Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra escrita por Pedro


Capítulo 22
22 - Tudo é hostil


Notas iniciais do capítulo

22ºcap , demorou um pouco hihi... mas agora eu vou assumir um compromisso de postar 3 vezes por semana , os cap. agora saem definitivamente na Quarta-Feira , Sábado e Segunda-Feira!

Boa leitura!!! ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/367265/chapter/22

22 – Tudo é Hostil

 

Todos estavam preparados para pular no tártaro. Luke advertiu Thalia de que o espaço até o chão era muito grande. Ela teria que usar seus poderes e controlar o ar lá embaixo para poder salvar-nos. Era isto ou ser apenas uma mancha de gordura no chão arenoso.

Todos nos reunimos lado a lado. Pela primeira vez a ideia de ir ao tártaro me amedrontou. Fiz uma prece à Poseidon. Senti a mão de Annabeth se entrelaçar na minha. Aquilo me acalmou. A beijei.

Todos demos as mãos. Pulamos juntos.

A escuridão havia nos engolido. Annabeth apertou forte minha mão. Eu não conseguia ver seu rosto. Estávamos num completo breu.

O tempo passou. Incontáveis minutos. Cheguei à conclusão de que não havia fundo. Os minutos se alongaram em algumas horas. Antes de pularmos o relógio marcava 18H.

Eu estava começando a ficar entediado.

—Estamos nos aproximando do solo! – ouvi a voz de Luke sobressair no vento forte – Thalia , se prepare!

Fiquei apreensivo. Para mim ainda estávamos no meio do nada. Olhei para baixo e continuei não vendo nada. Mas algo estava acontecendo.

Estávamos começando a perder velocidade na queda. O vento ainda assobiava em meus ouvidos , porém agora estavam ficando menos audíveis.

Olhei novamente para baixo e vi um pequeno ponto alaranjado brilhando lá embaixo.

O pontinho estava aumentando de tamanho. Agora já estava do tamanho de um carro compacto. E aumentou mais e mais. Ainda estávamos muito rápido. Thalia apenas conseguira retardar a queda. Ela não nos fizera planar.

Passamos pelo buraco. O pontinho laranja revelou uma imensa planície arenosa e pedregosa.

Meus ouvidos foram enchidos de gritos e urros de monstros. Uma cadeia de montanhas se erguia numa terra longínqua. Uma série de chapadas e depressões também estavam ali , penhascos causticantes e abismos obscuros. No centro da grande planície havia um abismo que levava a lugares mais fundos , ela descia gradativamente , como degraus de uma grande escada. Estava cercado de nuvens de tempestade negras e raios amarelados.

O tártaro fazia Manhattan parecer aquele ponto preto que se encontra em mapas de escola com o nome escrito do lugar escrito ao lado.

Ainda não havíamos atingido o solo. Agora eu via meus amigos. Thalia estava de olhos fechados. Annabeth também , seus lábios se mexiam sem sair som. Uma prece.

Se antes eu estava entediado porque não conseguia ver o fundo , agora estava louco para voltar para aquele tédio. Iríamos ser manchas de gordura no solo negro e estéril.

O chão estava muito próximo. Fechei meus olhos , me preparando para o impacto.

No momento em que iríamos atingir o chão eu ouvi Thalia urrar. O grito dela ecoou na planície negra. A velocidade fora reduzida à zero. Soltei a mão de Annabeth e pousei no chão. Descrevi algumas cambalhotas e aterrissei de costas , ofegante.

Annabeth caiu bem ao meu lado. Luke caiu em cima de Nico e os dois rapidamente se separaram. Não vi Thalia.

Olhei para cima. O teto estava muito longe. Nuvens vermelhas estavam pairavam no local. Não havia vegetação. O ar era carregado de enxofre. Um rio de lava estava próximo de onde havíamos caído.

Uma forma escura pairava no ar. Estava descendo lentamente , como uma pena ao vento.

Minha amiga Thalia estava descrevendo passos suaves no ar rarefeito. Parecia completamente confortável. Ela pousou tranquilamente no chão arenoso , estava de olhos fechados e tinha uma expressão neutra.

Andou em nossa direção calmamente.

—Acho que devemos andar rápido – ela falou.

—Thalia , como é que... você , voando , o que? – gaguejei.

—Isso não é importante agora , devemos partir – ela me cortou.

Olhei para ela incrédulo mas assenti. Foi aí que comecei a tossir.

Era o ar. Carregado de enxofre e ácido. Estava começando a me sufocar. Minha visão estava se tornando turva , meus membros , pesados. Meus amigos também começaram a tossir.

—Vocês têm que beber do rio – Luke disse sinistro , ele continuava normal. De pé.

—Rio , que rio... – fui interrompido por Annabeth.

—O Flegetonte – ela disse e apontou para uma margem , onde um rio de lava levava para mais fundo no tártaro.

“Ele também é chamado de Rio da Cura. O rio é encarregado de punir os maus. Mas o Flegetonte também faz com que as almas dos Campos de Punição suportem suas torturas”

—Mesmo assim , é fogo e loucura – eu disse.

—É o único jeito – ela disse , olhando para mim apaziguadoramente.

—Annabeth tem razão – Nico falou – Quando vaguei por aqui à serviço de meu pai ele me alertou sobre o rio , disse que era essencial beber da lava que corre nele.

Assenti receoso. Caminhamos até a margem. Ninguém se atreveu a tocar nas águas escaldantes.

O ar estava fazendo meu pulmão doer. Não iria aguentar. Enfiei a mão no rio em forma de concha e levei lava até minha boca.

Minha primeira impressão foi que a lava era mais quente do que o sol. A segunda foi que tinha gosto de todas as pimentas do mundo conservadas em ácido sulfúrico. Saía fumaça de meu nariz , boca e ouvidos. Engasguei. Vomitei. Cuspi. Meu corpo estava rejeitando o fogo. Caí no chão e comecei a me contorcer. Senti uma mão quente apertar a minha. Abri os olhos , consegui ver a silhueta de Annabeth. Comecei a me acalmar. Meu peito descia e subia mais suavemente e lentamente. Parei de tossir e minha visão voltou ao normal.

—Até que não foi tão ruim – eu disse , respirando o ar de enxofre.

—Você quase morreu Cabeça de Alga , fiquei preocupada –Annabeth me ajudou a levantar.

Ela me abraçou.

—Agora é a vez de vocês – Luke disse , ele estava de pé poucos metros de onde estávamos.

Ele se mantinha de costas. Mordecostas estava em mãos. À espera de um ataque – pensei.

Observei cada um de meus amigos beber do Flegetonte.

Eles se contorceram como eu. Vomitaram e cuspiram. A cena era horrível , de dar medo. Apertei a mão de Annabeth e lhe murmurei palavras de encorajamento. Pouco a pouco a cor voltou ao rosto dela.

Todos pararam de tossir e se recompuseram. Nico ajudou Thalia a se levantar. Ergui Annabeth , ela tinha uma expressão de pura náusea.

—Então , devemos ir – os alertei.

—Tem razão – Annabeth disse.

Nos aproximamos de onde Luke estava.

—Teremos que seguir o rio , vocês precisarão de mais lava no caminho – ele disse fitando o horizonte cavernoso – O Flegetonte irá nos levar até o coração do tártaro , que é onde o deus deve estar.

Ninguém argumentou. Luke tinha razão , o deus provavelmente estaria no ponto mais fundo do tártaro.

***

Os penhascos eram causticantes. Descemos por horas. Cada chapada e abismo parecia ser maior , e sempre haviam mais e mais , como degraus colossais que levavam mais fundo no tártaro.

O suor empapava minha camisa do AC/DC , faria qualquer coisa por um gole d’água já que o calor secara completamente nossas garrafas e cantis.

Estávamos na metade de um abismo. Eu encaixava minhas mãos , que por sinal estavam queimadas , nas saliências da pedra negra. O cansaço parecia ser mil vezes pior naquele lugar , tudo era hostil.

Não havia água , apenas venenos , lava e rios de pura dor e tormenta. Olhei para baixo. O rio Flegetonte ainda se esgueirava por entre as pedras , trilhando um caminho de fogo que levava para baixo. Eu agora não conseguia ver quase nada à frente. Havia uma névoa escura e densa cobrindo minha visão. Algumas nuvens soltavam raios amarelos. Minha boca estava seca , ansiava por água.

Minha mão estava em carne viva. As pedras estavam mais quentes do que pensei.

Não consegui manter meus olhos em Annabeth. Se eu a observasse por muito tempo meu coração doía. Ela estava ensopada de suor e possuía queimaduras nos braços e nas mãos. Sua expressão era de medo e cansaço extremo. Desviei o olhar dela e continuei a escalada íngreme.

Finalmente conseguimos alcançar o chão. Desabei de cansaço no solo arenoso.

O ar estava começando a me sufocar novamente. Luke nos alertou a beber um pouco mais de fogo. Foi o que fizemos. Cada um encheu a mão de lava e levou à boca.

Desta vez não foi tão ruim. Meu corpo não tentou rejeitar o fogo líquido. O aceitou de bom grado.

Meu estômago por sua vez , implorava por comida. O rio não satisfazia minha fome. Isso me deixava louco. Minha cabeça dizia Missão , meu estômago dizia Pizzas , minha cabeça Perigo , meu estômago Cheeseburgers.

Pusemos-nos a caminhar. Todos estavam cansados e com fome. O olhar de meus amigos era quase selvagem. Pensei até que ponto iríamos chegar se quiséssemos comer.

O que mais me perturbava porém não era a fome nem o cansaço , e sim Annabeth e Luke. Eles não se desgrudavam. Ela ia junto com ele um pouco mais à frente. Aquilo estava me deixando com uma sensação de que uma pequena agulha me incomodava. Ciúme? Talvez.

Eles pareciam bem felizes. Novamente aquela pergunta martelou em minha mente. Se ele não tivesse morrido ela teria me escolhido? Tentei afastar este pensamento mas falhei. Não conseguia pensar em outra coisa.

Minha amiga Thalia também estava incomodada com algo , ela murmurava para si mesma palavras sussurradas e balançava a cabeça negativamente , como se quisesse afastar algum pensamento.

Continuei minha reflexão silenciosa. Decidi jogar o olhar para outra coisa que não fosse Annabeth e Luke.

A paisagem ainda era a mesma. Nada parecia ter mudado. O ar ainda era carregado de enxofre. Eu ainda conseguia ouvir o eco dos urros de todos os monstros. Me senti um intruso naquele lugar hostil. Apenas uma coisa mudara. Um rio corria para dentro de uma pequena floresta , esta que se erguia um pouco abaixo de onde estávamos , num ponto mais fundo.

Ela era composta de árvores totalmente secas , sem folhas , sem vida. Não possuía grama. Parecia que os deuses haviam esquecido aquele lugar. Um frio na espinha correu em minhas costas quando percebi que o rio que cortava a floresta era o Estige.

Continuei a caminhar. Chegamos à borda de mais um penhasco. Como sempre não pude ver o que havia em seu fundo. A única alternativa era descê-lo.

Meu corpo implorava por descanso. Eu o forçava além da conta. O tártaro parecia se divertir com nossa desgraça. Parecia querer que morrêssemos aos poucos , como agulhadas constantes.

Descemos mais uma vez pelas saliências , meu corpo quase gritou de alegria quando eu vi uma saliência que se abria em uma espécie de caverna.

—Vamos parar um pouco – eu disse e todos assentiram , aliviados.

Me esgueirei mais um pouco e consegui entrar na caverna. Por nossa sorte ela era bem úmida e fresca , comparada àquele forno que eram as planícies do tártaro.

Assim que entrei eu desabei no chão escuro. Retirei Contracorrente do bolso e a transformei em espada. O brilho do bronze celestial deu uma quantidade ínfima de luz na caverna , mas , já era um começo.

Consegui ver os rostos de meus amigos , eles ofegavam. Luke não entrou. Ele ficou postado na entrada da caverna como um cão de guarda.

—Luke , sente-se conosco – Annabeth disse , se sentando encostada na parede da caverna.

—Não , eu não preciso descansar , vocês têm que dormir e comer um pouco para partirmos – ele disse , ainda fitava o horizonte.

—Mas você ainda pode se sentar um pouco conosco , adoramos sua companhia – ela disse , ninguém se manifestou – Hum rum , não é mesmo gente? – ela olhou para nós reprovadora e me cutucou.

Me mantive inflexível. Nico e Thalia assentiram com um hum rum.

Annabeth foi na direção dele. Ela estendeu sua mão para Luke e o ajudou a levantar. Então , ainda de mãos dadas , ela o puxou para onde estávamos. Senti uma agulhada , o ciúme.

Ela tentou sorrir para nós , eu desviei o olhar.

Me levantei abruptamente. Peguei Contracorrente e me sentei na porta da caverna sem falar nada. Meus amigos se surpreenderam. Continuei lá , parado , fitando as dezenas de abismos.

—O que há Percy? – ouvi a voz de Annabeth às minhas costas.

—Não há nada , você deveria descansar , eu fico de guarda , volte para lá , Luke está lá , precisa de companhia – eu disse secamente.

—Percy , sinceramente não estou entendendo – me virei e a vi com os braços cruzados.

—Não é para entender nada , apenas volte para lá – eu disse e desviei o olhar dela.

Ela não respondeu. Apenas se afastou. Não me senti feliz em tratá-la rispidamente. Mas o ciúme foi mais forte que eu. Fiquei um tempo lá pensando , emburrado. Estava quase cochilando quando sinto uma mão encostar em minhas costas.

—Annabeth , por favor , volte para lá – eu murmurei.

—Não é a Annabeth , sou eu – ouvi a voz de Luke.

O filho de Hermes se sentou ao meu lado. Olhei em seus olhos azuis. Minha vontade era de socá-lo e mandá-lo ficar longe de Annabeth. Me contive.

—Você deve descansar , eu faço a guarda – ele disse e colocou a mão em meu ombro , rapidamente eu a afastei.

—Não preciso de sua ajuda , nenhum de nós precisa! – esbravejei.

—Percy , entendo que você não confie em mim mas , para seu próprio bem , é melhor descansar – ele disse seriamente.

Eu ia retrucar porém acabei bocejando. Me levantei em silêncio e escolhi um canto da caverna para me deitar.

Não olhei para Annabeth. Ela estava com uma expressão neutra , encostada na parede escura.

Me acomodei da melhor forma que pude. Coloquei minha mochila como travesseiro e antes de dormir murmurei uma prece à meu pai.

***

O sonho começou normal.

Eu estava na mesma caverna que adormeci. Mas estava sozinho. Uma forma translúcida estava em posição de meditação no centro da saliência.

Era Perseu.

Ele estava de olhos fechados , ouvi sua voz em minha mente.

“Está indo bem Percy , apenas mais algumas horas de caminhada e alguns monstros e acredito que você concluirá a missão , mas , terá um desafio e uma prova antes de sair deste buraco”

Eu não tinha fala para respondê-lo.

“Isso que você está vendo foi real. Eu estava mesmo aqui , meditando , enquanto enfrentava a mesma missão que você. A Pedra o está mostrando que está no caminho certo , mas , meu recado está dado , acho que você deve acordar agora”

Dito isso eu fui despertado por um explosão. Abri os olhos rapidamente e vi que a entrada de nossa caverna estava em chamas. Annabeth não estava à vista. Luke e Nico tentavam apagar o fogo com as blusas.

Me postei ao lado deles e também tentei apagar as chamas.

—Percy , temos um problema – ouvi a voz de Luke , vi que ele apontava para fora da caverna.

Vi uma cena que me chocou e fez meu coração falhar uma batida. Era verdade , tínhamos um problema dos grandes...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

deixe comentários , favorite!!!! ^^