Pov Katniss

Essa foi a segunda noite que menos dormi na minha vida. A única que me senti pior do que essa foi o dia em que Peeta me disse que tinha ficado com a Clove.

Clove. Engolir que minha melhor amiga tinha sido apaixonada pelo meu namorado todo esse tempo e eu nunca tinha percebido nada não tinha o melhor momento da minha noite, mas com certeza seria ainda pior se não conseguisse colocar as coisas em ordem com Peeta.

Tentei falar com ele a noite toda, mas ele só me mandou mensagem que estava numa reunião familiar e nos veríamos amanhã. E claro disse que me amava. Ele parecia feliz e tudo que eu queria é que ele não fosse envenenado por ninguém antes que eu pudesse me explicar.

Uma parte grande de mim mesmo estando feliz que Peeta nunca me traiu, ainda queria nunca ter encontrado com Clove na festa da Annie. Eu já não me importava mais com aquela noite, eu só queria Peeta de volta. Eu o amava e ia dizer a ele que podíamos esquecer tudo e recomeçar. Ia dizer que eu o perdoava com todo meu coração porque não queria viver sem ele e porque sabia que as pessoas erravam e ele me provou que merecia uma segunda chance.

Já tinha tudo preparado pra dizer a ele, quando Clove me abordou, dizendo que ia armar um escândalo no meio do aniversário da Annie se eu não a escutasse, e pela minha amiga eu fui com Clove.

E soube de toda verdade. Eu fiquei tão atônita com tudo que só queria ir embora dali com Peeta.

Claro que como a estúpida que eu sou não disse nada pra ele e só deixei que ele entendesse que o queria de volta. Afinal tínhamos tempo pra conversar e esclarecer tudo depois.

Eu só não contava que alguém iria me ameaçar daquele jeito.

Finalmente estava amanhecendo, levantei da cama e fui correndo pro banheiro, tomando a ducha mais rápida da minha vida e vestindo uma roupa confortável pra ir ao metrô.

Saí de casa sem comer nada e fui ouvindo música no meu ipod, tentando me distrair com a música e as estações que passavam, mas nada parecia ser capaz de me deixar mais calma hoje.

Eu podia pressentir que iria ser um longo longo dia.

Os minutos pareciam não passar, e quanto mais o metrô ficava lotado, mais eu sentia que o tempo estava congelando. Acho que nunca demorei tanto, ou ao menos senti que demorei, para chegar até a estação perto da Giulliard.

Respirei fundo e passei direto pela cafeteria que costumava comer quando não tomava café em casa. Não tinha ainda nenhuma fome e eu só queria ter certeza que veria Peeta antes de qualquer pessoa.

Precisava vê-lo pra tirar esse estúpido pressentimento ruim que estou tendo desde que li a mensagem.

Depois de tudo que ele fez Peeta não iria terminar comigo por achar que eu menti pra ele não é? Eu esperava que não, pois tudo que eu tenho feito nas últimas semanas é mentir pra ele.

E ele nunca mentiu pra mim.

Fui até a sala de aula dele, e fiquei esperando num banco ao lado da porta, vendo os alunos chegando e entrando animados demais pro meu gosto. Alguns eu reconhecia da festa da Annie, mas não me sentia com vontade de cumprimentar ninguém.

Estava tão nervosa que praticamente pulei do banco quando meu celular vibrou com uma mensagem.

- Tudo bem, eu já estou começando a ser ridícula.

- Tá falando sozinha agora, Kat? – falou Annie sorrindo do meu jeito abobalhado.

- Não. Eu estava esperando Peeta.

- Isso eu notei. Minha festa foi a noite dos recomeços. – ela disse feliz, e eu fiquei contente que meu irmão finalmente tinha criado juízo.

- Eu acho que sim. Você não viu Peeta na entrada?

- Ainda não. Você não quer entrar?

- Não. Eu preciso falar com ele. É meio urgente.

- É sobre o Tresh?

- Tresh?- falei sem entender.

- Bem agora que vocês voltaram não tem mais por que deixá-lo achar que você ficou com amigo dele né?

- Eu tinha me esquecido disso. – disse desanimada. Ainda tinha esse detalhe.

- Kat, você tá bem?

- Não muito, mas vou ficar depois que conversar com Peeta.

- Tudo bem. Qualquer coisa é só gritar por mim. – Annie falou e me deixou sozinha.

Assim que ela entrou chequei a mensagem. Era Peeta dizendo que iria se atrasar e me via no intervalo.

Que ótimo. O dia tinha como ficar pior? Sentei ali disposta a perder meu ensaio e esperar por ele, mas eu não podia. Hoje era o primeiro ensaio com os garotos e Portia me mataria lentamente se não estivesse lá.

Bufei e peguei minha mochila. Não tinha nada que eu pudesse fazer além de esperar.

Troquei de roupa no vestiário, ignorando completamente a presença de Clove e fui pra sala onde Glimmer já estava ensaiando ao lado de um moreno bonito que se chamava Gale. Eu lembrava dele de algumas apresentações que assisti quando ainda não era aluna daqui.

Quando ele e Glimmer dançavam conseguiam fazer todos esquecerem o mundo que os rodeava. Ia ser bom ter um pouco de distração afinal.

Todas as garotas estavam se posicionando nas barras mas Portia bateu palmas nos chamando pro centro onde Gale e Glimmer estavam dançando. Pelo visto os ensaios começariam a ser mais reais com os garotos ali.

Cada uma de nós tomou seu lugar ao redor de Glimmer e eu pude ver um garoto loiro se aproximando de mim. Dançamos em silêncio até que ele me ergueu no ar e piscou pra mim ao notar que eu estava distraída. Por sorte Portia estava ocupada demais com o casal principal pra prestar atenção em mim.

- Gale não está tendo um bom dia pelo visto. A propósito... eu sou Cato.

- Katniss. Prazer.

- É todo meu, parceira. – ele disse sorrindo e eu sorri pra Cato esquecendo um pouco dos meus problemas e me concentrando no que mais amava fazer na vida: dançar.

Bem pelo menos algo de bom estava acontecendo naquele dia, não iria ser nada ruim ter Cato como parceiro.

Repetimos a cena em que o Cisne negro seduz o príncipe mais algumas vezes, e Gale realmente não estava no seu melhor dia, o que eu não podia entender porque ele era um dançarino fantástico.

Pelo visto até os melhores tinham direito há um dia ruim.

Glimmer estava claramente cansada de continuar na mesma cena, mas ela disfarçava com toda graça. Eu iria adorar um dia ser exatamente assim paciente como ela.

Portia liberou o restante de nós para treinar sozinha com Glimmer e Gale no outro salão, o que me fez sair quase correndo e sentir uma tontura, consequência de não ter comido nada ainda.

Antes que eu pudesse cair no chão, sentiu braços me sustentando no lugar.

- Você tá bem, parceira? – Cato falou ainda com os braços em volta de mim.

- Estou, foi só um mal estar. Não comi nada hoje. Só isso.

- Você não devia ensaiar sem comer.

- Eu sei disso, Cato... Desculpa, eu não quis ser grossa com você.

- Tudo bem. Só vem, vou te levar pra comer alguma coisa.

- Obrigada, mas eu não posso agora. Eu tenho que...

- Katniss, se eu te soltar acho que você vai acabar no chão. Vamos comer e depois você pode sair correndo pro seu compromisso.

- Você não vai me largar até que eu coma alguma coisa, vai?

- Sem chance.

- Tá vamos comer, parceiro.

Afinal alguns poucos minutos tomando um café pra não desmaiar quando visse Peeta não iriam fazer tanta diferença assim.

Pov Peeta

Eu estava animado naquele dia, parecia que finalmente as coisas estavam voltando a funcionar pra mim e queria demais ver Katniss, agora que eu podia chamá-la de novo de minha garota.

Não consegui chegar a tempo da primeira aula, pois acabei dormindo na casa da minha avó e o trânsito estava bem pior esta manhã por conta de um acidente. Corri para o estúdio de ballet, depois de olhar mil vezes pro relógio e ter certeza que o ensaio de Katniss já tinha realmente acabado.

Ela sempre ficava até mais tarde ensaiando então foi uma grande surpresa pra mim quando cheguei até lá e não a encontrei. Deixei que algumas garotas saíssem dali, passando por mim na porta, dando risinhos na minha direção e no fundo juntando suas coisas avistei Clove.

Ia sair dali antes de mais um momento desconfortável entre nós, mas ela já tinha me visto.

- Eu achei que depois de tudo você iria ao menos me odiar um pouco menos.

- Já disse uma vez que não odiava você.

- Eu disse a verdade pra Kat, Peeta. Vocês voltaram não foi? Não era tudo que você queria?

Me aproximei dela sem entender nada daquilo.

- Que verdade, Clove?

- Você nunca traiu a Katniss, Peeta. Você achava que eu era ela.