Vida de Modelo Não é Fácil

Os flashes, as pessoas observando, as poses superficiais, tudo era incomodo. Sasuke não conseguia seguir o que o fotógrafo falava, se concentrar apenas na lente da câmera e muito menos se sentir à vontade tendo aquele refletor enorme voltado para sua cara. Quase um Sol próprio, suava o tempo todo, porém não sabia definir se era pelo calor da luz forte ou de nervosismo mesmo.

A partir de hoje levaria um pouco mais a sério o trabalho dos modelos. Do seu ponto de vista era tudo muito simples, nada digno de consideração. Uma pose, um carão, o fotógrafo pedia qualquer coisa e era só fazer, pronto! Foto batida, trabalhado acabado. Mas a coisa era bem mais complicada, ao menos, ele estava achando, se sentia um idiota por não conseguir fazer nem uma pose decente sem parecer travado, ou manter-se estático por muito tempo. Também não conseguia entender as ordens ou pensar o que “viril com ar de sensível” queria dizer.

Já estavam naquilo há duas horas e das centenas de fotos que tiraram apenas umas 10 davam para o gasto e pela cara, nada contente, de Kiba isso não era o suficiente. Ninguém aguentava mais olhar para Sasuke da mesma forma que ele não aguentava olhar para eles. O fotógrafo ainda tentou uma última vez, mas desistiu quando viu que não tinha progresso e resolveu pedir uma pausa.

Uma pausa era tudo o que Sasuke mais queria, precisava repor as energias ou explodiria. Ele e todo mundo, já estava vendo a hora que alguém – vulgo o fotógrafo – tentaria mata-lo.

No momento sua principal necessidade era sentar e comer alguma coisa, já que só tinha o desjejum em seu estômago, feito a tanto tempo que ele já nem conseguia contar mais. Foi em direção a mesa intocada de pães e frutas, se servindo de um copinho de café e uma rosquinha.

O ateliê de Orochimaru continuava cheio de pessoas indo de uma ponta a outra, parecia que por ali o movimento nunca diminuía. A frente da mesa em que Sasuke estava tinha outro ensaio acontecendo, mas ele não conseguia ver quem era a modelo da vez pelo aglomerado de pessoas em volta do local.

Pegou outra rosquinha e seguiu até a multidão, apenas para descobrir que a razão de todo aquele fuzuê era sua carrasca Sakura Haruno. Estava no meio de uma sessão de fotos e as pessoas em volta pareciam inebriados por ela. O ensaio não era sensual, era bem extrovertido na verdade, mas ainda assim Sakura parecia seduzir a câmera e os espectadores.

Ela ia de uma pose a outra com agilidade e graça. Fazendo parecer tão fácil e simples, tão natural que o surpreendia. A afinidade era notória para qualquer um, Sasuke se viu tendo inveja do fotógrafo, queria ser ele a estar batendo aquelas fotos. Sakura era bonita, ele nunca negaria esse detalhe. Vendo-a ali, em frente às câmeras, podia entender o fascínio de Naruto por ela. Tornava-se outra pessoa, alegre, sensual, simpática. Não a louca psicótica de olhar vidrado que o chantageava. Chegava a se perguntar se a garota que o agarrou na saleta daquele apart era a realmente Sakura ou só mais uma de suas facetas.

E afinal qual seria a verdadeira?

Não sabia se podia fazer isso, mas como ninguém o recriminou quando tirou o celular do bolso e acionou a câmera, bateu algumas fotos com o seu próprio celular, deixando registrado os momentos que mais gostou. Quando a primeira leva acabou, algumas pessoas e o fotógrafo responsável a saudaram, logo o circo em volta deles foi se desfazendo. Uma equipe entrou em ação e começou a desmontar o cenário.

Assim que Sakura o avistou no meio das pessoas, sorriu e caminhou em direção a ele. Sem cerimônia ela pegou o último pedaço de sua rosquinha, a comendo logo em seguida.

— E ai? Suas fotos já acabaram? — Não demorou para alguém aparecer com um guardanapo para que ela limpasse as mãos e a boca.

— É, pode se dizer que sim — ela o fitou intrigada pela resposta e fez sinal para que o seguisse.

— Como assim “pode se dizer”? — a imitação precária do tom de voz dele, apenas fez com que Sasuke revirasse os olhos. — O fotógrafo não disse se acabou ou não? — estavam fazendo o caminho de volta ao camarim, Sasuke chegou a olhar para atrás, mas Kiba não tinha voltado para a estação deles.

— Não. Acho que ele desistiu de mim — Sakura fez uma careta, parando de caminhar e segurando, abruptamente, o braço do Uchiha.

— Por que ele faria isso? Ele é profissional, sabe que tem que tirar suas fotos — ele deu de ombros, cruzando os braços em frente ao corpo.

— Sou péssimo. Não sirvo para isso — Sakura revirou os olhos.

— Você não pode ser tão ruim assim.

— Acho que eu posso sim — tentava conter sua felicidade e bancar o inocente, mas estava cada vez mais difícil. Não, ele não tinha armado, era ruim de verdade, mas era o tipo de coisa que só podia dar graças ao universo por ter acontecido e por ser assim. Nunca esteve tão contente por ser uma lastima em algo. — O fotógrafo e as pessoas que o auxiliaram são testemunhas da minha falta de talento. — Sasuke deu um longo suspiro sacudindo os ombros. — É, parece que você vai ter que desistir de mim. Uma pena, não?

— Hummm...

Sakura não gostou nada dessa perspectiva, soltou Sasuke fazendo o caminho de volta. Passando pelo ponto onde o ensaio dela tinha ocorrido e indo até o local que Kiba estava.

Kiba estava sentado em frente a uma mesa com duas garotas ao seu lado, um notebook aberto a sua frente e a câmera ao lado. Sem pedir licença Sakura pegou a câmera e começou a passar as fotos que Sasuke tinha feito aquela tarde. Olhou uma a uma, e a cada imagem passada pior ficava o seu estado de espirito. Ele não tinha mentido quando disse que não foi bem, na verdade ele tinha ido de mal a pior. Estava travado, os músculos enrijecidos, algumas ele parecia até mesmo estar com medo.

Bufou voltando seu olhar para o culpado em questão, que parecia muito despreocupado com o seu recente fracasso e isso só aumentou a raiva dela. Ele estava adorando estar indo mal. Isso não ficaria assim, não mesmo, se Sasuke pensava que precisava de tão pouco para faze-la voltar atrás estava muito enganado.

— Não tem problema — ela sorriu, com as mãos na cintura.

— O que? Mas eu fui mal. Não está vendo? — Ele apontou para a câmera cheio de incredulidade.

— Estou vendo, mas eu tenho uma ideia do que fazer para melhor essa situação. Kiba, vem comigo. — Com um sorrisinho presunçoso Sakura o deixou para trás.

Nenhuma ideia dela poderia significar algo de bom para ele. Pensou seriamente em ir junto com eles, mas antes que chegasse ao camarim uma garota surgiu e o puxou para o outro lado. Jogando em cima dele mais peças de roupas para por. Aparentemente ele voltaria mesmo a fotografar, suspirou começando a desabotoar a calça.

Felizmente o colocaram em roupas confortáveis, muito diferente dos terninhos, blazeres e roupas de marinheiro que havia usado para a primeira sessão. Sentia-se tão ridículo usando aquelas peças apertadas, coloridas. Muita cor e informação para ele, em uma foto amarraram um lenço vermelho no pescoço dele. Tenha dó, um lenço era demais.

Porém agora vestia algo que até fazia seu estilo, jeans escuro, uma blusa de linho sóbria, não compraria gola “V”, mas a jaqueta de couro era algo que ia gostar de ter em seu armário. Até tinha uma, não como aquela. Não tinha dinheiro para comprar essas roupas, mas era algo similar ao que ele vestia.

Já vestido a mesma garota que o pegou o acompanhou até a área em que suas fotos seriam batidas, a mesma de antes. Esperou pela aparição dos dois, esperou tanto que sua boa vontade estava por um fio e a paciência indo junto quando Kiba voltou e logo atrás vinha uma Sakura, versão fofura – se é que isso era possível.

Ela usava na cabeça um arco verde bebê, os cabelos róseos encaracolados nas pontas, um vestido da mesma cor que o arco, gola “U”, sem decote, sem volume ou babados. Simples e reto, com estampa de ancoras brancas, com um cintinho branco na cintura, ia até o meio das coxas, uma jaqueta de couro por cima, com os braços engelhados, meia-calça preta e uma bota de salto engelhada que ia apenas até a canela. Sorrindo, ela parou em frente a ele:

— Então? Pronto para fotografar? — na mesma hora Sasuke gelou, sua atenção indo e voltando de Kiba para ela.

— Vou fotografar com ela? — apontou para Sakura estupefato. — Nós dois juntos?

— Sim, somos um casal e devemos ser o mais fofo do momento — foi Sakura quem respondeu, passando os braços pelos ombros dele. — Não se esqueça disso, amor — disse, sorrindo e roçando a ponta do nariz na bochecha dele. Aproximou sua boca da dele, sussurrando sobre os lábios rosados e macios. — Lembre-se que só Orochimaru sabe o que está acontecendo. As outras pessoas podem até pensar que é algum tipo de marketing, mas certeza nenhuma delas tem.  Você é meu novo namorado e caso ainda não tenha percebido: A encenação já começou, meu lindo. E ela não vai acabar tão cedo — dizia tudo entre sorrisos e caricias, para quem via parecia que ela só estava curtindo com o seu namorado. Talvez falando alguma obscenidade ou o tipo de brincadeira que casais faziam.

Sasuke estava perplexo demais para falar ou fazer qualquer coisa, só olhava para uma esfuziante Sakura, que sem deixar de sorrir, se voltou para o fotógrafo.

— Já podemos começar as fotos. Vamos ver o que o senhor travado consegue fazer — piscou, voltando sua atenção para Sasuke. — Esqueça as câmeras, as pessoas em volta, foca em mim. Você pode até pensar em formas de me matar, mas tenho certeza que existem outras opções melhores que essa — dizendo isso Sakura aproximou as mãos do rosto dele, como se fosse segurá-lo, virando-o para o outro lado.

— Você é louca. Sabe disso, não sabe?

— Posso até ser, mas você é meu. — Sakura o agarrou pela jaqueta e puxou-o de encontro ao seu corpo, sorrindo sacana, jogou sua cabeça para trás, enquanto Sasuke apenas observava de cima para baixo. Ouviu o clique da câmera e se virou para fita-lo, mas ela voltou a virar o rosto dele em sua direção.

Sakura ameaçou beija-lo, os dedos frios ainda tocando no queixo dele, a boca aberta a milímetros de distância. Sasuke não conseguia olhar para outro ponto que não fosse os lábios rosados e de aparência aveludada e ele se viu querendo beija-la, mas antes que tomasse qualquer atitude Sakura já estava mudando de pose e jogando a cabeça para trás outra vez.

Era uma dança, ele demorou muito a perceber que cada passo era minimamente calculado e nada do que ela fazia era real, o guiou pelo tablado com destreza. Os olhos ora cravados nele, ora cravados na câmera. Ela o puxava, empurrava, abraçava por trás. Ameaçava rasgar sua blusa, sorria com serenidade e dava meio sorrisos provocantes.

Suas vestimentas foram trocadas uma porção de vezes. Primeiro foram os acessórios que ela usava, depois o vestido. Ele se soltou com ela, não que tivesse notado, foi natural, espontâneo. Porque Sakura parecia uma força da natureza que o tragava, o mantinha refém e ali, performando ele não conseguia deixar de se sentir fascinado.

Fascinado e contrariado.

Sakura era uma megera na maior parte do tempo, mas ali, ela parecia outra pessoa. Não era a garota que o encostou na parede e o chantageou, muito menos a fresca do seu apartamento. Outra Sakura estava a sua frente e ele se sentia desconfortável por ter pensado que seria bom beija-la e mais desconfortável ainda por continuar pensando assim todas as outras vezes que ela tencionou fazê-lo. E lá estavam eles outra vez.

Rosados, carnudos, apetitosos.

Com a ponta da língua Sasuke umedeceu os seus lábios, deu um passos para frente, mas dessa vez Sakura não recou e o que ele pensou ser apenas fingimento virou um beijo de verdade. Era apenas um colar de lábios que ele esperou ela pôr um fim. Ela não se afastou, manteve-se enquanto sentia as mãos dele tocar-lhe a cintura e a língua passar sobre os seus lábios finos. Apertou os braços tonificados, enquanto seu rosto ia de um lado para o outro e seus lábios se afastavam apenas para que ela pudesse mordiscar e puxar-lhe o inferior, os olhos semicerravam e logo voltavam a se fechar, para que os lábios se encontrassem mais uma vez e outra.

Sasuke apertou Sakura entre seus braços, perdido, entregue. O local em volta deles obliterado, até o som de aplausos ecoar. O fotógrafo tinha encerrado a sessão e em meio a sorrisos e aplausos, o espetáculo tinha acabado e a magia do momento se esvaia aos poucos. Afastaram-se, respiração descompassada, corações batendo forte. Ele queria dizer alguma coisa, falar alguma besteira, mas nada lhe vinha em mente.

— Sua performance é sempre um arraso, senhor Uchiha. Vejo que escolhi a pessoa certa para começar esse namoro de mentirinha — Sakura juntou as mãos em frente ao corpo e se afastou, deixando Sasuke para trás. Ele ficou a observar a silhueta esbelta tomar seu caminho com alguns assistentes a sua volta.

— Bela namorada a que arranjou. — Sasuke ouviu o fotógrafo dizer. Kiba estava com um cigarro preso nos dentes, observando o pontinho rosado sumir em meio as pessoas. — Não me lembro de tê-lo visto antes pelo circuito. — Sasuke abriu a boca para respondê-lo, mas Orochimaru o impediu. Puxou Sasuke pelos ombros, com um sorrisinho afetado.

— Não é para menos, esse é meu new face, meu achado. Ainda tem um pouco de dificuldade com as marcações, mas é uma força da natureza. Você pode comprovar, não é mesmo? Na arte da espontaneidade ele faz qualquer um babar por essa carinha. — Oro segurou as bochechas dele, Sasuke logo se afastou, o deixando com o fotógrafo.

Não gostou nada dessa história de ser a nova descoberta daquela criatura. Sakura não precisou explicar, ele entendeu sozinho “o jeito” que ela tinha dado quando o colocaram na primeira roupa e o jogaram no tablado para fotografar.

Não tinha nascido para essa vida. No final do dia já estava cansado e sem paciência para aquele bando de gente, tocando e mandando nele. Ao menos tinha apreciado as duas últimas roupas que vestiu. O que não compensava um dia inteiro nesse caos, nunca tinha pensado que isso poderia ser tão trabalhoso e cansativo.

Já no camarim colocou seu velho casaco de lã, sua calça batida e seu tênis surrado. Foi ao encontro de Sakura - que usava um sobretudo mais o vestido verde da primeira sessão deles juntos –, parada a porta do ateliê conversando com o estilista excêntrico e com algumas sacolas de compra no chão, todas com o logo de Orochimaru.

— Não vai se trocar? Não vamos embora agora? — Sakura se virou, torcendo o nariz ao vê-lo novamente naquelas roupas.

— Ela não precisa, meu bem. Nem você precisava, pode escolher uma roupa entre as que usou hoje — disse Orochimaru, dando uma piscadela em seguida.

— Como assim? Não tenho dinh...

— Você não precisa pagar, querido. É costume de algumas marcas dar algumas peças da sua coleção aos seus modelos. Algumas especificas, outra a gosto — Orochimaru puxou o celular do bolso, digitando algo bem rápido na tela touch. — E amanhã vocês vão ter que voltar, eu ainda tenho que mostrar as fotos dele a um amigo, mas ele vai gostar. Então o contrato com ele já pode se considerar fechado, pode garantir e comigo nem precisa perguntar. Só assinar mesmo, bem cedinho. Sem atrasos. — Sasuke ficou a observar o designer sair com seu gingado peculiar.

— Minhas roupas e suas roupas. — Ela apontou para as sacolas em volta deles.

— Eu não escolhi. — Sakura deu de ombros, cruzando os braços em frente ao corpo.

— Mandei que Shizune comprasse algumas para você também, então amanhã se quiser trocar é só trazer. — Com um suspiro ele se abaixou, pegando as bolsas, não eram muitas, umas dez pelo menos e estavam leves. — Agora vamos, as outras já estão no seu apartamento.

— Você vai voltar para lá? — Sakura foi na frente, uma BMW os aguardava com um motorista a porta.

— Mas é claro que vou. É o nosso ninho de amor. Para onde mais eu iria? — Talvez para casa; pensou o Uchiha, mas nada disse. Carregou as bolsas até o porta-malas e se acomodou ao lado dela no banco de trás.

O silêncio predominou durante todo o percurso. Sakura não largava o celular, agora que ela estava com a bolsa e seus pertences mais necessários (em tese) o ignorava por completo, de qualquer forma ele estava exausto. Não ligava de estar sendo ignorado. Assim que eles chegaram ao apartamento, Sasuke ficou pasmo com a quantidade de sacolas de compras que tinham por lá. Naruto estava sentado no sofá entre uma dezena delas.

— O que é isso? Você comprou uma loja inteira? Um shopping? — largou as que carregava no chão de qualquer jeito.

— Não, só algumas poucas coisinhas necessárias — passou a frente de Sasuke, pulando as sacolas no chão. — Você não pode se esquecer de que agora é uma pessoa com dinheiro, estilo e status. Não pode mais vestir seus trapos, querido — jogou algumas bolsas que estavam na poltrona ao chão, sentando-se logo em seguida, largando suas coisas em cima da mesinha. — Você precisava de roupas para o dia-a-dia, para a noite; para eventos matutinos, à noite, jantares, festas na praia; para a night, lazer, esportes, shows; para pegar o jornal na porta, ir à padaria, dar uma volta na pracinha, até para aparecer na janela você precisa de um modelito decente. Enfim, você precisava de um novo armário e isso a nossa volta não é nem metade, acredite. Ainda vão tirar suas medidas para os ternos. — Sakura explicava como se a coisa toda fosse muito comum e casual, sem deixar de largar o celular para fita-lo. — As coisas vão para o seu apart-hotel amanhã, ok? Não precisa se estressar com a bagunça do momento

— E onde eu vou dormir essa noite? — Sakura revirou os olhos.

— Para de melodrama até parece que não podemos larga as bolsas em cima da mesa, nos cantos, no seu quarto, ou você pode dormir na cama comigo, não vejo problema nisso. — Sakura deu uma risadinha mínima, piscando logo em seguida.

— Mas eu vejo. — Naruto se pronunciou pela primeira vez desde que o “casal” entrou no apartamento. Tinha observado a cena se desenrolar com amargura, afinal aquela discussão boba o fazia pensar neles como uma casal de verdade e ele odiava isso. — A gente dá um jeito para o idiota ficar na sala. Pode enfiar algumas bolsas no meu quarto se for preciso.

Naruto deixou o pão que comia sobre a mesa, enquanto começava a recolher as bolsas de cima do sofá. Abrindo espaço para que Sasuke pudesse dormir ali. Largou alguma nos cantos, outras em cima da mesinha e jogou a maioria no próprio quarto. No sofá ficou apenas uma mala rosa, com detalhes em prata.

— Mas afinal você vai para casa quando? — Sasuke mantinha os olhos fixo na peça de rodinha que a Haruno pouco ligava, parecia que nem tinha notado.

— No momento certo, amor, apenas no momento certo.

Sasuke bufou, pegou a mala dela e a levou para o quarto. Quando voltou a aparecer na sala já tinha se trocado, usava um conjunto de moletom cinza. Já era noite, foi um dia cansativo, queria muito deitar e apagar. Assim que ele cruzou o batente, Sakura se levantou, indo direto para o quarto dele. Assim que ela retornou ele se espantou ao vê-la usando o casaco de lã que tanto criticou e virou o nariz mais cedo.

— Achei que não fosse uma peça “adequada” — ela sorriu, dando de ombros, se sentando no sofá em que ele dormiria, puxando a coberta que estava no braço do sofá para se tapar.

— Não para usar em público, mas ótima para dormir. — Sasuke revirou os olhos, indo até a cozinhar pegar um copo de leite.

O toque do celular de Sakura sobressaltou os dois. Ela se esticou com agilidade pegando o aparelho e ao ver quem era tratou de se enfiar no estreito corredor da varanda, entre o quarto de Sasuke e Naruto.

— Oi, o ensaio já acabou — falava baixo, os braços cruzados, o dorso encolhido —, não vou voltar para casa agora — de onde Sasuke estava pode ouvir o suspiro irritado dela. — Já te expliquei o que eu estou fazendo. — Sakura encostou a cabeça na parede, revirando os olhos. — Não me importa! Dê qualquer resposta, ela deveria estar cuidando da agenda de Mebuki, não se metendo na minha vida — a cada silaba a irritação de Sakura ficava mais óbvia. Ele terminou de esquentar o leite, voltando para o sofá sem deixar de fita-la. — Não fique me enchendo com isso, não quero saber o que a Tsunade pensa, ou deixar de pensar. Não conte para ela sobre o meu plano. É uma ordem! — E desligou a ligação com uma expressão bem irritada.

Sasuke já tinha terminado o seu leite e agora fingia arrumar a cama para não ficar tão na cara que prestava atenção no que ela dizia ao telefone. Odiava fofoca, mas no caso de Sakura era necessário, ela poderia estar armando para ele, precisava saber antes que fosse pego de surpresa por outra das loucuras dela.

Ela se virou em direção a ele, Sasuke puxou as cobertas se enfiou debaixo delas e voltou a olha-la, mas não por muito tempo, pois ela logo abanou a cabeça e correu para o quarto. Acomodado no sofá, se enrolou bem, não deixando nenhuma fresta no seu casulo de edredom. A noite estava fria e o aquecedor geralmente só pegava bem nos quartos o resto do pequeno apartamento ficava um frio de doer os ossos.

Sasuke voltou a fitar a porta de seu quarto. A conversa que presenciou minutos atrás ainda estava fresca em sua cabeça, talvez Sakura fosse uma pessoa sozinha. Não que isso desse razão para o seu comportamento, mas ela querer ficar em um apartamento tão simples quanto o dele era de se estranhar. Não tinha como afirmar, mas era a única justificativa plausível que encontrava. Talvez ele perguntasse ao Naruto se ela tinha algum problema familiar e se esse comportamento todo era só fachada. Mas agora não queria pensar em Sakura e suas questões, encolheu-se da melhor forma que pode no estreito sofá e fechou os olhos, outro longo dia o aguardava.

Página: Fleur D'Hiver