*Sakura*

Sabe quando você simplesmente vê tudo desmoronar não se pode impedir e nem fazer nada para mudar os fatos? Bem, é exatamente nesta situação em que eu me encontro. A única coisa a minha frente é uma parede de azulejos brancos, um cartaz de vacinação pregado e o movimento de vai e vem no corredor do Hospital Central de Konoha. Naruto estava aflito ao meu lado conversando pelo telefone com as meninas, que ficaram na casa de Gaara. O ruivo fora dar a notícia aos pais de Sasuke. Até o dado momento, nenhum médico apareceu para falar conosco. Quando a ambulância chegou no desfiladeiro e os paramédicos colocaram Sasuke na maca eles tiveram que fazer uma reanimação cardíaca, pois os batimentos tinham cessado por dois minutos. O pânico invadiu-me naquele momento e a culpa tomou conta de meus pensamentos.

Avistei uma mulher alta e com os cabelos negros e lisos correndo desesperada em nossa direção. Mais atrás, Gaara e Itachi aproximavam-se tentando manter a calma, mas eu poderia jurar que eles estavam mais nervosos que dona Mikoto que chorava e soluçava.

Estávamos ali sentados e aflitos pelo o que me parecera uma eternidade até que um senhor alto, com os cabelos ruivos descendo-lhe o rosto e um olhar sereno aproximou-se de nós.

– Amigos e familiares de Uchiha Sasuke? – perguntou o homem, e todos rapidamente levantaram-se e caminharam até lá. – Sou o Dr. Yahiko, eu que realizei o atendimento de Sasuke.

– Como está meu filho doutor? – perguntou dona Mikoto completamente desesperada. – Como ele está?

– Sasuke sofreu uma hemorragia cerebral. – prosseguiu – Devido a intensidade da batida, criou-se um coagulo no lado direito do cérebro. Ele passou por uma pequena cirurgia para a retirada deste coagulo, mas só saberemos qual o verdadeiro quadro dele se ele acordar.

– Como assim se ele acordar? – perguntou Itachi confuso. – Quer dizer que ele pode não acordar?

– Meu filho está em coma doutor? – perguntou dona Mikoto. As lágrimas desciam-lhe pelo rosto e eu poderia jurar que o meu devesse estar deste jeito também.

– Ele encontra-se em coma induzido por medicamentos. – retrucou – O efeito dos remédios devem cessar em menos de uma hora, e se ele acordar, não se pode afirmar se terá sequelas ou não.

– Kami-sama... – murmurou dona Mikoto. – Eu posso vê-lo?

– Claro, mas só é permitida a entrada de três visitantes por vez. – murmurou Dr. Yahiko. – E só poderão ficar por cinco minutos. Acompanhe-me, por favor.

Na primeira visita, Naruto, dona Mikoto e Sasuke entraram. Eu fiquei ali sentada no banco de espera completamente inundada até o pescoço pela culpa. Jamais me perdoaria se Sasuke não acordasse ou ficasse com sequelas. Eu nunca fui muito religiosa, mas me peguei rezando para que ele ficasse bem.

– Sakura. – murmurou Gaara. – Vamos.

– Hai.

Levantamos e entramos no quarto. Não pude impedir de ver as lágrimas derramadas nos rostos dos três que a pouco tempo tinha entrado ali e uma náusea invadiu-me o estômago. Na cama deitado e inerte, respirando com a ajuda de um tubo e ligado a uma máquina que controlava seus batimentos cardíacos, Sasuke dormia. O rosto sereno. A cabeça coberta por uma gaze no local onde provavelmente foi retirado o coagulo. A respiração vagarosa e lenta. Ele parecia apenas que dormia normalmente se tirasse os tubos e os fios. Lágrimas escorreram por meu rosto. Uma dor invadiu meu peito e eu senti as pernas fraquejarem. Teria desmaiado se Gaara não tivesse me segurado em seus braços.

– Desculpa, desculpa... – murmurei com o rosto encharcado. – Me desculpe Sasuke, por favor, me perdoe.

– Shii... – sussurrava Gaara me sentando em um sofá que tinha ao lado da cama. – Você não tem culpa. Foi um acidente.

– Eu tenho culpa sim Gaara. – murmurei amargurada com a verdade. Eu provoquei o acidente. Se ele não tivesse saído dali tão rapidamente, ele não estaria deitado em uma cama de hospital, muito menos correndo risco de não acordar nunca ou de ter sequelas que ficariam pelo resto de sua vida. – Eu fui a culpada... Ele não teria saído correndo daquele jeito se eu fosse menos egoísta e orgulhosa. Ele sofreu esse acidente por minha causa.

O pensamento de medo me alastrou. A raiva que eu sentia de mim mesma fluiu por minha pele deixando longos e irritantes tremores. As lágrimas desciam cada vez mais grossas e dolorosas. Um nó havia se formado em minha garganta e ficava cada vez mais difícil de respirar. Já sentia a cabeça doer e os olhos ficarem pesados. A última coisa que eu ouvi foi Gaara chamando meu nome e depois apenas o escuro. Eu desmaiei.

Os olhos não queriam abrir. A luz fraca que batia contra meu rosto apenas deixava mais difícil a situação e qualquer esforço que eu tentasse fazer, eu sentia o corpo doer e uma careta de dor formava-se em meu rosto. Quando finalmente me acostumei com a claridade pude ver o local em que eu estava. Estava deitada em uma cama hospitalar. Em meu braço, um soro estava colocado e na mesa do lado da cama pequenos balões de gás que diziam “FIQUE BOA LOGO” pairavam sobre o ar.

Olhei para a porta e lá estava uma mulher alta e com os cabelos recentemente repintados de loiro queimado e uma pequena garotinha de cabelos amarelados sorriam sinceramente. Mebuki, minha mãe aproximou-se correndo e abraçando-me. Sayuri, minha irmã caçula pulou em cima de mim recebendo um olhar repreendedor de minha mãe.

– Que bom que está bem querida. – murmurou – Quando Ino me ligou dizendo que você tinha passado mal eu larguei tudo e vim correndo aqui.

– O que aconteceu? – a pergunta simplesmente escapou. Eu não me lembrava de muitas coisas. Os recentes acontecimentos eram apenas borrões sem noção.

– Você desmaiou. – sussurrou acariciando meus cabelos. – Passou mal e teve que ser internada.

– Por que eu desmaiei? – perguntei totalmente confusa. Entretanto, o olhar de minha mãe transmitia medo de contar o real motivo. – Mãe, por que eu desmaiei?

– Você desmaiou depois de ver Sasuke. – murmurou e de um momento para o outro as cenas ficaram claras em minha mente. Sasuke deitado numa cama de hospital completamente sem movimento segurado por tubos e aparelhos. – Ele sofreu um acidente.

– Quanto tempo eu fiquei desmaiada? – perguntei ao lembrar-me dos balões de gás. Ninguém os trazia para alguém que estava a poucos minutos desmaiada.

– Duas semanas. – respondeu rapidamente. – Não sabemos o porquê de você ter ficado desacordada por tanto tempo, os médicos nada disseram sobre isso. Apenas explicaram que devido ao estresse e o trauma de ver Sasuke na atual situação.

– Como ele está? – perguntei rapidamente – Como está o Sasuke?

– Ele... – murmurou. Lágrimas já desciam por meu rosto só de pensar no pior que poderia ter acontecido. – Ele ainda está internado.

– Perguntei como ele está e não onde está. – murmurei irritada. Por que todo aquele rodeio? Por que não dizia logo a verdade? – Mãe, como ele está?

– Acho melhor você ver. – disse ficando de pé na minha frente. – Mas preciso que se acalme. Não pode ficar nervosa ao vê-lo, ok?

O medo apoderou-se de mim novamente. As lágrimas densas desciam por meu rosto e eu podia sentir o aperto no peito retornar. Aquela angustia não era um bom sinal e as respostas desviadas de minha mãe apenas aumentavam esse nervosismo. Eu só queria acreditar que ele estivesse bem e que tudo não passava de um pesadelo.