Senti uma vontade enorme de amassar aquela folha e atirar ela no lixo mais próximo. Não fiz isso.

Eu sou uma fraca eu sei.

O pior de tudo é que eu guardo esses malditos desenhos e eles ficam em uma pasta, sorrindo pra mim.

Cruel.

Mas enfim, coloquei cof cof soquei cof cof a folha na pasta e me preparei para tomar meu banho da beleza. Você acha o que? Que a minha pessoa fica maravilhosa assim do nada?

Não! É preciso muitos Doritos, Pringles e os preciosos bolinhos para me dar esse corpinho lindo.

Depois de tomar banho, coloquei uma roupa qualquer e fui direto para a sala assistir TV.

Alguns minutos depois escuto uma voz perto do meu ouvido.

__Eai Julie!

Onomatopéias a parte, cai de bunda no chão enquanto Rayn ria da minha cara. Como sempre, devo dizer.

__Como eu ainda não estou acostumada com isso é um dos mistérios da vida – Resmunguei levantando

__Você é muito chata Julie! – Ele cruzou os braços atrás da cabeça – E, afinal, que roupa de mendigo é essa?

Abri e fechei a boca mas nada saiu.

__Nós temos que dar um trato no seu visual urgente!

__Você.... Eu... Isso foi muito gay sabia? – Finalmente minha voz saiu e levantei uma sombrancelha

Rayn revirou os olhos e sumiu. Não fiquei surpresa, por isso voltei a assistir televisão até o momento em que escutei um barulho vindo do quarto.

Lentamente e cautelosamente, subi o lance de escadas que me levavam direto a porta do meu quarto e a escancarei na intenção de assustar o ladrão.

Arregalei os olhos diante da cena.

__Mas que porra é essa?! – Falei, praticamente berrando quando vi um babaca jogando todas as minhas roupas pela janela

Ele olhou para mim assustado e depois deu aquele sorriso Colgate trinta e dois dentes, mamãe eu sei sorrir, papai eu não sou mais banguela.

__Eu disse que você tinha que mudar o seu guarda roupa!

__Você... Você... SEU DESGRAÇADO! VOCÊ ACABOU COM AS MINHAS ROUPAS! EU VOU TE MATAR E JOGAR SEU CORPO NO RIO. E UMA MENDIGO VAI ACHAR ELE E VOCÊ VAI FICAR SOZINHO, NUMA VALA  DE UM ESGOTO!!  AHHHHHHHHHHHHHHHHH!

Começei a socar o ar, enquanto Rayn dava passadas para trás afim de sair da minha vista.

Unicórnios Julie, pense em unicórnios, pense nos pinguins de Madagascar acenando e sorrindo...

__Rayn... Que roupas você deixou no armário? – Falei tentando controlar meu tom de voz

Ouvi um “Fudeu” dele e voei em direção as portas escancaradas do armário. Abri a boca, arregalei os olhos e apertei a maçaneta com força.

Pinguins, unicórnios...

__NADA! VOCÊ NÃO DEIXOU NADA! EU... RAYN COMO EU VOU SAIR NA RUA?! PELADA?! E NEM SEQUER COGITE A IDEIA DE IMAGINAR ISSO!

__Julie para de drama! Você vai no shopping e compra roupas novas e femininas. Pronto!

Imagine uma garota soltando faísca pelos olhos. Era assim que eu me sentia.

__Agora, eu vou ligar para a Stacy e para a Mile e nós vamos fazer compras - Ele disse e começei a duvidar de sua opção sexual

Cruzei os braços e bufei.

__Você é um gay enrustido Rayn!

__Você também é incrível. É, talvez não...

Ele saiu rindo da minha cara enquanto um travesseiro era arremessado no exato lugar onde ele tinha estado.

Desci e fui até o jardim, onde minhas roupas se econtravam.

Enquanto eu tentava juntar  o que um dia foram minhas roupas já que, havia chovido ontem a noite e estava tudo cheio de lama, um carro estacionava na entrada da minha casa. Vamos chorar.

Mile e Stacy vieram sorridentes enquanto a minha cara provavelmente parecia a de quem ia para a forca.

__Tira essa tromba da cara Julie Evans, já estava mais que na hora de você mudar seu visual!

__Sua delicadeza é tanta que eu senti um tumor aqui, Stacy.

__Ah vamos lá Julie! Acabei de sair do hospital! Vamos fazer umas compras, vai ser divertido! - Falou Mile, tentando me convencer

É, tão divertido quanto pular de um precipício.

Entramos no carro e senti alguém do meu lado. Olhei e um babaca gostoso estava sorrindo sacana para mim.

__O que você está fazendo aqui?!

__Joguei suas coisas pela janela Evans, vou te ajudar a ficar mais feminina!

Mostrei o dedo do meio para ele e o infeliz gargalhou.

__É sério que você fez isso?! – Mile também riu, mas parou ao ver minha cara assassina.

Stacy perguntou o que Rayn havia feito e quando Mile contou, ela sofreu um ataque epilético.

Ou isso, ou ela estava rindo. Vai saber!

Chegamos ao shopping e elas me arrastaram para umas 500 lojas, onde Mile pegava tudo o que Rayn sugeria. Só depois de muito tempo e de eu implorar muito, fomos comprar bolinhos.

Já estava achando que a tortura finalmente acabaria, quando vi que havíamos parado em uma espécie de SPA.

__Por que estamos aqui? – Falei com medo do que elas diriam.

__Você não pode mudar só suas roupas né Julie?!

Enquanto elas me arrastavam até uma salinha, ouvi um berro feminino agudo vindo do além e umas coisas estranhas como “Eu vou matar a Annelise!” “Aquela pirralha desgraçada me paga!”

Não entendi o por que dos gritos até me deitarem em uma maca e arrancarem minha pele. Agora, eram duas garotas berrando xingamentos até então não conhecidos pela humanidade.

Ta, elas não arrancaram a minha pele. Mas foi a dor foi a mesma.

Depois de me torturarem e arrancarem todos os pelos do meu corpo -sem comentários sobre isso - fui para a parte do SPA onde um cara com uma bandana na cabeça, blusa colada e calça rosa pink brilhante veio praticamente saltitando e me dando um abraço de leve, com direito a dois beijinhos na bochecha.

Tive vontade de segura-lo, dar dois tapas no rosto dele e manda-lo parar de ser maricas. Mas me contive, por que sou uma dama.

Nada contra os gays, eu estou presa a um, na verdade, mas vamos concordar: CALÇA ROSA PINK BRILHANTE é demais para a minha sanidade.

__Oi amores! – Ele fez o mesmo com Mile e Stacy e invejei Rayn por estar invisível

__Pablo, oi! Você tem que fazer um milagre com essa garota! - Stacy falou. Como ela conhece esse cara?!

__Jesus amado! O que é isso?! Um guaxinim dormiu na sua cabeça?

Involuntariamente toquei meu cabelo.

__Está um pouco ressecado, mas...

__Um pouco?! Querida, até o deserto do Saara é menos ressecado que o seu cabelo...

__Mas você consegue não é Pablo? – Mile perguntou antes que eu avançasse naquela bicha.

__É claro que sim amore! Eu sou o deus dos cabelos!

Todas concordaram e me jogaram em uma cadeira e, enquanto meu cabelo era lavado, puxado e cortado; Rayn ficava me olhando com um sorriso de “Isso é para o seu próprio bem. Mas você se fudeu! Ha-ha!”

Quando tudo acabou, todos ficaram olhando para mim e parabenizando Pablo pelo “cabelo incrível”. O mais legal era que eu não via nada porque aquela bicha doida, tinha tirado os espelhos.

__Será que dá para me mostrar como ficou a bosta do meu cabelo?! - Falei extressada

Pablo saiu correndo como meu tom de voz e voltou com um espelho, onde eu vi uma garota desconhecida.

Espera, essa sou eu?

Meu cabelo, que antes era liso e ressecado, agora estava repicado e macio; ele tinha um tom mais claro, principalmente nas pontas e possuía uma franja na lateral que dava um certo charme romântico.

__Uau! – A expressão no rosto da garota que se encontrava no espelho era de espanto e seus olhos praticamente brilhavam.

__Eu sei! Eu sou um deus! – Pablo se vangloriou e fingiu limpar algumas lagrimas imaginárias.

Olhei para onde Rayn estava sentado e sua boca estava levemente aberta.

__É... Ok... Vamos para casa. – Eu me levantei depressa e voei para o carro.

Chegamos lá e me despedi das minhas amigas rapidamente. Carregando milhões de sacolas, entrei dentro de casa e despejei toda aquela tralha no chão da sala, começando a procurar uma lata de refrigerante na geladeira.

__Temos que treinar os seus modos também! – A voz de Rayn se fez presente e pela segunda vez no dia, eu me assustei, batendo a cabeça no teto da geladeira.

Massageando o local, olhei para ele por um segundo e disse:

__Vai a merda Rayn!

Ele gargalhou e sumiu.

[...]

Acordei e senti o sol batendo no meu rosto suavemente. Me levantei e fiz minha higiene matinal.

Abri o armário e me deparei com milhões de roupas completamente diferente das que eu costumava usar. Amaldiçoei até a terceira geração de Rayn Miller enquanto me vestia.

__VAMOS LOGO EVANS! – Ouvi a voz do quadrupede no andar de baixo

__CALA A BOCA INUTIL! EU JÁ ESTOU DESCENDO! – Gritei de volta e desci as escadas.

Hilário não seria o suficiente para expressar a cara de Rayn quando ele me viu.

__Vamos logo Miller! Estamos atrasados!

Ele balançou a cabeça como se estivesse espantando um pensamento.

__Você está atrasada! Eu sou um fantasma!  E por que diabos, você está com esse troço nos pés? Era pra você usar uma sapatilha!

__Esse troço?! Isso é um Vans meu caro! É super moderno! E ficou lindo com a roupa ok? Eu já pareço uma patricinha, não me faça usar uma coisa mais meiga ainda! – Mostrei a língua pra ele.

__Ta, vamos logo pessoa super madura! – Ele revirou os olhos e mostrou a língua pra mim também. Eu ri e fomos andando até a escola.

Chegamos lá e vimos uma movimentação incomum. Cheguei mais perto e vi uma cabeleira conhecida no meio da multidão.

__Julie, você não vai acreditar! – Adrian veio com um sorriso maior que a cara – A Mile vai... O que aconteceu com você?!

Ele começou a me olhar com a boca escancarada e soltou um “Caralho” baixo.

Senti minhas bochechas esquentarem e mudei de assunto.

__A Mile vai o que Adrian? O que tem ela?!

__Ah, ta, é... Adivinha!

__Eu vou te dar um socar, sério!

__Ok ok, a Mile vai estudar aqui! Acredita?!

Não, eu não acreditava.