Capuz Vermelho escrita por Greensleeves


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

yeeeeey! a luz do meu quarto queimou! o/ kkkkkkk



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"Café?"

Logam olhou para a tia e assentiu. Ele ainda estava meio sonolento, mas não aguentava mais ficar na cama. Era sábado e sua tia não ia trabalhar, então ela havia cordado cedo e feito um belo café da manha.

"Por que não volta para cama?" -Ela perguntou, sentando-se a mesa e pondo um pedaço de torta de morango no prato.

"Não quero. Tenho muitas coisas para fazer hoje." -Ele disse apoiando a cabeça na mão e suspirando.

"Tipo...?"

Ele suspirou e tentou se lembrar da pequena lista que havia feito na sua cabeça.

"Devolver os livros na biblioteca, limpar o sótão, arrumar meu quarto e minhas coisas da escola." -Ele disse mexendo o café na xícara.

"Que menino mais ocupado." -Ela sorriu- "Bem, eu hoje tirei o dia de folga, posso te ajudar se quiser."

Ele deu de ombros e bebeu o café.

"Seu amigo já deu a resposta?" -Ela perguntou pegando um morango com o garfo.

Logam a olhou e negou com a cabeça.

"Vou ver isso com ele hoje, te dou a resposta até o final do dia."

"Rápido, eu tenho que comprar as passagens."

Logam assentiu e se levantou, colocou a xícara na pia e subiu para o seu quarto. Ele pegou uma troca de roupa e a vestiu, escovou os dentes e arrumou o cabelo, que infelizmente, insistia em ficar na posição ao contraria que ele desejava.

Ele olhou para o quarto e suspirou. Não estava uma bagunça, mas precisava guardar muita coisa. Então ele começou arrumando a cama e depois tirando as peças de roupa do chão e pondo no cesto do banheiro, arrumou seus livros e o xadrez na prateleira e guardou os papeis e livros na gaveta.

Pronto, estava tudo arrumando, pelo menos o básico.

Ele foi para o corredor e olhou para a pequena portinha no teto, puxou a cordinha e a escada se desdobrou até parar nos seus pés. Fazia muito tempo que Logam não ia no sótão. Ele subiu a escada e, quando chegou lá em cima, procurou cego pelo interruptor.

Tudo estava tão empoeirado e desorganizado como ele se lembrava. Ele pegou a vassoura encostada na parede e começou a varrer o chão. Montes de poeira ia se formando nos cantos juntos com caixas de papelão e alguns objetos velhos, como uma poltrona rasgada, um abajur, um criado mudo, alguns lustres e caixas com lampadas velhas e alguns cabides.

Ele separou de um lado todos os móveis e do outro todas as caixas. Mas uma em especial chamou sua atenção, uma caixa pequena e bem empoeirada escrita no lado: Verão 54.

Ele se ajoelhou ao lado da caixa e a abriu. Dentro havia uma outra caixinha de madeira junto com algumas roupas e outras coisas que Logam não fez questão em ver melhor.

Dentro da caixinha de madeira tinha algumas fotos antigas de uma mulher com uma criança, ambos sorriam e a felicidade havia parado no tempo, na quelas fotos.

Logam olhou para as fotografias e os restos das coisas dentro da caixinha, era como se sua mãe estivesse com ele de novo. Ele então olhou para dentro da outra caixa e tirou alguns vestidos que ela costumava usar, colares, frascos de perfume; ele se lembrava de como ela guardava todos em uma caixinha com o maior cuidado, mesmo sabendo que não havia mais nada lá.

Mas ele devia manter o foco. Guardou tudo de novo na caixa e a arrumou junto com as outras. Por dentro estava feliz que sua tia tinha guardado isso por tanto tempo, e mais ainda por saber que elas continuariam ali, bem guardas e seguras.

"Logam!" -Sua tia chamou da sala.

Ele engatinhou até a porta no chão e pois a cabeça para fora.

"Estou.... meio ocupado agora." -Ele gritou.

"Seu amigo na porta." -Ela respondeu.

"Pode deixar ele entrar, obrigado."

Ele ouviu a sua tia orientando o garoto até o andar de cima, onde o acharia.

Haskel apareceu segundos depois e estreitou as sobrancelhas ao ver Logam pendurado no teto.

"Achei que fosse Tomas." -Ele comentou rindo.

"O que faz ai?" -Haskel perguntou.

"Limpando. Quer subir?"

Haskel deu de ombros e foi até a escada.

"O que faz aqui?" -Logam perguntou quando ele entrou.

"Você esqueceu isso." -Haskel disse abrindo a mão e mostrando uma rainha preta.

"Jura? Você veio até aqui para me dar isso?" -Ele pegou a rainha e pois no bolso.

"Na verdade foi uma desculpa para te ver." -Ele sorriu.

Logam sentiu suas bochechas queimarem e desviou o olhar.

"Agora que esta aqui vai ter que me ajudar."

"Tudo bem, adoro limpar sótãos." -Haskel deu de ombros.

Logam riu.

"Tem muita coisa aqui." -Ele disse pegando a vassoura e se levantando.

"Realmente." -Haskel assentiu- "Sua tia não vai me estranhar aqui... Quero dizer, te ajudando?"

"Não, ela até vai gostar, assim acabamos mais cedo."

Haskel riu e assentiu.

"Esta bem." -Ele tirou o casaco e ergueu as mangas- "O que eu faço?"

Logam o olhou e deu de ombros.

"Pode ir amontoando aquelas caixas ali, tenho quase certeza que você é mais forte que eu."

Haskel riu e concordou.

"Sou mesmo."

Logam fez uma careta e continuou a varrer.

"Conseguiu resolver o assunto de ontem?" -Logam voltou a varrer.

"Digamos que sim." -Haskel o olhou e levou a caixa de um lado ao outro.

"Que bom. Já tem a resposta para minha pergunta?"

"Que pergunta?" -Ele empilhou as outras e voltou para pegar as menores.

"Sobre a viagem." -Logam o olhou.

"Ah, claro." -Haskel assentiu.

"E?"

"Não sei. Não quero ser um peso para sua tia, ela já tem que cuidar de você." -Ele apontou para Logam e sorriu.

"Engraçado." -Logam disse- "Não terá problema, é claro que você pagará sua passagem, mas ela disse que o hotel ela paga."

"Não sei." -Haskel limpou as mãos na calça.

"Vamos, será divertido." -Logam sorriu- "E eu preciso da resposta até hoje."

"Não sei se tenho dinheiro para isso."

"Eu te ajudo." -Ele voltou a varrer.

Haskel suspirou e voltou a levar as caixas.

"Por favor." -Logam o olhou.

"Me de um tempo para pensar?"

"Até hoje."

"Até hoje." -Haskel repetiu concordando com a cabeça.

Logam terminou de varrer e juntou os montes, formando um só. Suas costas estavam doendo de tanto que ficou curvado. O teto era muito curto e em algumas partes era quase impossível ficar de pé.

"Acho que acabamos." -Haskel disse limpando a testa.

"Acho que sim. Esta com cede?" -Logam perguntou pondo a vassoura de lado e indo até a escada.

"Um pouco."

Os dois desceram e foram até a cozinha. A tia de Logam preparava o almoço e, quando Logam entrou, viu outra pessoa lá.

"Logam , quando tempo." -Artie foi até ele e o abraçou.

Artie era um antigo amigo da sua tia. Eles já tiveram um pequeno romance, mas depois disso viraram grandes amigos. Ele morava em Viena, e quando Logam era pequeno, quase sempre ele os chamavam para passar as ferias em sua casa.

"Você cresceu. Ta bonito." -Artie disse sorrindo e passando a mão na sua cabeça, mas depois de arrependeu quando viu que a mesma estava suja de poeira.

"Que bom te ver aqui." -Logam disse- "O que veio fazer em Innsbruck?"

"Passear, ver sua tia." -Ele olhou para Bertha.

"Bobo." -Ela riu e voltou a mexer na panela.

"E quem é seu amigo?" -Artie perguntou apertando a mão de Haskel.

"Haskel." -Haskel disse e retribuiu o aperto de mão. Era estranho mas engraçado como Artie era uma pessoa alegre e calorosa.

"Prazer. Você não é austríaco é? Não tem cara, ele tem cara?" -Ele olhou para Bertha e levantou uma sobrancelha.

"Ele é polonês." -Logam disse rindo.

"Ah sim, tem sotaque. Já fui para a Polônia, ótimo lugar, ótimo." -Artie sorriu e voltou a se sentar.

"Estão com fome meninos?"

Logam olhou para Haskel, que deu de ombros.

"Um pouco." -Logam disse pegando pois copos e enchendo de água.

"O que estavam fazendo?" -Artie perguntou.

"Limpando o sótão." -Logam respondeu entregando um copo a Haskel.

"Ah sim, ótimo trabalho para o inverno. Deixando os corpos quentes e suados." -Ele riu- "Lembra da quela vez no parque?" -Ele apontou para Logam e sorriu- "Haskel, seu amigo ai um dia correu tanto que acabou torcendo a camisa quando chegou em casa. Estava fazendo o que? Uns trinta e dois graus? Ótimo dia esse. Vocês podiam ir para lá de novo, faz tempo que não vão."

"Estávamos pensando em ir agora nesse final de ano." -Bertha disse- "As passagens e os hotéis ficam mais baratos."

"Que hotéis. Venham para minha casa." -Artie disse- "A casa é grande, e eu adoro a companhia de pessoas como vocês."

Logam olhou para a tia e sorriu.

"Estamos ainda vendo isso, Artie."

"Nem precisam mais. Estou convidado vocês para irem."

Bertha riu.

"É muita gente, íamos levar um amigo de Logam também e..."

"Leve ele junto. Tem muitos quartos e eu sei que o Logam adora a vista da minha casa."

"Adoro mesmo." -Logam concordou.

Haskel riu e pois o copo na pia.

"Não sei."

"Pare de frescura. Logam, diga para sua tia aceitar, porque eu sei que você esta se corroendo para ir."

Logam riu e assentiu.

"Vou ver isso com calma. Meninos, vão se lavar que logo o almoço estará pronto." -Bertha disse desligado o fogo.

Logam chamou Haskel e os dois foram para o quarto.

"Que amigo animado o seu."

"Muito. Artie é muito legal." -Logam disse- "Quer uma outra camisa?"

Haskel riu.

"Outra?"

"É, toda vez que você vem aqui eu te empresto uma camisa."

Haskel olhou para a sua e estava toda suja de pó, suor e poeira das caixas.

"Pode ser." -Ele deu de ombros.

Logam fechou a porta do quarto e começou a desabotoar a camisa.

"Esta na segunda gaveta." -Ele disse.

Haskel abriu a gaveta e tirou duas camisetas.

"Mesmo se você for na casa do seu amigo, ainda vai querer que eu vá?"

"Pare de ser bobo, não ouviu ele dizendo. E ainda mais, a casa dele é enorme, vai ser boa sua companhia." -Logam disse tirando a camisa e pegando a outra.

"Não quero ser um incomodo."

"Não vai ser, pare de pensar nisso." -Logam riu e sentou na cama ao lado dele- "Você vai, vai se divertir e não vai ficar pensando nisso."

Haskel sorriu e tirou a camisa por cima. E mais uma vez Logam olhou para as marcas no seu corpo. Da ultima vez, ele estava de costas e mesmo assim havia muitas cicatrizes, mas na frente, parecia ainda pior. Ele tinha uma grande cicatriz dois dedos abaixo do peito, como se tivesse enfiado algo pontudo. Algumas outras mais finas no braço esquerdo e antigos vergões na região da bacia. Seu corpo era muito marcado e ver aquilo fazia com que Logam sentisse na pele cada ferimento.

"Pare de me olhar." -Haskel disse.

Logam levantou os olhos e percebeu que Haskel o encarava.

"Eu só... Como fez tudo isso?"

Haskel vestiu a camisa, incomodado com os olhos do outro na sua pele.

"Não me lembro, foram tantas." -Haskel disse negando com a cabeça.

"Isso é triste." -Logam disse se levantando e jogando as camisas em cima da cadeira.

"Triste?" -Haskel perguntou curioso.

"É, saber que você já se feriu tantas fezes e saber que alguém já feriu alguém assim."

"Não doem mais." -Ele disse olhando para Logam.

"Eu sei, mas um dia doeu." -Logam deu de ombros.

Haskel riu.

"É engraçado como se preocupa."

"Não é engraçado se machucar." -Logam disse parando na sua frente.

Haskel assentiu e pegou suas mãos, o puxando para si e deitando na cama e Logam em cima dele. Os dois riram, Logam o olhou de cima e apoiou no seu peito para se levantar, mas Haskel passou seus braços por suas costas e o abraçou. Ele riu.

"Que?" -Haskel o olhou sentindo sua respiração no seu pescoço.

"Nada... É que você nunca me abraçou antes." -Logam disse apoiando seu queixo no peito do outro.

"Agora estou." -Haskel disse sorrindo.

"Eu sei." -Logam sorriu de volta e deitou a cabeça- "Eu gosto disso."

Haskel sorriu e acariciou seu cabelo.

"Almoço." -Sua tia disse do outro lado da porta.

Logam se levantou e arrumou a camiseta.

"Vamos." -Ele disse estendendo a mão.

Haskel sentou na cama e vestiu a camisa, se levantando em seguida.


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Notas finais do capítulo

espero que gostem...e desculpe se houver grotescos erros