Não tinha dúvidas que essa conversa não seria fácil, nenhuma parte de mim acreditava que seria diferente. Mas o silêncio que estava entre nós, começava a me matar. E eu já não suportava mais nosso velho joguinho de silêncio e omissões.

 - Não precisa ficar olhando pro chão assim, sabe ao menos até sexta eu era uma das suas melhores amigas. Você ainda pode falar comigo, Peeta... – eu queria com certeza poder acrescentar que nada mudou, mas iria ser mentira, e o ponto ali era que já tínhamos mentido e omitido demais coisas um pro outro. Era o momento de finalmente falar a verdade fosse ela qual fosse. 

              - Katniss, eu... – ele não ia mesmo conseguir me encarar nunca mais pelo visto. - eu sinto tanto mesmo. Eu queria que fosse diferente, Kat.

            Mas nós dois sabíamos que não tinha mais como consertar e não tinha mais um caminho aberto pra fazer diferente. Uma parte nossa estava quebrada e isso era tudo.

              - Eu não culpo você por não gostar de mim, Peeta... Nós não escolhemos de quem se gosta ou não, simplesmente se gosta.

              - Não é tão simples assim... As coisas são... Difíceis pra mim. Nem eu mesmo consigo me entender direito às vezes.

              - Não tem o que ser complicado, você gosta de outra pessoa e...

              - Você poderia me deixar falar sozinho dos meus sentimentos?- depois que ele percebeu que eu ficaria calada continuou. – Eu sentia o mesmo que você sente antes, eu não sei como me sinto agora.

               - Isso não é nenhuma novidade pra mim, Peeta. Você esteve em cima do muro desde que nos conhecemos e pelo visto continua na mesma.

              - Não é assim... É um momento complicado.

              - Não, não é. Você teve três anos... Três anos, Peeta, pra entender e decidir o que sentia por mim, e eu não vou passar minha vida inteira esperando que você finalmente perceba que sente alguma coisa por mim. Se você não pode me dar essa resposta hoje, não precisa me dar amanhã nem nunca mais.

             Peguei minhas coisas e saí de lá o deixando sozinho, sem olhar pra trás pra ver como ele havia ficado. Ainda escutei Peeta gritando meu nome, mas nem assim eu voltaria. Sentia meu peito batendo tão forte que achava que até a mísera ação de respirar iria me matar. Não tinha como ficar ali e assistir o resto das aulas.

Eu iria precisar de um tempo para mim, para absorver o fato que ele nunca poderia me dar uma resposta.

            Não demorei muito tempo para conseguir chegar a minha casa, havia ido de carro essa manhã e felizmente não havia muito trânsito naquela hora.

Dormi o resto do dia e só ao acordar vi todas as ligações de Johanna, mas não iria conseguir falar nem com ela agora.

Abri a janela do meu quarto, pois me sentia sufocando e precisava de um pouco de ar. Foi nessa hora que eu vi a única pessoa que não esperava encontrar tão cedo. ELE.

             Estava dentro do seu carro e olhava fixo para janela do meu quarto como se estivesse esperando muito tempo que eu desse algum sinal de vida. Fechei a janela, e saí do quarto descendo as escadas correndo e indo ao encontro dele.

           Ao ver-me ali fora, Peeta saiu do carro e veio andando nitidamente nervoso na minha direção. Pela primeira vez na minha vida podia afirmar que eu não estava entendendo nada.

             - O que você está fazendo aqui? E por que não bateu ou tocou a campainha? – disse e ele sorriu como se estivesse gostando de ter me surpreendido.

            Ele estendeu a mão e me deixou ainda mais confusa:

- Olá, eu sou Peeta. Então você também gosta de videogames? Que jogos?- aquela havia sido a primeira frase que ele tinha dito para mim no meio de um trabalho de grupo em uma aula quando nos conhecemos.

            - Eu não estou entendendo aonde quer chegar com isso... – fiquei só ali o olhando até que resolvi apertar a mão dele e o senti me puxar para mais perto dele.

             - Vamos recomeçar... E isso é algo que eu quero fazer a muito tempo, Katniss. Você nem sabe o quanto. – e ele me beijou, e eu ainda não estava acreditando que aquilo não era algum sonho masoquista que estava tendo.

             Mas o beijo era real demais. Beijamo-nos até que nós dois ficamos sem ar e eu finalmente criei coragem pra perguntar.

             - E o seu namoro? E a Delly como fica? – perguntei esperando que uma vez ao menos ele me desse uma resposta boa pra uma pergunta.

              - Acabou. Estou saindo do muro, não posso perder você. Só espero que você possa me perdoar por ter demorado três anos... Eu... – e eu o conhecia bem demais pra saber que ele iria começar a se desculpar infinitamente, coloquei dois dedos nos lábios dele.

              - Eu disse que era muito tarde, Peeta... – e eu vi o brilho sumindo dos olhos dele - mas muito tarde ainda é melhor do que nunca, seu bobo. Então vai me responder, o que você sente por mim?

             - Fácil... Eu amo você Katniss Everdeen.

            E beijá-lo de novo e de novo também foi fácil. Nós dois estávamos felizes que finalmente nada mais entre nós era complicado.