Aluga-se Um Namorado escrita por Fleur dHiver


Capítulo 21
Quem é esse homem?


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas. Desculpa o atraso. Mais cá estamos com o capítulo de AUN, eu não sabia que nome por. Então foi esse mesmo, mas devo mudar depois. Espero que todos gostem. Um bom dia dos pais e uma boa leitura;*



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Os pequenos ruídos pelo quarto foram despertando-o aos poucos. No entanto Sasuke lutou, arduamente, o quanto pode para se manter nos braços de Orpheu. Tentando permanecer em seu sonho bom, em que vislumbrava Sakura a um passo de se declarar. As bochechas ruborizada, um sorriso doce naqueles lábios tentadores, usava um gorro, o que a deixava mais adorável ainda, se é que era possível. Estava quase lá, estava quase dizendo as palavras, ela abaixou a cabeça com timidez, pegou nas mãos dele e...

— Sasuke... Ô, Sasuke — o sussurro ao pé do ouvido dele destruiu a imagem mental em dois tempos, mas isso não foi ruim, todo o seu corpo se arrepiou com aquela voz. — Eu preciso que você acorde. — Pensou em fazer um pouco de charme e manha para testar os meios de persuasão de sua namorada – sim, namorada. E ele não se cansava de repetir essa palavra em sua cabeça – permaneceu deitado, imóvel, porém Sakura não queria enche-lo de beijos e rolar na cama agarrada a ele. Ela queria atenção, precisava de atenção.

Cutucou a bochecha dele com a ponta dos dedos, começou com toque sútil e lento, mas pela falta de reação ela continuo batendo o dedo em um ritmo cada vez mais acelerado e persistente. O rapaz se retraiu com o contato, grunhiu e bufou, mas não abriu os olhos. Sakura soltou uma exclamação exasperada subindo na cama, se Sasuke achava que poderia vencê-la estava muito enganado. De pé no colchão ela pulou, sem dó, em cima das costas dele.

— Maldita! — a voz de Sasuke saiu rouca e esganiçada, entrecortada por uma tosse sofrida.

Ela não era pesada, mas o impacto o tinha feito engasgar e ficar sem ar. Além da dor nas costas, podia sentir o ponto exato que o cotovelo dela acertou, bem acima das suas costelas. Sakura definitivamente não pensava antes de agir. Sasuke suspirou, esticando os braços e ficando de lado, forçando-a a sair de cima dele.

— Qual é o seu problema? Não sabe acordar alguém gentilmente? — ela revirou os olhos pela resposta mal criada.

— Eu tentei, mas você ficou se fazendo de morto.

Sakura girou, aproximando-se dele outra vez e mantendo seu rosto a poucos centímetros do dele. Assim que Sasuke abriu os olhos a primeira coisa que viu foi aquela íris esverdeada. Sufocou o suspiro que queria escapar, ela não merecia sua atenção apaixonada no momento. Com ferrenha determinação passou a fitar a parede a sua frente, mas precisamente o quadro pendurado nela, observando com todo o interesse do mundo as pernas de uma bailarina.

— Bem, bom dia, dorminhoco. Preciso te mostrar um monte de coisas — Sasuke estranhou a animação matinal, as poucas vezes em que estiveram juntos pela manhã Sakura não lhe parecia tão bem-humorada e esfuziante como agora. Na verdade, muito pelo contrário, ela geralmente não ficava animada cedo e agora estava quase cantarolando ao seu lado.

Sem cerimônia alguma ela colou um tablet ao rosto dele, a claridade irritando os olhos sensíveis e semi-despertos dele. Retirou o objeto das mãos dela, ajeitando-se para que pudesse ler a notícia com atenção. Sakura encostou o rosto em seu ombro, apesar de já saber do que se tratava não se cansava de reler todas aquelas matérias, linha por linha.

Em sua mais sincera opinião aquela era uma notícia idiota. Sasuke tinha noção de que deveria se importar com o mundo da moda e com os pormenores que o envolvia, já que era o seu mais novo ganha pão. No entanto aquelas informações eram tão fúteis e desnecessárias que ele com certeza poderia viver sem.

Tudo bem que citavam o desfile, as peças, os possíveis investimentos. No entanto isso só era frisado nos primeiros parágrafos de resto era apenas fofoca do que tinha acontecido no evento, incluindo eles, que foram chamados de “casal sensação” — clichê, puro clichê – e que haviam ofuscado os outros participantes com a presença imponente, que esbanjavam um carisma singular.

Singular no dicionário significava algo único, exclusivo, no entanto para aquele tipo de matéria Sasuke sabia bem que era "falta de uma adjetivo melhor". Tudo o que eles não sabiam nomear era chamado de singular.

— Não é só essa matéria — os dedos de Sakura deslizaram pela tela do aparelho, passando para as abas seguinte. — Tem mais três sobre o desfile, citando a nossa participação, obviamente, e mais cinco falando com exclusividade sobre nós dois. — Sakura passava o dedo de um lugar ao outro, mostrando a ele cada pequena linha que os citava, mal lia o que dizia, sua atenção estava direcionada a cabeça dela escorada em seu ombro. O cheiro de champanhe ainda estava impregnado em seus cabelos, mas não era ruim ele se deliciava com esse aroma e com a vontade abrasadora de afaga-los e toma-la para si. Por que tinha que ser tão irresistível? — Olha essas fotos! Nossa, eu estou linda demais nessa. Meu cabelo está uma maravilha. Adoro quando ele faz essas ondinhas, me dá um ar sensual e inocente dependendo do ângulo. Fotografamos muito bem juntos, olha esse beijo! Parece até campanha de alguma marca. — se focou nas fotos que ela observava maravilhada. Não estavam no desfile ou no evento que teve em seguida, mas sim na rua, a luz do dia, deu zoom, notando que estavam parados em frente ao edifício em que Sakura morava.

— Quando foi isso?

— Acredito que ontem de manhã quando me deixou na frente do prédio. — Pensar que um único dia se tornou uma odisseia de caos, mas esse não era o ponto. Sasuke espremeu os olhos.

— Eles já estavam atrás da gente antes do desfile?

Ah, querido, eles nos querem desde o réveillon. Agora só vai piorar — Sakura sorriu, apertando as bochechas dele, mas Sasuke não conseguia encontrar a graça que ela via.  Isso era péssimo. A pior notícia que poderia receber. Todo o pavor que sentiu ao ser chantageado por ela não chegava nem perto do que sentia agora. Não queria imaginar que todos os seus passos seriam acompanhados de perto a partir de hoje. — Estão falando de nós em todos os meios importantes. Somos o casal do momento. — Uma risadinha escapou dos lábios rosados, mas ele não conseguia acompanhar aquela animação. — Acho que nós dois poderíamos fazer algo de casal, tipo fazer outro passeio como aquele, mas não tão obvio. Só um caminhar de mãos dadas já está de bom tamanho.

Sakura havia apoiado os braços no peito de Sasuke, mantendo parte do dorso sobre o dele, enquanto continuava a observar as fotos, estava linda toda concentrada. Não usava mais o vestido, tinha trocado por um blusão, os cabelos pareciam despenteados, estavam presos em um rabo de cavalo mal feito que ele estava louco para solta. Não parecia que ela tinha acordado há muito tempo.

Em um movimento ligeiro, ele retirou o Ipad das mãos dela. Sakura o fitou com curiosidade, no entanto não lhe foi permitido questionar o que ocorria, os lábios rosados foram tomados em um beijo intenso. Sasuke circundou a cintura fina, trocando a posição deles, mantendo-a por baixo, encaixando-se entre as pernas dela e deslizando seus dedos ávidos para debaixo da camisa que usava.

Sakura correspondeu a investida com vivacidade, passando os braços em volta do pescoço dele, afundando uma das mãos nos cabelos negros e macios. Assim que os lábios de Sasuke deslizaram pela sua pele descendo até o pescoço, ela deixou que uma risadinha suave escapasse, quase um ronronado.

— Parece que vou tirar muito proveito desse meu investimento — o corpo de Sasuke gelo no mesmo instante. Ergueu a cabeça fitando o rosto delicado. — O que houve?

— Investimento?

— Você se sentiu ofendido com a escolha da palavra? Desculpa, não quis te tratar como um objeto ou algo do tipo. — Sasuke se afastou, sentando sobre as pernas no colchão macio, passou as mãos pelos cabelos sem acreditar no que ouvia. Parecia castigo, ele estava sendo castigado por algo profano que fez. — O que aconteceu? Por que está se afastando?

— Você se lembra da noite passada? Lembra como chegamos a sua casa? — Sakura se sentou na frente dele, tocando em suas coxas de uma forma intima, mas que ele não apreciou no momento.

— Vagamente. Lembro-me de sair do elevador aos beijos com você, não consigo recordar como chegamos ao quarto. Acho que em algum momento eu chorei... — um pequeno vinco surgiu, enquanto sua face se contorcia em uma careta de desagrado. — Acredito que isso tenha sido um sonho, essa parte do choro, sabe? Porque não faz sentido eu chorar e a gente transar.

— Transar?

— É, ué... ou você prefere “fazer amor”? Tudo bem para mim. — Ela deu uma risada nervosa, as bochechas levemente ruborizadas. Sakura estava adorável, animada como sempre, mas nenhum pouco apaixonada e ele quis se socar por isso.

— Por que acha que nós transamos?

— Bem, pelas coisas vagas que eu lembro, você está sem blusa — Ela não parecia sem graça ou arrependida, se algo nessa história servia de consolo seria isso, ao menos não se arrependeria de estar com ele. —, demos uns amassos no elevador e eu tenho certeza que colocaram alguma coisa na nossa bebida. — As mãos em suas coxas subiram um pouco mais, apertando-o bem de leve. — Quero deixar bem claro a você que eu não sabia. Não foi minha intenção droga-lo. Nossa, não! Eu queria você bem longe disso. Eu sinto muito, mas é a combinação perfeita para uma noite de sexo louco — ela deu de ombros, soltando-o e estendendo as mãos para ele — E você é... tudo isso. Por que eu diria não?

— Eu sei que você não teve culpa e você não precisou dizer não. — Desviou o olhar, cruzando os braços em frente ao corpo. Parecia uma piada de mau gosto, abriu o coração para ela e foi esquecido, agora uns amassos sem proposito algum estavam bem nítidos no imaginário de Sakura.

— Então nós não fizemos...

Sasuke negou com a cabeça e um silêncio incomodo surgiu entre eles. Naquele momento cada um estava preso aos seus próprios dilemas. As mãos de Sakura estavam caídas sobre as próprias pernas, observava o contorno das coxas, o osso de seu joelho proeminente, apertou a cintura por baixo da camisa, era fina, invejável para qualquer modelo.

— É por que eu sou muito magra? Imagino que seja difícil achar alguém que não tenha curvas tão voluptuosas atraente. — Voltou sua atenção a Sakura, com o cenho franzido, observava-a tirar suas próprias medidas. De novo aquela conversa, não tinha levado a sério na noite passada, mas agora parecia que Sakura realmente achava possível alguém não acha-la bonita. — Ou são os meus olhos? Eles são grandes, desproporcionais ao meu rosto, ao menos é o que eu acho. Ah, Karin! Ela tem mais corpo que eu. Ela é muito bonita. É isso, não é? Eu...

— Karin? Por que está falando dela? Eu não vejo nenhum problema com o seu corpo ou com os seus olhos. — Sasuke a segurou pelos braços finos, puxando Sakura para junto de seu corpo, não houve resistência. Com o rosto dela encostado em seu peito, apoiou o queixo no topo da cabeça dela. — Você é linda.

— Então por que não me quis? — A voz dela estava baixa e amuada. A vontade que tinha era de guardá-la em seu bolso se fosse possível. Sakura era uma casa com uma bela fachada, tintura impecável e trabalho primoroso que servia para esconder as rachaduras e infiltrações. Linda, perfeita, porém cheia de questões.

— Mas eu quis. Quis mais do que imagina, quis tanto que a pedi em namoro. — Na mesma hora que a frase foi proferida Sakura se afastou, desvencilhando-se do abraço aconchegante, pulando para fora da cama às pressas.

— Como assim? — questionou, com as mãos na cintura — Nós já namoramos...

— De mentirinha. O meu pedido foi para que virasse de verdade — o olhar dele era tão intenso que ela não conseguia continuar a fita-lo sem que seu estômago se revirasse. Abriu a boca algumas vezes para falar, mas nada saia. Ela tinha escutado certo? Ele tinha pedido ela em namoro?

— Você estava bêbado...

— Eu falava sério e ainda falo.

Sakura fitou os próprios pés, cruzando os braços. Só precisava lembrar de expirar e inspirar que tudo ficaria bem. Não tinha porque perder a calma e a tranquilidade. Não iria hiperventilar.

— Acho melhor tomarmos banho, provavelmente nós teremos o resto de dia bem atribulado. — Deu as costas a Sasuke, mantendo sua atenção em qualquer ponto, menos nele. — Eu vou na frente. Shizune vai trazer uma muda de roupa para você. — Não houve tempo para réplica, Sakura se enfiou no banheiro com uma velocidade invejável.

Estava fugindo dele, do pedido e do assunto. Deveria ter desconfiado da facilidade com que tudo ocorreu, não era ela falando, eram as drogas. Ela havia dito tudo que ele queria ouvir e agora, quando a Sakura de verdade estava de volta, a realidade o esmagava. Toda aquela doçura e fragilidade não formavam Sakura, se bem que essa segunda parte teria que repensar. Afinal ela realmente lhe pareceu alguém frágil nas duas vezes em que falou sobre seu corpo.

Sakura Haruno se sentia o patinho feio. Isso não tinha cabimento, muito menos lógica. Ela vivia repetindo aos quatro cantos do mundo que todos deveriam beijar o chão que ela pisava, que era exultante, deslumbrante, magnifica. Há poucos minutos ela estava analisando suas melhores fotos e reafirmando sua beleza. Baixa-autoestima não parecia ter espaço no perfil.

Balançou a cabeça, não tinha porque perder seu tempo refletindo sobre. No final ela sempre seria uma caixinha de surpresas. Não tinha como prever nenhuma de suas reações, até mesmo quando achava que a conhecia, uma nova faceta de sua personalidade surgia apenas para desorienta-lo.

A atenção de Sasuke se desviou, mais uma vez, para as pernas da bailarina. Abaixo dele tinha uma escrivaninha branca de madeira com uma estante embutida. Espalhado sobre ela tinha algumas revistas de moda, livros, o notebook e muitas fotos. Fotos dela sozinha, de alguma campanha publicitária, com amigos que ele desconhecia e em lugares que ela já deve ter visitado. Junto as fotografias tinham duas câmeras: uma profissional e uma Polaroid.

Encaixada a escrivaninha tinha uma poltrona com as bordas bem trabalhadas na cor prata, o encosto e o acento em marfim, o estilo da cadeira era vitoriano. Parou para notar que a maioria dos itens encontrados no quarto de Sakura tinha o mesmo estilo, nunca tinha imaginado os aposentos dela tendo esse toque vintage.

O dossel da cama era de mogno branco, com detalhes elaborados. No quarto também havia uma daquelas penteadeiras com três espelhos encontrada em casas do período colonial. Mais uma cômoda longa bem à frente da cama, com uma tevê de plasma em cima. Aquele era o item moderno que mais se destacava. Havia uma poltrona na lateral do quarto e na parede ao lado da porta tinha uma estante em blocos brancos grudados a ela.

Demorou a perceber que a estante tinha diversas bonecas Barbie, preservadas em minis vitrines de vidro. Parecia ser item de colecionador, não julgaria, ele próprio tinha uma coleção de minis carros antigos em seu quarto. Sakura tinha passado alguns dias na companhia dela e não havia feito uma piada sequer. Quem era ele para falar das bonecas?

O tapete no chão tinha o mesmo tom claro que o resto do cômodo, era felpudo, parecia feito de pelos artificias. Parou em frente a penteadeira, sua atenção presa aos desenhos que haviam sido deixados sobre o móvel. Pegou um deles, observando o traço delicado e bem elaborado, aquilo era o esboço de um vestido de gala. Os ajustes e melhorias a ser feito estavam todos escritos na lateral do papel. Haviam outros como aquele, além de alguns já finalizados, sentou-se no banco em frente ao móvel, analisando desenho por desenho.

Apesar de não entender de moda estava claro para ele que aqueles esboços eram muito bons, o traço era preciso e harmonioso, muito longe do amadorismo e do mediano.

— Por que está olhando esses rabiscos? — Estava tão compenetrado em suas analises que nem ao menos ouviu a porta do banheiro sendo aberta.

— Não são rabiscos, são croquis realmente muito bons. Por que não faz um portfólio? — Sakura o fitou por um tempo, até partir para cima dele, tentado arrancar os papeis de suas mãos, mas Sasuke não se importou, levantou-se e afastando-se dela.

— Como pode saber se são bons? Você não entende de moda — ela ainda tentava arrancar as folhas das mãos dele, mas não tinha nenhum sucesso, ele continuava a se esquivar, olhando desenho por desenho.

— Bem, eu não entendo de alta-costura, mas sou formado em fotografia e terminei algumas cadeiras do curso design. Entendo de estruturação visual. Seus desenhos são harmoniosos, tenho certeza que são ótimos. Por que não mostra a sua mãe? Ela é estilista, não é? — Parou de evita-la devolvendo os desenhos. Sakura não o encarou, arrancou o chumaço de papeis de sua mão, pôs em uma pasta preta e os trancou em uma gaveta na cômoda onde a televisão estava em cima.

— Eu já mostrei e ela riu. Disse que era patético eu achar que alguém levaria isso a sério. — Virou-se, pegando o perfume e passando no colo, sua expressão estava séria como Sasuke nunca tinha visto, evitava encara-lo, mantendo o foco no que estava fazendo. — Disse que era tão amador que eu apenas envergonharia a mim, a ela e a marca da família caso resolvesse mostrar a mais alguém o meu trabalho.

— Sakura, isso não é verdade...

— Eu só desenho para me distrair, sou modelo. — Um sorriso surgiu em seu rosto e ela deu de ombros fazendo pouco caso da situação. Antes aquilo poderia aliena-lo, mas agora ele já a conhecia, bem demais, conhecia aquele sorriso “vendo uma ideia” e só de vê-lo tinha vontade de mais uma vez toma-la em seus braços e lhe afagar os cabelos. — Tome logo seu banho para que a gente possa ir embora. — Passou as mãos pelo vestido, ajeitando-o em seu corpo. — Pode usar minha escova de dentes, já que eu usei a sua quando estive na sua casa — a fitou por um tempo desnorteado com aquela situação.

— Sakura.

Ela não se voltou para fita-lo, puxou seu kit de maquiagem separando o que iria usar no momento, mas se ela achava que esse aparente desinteresse ia minar sua convicção estava muito enganada.

— Pode não lembrar, mas o meu pedido de namoro foi muito sério. — O delineador ficou suspenso no ar, não tinha como ela se maquiar com aquelas palavras martelando em sua cabeça. — Eu quero namorar com você, mas não posso força-la a me aceitar. De qualquer maneira estarei aguardando por uma decisão sua e seja qual for, a nossa armação não vai ser afetada. Continuarei sendo seu namorado alugado.

Assim como ela tinha feito com ele, entrou no banheiro sem esperar por uma resposta ou no mínimo uma reação a suas palavras. O cômodo estava impregnado com o cheiro dela e isso foi um suplício, mas talvez fosse melhor assim. Caso a resposta fosse um não como parecia que seria ao menos teria se intoxicado dela uma última vez. Fez sua higiene, tomou uma ducha quente e tentou pensar em um plano de ação.

Secava os cabelos com a toalha sem atenção, com uma mão apoiada na bancada de mármore, ainda tentava pensar em algo. Talvez fazer o que ela tinha sugerido no início da manhã, passear, ter um novo encontro. Fazer o possível para deixar Sakura fascinada por ele, se não desse certo poderia usar o seu corpo, ela gostava, mas ele não sabia ser sexy e isso já era patético demais. O que Sakura havia feito com ele?

Sua linha de pensamento foi interrompida por batidas sutis na porta, esbravejou consigo mesmo. Provavelmente tinha passado tempo demais fantasiando dentro daquele banheiro. Enrolou uma toalha na cintura, sentindo um comichão toma-lo. Estava sensual, certo? Olhou para o próprio reflexo no espelho, ela iria gostar de vê-lo só de toalha.

— Sa...

— Vista-se logo porque nós temos muito o que tratar. — Não era Sakura, era Kakashi, mas pode ver que ela ainda estava no quarto, sentada no encosto escorado no final da cama, uma expressão leve e animada no rosto.

Não gostou, não gostou mesmo. Pegou as roupas e se vestiu em uma velocidade surpreendente, algo em seu interior dizia que deixar Sakura e Kakashi sozinhos não seria bom para ele. Em algumas situações recordar e viver não devem acontecer. Nem penteou os cabelos, apenas passou a mão de qualquer jeito. Estava ótimo!

— Estou pronto!

— Certo! Vamos logo, porque eu tenho um compromisso as sete e quero resolver todos os pormenores com você antes disso.

— Sete? Não deveria ter pressa para isso, acho que dá tempo de comer algo e... — Sasuke parou de falar ao notar o ar de graça e descrença no semblante dos dois.

— Já são cinco da tarde, Sasuke. Vocês dois passaram o dia todo no quarto. Não vamos ter tempo nem para ver o seu desempenho para as fotos de amanhã. — Mesmo sabendo que nada tinha ocorrido, corou. Kakashi balançou a cabeça tomando a frente, Sasuke puxou Sakura pela mão, mantendo o corpo esguio dela ao lado do seu, ela não protestou e seguiram juntos.

A familiaridade com que o Hatake cruzava os corredores da casa de Sakura, o enervava. Kakashi estava à frente, mexendo no celular, nem olhava para onde ia e andava despreocupado. Aquela história sobre banheira de hotel ainda martelava na cabeça de Sasuke.

— Eu não preciso assinar contratos?

— Os trabalhos que a Shizune conseguiu para você antes de me acionar são freelances, dinheiro na hora, você só vai assinar algumas papeladas com relação ao direito da imagem, burocracia simples. — Deu de ombros, fitando-os brevemente antes de voltar a mexer em sua agenda eletrônica. — Como você já tem algumas marcas boas interessados eu cancelei a maioria dos trabalhos mais bobos, como foto para catálogo e coisas parecidas. Deixei um outro que me pareceu interessante. Vamos conversar sobre a maneira correta de se portar frente aos publicitários dessas empresas, nunca pareça interessado demais. — Sasuke aquiesceu sem de fato estar interessado no que Kakashi dizia.

— Você vai ser um modelo estupendo, Sasuke. — Sakura agarrou seu braço e ele tocou a mão dela com afeto, um sorriso de canto brincando em seus lábios.

— Então, aí estão...

Os três pararam, no topo da escadaria, ao ouvir aquela voz desconhecida. Sakura foi a primeira a se mover soltando um arquejo surpresa e correndo em direção ao homem loiro parado no final do corrimão. O resto mundo pareceu perder toda a importância para ela.

— Pai! Eu não acredito que você está aqui — jogou-se nos braços dele, sentindo aquele cheiro que tanto havia sentido falta. O tal homem passou as mãos ao redor da cintura fina, depositando um casto beijo em sua testa. — Shizune tinha me dito que você não respondia as mensagens, achei que não quisesse me ver. Tudo bem que o Natal já passou, mas ainda estamos no período de recesso, não é mesmo? Ainda conta!

— Eu tive alguns afazeres durante as festividades, princesa. — ele acariciou as bochechas rosadas com carinhos e Sakura quase ronronou. Não poderia estar mais feliz do que na presença de seu pai. — Sinto por isso, mas vejo que não ficou totalmente sozinha. — O homem voltou sua atenção para eles, descia os degraus com calma junto a Kakashi. Um sorriso surgiu nos lábios rosados da Haruno e ela se desvencilhou-se do pai para estender a mão a Sasuke que prontamente a pegou.

— Pai, esse é o Sasuke, meu namorado. E Sasuke, esse Kizashi, meu pai. — O sorriso de Sakura não poderia ser mais animado parada entre os dois, fitando de um para o outro, parecia prestes a pular de alegria.

— Prazer, senhor. Como está? — Estendeu uma das mãos que foi prontamente apertada por Kizashi.

— Bem, meu rapaz. Um pouco cansado, mas a vitalidade sempre retorna ao me deparar com esse rosto angelical. — Sasuke sentiu o nervosismo o tomar com o aperto de mão, mas não transpareceu, manteve sua expressão o mais neutra possível.

— Já que você está aqui nós podíamos fazer nossa famosa torta de pêssego? — Sakura tomou a frente, fazendo com que eles quebrassem o contato. — Que tal? Passar o dia todo na cozinha. Não tenho compromisso para hoje, mas se tiver eu peço a Shizune para cancelar na mesma hora. Senti tanta a sua falta, papai. — ela falava sem parar, tão agitada quanto uma criança, arrancando sorrisos do pai. — Quando vai embora? Dependendo da data nós podemos fazer muita coisa, a tanto que quero te mostrar.

— Sakura, deixei-o respirar — o tom severo de Tsunade poderia ser mais assustador se ela não estivesse com aquele sorriso leve. — Seu pai tem coisas a fazer e nós duas mais o senhor Uchiha temos que ter uma conversa.

— Mamãe está aqui?

— Se sua mãe estivesse, eu já teria corrido, querida. — assegurou Kizashi, segurando o rosto delicado da filha entre suas mãos, acariciando as bochechas com os polegares. — Eu preciso ver como as coisas estão no hotel, façamos assim: Você vai fazer o que tiver de fazer, não vai cancelar compromisso algum e mais tarde por volta das oito da noite eu, você e o seu namorado vamos jantar. — Sasuke ficou surpreso ao ouvir aqui, começando a suar frio, mas Sakura ficou estupefata.

— Os três? Eu achei que ficaríamos a sós, que seria só eu e você como sempre.

— Querida, preciso saber quais são as intenções desse rapaz. Não posso entregar minha preciosidade a um qualquer — ela ainda não estava feliz, não gostava de ter que dividir seu pouco e precioso tempo com o pai.

— Não tenho mais 12 anos de idade, sei escolher meus namorados.

— Claro que sabe, mas para mim você sempre será uma criança e precisa ser bem cuidada. — Era engraçado vê-la com o pai, de fato, parecia uma criança. Agitada e sorridente, aos olhos de Sasuke ela estava maravilhosa. Não podia deixar de se perguntar o porquê dela não morar com ele. Quando era evidente sua preferência. — Adeus, senhor Uchiha. — Sasuke respondeu com um aceno, sentindo um calafrio lhe percorrer a espinha só de imaginar como seria o jantar com aquele homem. Precisava causar uma boa impressão.

— Sakura, Uchiha.

— Não o chame assim, Tsunade. Ele não gosta, chame-o apenas de Sasuke. — ele ficaria extasiado pela delicadeza de Sakura se o olhar da tal Tsunade não fosse tão mordaz. Ela o fitou de cima abaixo antes de começar a caminhar sem chama-los uma segunda vez.

Sakura pegou mais uma vez em sua mão e o conduziu pelo corredor que a mulher tinha entrado, a acompanharam até uma saleta bem longe do hall de entrada. Ao entrar na sala, notou que era uma sala de jantar com uma magnifica, longa e farta mesa. Sakura não pestanejou como ele e para não fazer feio a acompanhou, sentou-se ao lado da garota, mas não fazia ideia do que escolher. Tantas opções: pães, bolos, tortas, frutas, frios, iogurtes. Talvez ficasse cheio só de olhar.

Sakura colocou um prato com uma torrada e uma fatia de bolo, deixando ao lado do prato dois potinhos com geleia e um copo de suco. Mesmo não sendo fã de doces Sasuke provou o bolo que derreteu em sua boca, estava maravilhoso, podia sentir o gosto das raspas da laranja na parte de cima. Maravilha.

— O que aconteceu ontem depois do desfile? — Diversas fotos foram jogadas na frente de seu prato, Sasuke puxou uma delas notando que era da fachada da lanchonete.

As primeiras eram a noite, os dois estavam com suas roupas arrumadas e impecáveis, mas ao continuar passando pode notar a mudança e logo eles surgiram desgrenhados e bagunçados. Não tinha como ver o rosto de Sakura, só o cabelo e ele estava praticamente a carregando.

— Fomos a uma festa. Qual o problema? — ela respondeu sem pestanejar.

— Shizune ouviu um burburinho de que tinha ocorrido uma briga na cozinha e o nome dele estava no meio. — Tsunade olhou com hostilidade para ele que quase tremeu, mas Sakura continuava impassível — Você tomou as pílulas da sua mãe, sumiu, se drogou, quase destruiu o desfile do Orochimaru, esteve, aparentemente, envolvida em uma briga e ainda por cima é vista saindo de um estabelecimento sem conseguir se manter sozinha, por Deus, Sakura! Achei que tinha tomado juízo. Pensei que tudo isso tinha acabado. — A garota afundou em sua cadeira, a refeição tinha perdido o gosto para ela. — Mas não, aqui, estou eu assistindo a uma reprise dos últimos anos. Você tinha me dito que isso não ia mais acontecer...

— E não vai! Foi apenas uma recaída. — ela respondeu enviesada, odiando ter que dar satisfações. Sasuke estava quieto, desejando desaparecer daquele fogo cruzado — As coisas ficaram difíceis e eu não pude controlar.

— Sempre que as coisas “ficarem difíceis” você vai sair por aí feito uma louca?  — Um suspirou exasperado escapou dos lábios dela, enquanto Sakura remexia na sua xicara de café. — Sakura você tem noção do quanto eu precisei me esforçar para “apagar” ontem? Ou você acha que perambulou fora de si pela cidade e ninguém viu? Que nenhum fotógrafo viu ou jornalista ficou sabendo?

— Já pedi desculpa! — Tsunade bateu com ambas as mãos sobre a mesa, sua expressão pesada deixando bem claro que não estava para gracinhas.

— A próxima vez que você colocar um remédio na boca, ou cheirar uma carreirinha que for. Eu vou interna-la. Está me ouvindo? Eu cansei desse seu disparate.

— Mamãe, já sabe?

— Deus, não... Se soubesse já estaria aqui. — Sakura pegou uma torrada, passando geleia sobre ela. Enfiou-o quase por inteiro na boca, não parecia nada contente.

— Como se ela ligasse. — Tsunade ignorou a resposta é voltou a fita-lo.

— Mais uma coisa: eu quero que isso — Apontou para os dois a sua frente com um semblante bem sério. —, acabe!

Página: Fleur D'Hiver

 


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Notas finais do capítulo

O pai da Sakura parece um cara legal, né? Vocês gostaram dele? Sasuke ta todo nervosinho, Sakura não lembra direito das coisas. O que vocês acham que ela vai escolher? O namoro sério ou só o fake? E a Tsunade? Quem tremeu com esse ultimato? HSUASHUASHAUS Não me matem, ok? Continuem a me amar, porque eu sou linda e legal.

Não deixem de curtir a minha página e ver o que ando aprontando por lá. Respondi praticamente todo mundo nos últimos comentários, faltam só duas pessoas. Agradeço por cada um dos comentários e pelos favoritos e acompanhamentos. Vocês são demais.

Chegamos a 21 capítulos que demais. Eu to pura felicidade, não imaginava que a fanfic fosse tão longe, não mesmo. *-*

Aguardo vocês nos comentários e no próximo capítulo;*