*Sakura*

(lembranças on)

Tóquio, alguns meses atrás.

            Eu acordei tarde hoje e acabei pegando uma carona com minha mãe. O que sempre achei totalmente vergonhoso. Entrei na escola e encontrei minhas melhores amigas na porta da sala conversando com Sai, o namorado da minha amiga Ino.

- Oi pessoal. – murmurei me aproximando e vi os olhares delas tornarem-se meio receosos e Sai abrir um sorriso mínimo. – O que houve?

- Não sabia que você era tão fotogênica assim feiosa! – exclamou Sai. Ele sempre me chamava assim, desde que tínhamos cinco anos de idade. Não sei por que, mas ele gosta de me amolar. Ino deu-lhe um tapa com a sua declaração. – Ai.

- Para com isso Sai. – falou a porquinha. – Já vai ser um baque tremendo quando ela souber que o houve, e você ainda põe mais lenha na fogueira.

- O que houve porquinha? – perguntei confusa e juntamente com a Hinata olhou receosa para mim. – Anda. Diz logo que eu estou ficando com medo.

- Ai testuda! – exclamou. – Me desculpe por tudo isso, mas eu tenho que te mostrar.

            Ela pegou o celular do Sai e caminhou até mim. Colocou em um vídeo e passou o celular para mim. Comecei a assistir e fiquei extremamente vermelha com a cena que vi. Eu e Sasori na casa de praia abandonada... Kami-sama, o que era aquilo?

- O que é isso? – murmurei extremamente vermelha para ela. – Quem fez isso? Quem colocou isso na internet?

- Não sei testa. – falou a porquinha. – Mil desculpas. Mas a gente vai descobrir isso.

- Cadê o Sasori? – perguntei devolvendo o celular para o Sai antes que eu o tacasse na primeira parede que eu visse. – Preciso falar com ele. Onde ele está?

- Perto do bebedouro. – respondeu Hinata.

            Sai caminhando pelos corredores até próximo dos bebedouros. Observei alguns olhares incrédulos para mim e cochichos maldosos. Claro! Todos já deveriam ter visto aquele vídeo asqueroso. Maldito seja aquele que fez isso, pois se eu descobrir eu irei mandar matar. Avistei Sasori bebendo água e corri até ele.

- Sasori. – chamei-o – Precisamos conversar.

- Está bem. – acenou para que eu continuasse.

- Você viu aquele vídeo? – perguntei quase ficando vermelha novamente. – Aquele que com toda a certeza já deve estar no celular de todos aqui.

- Vi. – respondeu enfim. – Aquilo ali não teve nenhuma graça.

- Com certeza não. – murmurei raivosa. – Algum palpite de quem tenha sido?

- Não. – disse após alguns segundos. – Vamos rosadinha. Vamos voltar para a sala que logo começa a aula.

            Caminhamos novamente para a sala de aula e assistimos calmamente enquanto o professor escrevia as diversas fórmulas de química no quadro e nós anotávamos cada uma. Ainda percebi olhares para mim todos aqueles minutos e logo fomos dispensados para o intervalo.

            Sasori saiu depressa da sala e eu comecei a procura-lo na escola inteira. Estava para desistir quando o avisto conversando com um rapaz loiro que parecia com a Ino. Era Deidara, o melhor amigo dele. Cheguei perto, mas não o suficiente para que me vissem.

- Então Sasori? – perguntou o loiro. – O que achou?

- O vídeo ficou demais. – murmurou Sasori. Vídeo? Será que...? Não! Sasori não seria capaz disso. – Mas a rosadinha não gostou nada.

- Mas não era esse mesmo o objetivo do seu plano? – perguntou sorrindo o loiro. Plano? – Não era para acabar com a reputação dela?

- Sim. – respondeu Sasori. Aquele maldito! – Mas ela não pode nem imaginar que eu tive algo a ver com isso. E você fique caladinho, ok?

- Ok. – resmungou caminhando novamente pelo corredor.

            Corri até a sala de aula e peguei minha mochila saindo pela porta e seguindo rumo a minha casa. Não queria continuar lá nem por um segundo a mais. Caminhei rapidamente tentando esconder algumas lágrimas que desciam por meu rosto até que finalmente fechei a porta de meu quarto e joguei-me na cama.

            Acordei mais tarde perto das sete da noite. Tomei um banho quente e vesti um short jeans e uma camiseta vermelha de alcinhas. Desci as escadas e fui até a pequena praça em frente de minha casa. Era onde eu mais queria pensar.

- Rosadinha? – perguntou uma voz familiar. E que agora para mim era asquerosa. – O que houve com você hoje? Por que foi embora cedo?

- Sasori... – murmurei seu nome. Um nome que até mais cedo soava doce em minha boca agora permanecia frio. – Preciso falar uma coisa com você.

            Ele acenou que sim com a cabeça e me seguiu até um pequeno lago artificial que ficava na praça. Parei e virei para encarar o ruivo. Meu olhar permanecia frio e sem sentimentos. Quero dizer, eu sentia algo, mas era algo que se resumia a um ódio puro daquele ser em minha frente.

- O que houve Sakura? – perguntou enfim.

- Por quê? – perguntei-lhe. Fechei meus olhos com força para evitar derramar lágrimas. – Por que fez isso?

- Do que está falando?

- Sabe muito bem do que estou falando Sasori. – murmurei com ódio. – Me diga... É bom se divertir com o sofrimento alheio? É bom acabar com a reputação das pessoas? Ah! Deve ser ótimo. Esse não era seu plano desde o início? Acabar com minha vida e reputação?

            Ele olhou-me de modo questionador, como se perguntasse “como você sabe disso?”. Considerei um sim.

- Quer saber de uma coisa? – perguntei-lhe. – Quero você longe de mim. Tome uma distância de minha vida e nunca mais dirija a palavra novamente a mim. Eu te odeio Sasori. Você me dá nojo.

- Sakura... – murmurou abrindo um mínimo sorriso. – Não sei como descobriu isso, mas você está certa. – fiquei pasma. – É ótimo o sentimento de destruir sua vidinha perfeita. Garota como você é sonsa! Pensa que um cara iria querer alguma coisa com você?

            Não respondi nada e ele se aproximou mais de mim. Estávamos separados apenas por uma fresta de ar e lágrimas já banhavam meu rosto.

- Por que fez isso comigo? – perguntei chorosa. – Eu... Eu realmente gostava de você.

- Minha rosadinha tenha isso na sua cabecinha de meia tigela. – resmungou segurando meu queixo com umas das mãos e olhando em meus olhos. – Você é uma garota irritante que tem tudo aos seus pés, ou pelo menos achava que tinha.

            Ele saiu me deixando lá sozinha. Alguns segundos depois quando me recompus limpei as lágrimas de modo rude e caminhei a passos largos em direção a minha casa. Entrei em meu quarto sem falar e nem escutar o que minha mãe gritava para mim. Deitei-me na cama e adormeci.

            Na manhã seguinte, um sábado. Eu acordei com minha mãe sentada ao meu lado na cama acariciando meus cabelos. Abri os olhos lentamente me sentando na cama em seguida. Olhei para o despertador em cima do criado-mudo ao lado de minha cama. Ele marcava apenas sete horas da manhã.

- Bom dia filha. – sussurrou minha mãe. – Preciso te contar uma coisa.

- O quê? – perguntei.

- Vamos nos mudar. – ela disse calmamente e eu arregalei os olhos. – Vamos para uma cidade chamada Konoha hoje de tardinha.

- Como assim mudar? – perguntei não entendendo o que ela me dizia. – Assim, do nada?

- Eu ia te falar ontem de noite quando cheguei, mas você entrou no seu quarto e capotou na cama. – respondeu. – Aproveite o dia para arrumar suas coisas e despedir-se de suas amigas. – falou saindo pela porta em seguida.

            Levantei da cama e vesti outra roupa após fazer a minha higiene matinal. Caminhei até a casa de Ino e falei com ela por um tempo. Contei o que houve comigo e com Sasori, também contei quem postou aquele vídeo horroroso e disse sobre a viagem. Nós nos despedimos e fui até a casa de Hinata, onde eu fiz a mesma coisa.

            Voltei a passos lentos para minha casa e arrumei minhas malas. Entrei no carro juntamente com minha irmã caçula e minha mãe e partimos.

            Mudar? Sair de Tóquio? Talvez não fosse assim tão ruim. Talvez com isso eu pudesse me sentir melhor em relação a tudo o que houve. E quem sabe, eu também poderia esquecer que Sasori apareceu na minha vida e virou meu pequeno mundo cor-de-rosa ao avesso.

(lembranças off)