Eu Odeio Esse Fantasma! escrita por Julia


Capítulo 30
Recomeço.


Notas iniciais do capítulo

10 recomendações e quase 400 comentários depois, eu estou aqui. Com o ultimo capitulo e uma vontade enorme de chorar.

Oi meus amores. Meu deus, pensar que essa vai ser -temporariamente, eu espero - a ultima vez que dou oi para vocês aqui. E que encho vocês de milhões de desculpas de "o porque de eu ter demorado."

Eu não estou bem, juro que se eu tentar levantar agora, não vou conseguir porque minha pernas viraram gelatina.

Tudo o que eu tenho para falar, eu falo nas notas finais.

Amo muito vocês, meu pai amado das mandingas, amo demais. Obrigada por tudo, por todas as recomendações, reviews e MP's. Amo vocês!



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Abri os olhos quando senti os raios de sol baterem contra meu rosto. Olhei através da janela e o tempo estava calmo, como depois de uma tempestade.

O tempo estava mais frio do que eu esperava e apertei o casaco com força contra o corpo, sentindo falta de alguma coisa durante o silencioso trajeto até a escola. Passei em frente a Starbucks e parei desconcentrada, alguma coisa me puxava até ali e fui obrigada a entrar, parando em frente ao balcão e meus olhos se direcionaram para alguma coisa ao lado dos meus amados bolinhos. Um muffin de chocolate.

Franzi o cenho e logo pedi a mesma coisa de sempre, me dirigindo novamente até o colégio.

Entrei na sala de aula mais entediada que o normal, observando as pessoas que entravam nela. Avistei Adrian e acenei preguiçosamente, o vendo abrir um sorriso e puxar Mile pela mão, entrelaçando-as.

__Oi Julie – Ele sorriu novamente e percebi Mile ficar vermelha com todos os olhares direcionados a eles – Você está com uma cara horrível. Andou chorando?

“Sempre tão delicado” pensei e revirei os olhos. Sabia do que ele falava, é claro. Eu possuía enormes olheiras e meu rosto parecia terrivelmente cansado depois de uma noite de sonhos malucos.

__Não que eu me lembre – Falei debochada e logo mudei de assunto, abrindo um sorriso ao ver os dois com expressões radiantes – Parece que já se recuperou hein Adrian? Quando é que iam me contar que começaram a namorar?

Mile ficou mais vermelha ainda se possível e Adrian gargalhou, jogando a cabeça para trás e apertando a mão de minha amiga com mais força.

__Desculpe, foi uma coisa meio de última hora. Eu pedi ela em namoro assim que melhorei. Mile aceitou mais rápido do que eu esperava.

A garota se mexeu desconfortável.

__Você demorou mais do que eu esperava, na verdade.

Foi a minha vez de gargalhar, vendo que Adrian havia corado e aberto um sorrisinho sem vergonha, expondo suas covinhas.

__Oi gente – Ouvi a voz de Matt e arregalei os olhos, arqueando a sobrancelha em seguida ao notar que ele se encontrava atrás de Stacy, com as mãos entrelaçadas em sua cintura. Ela abriu um sorriso radiante.

O que estava acontecendo aqui?

__Oi Julie – Ela falou radiante e eu logo entendi a situação, ainda não acreditando que todos os meus amigos estavam namorando.

E eu estava sozinha.

Por algum motivo, aquele pensamento foi como um soco no meu estomago e perdi o ar por alguns instantes. Alguma coisa não estava certa, eu nunca liguei para o fato de ficar sozinha e nunca iria ligar.

Por que eu havia ficado daquele jeito?

Antes que eu pudesse pensar em algo, o professor de biologia entrou na sala e me lançou um olhar cruel antes de se voltar para o quadro, começando a passar algum assunto que eu não ligava.

__Ainda não acredito que conseguiu entrar no quarto do professor e pegar aquele cartão Evans – Adrian falou baixinho no meu ouvido e soltei uma risada anasalada.

__Eu já disse que sou incrível – Falei com ironia e soltei um sorriso debochado. Apoiei minha cabeça em minhas mãos, olhando para aquele professor que falava em grego antigo.

Antes que eu pudesse pegar no sono, algo chamou minha atenção. Uma carteira estava vazia.

Ninguém parecia perceber esse fato, na verdade; era uma coisa sem importância, alguém que havia faltado e apenas isso. Mas alguma coisa me puxava, me chamava naquela carteira perto da janela, alguma coisa que eu sentia que nunca mais iria aparecer e aquilo me machucou de um jeito incrivelmente forte.

Pisquei e por um instante pensei ter visto um garoto, ele estava de costas, a cabeça apoiada sobre as mãos assim como eu me encontrava. Seus cabelos eram rebeldes, loiros de um jeito natural; podia ver seus músculos mesmo sobre o casaco de futebol que usava. Parecia entediado pelo modo como suas costas estavam relaxadas. Por algum motivo eu parecia saber como era seu rosto apesar de não lembrar a cor de seus olhos. Lábios macios, maxilar definido e a expressão sempre irônica.

Quando pisquei novamente, a carteira estava vazia outra vez.

[...]

Adrian ria de alguma coisa que Mile havia dito e dei um sorriso sem graça, tentado prestar atenção no que eles falavam. Olhei para Mile e novamente naquele dia, alguma coisa me incomodou. Novamente, sentia que alguma coisa estava errada, faltando.

__Hm, Mile – Ela olhou para mim curiosa, ainda sorrindo e fazendo um leve carinho nas mãos de Adrian – Como nos conhecemos?

Ela franziu o cenho e me olhou interrogativa. É claro que eu lembrava como nos conhecemos; mas alguma coisa, algo no modo dela não ter seguido o seu caminho depois de ter pego aquelas folhas...

__Como assim Julie? Nos esbarramos, eu derrubei um milhão de folhas, você me ajudou a organiza-las e começamos a conversar. Depois disso nos tornamos amigas.

__E foi assim que ela conheceu o homem mais lindo do mundo, é claro – Adrian se intrometeu, sorrindo convencido enquanto Mile se inclinava para dar um beijo em seus lábios e Stacy jogava uma batata em seu rosto, rindo junto com Matt, que tinha um braço apoiado em seu ombro.

Eu ri, percebendo que estava ficando paranoica e tentei esquecer aquilo.

Esquecer.

Balancei a cabeça. Tinha que parar de achar que alguma coisa estava errada.

__Sinceramente, eu não sei o que eu faço com você Albuquerque.

__Me processa fofa.

Comecei a rir do jeitinho gay de Adrian, que tinha piscado os olhos exageradamente e levantado a mão, colocando a outra no peito dramaticamente.

O dia passou incrivelmente rápido depois daquilo. As aulas foram estranhamente torturantes de tão lentas e eu achava que ia ter um treco se ficasse mais cinco minutos ali.

Corri para casa assim que ouvi o sinal tocar e agradecendo a qualquer um que estivesse me vendo lá de cima.

__Eu vou na sua casa depois ok Julie? – Stacy gritou do outro lado do corredor, me virei sorrindo enquanto ela ria da minha afobação para sair logo dali. Enquanto fazia um sinal de positivo para minha amiga, senti minhas costas baterem em uma parede de músculos.

__Desculpe – Sua voz era rouca e calma, me virei para olhar e vi duas orbes castanhas me fitando.

__Tudo bem – Falei, ajeitando meus livros no braço e mordendo o lábio. Queria ir logo para casa, mas o garoto a minha frente parecia não querer dar passagem – A culpa foi minha. Eu estava distraída.

Ele concordou com a cabeça e olhou para o vazio.

__Está tudo bem? Você parece um pouco...

__Perturbado? – Ele suspirou – Estou bem, só sinto que... Tem alguma coisa errada.

Prendi a respiração e o olhei mais atentamente. Sim, eu sabia quem ele era.

__Errada?

Scott assentiu.

__Eu não... Sei lá, parece estar errado o fato de ser o capitão do time.

__Mas você sempre foi o capitão – Fanzi o cenho, preocupada com ele.

__Sim – Ele suspirou novamente – Eu sei.

Saiu dali me dando apenas um aceno de cabeça como resposta.

Fui para casa e quando cheguei, caminhei em direção a cozinha esperando encontrar alguma coisa que eu pudesse comer já que minha mãe não estava.

Achando apenas um pacote de Ruffles em uma das gavetas, fui para o quarto vegetar em baixo das cobertas.

Quando estava quase caindo em um sono com Logan Lerman sem camisa, ouvi um barulho vindo do armário.

Me levantei e peguei um bastão de baseball – sinceramente, todo mundo deveria ter um – indo com cuidado até o armário e abrindo uma das portas.

__Ah, é só um rato – Estava abaixando meu bastão, vendo aquela coisinha peluda passar por minhas roupas até me dar conta do que havia dito – AI MEU DEUS DO CÉU! UM RATO! AHHHHH!

Comecei a estraçalhar todo o meu guarda-roupa, batendo com meu bastão em tudo o que se mexia até perceber que aquele desgraçado havia sumido assim que ouviu meu grito. Fala sério, o controle de animais deveria me procurar.

Larguei minha arma letal sobre a cama e olhei para minhas roupas espalhadas pelo chão. Gemi contrariada; tudo o que eu queria era dormir um pouco.

Me abaixei para ajuntar uma das roupas novas que Mile tinha feito o favor de comprar, mas algo jogado no chão me chamou a atenção.

Era uma pasta escura. Quando a abri, tive que piscar umas três vezes para saber se estava vendo a coisa certa.

Eram desenhos.

Mas não eram quaisquer desenhos, eram retratos meus, de diversas formas. Todos tinham alguma coisa, minha raiva, minha felicidade, minha ironia; tudo nos papéis, expressando uma admiração que eu não conhecia, contendo traços tão delicados, calmos, pacientes. Tristes.

Senti algo em meu rosto e passei a mão sobre o mesmo, sentindo algo molhado em meus dedos. Eram lágrimas? Eu estava chorando?

Olhei para cada um deles, tão detalhados, tão corrosivos sobre meu corpo, despertando um sentimento que não sabia o que era.

Aqueles desenhos pareciam acontecimentos, coisas que eu havia feito e alguém retratado. Mas quem? Não lembrava de ninguém.

Tudo estava estranho, era como se alguém sussurrasse em minha mente que eu estava esquecendo de alguma coisa. Alguma coisa que não podia deixar de lembrar

Uma campainha anunciou a chegada de minha amiga e fui até a porta recebe-la.

__NOITE DAS GAROTAS! – Stacy e Mile gritaram assim que abri a porta e um sorriso surgiu em meu rosto – Mile veio junto porque não tinha mais nada para fazer e porque é uma intrometida.

Mile deu um soco em seu braço, rindo da cara que minha amiga fez.

Eu realmente estava precisando daquilo.

[...]

__Deixe-me ver se entendi. Você, Julie Evans a garota mais sedentária do mundo que tem preguiça até de fazer um boneco de palito, quer estudar fotografia? - Stacy perguntou, arqueando as sobrancelhas, enquanto raspava o fundo da panela.

Nós já havíamos assistido Titanic – acreditem, é o único filme no qual eu chorei – e agora estávamos deitadas nos colchões que se encontravam estendidos no chão, usando pijamas de vaquinhas.

Bem, no meu caso era de vaquinhas.

__É isso ai.

__E por que esse interesse repentino por fotografia? – Mile perguntou, também desacreditada.

Me contorci um pouco até puxar a pasta e colocar na frente das duas, que abriram analisando os desenhos, espantadas.

__Por isso. Mas como você mesma disse – Apontei com minha colher para Stacy – eu não sei fazer nem um boneco de palito, quanto mais isso aí. Decidi que fotografia é a segunda coisa mais incrível para mim depois de bolinhos. Já estava na hora de começar a fazer alguma coisa na vida.

__Quem fez esses desenhos? – Ela me perguntou e dei de ombros, não possuindo a resposta para aquilo.

__Muito legal, quer dizer, os desenhos e a sua estranha animação por isso, mas você ao menos sabe por onde começar?

__Incrivelmente para você, eu pesquisei sobre isso e estou economizando para comprar uma câmera.

Stacy me olhou espantada antes de me segurar pelos ombros e me chacoalhar como uma boneca de pano: “QUEM É VOCÊ E O QUE FEZ COM JULIE EVANS?”.

__Eu posso ajudar com isso – Mile deu de ombros enquanto eu estapeava e xingava Stacy de todos os nomes possíveis – Sabe, eu tenho um dinheiro guardado.

__Dinheiro guardado? Você está falando sério? – Stacy segurou meus braços, gargalhando e Mile ficou vermelha.

Olhei interrogativa para Mile.

__Tudo bem, talvez meu pai seja um empresário famoso. Mas isso não vem ao caso! – Ela acrescentou quando arqueei a sobrancelha pedindo mais informações – O caso é que eu poderia te dar uma câmera nova. De aniversário, eu já estava devendo mesmo.

Estava realmente tentada a aceitar aquela oferta, pois os meus planos de economizar aquele dinheiro falhariam com certeza.

__Você não sabia Mile? Julie não gosta de seus aniversários – Stacy disse apenas para me provocar e mandei o dedo médio para ela.

A verdade era que, desde o meu último aniversário – no qual aconteceu uma maldita festa surpresa e ficamos assando marshmallows até eu deitar na cama e pegar no sono – eu não estava mais ligando para isso. Era como se alguma coisa tivesse despertado o lado feliz das festas de aniversário.

Provavelmente a torre de bolinhos que minha mãe fez no dia seguinte.

__Obrigada Mile – Sorri sem graça e ela riu

__Sem problemas.

__Tudo bem, já deu dessa coisa melosa. Vamos fofocar e compartilhar segredos! – Stacy bateu palminhas como uma adolescente retardada.

Não, espera.

Rolei os olhos e vi Mile se mexer desconfortável.

__Algum problema Hastings?

__Hm, nenhum. Só que não precisamos realmente compartilhar segredos, não é?

__Não, podemos só fofocar – Stacy fechou os olhos em fendas – Por que? Você tem algum segredo para contar?

__Não – Ela falou rápido e olhamos desconfiadas.

__Nada mesmo? – Falei a encarando junto com Stacy.

__Nada mesmo. Vocês podem parar de me olhar assim? – Ela soltou uma risada – meio forçada, na minha opinião – e rolou os olhos.

Decidimos ignorar aquilo.

Na verdade, o nosso “fofocar” consistia em mim xingando Mellany Turner enquanto elas fofocavam. Era relaxante. Sinceramente, vocês deveriam tentar.

__Tudo bem, já que estamos todas aqui – Stacy falou nos olhando de um modo sugestivo, quando terminamos a conversa de “como Melany Turner era uma vadia exploradora e qual a cor de esmalte que vamos usar na festa do carinha que eu realmente não queria saber o nome” – Vamos começar a falar sobre nossos namorados perfeitos e sobre o encalhamento eterno de Julie Evans.

Joguei um travesseiro na cara daquela traidora que eu chamo de amiga enquanto as duas riam histericamente.

__Não é eterno sua otária.

__O que? – Ela me olhou debochada – Está esperando o garoto da sua vida? Minha filha não dá para achar alguém assim, só comendo bolinhos.

Mandei a língua para ela como a garota madura que eu sou.

__Mas então, como foi que ele te pediu em namoro? Digo, o Matt – Mile perguntava para Stacy enquanto eu divagava sobre minhas possíveis fotos.

__Ah, ele não pediu – Ela riu de nossas caras chocadas – Não foi preciso. O que ele falou já foi o suficiente.

Quando Stacy começou a contar, fiquei surpresa por Matt ser tão corajoso a ponto de se declarar daquela maneira.

Mas aquilo não era para mim. Quero dizer, eu adoraria ouvir alguém falando todas aquelas coisas mas não pareceria verdadeiro, não para mim. Não seria uma declaração que eu aceitaria. Era muito conto de fadas, surreal demais.

Matt era o príncipe. Eu escolheria o sapo.

“Droga, eu acho que não estou mais, apenas apaixonado por você.”

Uma voz rouca penetrou em minha mente, tão angustiada e livre ao mesmo tempo que minha cabeça pendeu para trás, atordoada.

O que era aquilo?

__Julie, você está bem? – Olhei para Mile, que parecia preocupada – Está meio pálida.

__E-Eu estou bem – Coloquei minha mão na cabeça e ouvi novamente aquela voz, uma voz que me fez perder o ar, uma voz que eu senti falta.

E eu não paro de pensar em você Evans, essa é a verdade. Eu não consigo parar de pensar em você”

Fechei os olhos com força. Por que aquilo doía? O que estava acontecendo comigo?

Não. Eu não iria ficar maluca.

Olhei para minhas amigas que me fitavam preocupadas. E sorri.

__Eu estou bem. Foi um mal estar passageiro – Percebi que me fitaram desconfiadas, mas não falaram mais nada.

__Ok então. Quem está pronta para ver um filme de terror? – Stacy falou animada e eu e Mile gememos descontentes, nos escondendo em baixo das cobertas.

__Queria que Adrian estivesse aqui agora – Minha amiga resmungou indo mais para baixo das cobertas ao ver que os trailers macabros apareciam na tela.

Taquei um travesseiro em sua cara e Stacy riu.

__Pare de falar e assista ao filme garota apaixonada.

__Encalhada eternamente... – Stacy cantarolou e outro travesseiro voou para o meio de sua cara.

O filme contava a história sobre fantasmas que assombravam uma casa, onde uma família estava hospedada e assassinavam quase todo o elenco principal.

Bem idiota na minha opinião, mas Mile parecia realmente assustada.

Não, assustada não era a palavra, estava mais para incomodada. Realmente incomodada, como se algo nos fantasmas a perturbasse.

Bem, além do fato de serem assassinos mortos sedentos em busca de vingança.

Depois de muitos gritinhos histéricos de minha parte, gargalhadas de Stacy e Mile encolhida em um cobertor, o filme tinha acabado – todos morreram, caso queiram saber – e estávamos prontas para dormir.

Se eu conseguisse dormir, é claro.

Pensar em tudo o que tinha acontecido comigo hoje me fazia ter dores de cabeça e pensar em coisas que aconteceram antes desse dia piorava ainda mais. Coisas não se encaixavam, histórias pareciam incompletas.

Depois de tanto pensar, acho que minha mente percebeu que eu não iria aguentar e acabei pegando no sono, sem sonhos, apenas uma voz rouca sussurrando o meu nome.

[...]

Já haviam se passado alguns meses depois daquele dia estranho e eu, finalmente, estava começando a me acostumar com o namoro dos meus amigos.

E em como eles infernizavam a minha vida para achar alguém.

Era sempre a mesma coisa. Mile ou Stacy me arranjavam um cara e “sugeriam” para que marcássemos um encontro.

E é claro, sempre acabava do mesmo jeito; um sorrisinho de desculpas de minha parte e um beijo na bochecha frustrado da parte dele.

Não que eu não gostasse de nenhum cara que elas me arranjassem. Pelo contrário, havia uns tão lindos e tão gentis que me fazia ter vontade de beija-los no mesmo momento.

Mas algo me impedia, algo que eu não sabia explicar e que durante todos esses meses atormentava constantemente minha vida. Eu simplesmente não conseguia achar o cara ideal, o cara que fazia minhas pernas tremerem e todas essas baboseiras de filmes.

__Você pode se acalmar um pouco Milene Hastings? – Falei ao telefone, ajeitando-o com o ombro e mudando o foco da minha lente – Fala sério! Eles não vão te esquartejar!

Sorri com o suspiro angustiado que ela soltou.

__Fala isso porque não é com você! Ele vai me levar para conhecer os pais! Os pais! E se eles não gostarem de mim?

__Você está com medo dos pais de Adrian? – Mudei o telefone para o outro ombro e ajeitei a alça da minha câmera – A mãe dele é mil vezes mais calma que a minha. E você adorou a minha mãe!

__Mas você não é a namorada dele! – Rolei os olhos com a angustia dela – Ele me deu um anel! Um anel Julie!

Ri divertida com o desespero de minha amiga e olhei para o parque a minha frente, esperando buscar uma imagem espontânea que minhas lentes poderiam capturar.

Bem, quase quatro meses de curso deviam servir para alguma coisa.

__Relaxa, fala tudo isso para o Adrian que ele vai saber como te acalmar direitinho – Falei maliciosa, escutando a gargalhada de Mile do outro lado da linha e sorri por conseguir anima-la.

__Você não tem jeito Evans – Pude ver ela balançando a cabeça, reprovadora com um sorriso nos lábios

__Ai credo, ficar muito tempo com aquele troço dá nisso. Para de me chamar de Evans, que coisa!

__Você só deixa o Adrian te chamar disso! Qual o seu problema sua paranoica?!

__Olha Mile, não fica com ciúme não, e stress dá rugas.

Pude ouvir ela gargalhando.

__Vai a merda Julie!

__Também te amo! Boa sorte com os pais do cabeção! – Logo depois desliguei bem a tempo de não ouvir os xingamentos que estavam por vir.

Ainda rindo, segurei a câmera gelada sobre meus dedos e, esperando achar alguma coisa a levei aos olhos, ajustando seu foco e observando todo o parque através dela.

Comecei a sorrir assim que via a paisagem. Crianças correndo, velhinhos se abraçando, felizes, alguém tocando violão com todo o sentimento que escondia. O sol batendo nas arvores e escorregando sobre o chão, terno, calmo.

Eu capturava todas essas cenas com naturalidade, algo que parecia fazer a vida toda. Era como...

Desenhar.

Enquanto tirava as fotos, algo captou minha atenção e voltei para o lugar que tinha visto.

Era um banco, onde um rapaz estava sentado. Ele lia um livro, parecia concentrado e ajeitava seus óculos com calma de vez em quando.

Meus dedos clicaram no botão da câmera sem ter consciência do que faziam. Logo depois, baixei a mesma, franzindo o cenho ao analisa-lo melhor e sentir meu coração acelerar de um jeito que eu não sabia como era possível.

Ele levantou os olhos para a minha direção. Cambaleei para trás com intensidade de seus olhos azuis.

Olhos azuis.

Azuis celeste.

“Nossos olhos sempre estariam em uma eterna luta de cores, e eu sempre perderia. Estranhamente, gostava disso”

De repente, minha cabeça foi bombardeada por imagens e dei dois passos para trás, colocando as mãos na cabeça, tentando assimilar todas as cenas que passavam diante dos meus olhos.

“Ah, você é a garota maluca da loja não é? – Tudo bem, meus ovários acabam de explodir com essa risada. Foco Julie, foco! O marido da foca – Sou Rayn Miller, muito prazer.

__Julie Evans e não tenho nenhum prazer em conhecer você”

...

“__COMO VOCÊ PODE ESTAR AQUI?! AH MEU DEUS! EU ESTOU FICANDO LOUCA! SOCORRO!

__Você pode me ver? – Ele perguntou assustado e eu assenti que sim, ainda em choque, não notando que todas me olhavam como se eu fosse uma viciada em crack”

...

__Ta tudo bem – Falei baixinho – Não se preocupe.

__Eu sei – Ele passou a mão em meu rosto para limpar minhas lágrimas, mas só senti uma brisa morna – Você é durona

...

“__Você acabou de chamar os bolinhos, aquela coisa divina, de tosco? E pior ainda, comparar aquele troço... AOS MEU BOLINHOS?

__É – Oras! O idiota só não estava se cagando com a minha cara de serial killer por que já estava morto, só pode! Até Voldemort teria medo dessa cara!”

...

“__Eu? Namorada desse dai? – Apontei para Rayn que olhava com nojo para mim – Nem se ele estivesse vivo!

__Do que você ta falando garota? Eu sei que você quer o meu corpo nu! Eu é que nunca iria namorar você!”

...

“__Ele quem? O policial? – Falei meio histérica e Rayn confirmou _Nós vamos morrer! Não! Nós não! Eu, por que você já está morto!

__Tinha me esquecido de que você é muito irritante – Ele comprimiu os lábios, irritado.

__Um de meus inúmeros talentos.”

...

“__Se não fosse por você eu seria um desses fantasmas dos quais a Mile fala. Eu estaria sozinho. Olha, eu não sei por que você consegue me ver Evans, mas se não conseguisse, eu estaria perdido! Sem rumo!

Eu sabia que aquelas palavras estavam no sentido literal. Não havia a mínima chance de aquilo ser uma declaração de amor. Rayn Miller não me amava. Ele não amava ninguém.”

...

“__Eu disse que você tinha que mudar o seu guarda roupa! – Ele falou sorrindo para mim

__Você... Você... SEU DESGRAÇADO! VOCÊ ACABOU COM AS MINHAS ROUPAS! EU VOU TE MATAR E JOGAR SEU CORPO NO RIO. E UM MENDIGO VAI ACHAR ELE E VOCÊ VAI FICAR SOZINHO, NUMA VALA DE UM ESGOTO!! AHHHHHHHHHHHHHHHHH!

Unicórnios Julie, pense em unicórnios, pense nos pinguins de Madagascar acenando e sorrindo...”

...

__Huh... Rayn, minha cara está mais para cima – Falei prendendo o riso.

Se fantasmas pudessem corar violentamente, Rayn o teria feito.

__D-Desculpe mas é que... Uau! Você... Eu não sabia que você era tão... Uau.”

...

“__Tudo bem, voce vai ter que me ajudar a sair daqui Miller – Eu olhei para ele e o vi fazer uma cara de horror

__Nem pensar Evans! Eu não vou me meter nas suas loucuras!”

...

“__Isso tudo é ciúmes Evans?

Engasguei um pouco.

__É claro que não! – Minha voz saiu um pouco mais fina do que eu esperava e ele gargalhou.

__Aham. To sabendo. Gostei da roupa – Seu sorriso mudou e ficou irresistivelmente malicioso.”

...

“__Você é tão dramática Evans – Rayn apareceu atrás de mim no espelho, rolando os olhos e o olhei com as bochechas infladas, cheias de água.

Ergui o indicador e o bocó ficou me olhando sem entender. Aproveitei o momento de distração e cuspi toda a água na sua cara.

__JULIE EVANS! – Ele me olhou completamente furioso e comecei a rir de seu rosto que estava todo molhado.

__Relaxa Miller, é pra refrescar.”

...

“__E o que vai fazer com esses minutos?

__Como se você não soubesse... Vou dar o seu presente, é claro – Disse sorrindo, radiante.

O olhei um pouco confusa. Sobre o que ele estava falando?

__Feliz aniversário Julie Evans.

E me beijou.”

...

“Eu correspondi na mesma hora em que senti seus lábios macios e frios nos meus.

Minha única reação foi querer mais, sentir mais; o frio e o quente se misturando, sua hesitação, o medo de que eu não fosse aceitar, a calma com que se movia mesmo não tendo aquele tempo, a angustia de nunca mais poder fazer aquilo.”

...

__Um fantasma idiota e uma garota marrenta? Só nós mesmos? Acha que é uma boa coisa?

__Com certeza. Só nós mesmos. – Sorrimos juntos dessa vez, como se compartilhássemos um segredo muito sigiloso.”

...

“Ele era o cara mais idiota, egocêntrico, esquisitamente possessivo, mandão, irritante, babaca, galinha e cafajeste do mundo inteiro!

Ah, que droga!

Eu estava perdidamente apaixonada por ele.”

...

“__EU SEI MUITO BEM DISSO EVANS! SOU EU QUEM ESTÁ NESSE INFERNO! EU SÓ NÃO SEI QUAL O PROBLEMA QUE VOCÊ TEM COM ISSO!

__EU ESTOU APAIXONADA POR VOCÊ SEU ÓTARIO! – Falei furiosa, olhando em seus olhos e seu rosto se contorceu em uma expressão completamente surpresa.”

...

“__Não era para ser assim sabe. Eu brigaria com você todos os dias e depois de muito tempo, perceberia que você é perfeita pra mim – Ele me olhou e meu coração deu um salto. Sobre o que ele estava falando? – Não era para eu ter morrido. A culpa é minha. Eu arruinei sua vida Evans.

__Você... Do que você está falando Miller?!”

...

“__ NÃO DÁ PRA ESQUECER! – Gritei frustrada, amargurada e ele arregalou os olhos marejados na minha direção – INFERNO! NÃO DÁ! É IMPOSSÍVEL ESQUECER VOCÊ MILLER!

__Eu estou morto Evans. Não posso fazer isso. Dói não poder te tocar, não poder te abraçar, não poder te consolar. Droga! Dói demais.”

...

“__Você não pode me deixar – Olhei para ele com a visão já ficando turva, os olhos começando a pesar – Eu te amo Rayn Miller.

Ele se curvou, seu rosto a centímetros do meu. Os azuis finalmente brilhantes outra vez.

__Eu também te amo Julie Evans – Ele deu um beijo cálido sob a minha testa.”

...

__Eu te amo – Ele repetiu, enquanto eu caia na inconsciência - Para sempre.”

Tudo voltou rápido demais. Forte demais.

As emoções que transpassaram o meu corpo, foram grandes demais para suportar e cai de joelhos no chão, as lágrimas descendo em uma mistura de felicidade e tristeza.

Um turbilhão de pensamentos e sentimentos enchendo minha mente de uma só vez.

Fantasma. Irritante. Apaixonada. Esquecimento.

Rayn Miller.

Senti uma mão em meu ombro e ergui minha cabeça. Os olhos azuis, aqueles olhos azuis que eu tanto procurava nos últimos meses.

__Você está bem? – Ele perguntou, parecendo preocupado e o encarei por um tempo antes de me levantar com sua ajuda.

Minha mente girava. Ele estava me tocando. As pessoas no parque estavam o observando.

__Você está bem? – Ele repetiu a pergunta e olhei naqueles olhos azuis. Sem dúvidas, era ele. Os traços de seu rosto eram os mesmos; a mesma boca, o mesmo maxilar definido, os cabelos rebeldes – embora agora, eram castanhos, um castanho bonito, cor de chocolate – e definitivamente, os mesmos olhos.

Então por que ele me olhava como se fosse a primeira vez que me via? Por que ele parecia ter uma preocupação que não era íntima, apenas porque uma desconhecida tinha caído no chão chorando descontroladamente? Então constatei um fato que já deveria ter notado assim que o vi.

Ele não me conhecia.

__E-Estou – Encontrei minha voz em um cantinho guardado para situações de emergência. Ele já me olhava como se eu não soubesse falar – Estou bem.

__Tem certeza? Não quer que eu a leve em um médico? – Perguntou apertando minha mão com mais força.

E então, eu ri.

Ri de felicidade, finalmente sentindo que estava com o cara certo. Apertei sua mão com mais força.

__Estou bem, me desculpe. Foi uma fase difícil para mim – Falei com a voz mais firme, me desprendendo dele e o fitando com um sorriso de canto. Oh sim, eu estava feliz.

__Entendo – Ele sorriu sem graça e percebi que ele não era o Rayn afinal.

Ele nunca ficaria sem jeito daquela forma. Mas entendi; o meu amor estava morto e não poderia mais voltar, não era certo.

Porém, eu tinha uma nova chance de recomeçar e suspeitava, que Rayn também.

__Eu fiquei meio assustado, na verdade – Colocou uma das mãos no bolso da calça. A outra ainda segurava o livro – Estou aqui apenas algumas semanas e nunca tinha visto ninguém fazer isso.

Gargalhei e o olhei solidária.

__Não se preocupe. Não é costume das pessoas fazerem isso por aqui.

__Que bom – Ele sorriu e me segurei para não chorar. Era o mesmo sorriso. Ele olhou em volta e franziu o cenho – Não sei para onde ir. Estou completamente perdido por aqui.

Arqueei uma das sobrancelhas com a sua indireta e sorri.

__Se quiser, posso mostrar alguns lugares bem legais por aqui.

Ele me olhou e por um momento, pensei ter visto alguma coisa em seus olhos azuis.

__Eu conheço você de algum lugar? Você me parece tão familiar.

Meu sorriso se alargou um pouco.

__Quem sabe? É um mundo pequeno, cheio de coisas misteriosas.

Foi a vez dele de arquear as sobrancelhas com o meu modo de falar, mas não disse nada.

__Vi uma Starbucks aqui perto. Quer ir lá comer alguma coisa antes de começarmos o passeio?

Suspirei e passei as mãos em meu cabelo, ainda sorrindo respondi:

__É claro. O que vai querer comer?

Começamos a andar e ele deu de ombros.

__Eu não sei. A guia aqui é você. Gosta de muffin de chocolate?

Sorri ainda mais com sua pergunta.

__Gosto – Respondi contente – Mas prefiro bolinhos.


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Notas finais do capítulo

Tudo bem. Respira Júlia.Se aclama, não pira.

Sim. Terminou assim. E vai continuar assim. Não vai ter epilogo ou segunda temporada, a história vai ficar por conta da imaginação de vocês e somente de vocês.

Tudo bem, eu vou começar a falar e tentar não chorar.

Essa fic foi o meu xodó e sempre vai ser, sem mais. Desde os primeiros reviews de vocês eu já estava ciente desse final e do impacto que teria na fic, mas não liguei por que sabia que depois do choque, vocês iriam gostar. Vocês sempre gostam de tudo o que eu escrevo e vocês não tem a menor noção do quanto isso muda a minha vida. Ler um review de vocês... Isso é a melhor coisa do mundo. Me faz querer escrever, querer ir pro mundinho de cada um e ficar lá pra sempre. Vocês me inspiram tanto, tanto, que acho que só quem me vê pessoalmente pode ver como eu sorrio feito uma idiota depois de cada review.

Nossa, como vocês são incríveis. Eu não falo isso com muita frequência mas vocês são. Maravilhosos. São meus e se alguém tocar ou falar mal, eu quebro os dentes com uma marreta.

Todas idéias, todos os perfis, eu analisei, li, reli e tentei colocar na fic, porque ela é de vocês. É para vocês.

Cada recomendação, nossa, eu voei, surtei, gritei até minha mãe me mandar calar a boca. Eu não digo isso, mas sim, eu fico sorrindo feito uma idiota mais ainda. Recomedaçoes são tão preciosas para mim. Dá vontade de guardar em uma caixinha e levar para todo o lugar.

Caso alguém não quer ler essa parte, pule porque vai ser meloso.

Agora, eu quero agradecer a três amigas que ajudaram tanto, elogiaram tanto, xingaram tanto que se não fosse por elas - ou por vocês, obviamente - a fic não estaria mais aqui.
Uma em especial, nossa, essa sim é a pessoa que eu mais admiro no mundo - depois da minha mãe, é claro -. Correndo o risco de ser morta pelas minhas outras amigas, - Elisa e Fe amo vocês forever, não me batam - eu vou falar sobre ela. Girafa, amor da minha vida, obrigada por tudo, tudo, tudo o que você fez por essa fic. Desde o começo - desde o começo gente, como assim?! - você me ajudou, em tanta coisa! que meu deus como você ainda está aqui depois de tudo o que eu já te xinguei, por me encher o saco para postar ou porque não estava escrito certo? Você é minha girafa e eu sou sua mendiga, nada vai mudar isso. Eu não vou falar tudo aqui porque dever ter gente lendo isso e não quer saber o quanto você é perfeita [mas gente, ela é muito perfeita]. Obrigada minha girafa, por toda ajuda do mundo e por todos os elogios exagerados para a minha fic. Te amo mais que leite condensado.

Gente, eu vou sentir tanto a falta de vocês! Tanto! Vou voltar, vocês vão me ver daqui a pouco. Mas dói do mesmo jeito.

Só para não perder o costume: DEIXEM REVIEWS E RECOMENDAÇÕES!