Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra escrita por Pedro


Capítulo 61
11 - Contador de Histórias


Notas iniciais do capítulo

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11 – Contador de Histórias

 

 

A cabana era surpreendentemente aconchegante. Muito estranho para um lugar como o Tártaro, mas era definitivamente aconchegante.

Uma fogueira queimava no centro, com ossos e piche; apesar disso, a fumaça era branca e inodora, e saía por uma chaminé no teto. O chão era coberto da grama seca do pântano e trapos de lã. De um lado havia uma cama enorme feita de peles de carneiro e couro de Drakon. Do outro, o couro estava curtindo em prateleiras e ganchos. O lugar cheirava a ensopado, fuamaça, manjeiricão e tomilho.

Nos fundos da cabana havia um rebanho de carneiros amontoados num curral.

Beckendorf depositou Luke sobre a cama de Damásen. A tosse do garoto ainda era audível e seu estado era penoso.

Damásen foi até a fogueira e despejou a carne de Drakon em uma panela que mais parecia um velho crânio. Ele pegou uma concha e mexeu.

Percy se mexeu inquieto, o gigante estava calmo. Luke estava morrendo.

—Então, Sr. Gigante, vai curar meu amigo ou não? – ele disparou, sua voz falhou quando disse curar.

Damásen franziu a testa.

—Não costumo ouvir palavras nem ações assim no Tártaro – ele resmungou – Amigo, curar e arrepender.

Percy o analisou.

—Sobre a cura, estamos sem tempo – ele cruzou os braços.

Seus amigos assentiram, Nico estava recostado próximo à porta de braços cruzados. Ele encarava os tênis. Beckendorf estava de olho em Luke.

Talvez apressar um matador imortal de Ddrakons de cinco metros de altura não fosse muito inteligente, mas a cada segundo o veneno da maldição intoxicava a alma de Luke.

—Quanta insolência – ele bufou – Um bando de semideuses quase mortos chegam se arrastando em meu pântano, os ofereço meus talentos e sou retribuído com insolência?

Percy o olhou desafiador, irredutível.

—Muito bem – ele estendeu a concha para Percy – Mexa o ensopado.

O cheiro era bom, o que fez o estômago do garoto roncar. Damásen remexeu em seus ganchos e prateleiras e pegou várias folhas e raízes. Jogou um punhado de plantas na boca e as mastigou para então cuspir em um pedaço de lã.

—Caneca – ele ordenou.

Percy pôs algumas conchas de ensopado em uma caneca vazia e deu para o gigante, que jogou a bola nojenta mastigada dentro da caneca e mexeu com o dedo.

—Maldições de morte das filhas da noite – ele resmungou – Hunf. E para completar veneno. Tem sorte de chegarem rápido até aqui.

Foi devagar até a cama e pôs Luke sentado, com uma das mãos. Beckendorf se afastou.

—Vai dar isso à ele? – Beckendorf torceu o nariz para a caneca.

—Achei que eu fosse o curandeiro, não você.

Todos ficaram calados. O gigante fez Luke beber tudo. Damásen o tratava com delicadeza surpreendente, murmurando palavras em grego.

A cada gole, a cor de Luke melhorava. Quando terminou ele abriu os olhos e tossiu, mas desta vez sem sangue engasgado.

—Me sinto melhor

Seus olhos giraram nas órbitas e ele caiu de costas na cama, já dormindo.

—Algumas horas de sono o farão bem – Damásen anunciou – Pelo menos bem o suficiente para saírem do Tártaro, e então a malcição irá avançar... e o matar.

A fogueira crepitou enquanto o silêncio pairou denso no ar.

—É... obrigado – Percy relaxou um pouco, mas a notícia da morte ficou em sua mente, mas ele iria curá-lo de algum modo.

—Não agradeça. Vocês ainda estão condenados, se saírem lá não durarão nem cinco minutos. E u cobro por meus pagamentos.

Percy engoliu em seco.

—Que pagamento?

—Uma história – os olhos de Damásen brilharam – O Tártaro é muito entediante. Você pode me contar a história enquanto comemos.

Ele ficou meio receoso, pois não tinha muitas memórias interessantes para compartilhar. Mas Damásen era um bom anfitrião, os ajudara numa hora de muita necessidade e por ora Luke estava vivo. Pela primeira vez desde a entrada no abismo, Percy relaxou e se sentou. Serviu-se de ensopado e todos se sentaram próximos à fogueira.

Quando Percy fez menção de falar, Beckendorf o cutucou.

—Deixe comigo, amigo – ele pareceu sustentar o olhar confuso de Percy – Eu conto algumas aventuras. Há uma em especial, você também estava nela, na verdade, eu e você, apenas.

Então Beckenforf se dispôs a falar sobre a aventura deles no navio Princesa Andrômeda, dois anos antes.

Ele contou como os dois planejaram o ataque ao navio de monstros do Senhor Titã, e como Percy lutou bravamente contra o próprio Cronos. Beckendorf omitiu a parte onde o corpo de Luke era o receptáulo para o poder do titã, seria demais para o cérebro do garoto raciocinar.

Ao ouvir aquilo Percy se perguntava como seu eu heroico e bom do passado seria capaz de amaldiçoar uma pessoa, um amigo.

Quanto mais Beckendorf falava, mais desconfortável Percy se sentia. Até que ele chegou na parte onde seus olhos ficaram tristes e fitaram o fogo.

—Eu morri naquele dia – seus olhos estavam incandescentes – Percy escapou pelo mar, mas eu não tive chance, me sacrifiquei pelo Acampamento. Por todos. Silena...

Ele pigarreou e continuou, enchendo o peito de ar, era um soldado, não um bebê chorão. Estavam em guerra, não havia tempo para tristezas e saudade.

A história que narrou seguinte, Beckendorf já estava treinando na Cidadela do Caos, havia acompanhado as aventuras de Percy por meio daquela televisão de bronze do Grande Salão.

Ele contou como Percy saiu em missão sozinho, sendo guiado por Perseu.

—Percy estava procurando o Livro...

—O de Gaia, imagino – Damásen completou, interrompendo-o.

Percy raspou a concha na tigela, havia devorado todo o ensopado.

—Ela é sua mãe, certo? – ele não olhou para o gigante.

—E você o Campeão dela... – eles trocaram olhares.

—E ele, é seu pai... – a fogueira pareceu ficar mais escura, um calafrio percorreu a espinha de Percy.

—Sim, sou filho de Tártaro – ele fez um gesto amplo mostrando a cabana – Como pode ver, fui uma decepção para eles. Esperavam... mais de mim.

Percy ainda não acreditava que estava tomando chá com um gigante de cinco metros cor de cereja e pernas de lagarto que era filho de Gaia e de Tártaro.

Já era difícil imaginar o Deus dos Mares como seu pai, mas pelo menos ele tinha aparência normal. Agora ser filho de um espírito sem forma e uma nuvem das trevas... era demais para processar.

—Você não se importa que estejamos em guerra contra seu pai?

Ele bufou.

—Boa sorte, minha mãe levou éons para aprisioná-lo, duvido que consigam prendê-lo novamente.

—Não iremos prendê-lo, iremos matá-lo.

Damásen gargalhou ruidosamente.

—E como planejam fazer isso? Se não sabem, ele é um dos quatro primordiais que forjaram o mundo. É imortal e incontrolável.

—Eu tenho a Centelha Percy anunciou confiante.

O gigante olhou fundo nos olhos de Percy, parecia sondar sua alma.

—É verdade, vejo esse poder correr por suas veias – Damásen bufou – Mas está tão perto de controlá-lo quanto de derrotar meu pai. A Centelha é inútil sem um condutor que irá soltá-la da forma correta.

O sorriso confiante de Percy se desfez num segundo. Damásen estava certo, ele não tinha idéia de como usar esse incrível poder. Fitou os tênis, por fim.

—Foi o que pensei – Damásen resmungou.

—Mas não é com isso que devem se preocupar, se meu pai está em guerra contra vocês, então não tem a menor chance de sobreviver.

Percy estreitou os olhos.

—Ele não está aqui, não sabe que estamos aqui.

—Garoto tolo. Tudo isso é ele. Tudo o que vê é o corpo de Tártaro, ou pelo menos sua manifestação. Ele sabe que estão aqui, e tenta deter seu avanço a cada passo. Meus irmãos estão caçando vocês. É invcível que tenham sobrevivido até aqui sozinhos.

—Os gigantes estão atrás de nós, eu sinto isso – Nico se remexeu ao lado. Diferente de todos, ele estava de pé recostado numa pilastra feita de femures de Drakon – Estão próximos.

Damásen colocou a caneca no chão e cuspiu algo dentro.

—Posso ocultar seu rastro por algum tempo, o suficiente para descansarem. Tenho poder neste pântano. Mas, no fim eles vão alcançar vocês.

—Precisamos encontrar seu irmão, Órion.

—Ele irá traí-los, e para que precisam dele? – o gigante ergueu a sobrancelha.

—Ele detém a chave para algo que precisamos resolver. Algo de muito valor.

Damásen não perguntou o que. Apenas bufou.

—Órion não é confiável, se ele souber que precisam dele tão desesperadamente, certamente irá usar isso a seu favor, e irá traí-los.

—Não temos escolha, é o único jeito.

—E como pretendem sair do abismo, caso consigam essa informação de que precisam? – Damásen sorriu.

—Pelo pico de Érebo – Nico pareceu confiante – Como fizemos da última vez.

Percy aguçou os ouvidos quando ouviu as últimas palavras.

—Percy usou a Pedra de Onfalos e fomos jogados no mundo superior – ele finalizou determinado.

—E como pretendem fazer isso, agora que o próprio Érebo está acordado? Só há um meio de sair deste lugar – Damásen fitou o fogo – Mas é muito perigoso, vocês certamente morreriam.

—Que meio? – Percy torceu para a resposta não ser morrendo.

—As Portas da Morte.

—Impossível – Nico se manifestou – As Portas são protegidas por hordas dos mais terríveis monstros e titãs, meu pai me alertou sobre isso em todas as minhas aventuras pelo Tártaro, é impossível chegar até lá.

—Receio que não tenham outra opção é claro, se não se importarem de morrer, então suas almas vão para os Campos Asfódelos, ou os da Punição.

—Venha conosco – Percy pediu suplicante – Ajude.

—Há! – o grito fez Luke se remexer na cama – Filho de Poseidon. Não sou seu amigo. Já ajudei mortais uma vez, e veja o que me aconteceu.

—Você ajudou mortais? – Percy não conhecia nenhuma lenda ostentando o nome Damásen – Pensei que eram todos maus, os gigantes.

—Exatamente... – foi a vez dos olhos amarelos de Damásen serem incendiados pelas labaredas brancas da fogueira – Eu fui criado, como todos os meus irmãos, para me opor a um dos deuses, no caso Ares, Deus da Guerra.

—Então... você se tornou um gigante pacífico, o oposto dele – Percy concluiu.

—Pelo menos para um gigante – ele respondeu com um suspiro.

“Andei sem rumo pelos campos da Meônia, a terra que hoje em dia é a Turquia. Cuidava de meus carneiros e colhia minhas ervas. Era uma vida boa. Mas não queria combater os deuses. Meu pai me amaldiçoou por isso. E o insulto final: Certo dia, um drakon maeônio matou um pastor humano, um amigo meu, por isso cacei a criatura e a matei, cravando uma árvore em sua garganta. Usei o poder da terra para fincá-lo para sempre no chão, e ele não fazer mal a nenhum mortal nunca mais. Foi um feito que Tártaro não perdoou.

—Ajudar um humano.

—É – Damásen pareceu envergonhado – Gaia abriu a terra e fui consumido, exilado aqui no Tártaro, onde se juntam todos os destroços imundos do mal – ele tirou uma das flores do cabelo e a olhou distraído.

—Você disse que Gaia abriu a terra... mas ela é boa, quer o bem da humanidade...

—Você diz isso porque segue as ordens dela, porque é o campeão dela, vire suas costas e verá as consequências.

“Minha mãe também é má. Nos criou para a destruição, assim como os titãs. Sempre orquestrou tentativas de destruição dos deuses, só prendeu Tártaro pois ele era incontrolável e destruiria o mundo, acabando por destruir Gaia também. Se engana ao pensar nela como uma benfeitora, Gaia é uma deusa má, ela só se importa com seu próprio bem.”

A cada palavra que Damásen falava Percy se sentia mais estúpido. Afinal de contas havia sido um peão de Gaia. E sequer sabia disto. Tudo que sabia era que Gaia o havia enviado o Livro, e dera para ele a Centelha. Agora sua visão estava deturpada sobre a deusa. Ele novamente fitou os tênis, cabisbaixo.

—Você segue alguém sobre quem não sabe nada, e segue cegamente, o outro era mais esperto – Damásen ria com gosto, surpreso. Deixe-me continuar a história, se vai ficar calado.

—Então...

“Eles me jogaram no Tártaro como forma de castigio, me manteram vivo cuidando de meus carneiros e colhendo minhas ervas, para que eu aprendesse como era desprezível a vida que havia escolhido. Todos os dias... ou o que conta como um dia neste lugar sem sol... o Drakon maeônio se recompõe e me ataca. Matá-lo é minha tarefa por toda a eternidade”

Percy olhou em volta, imaginando quantas eras Damásen estava exilado ali, matando o Drakon todos os dias. Quanta crueldade exilar um filho num lugar como o Tártaro. O garoto sentiu raiva de Gaia, e o ódio de Tártaro ferveu seu sangue.

—Desfaça a maldição – Percy se manifestou – Venha com a gente.

Damásen riu amargurado.

—Pensa que é fácil? Não acha que já tentei deixar este lugar? É impossível. Não importa para que direção eu viaje, sempre acabo voltando. O pântano é a única coisa que conheço, o único destino que consigo imaginar. Não, semideus. Fui vencido pela madição. Não há esperança para mim.

—Tem que haver um meio – ele insistiu.

—Não há – Damásen foi definitivo.

Percy assentiu por fim, se levantando. Ele foi até Luke, o semideus dormia, por ora tossia e resmungava em desconforto, mas parecia melhor.

—Obrigado, gigante – eles trocaram olhares. Damásen assentiu.

Ele andou até Damásen, estendendo a mão direita. O aperto de mãos foi desajeitado,levando em conta que a mão do gigante era dez vezes maior que a de Percy.

—Durmam u pouco – ele disse – Vou preparar suprimentos para sua viagem. Sinto muito, mas não posso fazer mais nada.

Percy não tentou contestar, seu corpo estava exausto, assim como sua mente atribulada de problemas. Estava de barriga cheia, o crepitar do fogo era agradável fazendo o ambiente ficar num clima bom , diferente do causticante calor do Tártaro.

Percy se ajeitou na beirada da cama, e rapidamente adormeceu.


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Notas finais do capítulo

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