Logam desceu as escadas até a cozinha, o cheiro de torradas e café o fez deleitar. Sua tia cozinhava muito bem, e ele se orgulhava disso.

Abriu a porta da cozinha e sentou a mesa. Sua tia colocou as xícaras na mesa e sentou-se ao seu lado.

"Bom dia." -Ela disse sorrindo- "Ansioso para hoje?" -Ela perguntou o olhando.

"Um pouco." -Ele respondeu, passando a manteiga na torrada crocante.

Como a inauguração da nova reserva florestal, o prefeito havia planejado uma grande festa para os moradores da cidade, com isso, a escola de Logam foi convidada para tocar na inauguração.

Logam havia completado dezesseis anos em Junho, mas aparentava muito mais idade por ser maior e mais maturo. Talvez pelo fato de ter tido que lidar com a morte muito cedo, já que sua mãe falecerá quando tinha sete anos. Ou por ter começado a trabalhar para a tia quando completará treze.

"Já passe sua camisa." -Sua tia disse logo depois de tocar um longo gole de café.

"Obrigado." -Logam respondeu olhando para o relógio.

"Que horas tem que estar lá?"

"As nove, mas vou passar na casa da Annita antes." -Ele disse se levantando e pondo a xícara na pia.

"Então te encontrarei lá."

"Até mais." -Ele disse dando-lhe um beijo na testa e indo para o quarto. Tinha pouco tempo para se arrumar, já que a casa de Annita ficava a duas ruas da sua.

Logam vestiu sua camisa e o colete vermelho escuro com o logo da escola. Pegou sua acordeão e o pois dentro da mala, depois da quele dia, nunca mais o usaria.

Quando o relógio marcou oito e quinze, Logam pegou seu casaco e desceu as escadas até a sala. Sua tia terminava de arrumar a mesa do café, e acenou rapidamente quando o viu passando pela cozinha.

"Boa sorte, meu amor." -Ela disse.

Logam passou pela porta e caminhou calmamente pela calçada da rua. Ainda estava um pouco úmidas por causa da tempestade da noite passado, o que significava que a grama estaria cheia de terra molhada, mas talvez não fosse um problema para suas meias brancas limpas.

A casa de Annita era bem grande, apesar da família, assim como a maioria da região, ser bem simples. Os pais a alugavam para turistas e andantes que passavam pela cidade, mas o fluxo de pessoas haviam diminuído bastante.

Logam passou pela campo de margaridas que levavam até a porta e tocou a campainha. Segundos depois, uma garota baixinha, ruiva e de olhos castanhos abriu a porta e sorriu ao ver o garoto a sua frente.

"Está pronta?" -Ele perguntou sorrindo.

Ela assentiu com cabeça.

"Estou indo." -Ela gritou para dentro e depois saiu, fechando a porta.

"Preparada para cantar na frente de centenas de pessoas que você nunca viu antes?" -Logam perguntou só para irritar a menor.

"Não." -Annita disse rindo.

Os dois foram andando pelas ruas até a reserva florestal. O local não ficava tão longe da casa de Annita, mas era uma boa caminhada.

"Ensaiei a música cinco vezes ontem, mas não sei se consigo." -Ela disse.

"Se não conseguir, eu erro a musica, assim você não passará tanta vergonha sozinha."

Annita riu, o que deixou Logam feliz, assim a amiga não ficaria tão preocupada com a apresentação.

Logam e Annita eram amigos dês dos oitos anos, quando Logam se mudou para Innsbruck. Ele e garotas viraram melhores amigos desde então.

Todos da cidade já sabiam que onde Logam estivesse, Annita estava junto, e que se algo acontecesse a ela, ele a daria a própria vida. Logam a considerava como uma irmã, e apesar dela ser mais velha que ele, ele não se preocupava em se dar de um irmão mais velho para a garota.

"Como está a sua avó? Ela melhorou da gripe?" -Annita perguntou virando a rua.

"Está melhor que antes, mas mesmo assim me preocupa." -Logam suspirou- "Ela se recuda a ir ao médico, mesmo eu já tendo implorado."

"Tenha paciência com ela, Logam."

"Eu tento." -Ele disse desviando de uma possa.

Os dois se aproximaram de uma pequena multidão a frente. O prefeito estava em cima de um palco montado na hora e arrumava o microfone. Algumas cadeiras estavam postas espalhadas pelo local, e uma outra porção estava arrumada no canto do palco, para a banda.

"Tem muita gente." -Annita disse.

Logam foi para perto dos outros garotos com instrumentos e sentou em uma das cadeiras, Annita ao seu lado.

"Atenção." -O prefeito disse ao microfone.

Todos, aos poucos, foram se acomodando nas cadeiras, e logo tudo estava organizado.

"Bem..." -O senhor Musil tirou um papel do bolso e limpou a garganta antes de falar- "Caros cidadães, como já haviam sido informados, estávamos a alguns meses..."

"Cheguei atrasado?" -Uma voz sussurrou perto de Logam, quando ele se virou, viu Thomas sorrindo.

"Não." -Annita disse.

"Que bom." -Ele suspirou e se sentou na cadeira de trás.

Thomas era filho do dono da maior loja de colchões da cidade, ele era conhecido por todos, e sua família era muita rica, e mesmo seu pai o forçando a socializar com pessoas da mesma classe social que ele, Thomas sempre andava com os dois.

"Que horas você irá cantar?" -Ele perguntou.

"Não me lembre disso." -Annita disse desviando o olhar.

"Tudo dará certo." -Ele disse olhando para ela.

Annita sorriu e se virou para o prefeito.

"E como convidados especiais, quero chamar ao palco, os alunos da Escola de Perraut."

Uma onde de palmas se ergueu ao final do discurso. Logam se levantou e seguiu o grupo de alunos até o palco. O professor de música se posicionou a frente deles e ergues os braços, iniciando a musica.

A melodia começou a tocar e todos pararam para ouvir. Logam passava os dedos em todas a novas e tocava melhor que podia o pequeno acordeon.

Quando a música parou, todos aplaudiram de pé e a banda desceu do palco.

"Lindo. Palmas para a banda da Escola de Perraut."

Todos aplaudiram novamente, dessa vez mais calorosos.

"E agora, gostaria de chamar a senhorita Annita van Zweg, para cantar o hino nacional."

Annita suspirou pesadamente e se dirigiu até o palco. Todos aplaudiram mais uma vez.

O microfone foi arrumado para sua altura e o prefeito se sentou em uma cadeira trás dela. Annita se posicionou na frente do aparelho e lambeu os lábios.

Quando a melodia tocada por um dos violinistas da banca começou, todos ficaram de pé e voltaram sua atenção para a garota no centro do palco.

Annita começou a cantar e sua voz tomou conta do lugar.

Era lindo. Sua voz era como veludo tocando os ouvidos, a cada nota, seu tom aumentava e ela ia ficando mais a vontade em cantar.

Quando chegou a ultima parte, todos estava maravilhados, não foi po acaso que ela tinha escolhida para isso, ela cantava muito bem. Parecia que todos paravam para ouvir sua doce voz, nem era possível ouvir os pássaros e tão pouco carros passando. Tudo estava perfeito.

Bem, quase perfeito.

Chegando na ultima frase, a musica foi interrompida com um grito rouco e desesperado vindo de trás.

Todos se assustaram e olharam em direção ao escândalo. Annita parou de cantar e olhou para trás, onde viu a imagem de um homem surgindo entre as arvores.

Alguns policias locais correram até ele para ajuda-lo, e o trouxeram para o aberto das arvores.

"O que esta acontecendo?" -O prefeito disse indo até o homem.

Sua camisa estava manchada de vermelho e metade do seu braço estava cheio de arranhões e mordidas, como se tivesse sido atacado por um urso ou um lobo.

"Eu...eu vi o inferno!" -Ele gritou se ajoelhando na grama.

Annita se juntou com os amigos e todos foram até o homem caído ao chão.

"O que houve senhor?" -Um policial perguntou preocupado.

"Eu e o meu parceiro estávamos... estávamos apenas caçando...."

"Quem fez isso com o senhor?" -O prefeito perguntou.

O homem olhou para ele e apontou para a floresta. Era possível ver o medo em seus olhos.

"Quem?"

"Um.... lobo." -Ele disse.

"Meu senhor, não há lobos nessa região."