24 - Tênue Divisão 

Annabeth Chase…

A queda foi dura , fiquei com os olhos fechados. A pele quente de Percy me manteve firme. Senti um baque. Quando abri os olhos vi que nós dois estávamos deslizando pelo chão pedregoso.

Graças a Percy eu não sofri nada , meu coração saltitou de preocupação , pois meu namorado recebera todo o impacto. Quase desmaiei quando veio em minha mente que seu ponto fraco era na base da espinha.

Paramos de deslizar.

Rapidamente saí de cima dele.

Meu coração falhou. Minha visão turvou. Percy estava desacordado , em seu rosto haviam vários cortes , seu braço esquerdo estava em um ângulo esquisito , aquilo me estranhou pois a pele dele era de ferro , não poderia ser quebrada. Sangue escorria de diversos pontos em seu corpo. Parecia que o tártaro havia anulado a maldição de Aquiles.

Girei seu corpo para analisar o ponto vulnerável. Segurei as lágrimas , a camisa dele fora totalmente rasgada nas costas , ela estava coberta de arranhões e vergões , algo me chamou a atenção.

Em seu ponto vulnerável uma pedra se projetava. Ela estava alojada nas costas dele.

Dessa vez não consegui. Uma lágrima escorreu em meu rosto. Eu a limpei. Não poderia me desfazer em lágrimas ali , ele precisava de mim. Eu iria salvá-lo. Comecei a trabalhar. Retirei a pedra de suas costas e a atirei longe. Sangue estava escorrendo do ponto onde ela perfurara.

Corri até minha mochila e a peguei. Retirei dela meu cantil de néctar e meu saquinho de ambrósia rapidamente. Enfiei 2 pedaços de ambrósia na boca de Percy. Peguei minha adaga e rasguei uma tira de pano da minha camisa do Acampamento e a molhei em néctar.

Amarrei a tira de pano na barriga de Percy fortemente. Apliquei um pouco mais de néctar no pano e a prensei por alguns segundos contra suas costas.

Com o resto do néctar que sobrara eu fiz Percy beber. Ainda faltava seu braço. Com toda a força que reuni eu consegui colocar o braço dele no lugar. Um estalo preencheu meus ouvidos.

Corri até uma árvore sem folhas ali próximo e arranquei um galho reto. Rasguei mais tiras de pano da minha camisa e fiz uma espécie de tala no braço de Percy.

Por precaução coloquei mais um cubinho de ambrósia em sua boca.

Ele estava com uma aparência um pouco melhor. Os arranhados sumiram quase todos. Ele ainda estava pálido.

Coloquei a mão em seu peito. Mais lágrimas vieram quando notei que seu coração parara de bater.

Deixei as lágrimas escorrerem e comecei a fazer uma massagem cardíaca eu havia aprendido no Acampamento.

Não estava funcionando. Comecei a dar tapas no peito dele violentamente. Gritei seu nome várias vezes. Eu não iria perdê-lo então continuei com os tapas. Eu estava definhando.

Deitei sobre o peito dele molhando sua camisa do Black Ice. Dei alguns socos em seu peito ainda deitada. Não durou muito e minhas mãos perderam as forças.

Senti duas mãos me erguerem e me afastarem do corpo imóvel dele.

—Não Annabeth – era a voz de Thalia – Ele se foi — senti a voz dela se embargar.

—Não! Não! – gritei tentando me soltar dela – Mentiras!

—Por favor , Annabeth – Thalia suplicou – Ele se foi

Me aninhei no colo de Thalia e continuei a chorar. Meu coração estava se quebrando. A ideia de perdê-lo não condizia com meu futuro. Minha mente parecia não achar alternativa para a perda de Percy.

Por alguns instantes o silêncio reinou. Meu choro estava se tornando mais baixo. Minha vontade de viver estava se esvaindo. Quis estar no lugar dele. Preferia morrer a viver sem ele.

—Ann...Anna-Annabeth – ouvi uma voz fraca e estridente.

Parei de chorar. Olhei para os lados e para meus amigos. Eles também haviam ouvido.

—Anna...Annabeth

Me levantei rapidamente. Andei alguns passos cautelosos na direção de Percy. Ele parecia um animal estranho , como se vê-lo naquele estado confundisse minha mente.

—Annabeth

Meu coração saltou. Corri na direção de Percy e me ajoelhei ao seu lado. A mão dele estava gelada quando a toquei.

Me aproximei mais de seu peito. Quando eu ouvi seu coração bater quase gritei de felicidade , aquilo era música para meus ouvidos , senti como se pudesse enfrentar milhares de monstros sem me cansar , senti como se fosse a pessoa mais poderosa do mundo.

Percy tossiu , vi sangue saindo de sua boca. Ele estava se engasgando com seu próprio sangue. Rapidamente ergui seu tronco. A tosse cessou. Ele ainda não havia aberto os olhos , mas , apenas o fato de ele pronunciar meu nome e tossir já me deixou imensamente feliz.

Agradeci a todos os deuses por não tirá-lo de mim. Agradeci até a Hades por não tirar a vida dele. Fiz uma promessa silenciosa de que agora em diante eu iria queimar minhas oferendas em homenagem ao senhor do submundo.

Rapidamente eu apoiei Percy em uma pedra cuidadosamente. Coloquei as mochilas de meus amigos em suas costas.

Todos estavam com expressões de nítido alívio. Eu estava com um sorriso de canto.

Caí no chão arenoso , aliviada. Agradeci mais uma vez aos deuses.

Percy tossiu mais uma vez. De sua boca não saiu sangue , o que foi um alívio. Rapidamente entendi o motivo da tosse.

Peguei minha garrafa térmica vazia e corri na direção da encosta onde o rio Flegetonte corria.

Enchi de lava e voltei correndo. Bebi um gole já que eu também estava começando a tossir.

Dei a Percy o resto do conteúdo da garrafa. Não deixei escorrer uma gota sequer , o fiz engolir tudo. Sua tosse parou. Meus amigos também foram até a encosta beber lava.

—Annabeth , não podemos ficar aqui , os monstros nos achariam facilmente – disse Thalia quando a mesma voltou da encosta.

—Tem razão , mas , Percy está mal , não poderá viajar – eu disse , sem tirar os olhos de meu namorado , naquele estado parecia que ele iria se quebrar em mil pedacinhos se eu desviasse o olhar.

—Eu o carrego – ouvi Luke , ele mirava o horizonte cavernoso , ainda não havia descoberto o porque de ele estar tão fechado. Desde que começamos a conversar ele não me falava o motivo.

—Obrigada – murmurei.

Luke andou até Percy e o ergueu cuidadosamente , como se ele fosse um bebê.

Empunhei minha adaga e conduzi o grupo. Nico e Thalia me seguiam de perto , armas a postos.

Logo que andamos por poucos minutos avistei um grupo de dracaenaes. Rapidamente as matamos. O pó dourado se espalhou pelo chão negro.

Constantemente eu olhava para trás. Luke ainda segurava Percy desajeitadamente.

Descemos por uma colina de solo estéril e eu avistei um rio negro que ia em direção a uma floresta de árvores-esqueleto. Decidi que ali estaríamos mais seguros caso fôssemos atacados.

Não poderíamos descer pelos abismos pois Percy ainda estava desacordado.

Percebi que era o rio Estige que cortava a floresta. Cortei alguns galhos secos da primeira árvore e conseguimos nos esgueirar. Haviam muitas árvores , todas sem folhas , e todas eram bem próximas , o que dificultava nossa passagem.

Conseguimos achar um local para acampar bem no centro da floresta. O rio Estige corria bem próximo de onde estávamos. Luke colocou Percy recostado em uma árvore bem grande. O filho de Hermes colocou nossas mochilas nas costas de Percy. Apoiou seu braço numa delas e logo depois se levantou.

Me recostei numa árvore ao lado de Percy. Não ousei me aninhar nele , obviamente não seria bom exercer peso sobre ele.

Meus amigos também se recostaram e apagaram , com poucos segundos ouvi Nico roncar.

Eu não consegui dormir. Fiquei observando Percy por um longo tempo. Luke disse que faria a guarda e que não era para eu me preocupar. Ele insistiu que olharia Percy por mim após um longo tempo que eu fiquei o observando. Segui o conselho dele e após uns segundos dormi. O peso de perder Percy fora tirado de mim. Suspirei feliz.