O sol forte reluziu pela minha espada cegando meu oponente e eu aproveitei para chutar de leve seu tornozelo fazendo com que o mesmo se desequilibrasse e caísse no chão. Sua espada fincou na terra até próximo a sua metade, sorri percebendo que tão facilmente ela não saía de lá. Posicionei minha espada em seu pescoço.

Dakota bufou ao ver que junto com a espada seu suco de morango com açúcar extra também derramara pelo chão. Tentei convencê-lo desde o início a usar o escudo também, mas ele se negou. Bom, agora ele está sofrendo as consequências.

– Touché! – Dakota diz emburrado e eu o ajudo a levantar.

– Avisei que era melhor usar o escudo. – repeti vitorioso. Dakota bufou indignado.

– SE eu usasse escudo o meu suco iria cair com os movimentos, se bem que, não adiantou de nada porque graças a você ele agora será confundido com sangue na areia.

– Foi mal, cara. – tirei sua espada enterrada e lhe ofereci – Vamos de novo?

Ouvi a risada de Dakota ecoar pelos bosques do acampamento. Não era novidade Dakota agir daquele jeito após beber um pouco de seu Tang.

Diferente do que eu pensei, ele não simplesmente parou de rir e voltou a empunhar sua espada. Dakota bateu nos meus ombros, sorriu e foi embora.

– VOCÊ TEM QUE ESQUECER ELA! – ele gritou quando já estava longe.

Meu sorriso deu lugar a expressão cansada de sempre. Me aproximei de um dos bancos perto da área de batalhas. Sentei derrotado escondendo meu rosto por entre as mãos. Minhas lágrimas escorrendo pelos meus olhos numa trilha de fogo.

Frustração e saudade são as palavras certas para definir a causa daquilo. Fazia meses, muito meses que havíamos voltado e deixado as meninas na ilha de Circe. Eu não era o único atormentado, tinha certeza de que Leo e Percy também sofriam por isso.

Como um reflexo levantei meus olhos até focar no céu. Piper tinha tanto medo de voar, me lembro que no início pensei que isso fosse um obstáculo entre nós dois. Quanto tempo eu estava ali me martirizando? Meses. Isso era a minha única certeza, eu passava noites sem dormir, não conseguia comer direito, meus sorrisos eram forçados e tudo o que eu fazia o tempo todo era lutar. Aquilo me deixava alerta, a hora de batalhar chegaria e eu ia fazer juz a minha promessa: proteger e ter Piper novamente em meus braços.

Pus a espada que segurava em seu lugar e levei a boca uma garrafa de água. Eu lutava para não deixar as lagrimas caírem, Piper era um assunto delicado pra mim, era meu assunto inacabado.

– Picachú! – ouvi a voz de Leo próximo a mim.

Em poucos minutos Leo chegava correndo até mim coberto de suor e um sorriso de orelha a orelha. Um sorriso sincero, coisa que nenhum de nós três conseguiu abrir durante todo esse tempo.

– O que aconteceu? – perguntei confuso.

– Quíron tem novidades. Clarisse acaba de voltar de sua missão e parece que tem algo pra contar.

– E?

Leo bufou. Meu mal humor era o pior dos três, disso eu tinha total certeza.

– Pelo o amor das ferramentas! – exclamou – Com certeza é algo sobre elas. Ou você acha que ela pediria pra Quíron uma reunião de emergência só pra mostrar o novo aparelho de choque que comprou pra sua lança?

Consegui soltar uma risadinha sem gosto pelo seu comentário. Sussurrei um automático “vamos lá” com um sorriso vazio. Eu não queria me iludir de novo, as pessoas ali esperavam que Leo, Percy e eu liderássemos a batalha com ou sem as garotas do nosso lado.

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Eu sentei ao lado de Percy sem nenhuma vontade de ouvir o que Clarisse tinha pra falar. Fechei em torno de uma bolinha de ping pong a minha mão tentando descontar a raiva por ter que estar ali. Eu deveria estar me preparando para a guerra.

Clarisse apareceu em nossa frente com a mesma aparência de antes, talvez com alguns arranhões a mais, mas nada que impressionasse alguém, afinal é impossível que semideuses não se machuquem. Ela vestia uma calça jeans escura e uma blusa preta por baixo da armadura, sua mais nova arma, uma adaga, pendia sob o cinto e seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo alto. Parecia uma valentona que queria chutar minha cabeça pra fazer um touchdown.

– Clarisse, por que não explica sua missão aos seus colegas de acampamento? – perguntou o centauro gentilmente.

Clarisse suavizou a carranca e olhou principalmente para Leo, Percy e eu.

– Eu estava em Phoenix acabando com a raça de um lestrigão estúpido. Dei umas porradas na cara dele e o imobilizei. Tentei arrancar informações, mas o idiota só abriu o bico quando eu enfiei a adaga nele. – Ela respirou fundo tentando conter a raiva que parecia sentir do monstro- As ultimas palavras foram “Circe está vindo”. Aposto que ela quer fazer algum tipo de grande batalha, mas quem se juntaria a causa dela?

Will Solace riu e todos se viraram pra ele.

– Qual é, pessoal! – ele exclamou jogando o cabelo loiro pra trás – Circe é uma feiticeira que transformava visitantes homens em porcos. Ela quer mostrar ao mundo que a balança deve pesar pelo lado feminino. Ela quer pôr as mulheres no poder!

Prolongou-se um silêncio até Clarisse bufar.

– Francamente, qual o problema de deixar que as mulheres no poder? Presidentas, generais, governadoras... Isso se chama inclusão social!

– Nós sabemos disso, Clarisse. – interrompeu Quíron – Mas acho que o Will está tentando falar é que radicalistas dessa ideia vai se juntar a Circe, mas apenas quem ela pode controlar vai se manter em cargos dominantes.

– Isso tem a ver com o feitiço que ela lançou sobre as semideusas que faz com ocorra de tudo para que monstros a ataquem duas vezes mais que o normal? – eu falei – Digo, se Circe consegue fazer isso é bem provável que também consiga enfeitiçar qualquer um para controlar.

– Não chega a esse ponto, irmãozinho. – Thalia se pronunciou. Honestamente, ela está aqui há 2 semanas, mas mal temos nos falado – Algumas caçadoras são radicais, não posso citar nomes, mas te garanto que uma parte d’A Caçada acha a presença dos homens inúteis e deseja assumir seus postos.

– Como assim? Vocês só não são aquele grupinho que gostam de caçar sem homens por perto pedindo pro Papa Noel para serem titias solteironas todo ano?

– Claro que não, Valdez! – era visível no olhar da minha irmã o quanto estava desejando atirar um raio “sem querer” na cabeça de Leo, mas sabia que ele já estava sofrendo demais e tentava fazer piadinhas infames pra aliviar a dor – Olha, as caçadoras e as amazonas tem uma parceria, temos objetivos em comum. Nesses dois grupos temos garotas extremistas que já chegaram a ser expulsas por medidas altamente feministas. Aposto minha coleção do Green Day como Circe irá chama-las.

– Mas, o que iremos fazer? – Percy falou – Não sabemos aonde estão. Talvez eu consiga sentir se elas chegarem em Long Island, mas vai ser tarde demais.

– Você está supondo uma espionagem? – perguntei.

– Talvez seja melhor pedir ajuda os deuses. – sugeriu Connor Stoll – A gente já tem a ajuda de Hécate.

– Creio que os deuses não poderão ajudar nessa guerra. Seus filhos estão dos dois lados e escolher apenas um seria favoritismo. – Quíron falou – A última vez que os deuses escolheram um lado foi durante a Guerra de Tróia e não acho que seja um exemplo a se seguir.

– E o que faremos? Nem ao menos sabemos quando eles irão atacar. – falou Lou Ellen.

– Temos datas onde o poder dos deuses aumentam e estendem sua área de influência. – Miranda Gardner sugeriu.

– Creio que o próximo será o Solstício de Verão. Daqui a 2 semanas. Se elas atacarem esse dia...

– É um dia divino. As forças serão equilibradas, Circe terá a vantagem de magia. SE Hécate lutar junto de seus filhos nossa chance será maior sobre o inimigo.

– Jovens, a partir desse ponto não teremos o que fazer. Foi um dia cansativo. Todas essas possibilidades podem valer algo, mas quem pode nos dar a confirmação disso é o Senhor D.

– E enquanto isso, o que faremos? – perguntou Thalia.

– Sugiro que a senhorita e as outras caçadoras continuem a treinar rigorosamente com os semideuses do acampamento. Não saiam da propriedade, ainda não sabemos quem são os aliados de Circe.

– Devemos praticar com semideuses homens também? – ela franziu o cenho – Não acho que essa ideia seja acatada a todas as minhas caçadoras, mas farei isso contanto que certas pessoas não fiquem dando em cima de nós.

Seu olhar azul eletrizante lançou fagulhas na direção de alguns garotos, incluindo os irmãos Stoll e Leo.

– Podem voltar as suas atividades seguindo para o almoço. – o centauro falou e todos nós saímos.

A luz do sol de quase meio dia atingiu em cheio minha visão.

Então era isso? Esperar? Não iria fazer diferença, mas eu só queria Piper de volta e se esse era o único jeito de conseguir o que eu quero, eu o farei.

Comecei a andar até o refeitório suspirando. Ia ser a mesma coisa dos últimos dias: pegar uma maçã, um copo de água gelada e tentar fazer com que ambos descessem goela a baixo. Eu posso estar morrendo de fome, como eu estou agora, mas mal consigo fazer o gosto de um chiclete descer minha garganta.

– Ei! – ouvi Thalia gritar atrás de mim – Jason, eu quero falar com você.

– O que tem de errado?

– Você. – ela falou. Seus olhos azuis como o meu estavam contornados por várias camadas de maquiagem preta e seu olhar era carregado de eletricidade. – Você tá parecendo corno manso. Já sei da historia de vocês e eu entendo que vocês se apaixonaram e blá blá blá, mas pelo o amor dos deuses! Se você não saísse pra lutar com certeza ficaria no seu chalé vendo novela mexicana com um pote de sorvete na mão. Ou pior, poderia ser aquelas meninas pré-adolescentes que cortam os pulsos quando batem o pé na soleira da porta.

– E o que você quer que eu faça? – respondi cansado. Aquela palhaçada toda acontece comigo e sou obrigado a ter que parecer feliz? Não é um preço justo. – olha, eu ficaria feliz o resto da semana se pelo menos sonhasse com ela, mas meus sonhos são só uma droga de exército marchando até aqui. Não tenho notícias a meses, fico a base de mensagens de arco-íris com dupla conexão que vão até o Uruguai, mas não chegam até a Ilha de Circe. Ela disse que me amava, Thalia, e em vez de dizer o mesmo eu apenas fiquei parado no barco vendo ela desmaiar de exaustão na minha frente.

– Você está tendo sonhos? – ela sussurrou. Ótimo. Típico, você desabafa tudo o que carrega no peito e ela apenas pergunta se você tem atividade mental a noite.