Eu Odeio Esse Fantasma! escrita por Julia


Capítulo 3
Uma diversão... fantasmagórica.


Notas iniciais do capítulo

Oiee! Obrigada a todos os reviews divos que vocês me mandaram.
Me desculpem se não consigo responder todos mas eu prometo que assim que possível eu respondo eles okay? :3 Espero que gostem!



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 Acordar no dia seguinte à uma humilhação bastante pública em frente a sua escola e durante um funeral, estava entre um dos piores pesadelos imagináveis, principalmente quando você é uma adolescente de dezesseis anos com poucas amizades e como descoberto recentemente, propensa a ver fantasmas.

 Não foi uma surpresa então, que ao abrir os olhos nos primeiros raios da manhã, eu já estivesse suada dos pés a cabeça, com o coração batendo loucamente no peito. Aquele tinha sido o sonho mais surreal da minha vida! Para começo de conversa, por que eu havia sonhado com Rayn Miller?! 

No entanto, antes que eu pudesse processar aquela loucura que minha mente havia criado, bater minha cabeça na parede algumas vezes e entrar em um estado de aceitação, uma voz se fez presentes a poucos metros de onde eu agora me encontrava. 

— Há! Você realmente ainda lê esses livros infantis? Tem quantos anos? Dez? 

Por cerca de dois segundos, tudo o que consegui fazer foi piscar repetidas vezes para onde agora o dito cujo Ryan Miller, sentava enquanto folheava algumas páginas de um livro rabiscado que eu já conhecia muito bem. 

No segundo seguinte, no entanto, meu corpo pareceu acordar do torpor e agarrei a primeira coisa perto de minhas mãos - um abajur - apontando o objeto para ele, enquanto me arrastava frenéticamente para o outro canto da cama.

— O que você.. ! Meu deus isso só pode ser um pesadelo. Não, não está acontecendo; isso não é real! Fica longe de mim!

— Ei garota! Fica calma, ok?! – Suas mãos se ergueram com as palmas viradas para frente, em um sinal universal de paz e não pude deixar de encara-lo com descrença. Ficar calma? Ele não podia estar falando sério – Tudo bem, eu sei que isso é estranho, mas se você é, infelizmente, a única que pode me ver, temos que fazer isso dar certo!

— O que você quer dizer com "nós" e "dar certo"? Não tenho nada a ver com isso. Você é um - Engoli em seco antes de ter coragem de pronunciar a palavra que parecia surreal demais pra mim naquele momento - fantasma.

— E que isso tem a ver?

Novamente, meu medo pareceu dar lugar a uma familiar irritação. Ao que tudo indicava, não importava muito o estado das coisas, aquele garoto sempre me daria nos nervos. 

— Você pode muito bem querer me matar no meio da noite! E ninguém iria desconfiar de nada porque está, hã...

— Morto? Sim. E saiba que é muito tedioso aqui “do outro lado”– Para acentuar o que dizia, cruzou os braços, fazendo um careta de tédio enquanto bufava alto – Eu não vou te matar, garota, fique tranquila. Apesar de ser uma ótima ideia, ainda não tenho essas habilidades. 

Ele abriu um sorriso divertido nos lábios, o que me fez corar e querer degola-lo por aquilo. 

— Não acredito em você nem por um segundo e não posso sei como posso ajudar com o que quer que seja. Sai do meu quarto! Some! Faz alguma mágica aí, qualquer coisa que fantasmas saibam fazer para desaparecer.

Para a minha consternação, ele pareceu se aconchegar mais ainda no estofado e colocou a mão sobre o peito de forma dramática, enquanto sorria gatuno e os olhos brilhavam divertidos, a promessa de uma dor de cabeça constante na minha vida surgindo a frente.

— Isso feriu meus sentimentos, você sabe. Não se importa de eu ser um falecido andarilho, vagando sem rumo pelo mundo? Só você pode me ver,  foi a última a falar comigo antes do acidente... estamos conectados querida, é o destino. Vamos, não tente fugir disso.

A cada palavra que falava, sua voz ficava cada vez mais melodiosa e quente, caindo em um tom baixo e grave que arrepiou todos os pelos do meu corpo; tinha ali uma mistura de tristeza, raiva e sarcasmo, junto a um desespero crescente se escondendo entre as linhas.  

Nada daquilo, no entanto, diminuia a irritação que eu sentia com suas provocações; parecia impossível sentir compaixão quando o homem se esforçava tanto para ser o fantasma mais detestável do planeta. 

Bem, não que eu já houvesse conhecido outros fantasmas antes daquele momento.

— Eu juro que se você não estivesse morto eu cuidaria para isso acontecer pessoalmente! – Estreitei os olhos, agitando o abajur ameaçadoramente em sua direção, mas o idiota nem se moveu, continuando a sorrir daquele jeito insuportável.

— Vou considerar como um elogio, todo esse amor por mim – Com uma risada anasalada, tirou um fiapo imaginário do ombro do casaco - que agora eu notava, era o mesmo que usava durante o fatídico dia. 

Tentei não pensar muito naquilo ou começar a procurar outras coisas estranhas - como possíveis marcas do acidente que tinham tirado sua vida - e foquei no momento presente, em perguntas menos pertubadoras que rondavam minha mente desde o momento em que vi o garoto sentado na minha poltrona.

— Como você consegue se sentar, aliás? Pelo que já vi nos filmes e séries, os fantasmas não tem matéria física. 

— Uau, você pareceu quase inteligente agora - Ele soltou uma gargalhada enquanto desviava do travesseiro que atirei com força em sua direção - Eu posso escolher se os objetos me transpassam ou não. É uma pena que não funcione com pessoas, já que é a parte mais incomoda de todo esse negócio de "fantasma".

— Não funciona com pessoas? Você quer dizer que se eu tentar te tocar, não vou conseguir? 

— Sei que você tinha esse sonho desde o começo, Julie querida, mas não, não é possível. 

Antes que eu pudesse de fato, jogar aquele abajur em sua cabeça e testar a teoria, ouvi a campainha tocar no andar de baixo e me limitei a mandar um dedo do meio com todo o ódio que podia conjurar.  

— Que madura. Essa é sua retórica? 

Decidi que o melhor caminho a tomar seria apenas ignora-lo e fui atender a porta, bastante confusa devido ao horário em pleno final de semana, dando de cara com Stacy e Adrian parados na minha porta com expressões idiotas no rosto.

— Hm, oi? O que vocês estão fazendo aqui a essa hora da manhã?

Stacy torcia as mãos, apreensiva e Adrian tinha uma expressão desinteressada, mas conseguia ver seus olhos vagando pelo meu rosto a procura de algo. 

— Oi Jules, viemos aqui para saber se está tudo bem. Você meio que surtou ontem, no velório do Rayn. Até agora não entendi o que aconteceu, parecia que tinha visto um fantasma, sério.

Uma risada debochada do loiro preencheu o ambiente e me contive para não manda-lo calar a boca. Suspirei fundo, abrindo a porta para dar passagem a eles antes de começar a falar sobre a loucura que estava a minha vida. 

— Olha, eu sei que vocês não vão acreditar no que está acontecendo comigo, mas...

— Espera, vai contar pra eles?! – Rayn gritou no pé do meu ouvido e gemi de dor, levando as mãos ao ouvido danificado. Rosnei raivosa e o encarei com um olhar fuzilante.

— Se você parar de me interromper, eu vou!

— Vão querer te internar, sabe disso não é?

— Eu quero me internar, então, por que não?

Um pigarro alto às minhas costas interrompeu o que seria um novo round de brigas e gelei, lembrando que tinha visitas. Stacy e Adrian me olhavam como se eu tivesse ficado maluca. Bem, talvez estivesse ficando mesmo.

— Julie, se tiver algo que precisamos saber, pode nos contar - Stacy parou a minha frente, os olhos marejados de preocupação, segurando minhas mãos com força. 

No final, acabei contando tudo o que tinha acontecido, sem dar brechas para perguntas e notando que a cada minuto do meu relato, suas expressões ficavam mais e mais graves, de vez em quando se entreolhando como se pensassem a mesma coisa: eu não estava bem. 

No entanto, sendo meus amigos de longa data, ao invés de ligarem para o hospital mais próximo, eles apenas ficaram em silêncio por um bom tempo antes de falarem algo.

— Olha, Julie...

— Nem começa Stacy! Ele esta bem do seu lado! Eu sei que é difícil, ou melhor, quase impossível de acreditar, mas eu não estou louca.

No mesmo momento, Rayn soprou no ouvido da minha amiga, que soltou um berro que poderia ter sido ouvido em toda a cidade.

— Ah meu deus! O q-que foi isso? Adrian foi você, não foi? - A garota tinha os olhos arregalados como os de uma coruja e olhou para o amigo, que estava do outro lado do quarto, encarando tudo um pouco assustado.

— Rayn! Pare de assustá-la, não é desse jeito que quero convence-los  – Ele me olhou com tédio, levantando os ombros e mãos de forma indolênte.

— Só estou tentando ajudar. 

— Stacy, pare de brincar; você não precisa fingir nada para não magoar a Julie. Não pode falar sério, o Ryan não pode estar aqui - Adrian deu alguns passos para frente, resoluto apesar de suas mãos tremerem levemente. 

 — Julie você precisa nos provar alguma coisa sobre isso se não quiser que te internamos em uma clinica psiquiátrica. Tipo, agora mesmo.

Sempre tão delicado esse meu amigo, pois é.

— Ok, tudo bem. Pode inventar qualquer coisa pra me testar, não me importo, só quero que acreditem em mim.

Com um aceno de cabeça, Adrian colocou um braço nas costas e soltou uma risada falsa.

— Quantos dedos eu 'to mostrando Rayn? — O garoto loiro bufou algo como "que coisa mais idiota", mas se limitou a ficar atrás de onde meu amigo estava. O fantasma me indicou o numero três com os dedos.

Garotos são tão infantis!

— Três – Repeti a resposta e Adrian arregalou um pouco os olhos.

Rayn me mostrou um dois.

— Dois

Quatro.

— Quatro – Eu disse e Adrian já não estava mais tão confiante. O fantasma mudava freneticamente a contagem, mostrando que meu melhor amigo estava desesperado.

— Cinco, seis, oito, quatro...

Vi Rayn mostrar o dedo do meio para mim e arregalei os olhos.

— Ei! – Protestei e ele levantou as mãos em sinal de rendição, rindo e apontando para Adrian, acusando-o.

— Adrian! Isso não vale! - Falei para ele, rindo também. Apesar de tudo, cooperavamos bem quando necessário. 

O moreno estava quase da cor de Rayn e parecia que seus olhos saltariam a qualquer momento das órbitas.

— Ele está mesmo aqui? – Afirmei com a cabeça – Ah meu deus!

Rayn ficou sério de repente. Ele andou até ficar cara a cara com Adrian e entortou um pouco a cabeça, franzindo a testa.

— O que aconteceu Rayn?

— O que aconteceu Julie? – Meus amigos perguntaram juntos, assustados com o que podia estar acontecendo.

— Ele...Ele esta na sua frente Adrian, está te olhando, confuso.

O garoto engoliu em seco e olhou para frente.

— Ele... Ele é diferente... – Falou Rayn, pensativo, coisa que eu achei que nunca iria viver para ver (ah nossa! Péssimo trocadilho, desculpe).

— Como assim diferente? – O loiro me ignorou e estendeu a mão para tocá-lo no peito e ofeguei de surpresa - Ah meu...! Você consegue tocá-lo?!

Com o arquejo de surpresa vindo de Adrian, poderia apostar que ele sentiu aquilo.

— M-me tocar? Isso não é meio impossível? 

— Pergunte para ele se esteve doente esses dias. Tenho uma hipótese, mas... – Rayn sumia e voltava, como uma projeção holográfica, sua voz falhava e ele estava mais branco do que o normal.

Se é que tinha um normal para um fantasma.

Fiz o que ele pediu e vi Adrian hesitar para responder.

— Bem, sim... Eu estava um pouco mal esses dias, mas não achei que...

O que?! O seu "um pouco mal" é fazer um fantasma te tocar? – Stacy se pronunciou furiosa e bastante preocupada – Por que nunca nos contou nada Adrian Whithouse?!

— Não queria preocupá-las!

Rayn suspirou e saiu de perto do meu amigo. 

— Bom, então ele tem que se cuidar, porque eu estou sentindo uma aura bastante fantasmagórica vindo dele.

— Acho melhor não falar isso agora.

Ignorei o seu revirar os olhos com meu tom debochado e Stacy virou o rosto preocupado em minha direção.

— Falar o que? O que o Rayn disse?!

Antes que eu pudesse responder e tentar amenizar a coisa toda, ela soltou uma risada incrédula e vimos a garota se jogar na poltrona com um arquejo alto e olhos arregalados para o nada. 

— Ah meu deus! Tem um morto no seu quarto, Julie! 

— Hã, pode por favor, falar para eles que "morto" não é um termo que eu goste de ouvir? Fantasma, esse eu consigo conviver.

— Tudo bem! Chega! - Todos pararam e me encaram com expectativa; minha cabeça latejava e só queria voltar para as cobertas quentinhas, esquecendo tudo o que acontecia a minha volta – Olha, eu não sei como e nem porque só eu posso ver esse imbecil, mas eu vou descobrir. Antes, porém, tenho que trocar esse pijama com esses malditos ursinhos e lavar o rosto, antes que eu fique maluca!

Fui em direção ao banheiro e só consegui ouvir Ryan grunhindo irritado após ser chamado de imbecil, antes de fechar a porta enquanto algo batia nela segundos depois com força.

— Ah meu deus! Um pente voador.

— É o Rayn, Stacy - Adrian disse, fingindo uma tranquilidade que não tinha.

— Ah. 

Não consegui impedir a gargalhada histérica que surgiu em minha garganta, longe de todos, escondida entre as quatro paredes daquele pequeno banheiro. Minha mante girava com toda a situação, milhares de perguntas sem resposta e uma crescente culpa em meu peito, mas eu ficava feliz de ter amigos que agora acreditavam em mim e que poderiam me auxiliar caso fosse a hora. 

Apesar de tudo, pensei, aquilo poderia ser muito divertido.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Ficou meio tosco né? É, eu sei, me desculpem :/

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