Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra escrita por Pedro


Capítulo 26
26 - O Sono do Deus


Notas iniciais do capítulo

26º cap! , boa leitura!!



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26 – O Sono do Deus

 

Eu achei que minhas costas iriam me matar de dor quando me esforcei demais para descer a terceira chapada.

Annabeth constantemente me dava um pouco de lava do Flegetonte , eu gemia de dor para cada vez que encaixava meus dedos numa saliência na rocha.

Quando terminamos de escalar eu ofegava. Minhas costas ardiam em brasa , eu não conseguiria enfrentar mais chapadas.

Mas uma coisa era evidente e boa. O ambiente parecia ser mais hostil que o normal para o tártaro. Uma névoa negra espiralava no chão , como se quisesse nos engolir. Não haviam mais arbustos e árvores-esqueleto. Raios amarelos ribombavam e estouravam nas nuvens vermelho-sangue , tampouco eu ouvia os urros de monstros e grasnados agudos.

O ar era mais denso e rarefeito. Mesmo com a lava do Flegetonte era difícil respirar. Agora os rios do submundo corriam próximos , descendo uma colina que levava até um tipo de cratera.

Pedi para pararmos um pouco. Me recostei numa rocha escura. Meu pulmão subia e descia mais rápido que o de meus amigos. O tártaro parecia se divertir com o fato de eu estar incapacitado.

Me amaldiçoei mentalmente por não ter protegido meu ponto vulnerável quando pulei do drakon.

Annabeth me estendeu a garrafinha com lava e eu tomei um gole grande. Cuspi parte do conteúdo e respirei fundo novamente.

—Estamos chegando – ouvi a voz de Luke. Ele estava parado próximo à beira de um precipício e olhava para baixo concentrado.

—Como sabe? – Annabeth perguntou.

—Venham ver – ele disse e apontou para baixo.

Annabeth me ajudou a levantar e ir até a beirada. Olhei para a cratera escura lá embaixo. Não consegui ver nada de diferente ou estranho. Apenas escuridão e raios azulados.

—Não vejo nada – falei.

—Olhe com atenção – Luke advertiu.

Cerrei os olhos e franzi a testa. Ainda não consegui ver nada de diferente. Já ia reclamar com Luke quando algo em meu bolso estremeceu.

Tateei pela parte externa dos jeans e notei que a Pedra de Onfalos vibrava.

A peguei. Fiz o costumeiro gesto de abrir a palma da mão. A pedra flutuou e brilhou em amarelo.

“ O filho de Hermes tem razão , você está perto escolhido. Sofrerá uma grande dor quando em seu destino chegar. Deve-se manter calmo para superá-la , se puder”

Murmurei um obrigado de má vontade. Sempre em enigmas , porque ela não podia simplesmente dizer “o deus desaparecido está lá embaixo , só faltam alguns quilômetros e aí você pode sair do tártaro são e salvo”.

Ri com esse pensamento. Me senti bem na mesma hora , parecia que num lugar como o tártaro uma risada pura e prazerosa podia afastar os males.

Continuei observando a Pedra. Pela primeira vez ela apontava para um local fixo. Desde que adentramos na prisão do submundo ela nunca apontava para nada , sempre ficava girando e rodopiando em todas as direções.

Me animei com aquilo. Poderia ser um bom sinal.

Annabeth me cutucou.

—Percy , precisamos continuar descendo – ela disse cautelosamente.

Não respondi. Apenas assenti com um muxoxo , Annabeth riu de minha atitude. Ela me puxou e me beijou. Por alguns momentos a dor se extinguiu de meu corpo. Quando nos separamos ela voltou , reclamei baixinho.

Começamos a descer os penhascos na direção da grande cratera nebulosa que se abria três chapadas abaixo.

A dor me consumia em ondas excruciantes. Me odiei por estar machucado e ter que fazer meus amigos pararem por conta disso. Queria poder dizer que estava tudo bem e que poderíamos continuar sem interrupções contudo a dor estava me consumindo. Não sei o que aconteceria se eu os dissesse tal coisa , o esforço provavelmente me mataria.

Me esforcei ao máximo para descer a primeira encosta. Uma ou duas vezes eu bebi da garrafa , que já estava com pouco conteúdo. Pedi para pararmos um pouco mais.

Olhei as horas em meu relógio/escudo. Nele marcavam 03:00h da manhã. Ainda nos restavam 18h até a reunião dos deuses. Teríamos que achar o deus rápido e ainda escapar do tártaro com vida , como sempre , a sorte de meio-sangue em seu auge.

Novamente Annabeth me cutucou quando estávamos um pouco descansados. Ela me olhou tranquilizadora e disse que tudo ficaria bem e que deveríamos continuar.

A beijei mais uma vez.

Retomamos a caminhada. Olhei novamente para a cratera negra lá embaixo. Os sete rios do mundo inferior pareciam correr naquela direção. Reconheci o Estige , com as águas negras , o Flegetonte , o Aqueronte e o Cócito.

Nos aproximamos de mais uma chapada. Meu corpo quase implorou para não descer e ficar ali , quieto.

Annabeth viu minha expressão e novamente me disse que tudo ficaria bem. Ela me ajudou a encontrar a primeira saliência e eu me pus a descer.

Todo o meu corpo reclamou e ardeu com o esforço. Meus amigos já estavam no chão , me esperando pacientemente. Me senti um fardo para eles. Novamente me xinguei mentalmente.

Após praguejar mais um pouco em grego eu consegui chegar até eles.

Olhei para Annabeth e vi um ciclope se aproximar pelas costas dela. Tentei gritar mas seria muito lento. Por puro reflexo eu retirei Contracorrente de meu bolso e a destampei , antes da caneta se transformar em espada eu a atirei na direção do monstro como um míssil teleguiado.

A espada se atingiu o peito do monstro. Ele caiu de joelhos e explodiu numa nuvem de poeira.

Annabeth me olhou incrédula.

—Mesmo machucado consegue ser o herói – Thalia riu.

—Obrigado , Cabeça de Alga – Annabeth disse e me abraçou rapidamente.

Recebi alguns tapinhas nas costas de meus amigos e de Luke. Me senti feliz , como se parte de minha honra retornasse.

A dor em minhas costas se abrandou. Me senti como se tivesse acabado de engolir um pouco de ambrósia.

Avançamos em direção à última chapada. Luke observou a cratera com os olhos azuis semicerrados , sua expressão era sombria.

Com muito custo eu consegui descer o penhasco. Annabeth me entregou a garrafinha de lava do Flegetonte quando eu terminei de escalar.

Bebi todo o conteúdo. Meu corpo estremeceu , tentando regurgitar a lava. Respirei fundo.

Annabeth passou um braço pelo meu ombro e me ajudou a andar. À medida que nos aproximávamos da grande cratera negra o ar parecia ficar mais carregado , como se correntes elétricas estivessem presas à ele.

Chegamos à beirada da imensidão negra. Cerrei os olhos , contudo não consegui ver nada um metro à frente. Com certo custo destampei Contracorrente e a empunhei. O pouco brilho da espada nos fazia enxergar pelo menos o chão e pouco à frente.

—Percy , deixe-me segurar para você – Annabeth perguntou , retirando seu braço de meu ombro e estendendo a mão.

—Não Annabeth , não quero ser um fardo – rosnei ríspido.

—Você não é um fardo Percy , me deixe te ajudar – ela disse e esticou a mão para tentar pegar Contracorrente , rapidamente afastei a espada dela.

—Não Annabeth , já disse , não preciso de sua ajuda! – ralhei.

Ela me olhou e não mais tentou pegar a espada. Retirou sua adaga da bainha e começou a caminhar à minha frente , orientando-se pelo brilho do bronze celestial.

Me senti mal por tê-la tratado rispidamente. A verdade era que eu ainda estava um pouco enciumado por causa da aproximação repentina entre Luke e ela , porém , tive razão em me enraivecer , não queria que nenhum deles pensasse em mim como um fardo.

Andei com dificuldade. Eu tinha que segurar Contracorrente com a mão esquerda , já que o braço direito estava em uma tipoia improvisada.

Nico e Thalia pareciam alheios à minha pequena discussão com Annabeth. Eles conversavam absortamente sobre bandas de Heavy Metal e Hard Rock. Tentei participar da conversa , já que Luke e Annabeth andavam mais à frente rindo e conversando animadamente.

Nossa discussão sobre o novo corte de cabelo do Bruce Dickinson foi interrompida por uma risada estrondosa.

“Percy Jackson” ouvi ecoar “Já não era sem tempo”

Era a mesma voz dos meus sonhos. Ela era estridente e entrecortada. Parecia que uma adaga envenenada descia por minha espinha quando a voz chegava aos meus ouvidos.

Meus amigos olharam para mim. Eu não havia compartilhado com eles nenhum sonho sobre essa voz , tampouco as ameaças que ela fizera. Desviei o olhar deles. Olhei para cima e pedi proteção à Poseidon.

Eles entenderam meu gesto e seguiram caminho. Depois de andarmos por um longo tempo eu olhei novamente em meu relógio. Marcavam 13h. Haviam se passado dez horas , minha culpa – pensei. Se não fosse por mim chegaríamos muito mais rápido. Queda estúpida , drakon estúpido.

Novamente me xinguei em grego , isso estava se tornando um hábito.

Andei por um tempo emburrado. Me afastei de Nico e Thalia , que agora discutiam sobre o novo álbum do Iron Maiden. Andei longe de todos. Não me atrevi a olhar novamente para Annabeth e Luke.

Me orientei pelo brilho de Contracorrente. A voz enchia meus ouvidos e pensamentos.

“Continue assim Percy Jackson , seus amigos não precisam de você , sua namoradinha insignificante gosta mais do traidor morto , seu amor está se tornando impossível , e justo pelas mãos de quem o traiu”

“Eu já acabei com sua calmaria , raptei seu deus , o que você poderá fazer contra mim? Um pobre semideus sozinho , desamparado” ele ria com gosto.

Não o dei ouvidos , mas ele estava certo. Minha calmaria foi destruída. Um deus foi raptado. O Olimpo havia se calado. Me arrepiei quando associei estas frases com a profecia , “A calmaria do mar será interrompida” , “Um deus foi raptado e o Olimpo está calado” , “Do amor impossível impasses a surgir , pelas mãos daquele que se arrependeu em vos trair” , nenhum dos versos me preocupava tanto quanto o do amor impossível , será mesmo que ele se referia à mim e Annabeth?

A voz ria de minha dúvida e insegurança. Aquilo a divertia bastante.

Fiz uma carranca ainda maior e me senti recluso. Meus amigos andavam na frente , pareciam não sentir minha falta , nem sequer olhavam para trás para ver Percy Jackson , o herói machucado.

Apertei o passo.

O terreno ia mudando conforme avançávamos na escuridão. Agora andávamos pelo que parecia ser um corredor iluminado por archotes que bruxuleavam. As tochas estavam apoiadas numa parede feita de mármore negro.

No teto do corredor haviam imagens sangrentas e horrendas. Cenas que mostravam os olimpianos ajoelhados aos pés de uma criatura coberta de névoa negra. Mostravam também o Monte Olimpo destruído , suas ruas de ouro e prata manchadas com ícor dourado.

Meus amigos ainda caminhavam , hora ou outra eles paravam para ver a parede de mármore.

O corredor começou a se alargar. Felizmente ele não se dividiu em 2 , eu odiaria ter que fazer uma escolha , como no labirinto.

O teto também pareceu se afastar. Eu já não conseguia ver as cenas terríveis.

Avançamos por mais alguns metros. Vi que meus amigos haviam parado. Quando cheguei até eles vi que todos estavam espantados com algo.

Quando levantei o olhar também me espantei. Haviam imensas portas duplas. Deveriam medir uns cinco metros de altura. Em seu centro havia uma letra grega talhada no mármore branco. Um Omega virado de cabeça para baixo.

Me aproximei um pouco mais da porta e passei os dedos sobre o mármore. Era liso e límpido , anormal para um lugar como o tártaro.

Por sorte as portas estavam entreabertas. Me esgueirei e entrei pela fresta aberta na porta esquerda.

Todos me seguiram.

Minha boca se abriu em um perfeito O. As portas revelaram uma câmara idêntica ao salão dos tronos olimpianos. Os mesmos desenhos de constelações no teto. Os tronos dos deuses , porém estes estavam destruídos e rachados. Até mesmo o aquário do Ofiotauro estava ali , contudo estava destruído e sem água.

Passei os olhos pelos tronos. Algo me chamou a atenção.

No centro da sala , pairando no ar estava ele , quem eu menos esperava encontrar ali , então algo fez sentido em minha mente. O porque do Olimpo estar calado. O porque de ele estar aprisionado no tártaro. O porque dele ser essencial para a reunião dos deuses.

Deitado , imóvel estava ele , Zeus , o rei dos Olimpianos.

O senhor dos céus parecia não ligar para onde estava. Dormia e roncava numa cama invisível , pairando no ar.

Fiz menção de me aproximar de Zeus.

Quando dei o primeiro passo a temperatura caiu. A câmara estremeceu. Senti o ar carregado de eletricidade eriçar os pelos do meu braço na tala.

As paredes escuras da sala pareceram tremular. Elas começaram a desprender uma névoa negra mais escura que a noite.

A névoa estava se concentrando num ponto. Como se estivesse prestes a formar alguma coisa. E era exatamente isso que estava a acontecer. Quanto mais névoa desprendia da parede mais forma aquilo parecia ter.

Com poucos segundos já estava formado. Tinha o corpo humano com braços e pernas. Era inteiramente negro , dos pés à cabeça. A criatura cruzou os braços. Abriu os olhos. Eles eram donos de um vermelho intenso , cor de sangue. Não havia pupila ou íris , apenas a cor avermelhada. Vi algo se mexer um pouco abaixo de seus olhos. Era sua boca. Ela revelou dentes também vermelhos , ele estava sorrindo.

Ah! Perseu Jackson , finalmente nos encontramos! – ele abriu mais o sorriso.

“Eu sou Tártaro.

Pai de todos as crueldades do universo , pai do poderoso Tifão , pai dos Gigantes , nascido a partir do Caos.

A personificação do abismo, o verdadeiro espírito do submundo , senhor das cavernas e dos cantos mais terríveis do mundo inferior.

Meu espírito está livre , graças ao seu deus , Percy Jackson , o “senhor dos céus” , que não percebeu minha aproximação , não percebeu minha ameaça , e que , por fim , caiu em minha armadilha.

Devo agradecê-lo antes de destruí-lo , não fosse por ele , eu nunca conseguiria escapar.

Prestarei minhas condolências à Zeus quando eu destruir os deuses e o mundo , contudo , irei destruir você primeiro , para que sirva de troféu quando eu governar o universo!”


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Notas finais do capítulo

comentem!!!!!!!!!!



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