As palavras da profecia tinham força, dissera Samael.

Um pequeno conselho havia sido convocado às pressas. Pequeno é um modo de falar, por que havia pelo menos trinta pessoas reunidas. Era pelo menos um representante de cada um dos chalés, os conselheiros. Daniele representava o chalé de Atena. Thaís, o chalé de Afrodite. Havia ali alguns sátiros e uma mulher linda, com cabelo, olhos e lábios azuis. A pele também parecia azulada. Além de Kelly, Dayane e Neto, claro.

– Enigmático... – diz Daniele, como se a analisasse. – As palavras não fazem sentido juntas...

– Por enquanto. – diz a mulher azul. – Profecias só começam a fazer sentido durante as missões.

– Falando em missões, os novatos precisam de uma! – diz Samael. – O próprio Hades falou. E Dayane deverá ser a líder dela.

Dayane treme ao lado de Kelly.

– Precisamos do oráculo! – ele decreta.

Então Thaís coloca a adaga sobre a enorme mesa redonda na qual eles estavam reunidos.

– O oráculo pode se manifestar na adaga de Thaís. – diz Daniele aos três, que pareciam, e estavam, sem entender nada. Kelly olha curiosa para a mulher azul – Ah, aquela é Tétis, uma deusa primordial, personificação da prudência, filha de Oceano.

– Por que na adaga de Thaís? – Neto pergunta.

– Thaís é uma das mais poderosas semideusas que já apareceram neste acampamento. – Daniele explica – Não ficaria surpresa se ela fosse uma das sete. Poucos têm a dádiva de ganhar um presente dos deuses. Ela teve. A adaga foi um presente de minha mãe Atena durante uma missão. Chama-se Katoptris, é a adaga que Helena usou, na Grécia Antiga.

– Nossa! – é tudo o que eles conseguem dizer.

Então uma linha de fumaça verde sai da ponta da adaga. Forma-se uma imagem difusa, trêmula. Parecia um rosto, velho, cansado, adormecido. A pele do rosto parecia areia. Os lábios eram rachados. O nariz, incrustado por pedrinhas.

– Oh, não! – murmura Tétis, a mulher azul.

– “Oh, não” que? – perguntam muitos dos conselheiros.

– Esperem... – ela diz.

A imagem do rosto é substituída por a de um pergaminho. Mas este se materializa e cai na mesa. A fumaça some.

– Temos a missão para os três! – diz Samael, pegando o pergaminho. Ele lê as linhas em voz alta. – A filha do submundo lidera a missão. Da vingança dos gigantes os sete nascerão. No labirinto precisam se localizar. Para o caminho ao herói perdido encontrar. O elmo de Hades é o destino final. Cuidados, pois na terra esconde-se o mal.

– Por que nós? – Kelly levanta-se nervosa – Somos tão inexperientes. Há pouco tempo eu nem sabia que era uma semideusa! Agora já estou envolvida em uma missão provavelmente perigosa.

– Infelizmente, ordens divinas... – Thaís diz. – Se dependesse de mim eu mesma iria nesta missão.

– Vocês encontrarão Alisson! – diz Daniele – Como bem disse Thaís, eu também iria de bom grado. Mas só vocês devem estar nessa missão!

– Enfim, o que este Alisson tem de mais? – Neto quer saber.

– Ele é simplesmente o melhor campista que já apareceu aqui! – diz Samael. – Ele com certeza é o herói perdido ao qual a profecia se refere. Ele e Thaís são nossos mais poderosos semideuses atualmente. Daniele também não fica para trás... – ele pisca para as meninas.

– Ele é meu melhor amigo... – diz Daniele.

– Ele é meu namorado. – fala Thaís.

Kelly nota uma momentânea expressão de desapontamento no rosto de Neto. Sente vontade de rir, mas estava muito tensa para fazê-lo.

– Temos que escolher os sete semideuses da Grande Profecia! – grita um dos conselheiros. Kelly não podia ter certeza de quem era, mas podia jurar que tinha sido um dos caras mal encarados, um rapaz alto e musculoso com um pano vermelho-sangue amarrado na cabelo e óculos estilo bad boy.

– Sem pressa! – o repreende Samael. – Ao que me pareceu, esta missão é um teste. Caso a realizem e se mostrem dignos, os três novatos estarão entre os sete. E posso garantir que nem todos os sete serão deste acampamento... – ele fala esta última frase olhando para Dayane.

Kelly não conseguia se imaginar lutando contra o tão temido inimigo do Olimpo.

– Ah! E agora explique o “Oh, não”... – fala um dos campistas. Era o conselheiro do chalé de Hermes, um dos meios-irmãos de Kelly.

– Espero de verdade que eu esteja errado... – Tétis fala – Mas aquele rosto é de Gaia!

Um murmurar espalha-se entre os jovens. Kelly fica tensa. Aquela não parecia ter sido uma boa notícia. Quem era Gaia, e porque ela assustava tanto a todos?

– Gaia? – enfim fala uma menina. Kelly percebe que era a moreninha de macacão. – A Terra?

– Sim, Renée. – confirma Tétis.

– Renée é a conselheira do chalé de Hefesto – explica Daniele, em voz baixa – Tem apenas sete anos, mas não se espantem, ela é ótima em traçar planos, construir armas de batalha e no combate corpo-a-corpo.

– Habilidades que o Neto também terá, certo? – Kelly adivinha.

Daniele confirma com a cabeça.

– E eu? Quais minhas habilidades? – ela quer saber.

– Os filhos de Hermes são ótimos esportistas. Correm mais rápido que qualquer outro. São espertos. Armadilhas são as suas especialidades. E conseguem... Como dizer isso? Pegar coisas “emprestadas” facilmente...

O modo como Daniele disse "emprestadas" fez Kelly sorri. Ela entendeu direitinho o que ela quis dizer.