—Rayn abaixa a bosta do som porque eu quero dormir seu tapado! – Falei colocando o  travesseiro em cima da minha cabeça.

—Qual é Julie! Acorda! Além disso, você tem escola hoje! – Ele falou rindo (e tinha certeza, aumentando ainda mais o som infernal). 

—Você é muito sortudo por não precisar mais estudar sabia? – Falei emburrada, me levantando e indo em direção ao banheiro.

—Essa é uma das vantagens de ser um fantasma – Sorriu de lado e esqueci por um momento o que iria retrucar. 

Não liguei (ou fingi ignorar aquele sorriso branco e maravilhoso) e fui para o chuveiro deixando a água cair pelo meu corpo de forma relaxante. 

—Sabia que eu posso atravessar portas? – Rayn falou depois de um tempo, atrás da porta do banheiro.

—O QUE?! – Dei um berro e me cobri o mais rápido possível com a toalha.

—Foi só uma observação.

—SE MANDA DO MEU QUARTO! – Falei me trocando na velocidade da luz. 

Ouvi o retardado gargalhar e a porta bater.

Depois de devidamente vestida, sai e chequei se ele não estava ali. Desci as escadas e o vi encarando os bacons que minha mãe preparava.

—Oi mãe!

—Oi filha! Ta tudo bem? Ouvi uns gritos vindos do seu quarto... – Ela falou preocupada. Vi Rayn segurar o riso enquanto eu o esquartejava mentalmente.

—Ah! É que tinha uma aranha no box. Só isso,  provavelmente já saiu de lá.

—Com os seus gritos, com toda a certeza – Rayn disse cínico. Fuzilei ele com os olhos enquanto minha mãe estava voltada para a frigideira.

—Tudo bem então – Ela deu de ombros, conformada com aquela explicação.

—Então, o papo está muito bom, mas eu preciso ir. Tchau mãe!

—Ei! Voce não vai comer?

—Eu compro alguma coisa no caminho – Falei indo em direção a porta, pagando minha mochila.

—Tudo bem, até mais tarde!

Sai com Rayn atrás de mim e fomos para a escola.

[...]

—Então – Depois de um tempo em silêncio, tentei começar uma conversa civilizada – Como você anda?

Rayn me olhou cético.

—Eu não ando Julie. Eu... flutuo.

Pisquei uma vez, achando que tinha entendido errado.

—Tipo... Uma fada?

—Fadas não flutuam! Elas voam!– Ele ficou... Vermelho de raiva? Não sei dizer, fantasmas podem mudar de cor?

—Ta, desculpa – Eu disse rindo – O especialista em fadas aqui é você, não eu.

—Engraçadinha.

Continuamos andando, comigo rindo da sua cara até que vi uma cafeteria e fiquei bastante animada. Sabia exatamente o que comprar. 

—Vamos parar ali na Starbucks para pegar uns bolinhos ok? – Falei enquanto saltitava até lá. Literalmente saltitava.

—Bolinhos? Aquela coisa tosca? Por que você não pede um muffin de chocolate? É muito melhor — Parei no lugar e me virei com uma cara assassina para ele.

—Você acabou de chamar os bolinhos, aquela coisa divina, de tosco? E pior ainda, comparar aquele troço sem graça ... AOS MEU BOLINHOS?!

—É – Humpf! O idiota só não estava se cagando com a minha cara de serial killer porque já estava morto, só pode! Até Voldemort teria medo dessa cara!

—Bom você é um fantasma. Ninguém te vê além de mim, então sua opinião sobre muffins sem graça de chocolate, não valem de nada – Falei voltando a caminhar no estilo like a diva. Juro que o vento até jogou o meu cabelo para trás quando eu abri a porta.

—Bolinhos – Rayn foi na minha frente e fez um sinal colocando o dedão para baixo – Muffin de chocolate – Ele levantou os polegares para cima.

Revirei os olhos e fui até o atendente, me debruçando no balcão.

—Oi! Eu queria te fazer uma pergunta.

—Pode falar – Ele piscou para mim. Ouvi uma risada descrente do loiro as minhas costas.

—Sério isso? Esse cara parece que esta tendo uma convulsão no olho – Rayn bufou e cruzou os braços. 

Ignorei as reclamações dele e continuei.

—O que você acha melhor? Bolinho ou muffin de chocolate?

—O que você gosta? – O atendente perguntou.

—Ah. Bolinhos, óbvio !

—Então, eu prefiro bolinhos – Ele piscou novamente.

Rayn levantou os braços em um gesto dramático.

—Isso, senhoras e senhores, era para ser uma cantada! – Ele falou para aqueles que estavam presentes.

Todos olhariam para ele como se fosse um lunático, a não ser pelo fato de estar morto e não poder ser visto mesmo se tirasse toda a roupa, é claro.

Pedi o bolinho e sai de lá com Rayn zoando o pobre atendente.

—Rayn! Cala a boca! Ele não tem culpa de nada! 

—Ui! Foi mal nervosinha – Começou a rir como um idiota. Ah espera! Ele é.

Chegamos a escola (com Rayn ainda me enchendo o saco)  quando percebemos uma movimentação estranha no corredor. Muitos alunos se empurravam para ver a novidade e as garotas soltavam risinhos esquisitos.

—O que aconteceu? – Perguntei para Adrian e Stacy quando já tínhamos nos cumprimentado.

—Parece que um garoto novo chegou na escola. Sei lá!

Enquanto Adrian dava de ombros, nem um pouco interessado, minha amiga estava  eufórica. 

—Ele é lindo Julie! – Stacy deu um gritinho e em seguida arregalou os olhos – E está vindo pra cá! Ah meu deus!

Quando eu ia falar alguma coisa, escuto uma voz conhecida atrás de mim.

—Julie Evans?