Três meses se passaram.

Claro que achei estranho Narcisa ter saído às pressas da mesa.

E assim que terminei meu jantar, entrei, mesmo que sem ser autorizada, no quarto de minha irmã.

Como já esperava, a encontrei no banheiro. Prostrada, passando mal.

— Você merece estar passando por isso! — disse com toda malicia.

— O que? Mas o que você esta fazendo aqui? — ela perguntou, erguendo a cabeça.

— Talvez eu tenha descoberto seu segredinho sujo!

— Esta louca, não faço ideia do que esta falando. Não vê que estou passando mal?

— Como eu disse, merece estar assim. Suja e no chão é o lugar para vadias como você!

Narcisa era baixinha e pequena. Levantou-se com pressa e me encarou.

— Como ousa me chamar de vadia?

— Porque é exatamente o que você é. Uma vagabunda!

Ela veio para cima de mim. E a empurrei.

— Não vou bater em você. É mais baixa e fraca. E se te bater, pode perder o bastardo que esta esperando.

— O que você esta dizendo, sua louca! — ela murmurou, mas seu rosto transbordava preocupação. Ótimo.

— Não vou fazer um favor em te bater e acabar sofrendo um aborto. Prefiro assistir você ser envergonhada. Será mais prazeroso.

Narcisa foi ate a pia e lavou o rosto. Voltou a caminhar com mesquinharia que era sua marca registrada.

— Não sei do que esta falando minha irmã. — ela murmurou dando um sorriso.

— Serio? Você e Lucius Malfoy... Ah estou detectando um desmancho nessa sua cara prepotente? No navio... Lembra-se de algo?

— De nada, você esta pirando. Completamente maluca. — Narcisa murmurou. Mas já não sorria.

Andei ate o armário de seu banheiro, era tudo muito farto e unicamente organizado.

— Sempre foi a mais mimada, olha... Deve ter o dobro de perfumes que eu e Bela.

— E você sempre foi uma cobra invejosa! — Narcisa disse, apontei o dedo para ela.

— Eu sou a cobra? Tem certeza irmãzinha. Não fui eu quem seduziu e abriu as pernas para o namorado da própria irmã!

— Esta inventando isso. Nunca fica feliz com nada.

— Não acredito que tem coragem de negar. Eu não só sei que você e Lucius transaram, como sei que esta grávida. Esperando um espúrio dele.

— Ninguém vai acreditar em você. Ninguém... — ela murmurou.

Eu forcei uma gargalhada.

Minha mente voou para o navio.

“Estávamos na piscina. Todos brincando, tudo normal. Narcisa como sempre era o centro das atenções.

Ela era SEMPRE o centro das atenções!

Fosse pela família, pelos meus pais. Nossos amigos, Bellatrix.

Todos preferiam a “doce Cissy”.

Nada contra. Eu tinha que admitir, ela era boa em fazer a cabeça das pessoas.

Ela tinha essa manha.

Mas eu a via da forma verdadeira.

Arrogante, astuta. Que não vê empecilhos em nada. É capaz de fazer tudo para conseguir o que deseja.

Na brincadeira da piscina, eu a via seduzindo Lucius. E ele caindo como um trouxa nas suas garras.

Que homem resistiria? Narcisa era perspicaz.

A segui quando foi atrás de Lucius, de inicio, pensei que o Malfoy estava tramando essa pulada de cerca com ela.

Homens são assim. Safados por natureza.

Mas escondida, vi ela indo ate o quarto dele. Analisei o semblante relutante e surpreso de Lucius.

Claro que ela o atacou o enfeitiçou!

Lucius não tinha defeitos.

Nenhum.

Talvez um ou dois, mas eram substituídos por outros tributos.

Lucius tinha que ser meu! Era para ele ser meu!

Não de Bellatrix, muito menos de Narcisa, mas meu!

Íamos nos casar, papai disse.

Bellatrix ia decidir seu noivo, optou por Rodolfo, lembro-me dos dois juntos algumas vezes na nossa época de escola.

Mas bastou ela aprontar.

Aquela tremenda idiota... Bastou deixar papai nervoso para ele tirar algo dela. Dessa vez, tirou a oportunidade de escolher seu noivo. E de quebra, deu Lucius para Bela.

O meu Lucius.

Não culpei minha irmã mais velha. Ela estava tão empolgada com esse casamento, quanto um gato esta empolgado para um banho frio.

Então, Narcisa mostrou as garras.

Nunca me enganou, aquela veela venenosa!

E ainda conseguiu estar com Lucius. O Malfoy caiu direitinho no plano dela.

Como se não bastasse uma vez... De noite naquele mesmo dia no navio. Eles ainda ficaram juntos novamente.

Eu escutei atrás da porta.

Ansiando que cada gemido e murmúrio que Lucius emitia, estivessem em meus ouvidos, para mim.

Mas era Narcisa quem estava com ele.

Aquela vagabunda! Iria pagar caro.

Passei há analisar cada dia seus passos.

Quando Lucius vinha aqui em casa, o que era completamente normal já que ele estava com Bela, Narcisa era outra.

Ainda trocavam olhares fixos, mas ela parecia temerosa.

Então há um mês descobri o motivo.

Narcisa estava grávida. Eu tinha completa certeza.

Pensei em fazer uma poção, esconder e dar para ela. Uma poção que a faria perder essa criança.

Mas isso seria um presente para ela. Não seria um castigo pelo seu erro. E sim uma ajuda.

Eu preferia assistir definhar, ficar mal falada. Afastada da sociedade. Perder ouro, ser expulsa de casa.

Era isso que sobrava para mulheres que tinham bastardos de homens casados.

Lucius não era casado, mas tinha um compromisso. Era quase o mesmo.

Narcisa se quisesse bancar seus caprichos, teria de virar uma prostituta. E era sua cara.

Era a cara, virar uma puta de luxo.

Talvez não tanto luxo, já que teria uma boca a mais para cuidar.”

Voltei para o momento. E a encarei ainda com sorriso no rosto.

— Todos vão acreditar em mim sim. Sabe por quê? Não dou mais um mês para sua barriga começar a crescer. E eu só precisava sentar e assistir.

— Por que me odeia tanto? Isso é tudo inveja?

Bufei.

— Coitada. Você é tão inteligente me surpreende que ainda esteja grávida. Pensei que daria um jeito logo de... Sumir com a prova do crime.

Para minha completa surpresa, Narcisa passou os dois braços na barriga. De uma forma automática e protetora.

— Merlin... Eu não posso acreditar! Vai ter a aberraçãozinha?

— Não diga isso sua gralha mal amada!

— O que acha que vai acontecer com você? Acha que papai terá uma conversa como essa que estamos tendo?

— Não pensei ainda.

— Mas eu sim. E sabe o que vou fazer? A primeira coisa será parabenizar Lucius pelo bebe.

Ela apontou o dedo para mim.

— Não ousa! Isso é um segredo meu!

— Não mais, Cissy, Cissy... Pensei que você me conhecia. Te desejo tudo de pior, a partir de agora.

Eu disse saindo dali.

Narcisa mal esperava pelo o que faria.

Dois dias depois, como eu sabia. O dia e hora corretos... Lucius estava na sala.

Era o dia que ele vinha visitar minha irmã. Bellatrix parecia não estar muito empolgada. Nunca parecia.

Mas eu... Era o melhor dia da semana.

E não precisei esperar muito por ficar a sós na sala com ele.

— Então Malfoy. Animado com o casamento?

— Hm, não. Esta muito cedo. — ele disse.

— Sabe eu tenho um tremendo assunto para falar com você. Mas não queria Bela por perto.

— Isso é meio difícil.

— Posso ir ate sua mansão. Basta você dizer que vai embora mais cedo, vou ate lá. — eu disse me empolgando.

— Não acho legal.

— É muito serio Lucius.

— Não quero saber. — ele disse olhando o próprio dedo.

— É sobre... Narcisa.

Eu disse. E o vi paralisar, então erguer a cabeça.

— Não tenho absolutamente nada a ver com sua irmã. — ele respondeu.

— Acho que tem sim. Eu sei de tudo. De tudo.

— Depois que eu for embora, te encontro na mansão.

Dei um sorriso ao meu levantar.

Eu e Lucius. Sozinhos na sua mansão. Seria um sonho realizado.

A mansão Malfoy era uma das maiores de Londres. E no meio bruxo, a mais invejada.

Antigo, primitivo. Perfeito.

A casa que eu moraria pelo resto da minha vida, sem esforço, com Lucius, é claro.

— Sua casa é...

— Sem dar voltas. Vá direto ao ponto, Andrômeda. — ele disse com rapidez.

— Se você prefere assim. — respondi, ficando de pé.

Bem na frente dele.

— Por acaso eu sei do que aconteceu entre você e Narcisa.

— Ela te contou? — ele perguntou, um tanto suspeito.

— Hm, não. Mas descobri.

— E?

— Minha irmã não tem nada de sonsa. Nunca dá um ponto sem nó. Ela esta... Grávida. Claro que foi com intenção de lhe dar um golpe, é a cara de Narcisa. Ei, Malfoy, escutou o que eu disse?

Perguntei. Já que ele estava com olhos arregalados.

— Ouviu Lucius? Aquela vagabunda queria te dar um golpe. E eu tinha que te avisar. Você não merece isso.

— Por que você me ajudaria? — ele perguntou, voltando a si.

— Por quê? Ah, você sabe. Íamos nos casar se você não tivesse ido para Bela. Tenho um carinho por você.

— Eu não ia me casar com você. Nem se não tivesse sido solicitado por seu pai para casar com Bellatrix. Não iria me casar com você.

Eu dei um salto para trás.

— Ia sim, claro que ia.

Ele negou calmamente.

— Veio aqui, inventar uma mentira dessas, só para que eu ficasse contigo?

— NÃO. Lucius não é mentira. Narcisa esta mesmo grávida e quer te dar um golpe, vim te alertar.

— Acha que não sei que gosta de mim? Sempre soube.

Eu fiquei paralisada num choque. Ele sabia? Como?

— Lucius, eu respeito o seu relacionamento com Bela, mesmo sentindo o que sinto, eu...

— Eu nunca ficar com você Andromeda.

— Por que esta falando isso?

— Você simpatiza com a ralé. Ate mesmo intima de sangues ruins já te vi.

— Isso foi na época de escola. Passaram-se anos...

— Não. Essas imagens nunca passam. Tenho nojo de você. Da sua cara, do seu estilo. De seu olhar de cobiça, da língua afiada.

Meus olhos encheram de lagrimas, não entendia. Por que...

— Narcisa me procurou, há dois dias. Avisou-me que você faria justamente isso. É incrível, não?

— Narcisa te procurou? Ela... AQUELA VADIA!

— Não. Ela é inteligente, ao contrario de você.

— Não sei que mentiras ela disse sobre mim, mas não ouviu? Ela esta grávida.

Ele deu um sorriso.

— Ela me contou isso também. Só que ao contrario do que você inventou. Ela disse que estava desesperada e pediu minha ajuda.

— Ela o que?

— Em nenhum momento exigiu que eu ficasse com ela ou assumisse o bebe.

— Esta mentindo! É uma falsa! Narcisa armou tudo isso!

Ele negou com a cabeça.

— Narcisa é uma garota. Você devia perceber, e afinal, que tipo de ser humano é você? Que busca destruir a própria irmã?

— Narcisa não é uma criança! Ela é astuta.

— Narcisa tem dezessete anos, esta desesperada e pediu minha ajuda porque esta grávida. E grávida de mim. Não sou um monstro.

— Ela...

— Ao contrario de você. Agora, Andromeda Black, saia da minha casa!

MALTIDO MALFOY!

Como eu podia amá-lo ainda?

Aparatei em casa com todo o ódio que podia existir, fui direto à biblioteca e entrei sem bater, antes que papai me repreendesse, comecei a falar:

— Pai, preciso confessar algo. Esta me matando guardar segredos.

— Espero que seja realmente importante para ter me atrapalhado dessa forma.

— É sim. É muito. É sobre Narcisa.

— O que tem sua irmã?

— Papai, quero que entenda que... Ela é minha amiga, mas eu não podia guardar um segredo desse tamanho.

— Fale Andromeda. Agora.

Sentia vontade de sorrir, Cygnus já estava com ódio devido à interrupção, fiz questão de fazer toda uma cena e agora jogaria a bomba.

— Ciça esta... Eu avisei que ela não devia fazer, eu...

— Andromeda Black sem rodeios.

— Narcisa esta gravida papai, gravida.

Vi ele se levantar com tanta surpresa que temi. Ele me encarou e seus olhos eram puro ódio.

— Sabe que se estiver inventando algo do tipo será castigada como nunca foi.

Idiota, todos eles. Eu e Bela éramos castigadas. Narcisa nunca sentiu o peso da mão de papai. Queria ver se a filinha protegida sobreviveria a isso.

— Pai, eu nunca inventaria algo assim. É muito pior. Ela esta gravida. De verdade. Gravida de Lucius Malfoy.

Dessa vez ele não duvidou de mim. Sabia que eu temia uma surra, sabia que eu não inventaria algo tão serio.

Gritou o nome de nossa mãe, ao mesmo tempo em que me colocava para fora da biblioteca.

Gargalhei enquanto subia as escadas, e fui parada por uma mão apertando meu braço.

— Que merda você aprontou? — sorri.

— Ah Bela, Bela, dessa vez acho que você não vai me colocar como a errada da situação.

— Acontece que você é a errada da situação. Se esta sorrindo, é porque fez algo. Sempre foi uma cobra.

Sacudi soltando meu braço e a encarei.

— Então se prepare querida irmã, se acha que sou a cobra, não faz ideia do que Narcisa fez.

Dei um sorriso.