando por nada? – ele disse com a voz cansada.

— Eu disse que se ele falasse eu não ia com você na festa da Annie. E acho que depois que voltamos ele deve ter achado que não tinha mais importância. Mas agora você já sabe então se quiser ficar com raiva de mim pelo menos agora você tem ... – ele me interrompeu com um beijo apaixonado e me empurrou fazendo bater na porta do vestiário.

O beijo dele me tirava o fôlego enquanto as mãos seguravam forte a minha cintura, o que com certeza me deixaria alguma marca. Não que eu ligasse pra isso agora. Também não ligava pro oxigênio mas ele parou o beijo, ainda cedo demais pra mim.

— Isso quer dizer que não está com raiva de mim? – eu disse sorrindo pra ele e acariciando seu cabelo.

— Quer dizer que vamos finalmente deixar todos os outros pra trás e ficar juntos, só nós dois, chega de intrigas dos outros.

Se íamos mesmo recomeçar e deixar tudo pra trás, ele tinha que saber de tudo. Que havia alguém me mandando mensagens e tentando me apavorar.

— Peeta, tem mais uma coisa que eu preciso te contar.

— Não precisa. Eu acho que sei do que você quer falar.

— Você sabe?

— Eu sei tudo sobre as mensagens, Katniss. Sobre todas as que você recebeu.

— Você o que? – eu disse assustada. Como diabos ele sabia que eu estava sendo ameaçada e observada durante só Deus sabe quanto tempo. Como ele podia saber disso, a não ser que ele estivesse sendo ameaçado também. – Desde quando Peeta? – e eu sabia que ele tinha me entendido. Desde quando estavam mandando mensagens pra ele também.

— Desde a noite em que eu fiquei com a Clove.

Quem quer que fosse estava coletando coisas para usar contra nós por um bom tempo mas eu não conseguia entender o porquê de só agora. Antes que eu tivesse tempo para pensar o meu celular vibrou e com ele o meu coração. Eu já odiava o som do aviso de nova mensagem. Mas pelo menos dessa vez Peeta estava ali comigo, eu não me sentia tão desprotegida assim. Puxei o celular do bolso e reli a frase lembrando exatamente aonde já tinha ouvido aquilo antes.

“Você pode achar que está feliz agora, mas a dança é a única coisa que realmente importa, as outras paixões só servem para nos causar problemas.”