Capítulo 39 – Scarlett Romanoff

— Então, vai me contar como você conheceu o Tommy? — Eu inquiro para Lorraine enquanto esperávamos pelo retorno de Thor e Rachel. — Ou melhor, vai me contar alguma coisa sobre você?

Lorraine me olha, provavelmente analisando suas opções. Ficar calada, ou conversar comigo. Com toda a certeza, a primeira opção foi mais convidativa para ela, porém, ela não tinha muita escolha a não ser ceder a segunda opção.

Thor e Rachel haviam ido buscar Luthor, que continuava preso naquela cela em que o deixamos quando Lorraine o derrotou. Enquanto isso, eu e a adorável filha do deus louco que tentou me matar estávamos vigiando o deus em questão, que continuava, por um milagre ou fingimento, desacordado, e o silêncio já estava começando a ficar perturbador. Não que a estranha da Lorraine tenha demostrado o mesmo desconforto que eu. Acho que na verdade ela não gostava muito de conversar.

Apesar de ser bem estranha, eu tinha de admitir que ela não era uma má pessoa, assim como a família dela toda. Ela era apenas meio esquisita, uma pessoa difícil de se decifrar. A garota me salvou umas três vezes desde que nos conhecemos, e isso não faz muito tempo.

Ela merecia créditos por isso.

— Você prometeu que iria me contar qualquer coisa sobre você se saíssemos vivas da situação. — Eu encorajo Lorraine a falar. — Bom, estamos vivas. Acho que agora é a hora em que você me conta sua história.

— Você é sempre tão insistente e irritante assim? — Não havia raiva ou descaso em sua voz, ela apenas parecia não estar entusiasmada para compartilhar seu passado comigo.

— Eu ainda não comecei a ser irritante. — Eu digo sarcasticamente. — Mas se eu quiser te irritar, você vai odiar. Todos odeiam.

A filha de Loki suspira longamente antes de ceder ao meu pedido.

— Tudo bem. — Ela diz por fim. — O que você quer saber? — Antes que eu pudesse começar, ela complementa. — Uma pergunta por vez.

Eu concordo com a cabeça, pensando em minha primeira pergunta, que na verdade, era bem óbvia.

— Por que você odeia eles? — Lorraine levanta uma das sobrancelhas ao ouvir essa pergunta. — Quer dizer, Loki e seu irmão. Eu sei que eles são odiáveis e tudo mais, só que eles são sua família.

— Não. Eles nunca foram minha família. — A resposta de Lorraine foi rápida e seca. — Eu apenas tive a infelicidade de nascer entre eles. Nunca apoiei nada do que eles faziam, e nunca realmente me senti à vontade com eles.

— Nem com a sua mãe? — Depois de fazer a pergunta eu percebo o quanto ela é idiota. A mãe dela era a Encantor, óbvio que ela não iria se dar bem com a mãe também.

— Ela é outra louca. Foi pior crescer apenas com ela e com meu irmão. — A garota admite.

— Então você fugiu? Ou aturou eles a vida toda?

— Quando eu fiz sete anos de idade, eu fugi do lugar que eu devia chamar de casa. — As palavras de Lorraine eram amargas e cheias de lembranças ruins. — Fui morar com a minha tia Lorelei, creio que vocês a conhecem como valquíria.

Eu arregalo os olhos coma revelação.

Sim, eu já tinha ouvido falar sobre a Valquíria. Ela já fez parte dos vingadores e já fez algumas missões com a minha mãe em algumas ocasiões. Eu nunca a conheci pessoalmente, só ouvi algumas histórias, e eu nunca imaginaria que ela fosse tia da Lorraine.

Mas até que aquilo fazia sentido.

— Eu cresci com ela. — Lorraine continuou. — Ela é uma boa pessoa.

Concordei silenciosamente com a cabeça.

— Você não conhece o Connor então? — Era bem esquisito pensar que Lorraine e Connor eram primos.

— Nunca o vi pessoalmente. Nem ele é nem Thor. — Ela respondeu dando de ombros. — Mas já vi Lady Sif uma vez.

— E o Tommy? Vocês pareciam grandes amigos. — Observei.

— Pode-se dizer que sim. — Ela dá um leve sorriso. — Conheci Willian e Thomas a algum tempo atrás.

— Então vocês já se conhecem a algum tempo. — Eu reflito, tentando imaginar o porquê de eles nunca terem apresentado ela. Mas digamos que eu e os Maximoff também não éramos assim tão chegados. Não nos víamos muito, eles gostavam ou de ficar com os mutantes ou ficar sozinhos (principalmente o Billy).

— Willian, Thomas e eu estudávamos juntos, e depois, começamos a treinar juntos. — Lorraine conta.

— Treinar juntos!? — Quanto mais Lorraine falava, mais perdida eu ficava. — Você treinou no Instituto? Você faz parte do grupinho dos mutantes então?

— Na verdade não. Nunca fui ao instituto, para ser sincera. Nós treinamos sozinhos, com um grupo próprio.

— Ok, acho que eu me perdi agora. — Tento colocar as informações em ordem em minha mente. — Vocês tem um grupo? São independentes? — Isso explicaria por que Tommy e Billy sempre estavam ocupados ou sumiam por um tempo sempre. — Isso é raro.

Digo raro pois na época em que meus pais começaram nos vingadores existiam apenas alguns poucos grupos independentes.

— Mais ou menos isso. — A garota admite. — Conhece um grupo de heróis, que se chamam: Heróis de Aluguel?

Eu solto uma risada irônica.

Mas é claro que eu conhecia os heróis de aluguel.

Danny era o que mais víamos, ele passava na shield ou na mansão dos vingadores de tempos em tempos. Lembro-me de ter visto Luke Cage e Jessica Jones uma ou duas vezes no máximo, quando eu era menor. Eles tem uma filha, se eu não me engano, mais velha do que eu. Se eu me lembro bem, seu nome é Danielle, e um filho um ano mais velho do que eu, do qual eu não me recordava o nome. Mas eu nunca conheci os dois pra valer, só nos vimos quando éramos muito pequenos e eu nem me lembro deles direito. Eu também conhecia o Matt Murdock, que era um grande amigo da minha mãe, e Elektra, que me dava um pouco de medo. Mas também não os vejo a anos. Eles tem um filho da minha idade chamado Dominic, que era, depois de Logan, meu melhor amigo na infância. Porém, Dom foi morar com a mãe na Grécia, e eu não o vejo (Para o alivio de Logan) desde os 9 anos de idade.

— Conheço alguns deles sim, por que? — Eu respondo por fim, lembrando- me de que Lorraine esperava uma resposta.

Antes que Lorraine pudesse falar qualquer outra coisa, Rachel e Thor chegaram com Luthor preso por um campo de força criado por Ray.

— Vamos. — Ela nos chama sem nem parar um pouco para nos olhar. — Vamos embora daqui. — Rachel agiu como seu pai, o que me deixou desconfortável. Quando ela decidia bancar a Sra. Ciclope Junior, ela podia ser bem chata.

Olhei para Lorraine que também percebeu que Ray estava um pouco irritada e me devolveu o olhar como quem dissesse “terminamos depois esta conversa". Porém, antes de continuarmos nosso caminho de volta para casa, ainda havia uma coisa da qual eu precisava saber.

— Espera. — Eu peço e as duas se viram para me encarar. — E agora? — Eu olho para as duas. — Loki vai parar de invadir a minha mente? Eu vou parar de criar e manipular o gelo? Por que eu meio que curti esse meu novo poder.

Mentira.

Eu tinha amado esse poder de gelo, e eu não queria perde-lo.

— Vamos ter de esperar para ver não é? — Rachel diz, retomando a calma.

— Acho que esse poder de gelo é pra sempre. Se acostume com ele. — Não pude deixar de sorrir com o que Lorraine disse. — O resto eu também não sei.

Ok. Pelo menos eu ganhei um poder bem legal. Só espero que Loki não possa mais entrar na minha mente e essas coisas. Já era ruim o suficiente ter Rachel e Franklin com um passe livre para minha cabeça, eu não precisava de mais um na lista.

— E como vamos para casa? Como juntamos essas duas coisas, sabe? Tesseract e cetro...

— Vai ser bem mais fácil do que você imagina. — Lorraine dá de ombros. — Eu sei o que fazer, só temos de pegar o Tesseract, que está na sala de Odin.

— Como você sempre sabe o que fazer?

— Por que eu sei.

— Você é estranha, Carrie. — Lorraine me olha com curiosidade e confusão com a referência que obviamente ela não conhecia. — Quero dizer, você é estranha mais gostei de você. — A filha de Loki sorri, o primeiro sorriso verdadeiro que eu arranco dela. — Valeu por ter me salvado lá atrás.

— Não há por que agradecer, só fiz o que era certo.

Definitivamente, Lorraine não era nada parecida com sua família.

(X)

— Scarlly!? Rachel?! — A voz de Aiden é a primeira a se pronunciar assim que chegamos na sala redonda e dourada, onde Heimdall, ficava.

Todos estavam lá, então eu presumi que eles haviam dado conta da “invasão” dos elfos negros. Eu sabia que eles não seriam um problema tão grande para os vingadores e alguns soldados Asgardianos. Outra coisa que eu pude presumir, era que eles provavelmente estavam indo atrás de nós.

Assim que me viu, Logan correu em minha direção, e eu pude ver que ele estava com uma atadura na região aonde foi atingido, mas estava vivo e inteiro, e aquilo me deixou extremamente aliviada.

Ele me deu um longo abraço fortemente apertado, ignorando a minha repulsa por demonstrar afeto em público. A sorte era que todos estavam meio dispersos com a presença de Loki e Luthor. Mesmo assim, a situação não era agradável.

— Se você tentar me salvar de novo, eu mesma mato você, Stark. — Tento reprová-lo, mas não consigo ficar brava com ele, quando o mesmo esboça um sorriso radiante.

— Prometo não tentar te salvar se você não se meter mais em enrascadas como esta. — Seus olhos cinza-esverdeados estão vidrados nos meus.

— Então acho que vamos ter um problema. — Eu ri, ainda um pouco, ainda desconfortável.

Logan se inclina e cola seus lábios nos meus, e eu posso sentir o mundo todo desaparecer. Sou trazida de volta para a realidade com a voz irritante e debochada de Aiden.

— Finalmente hein? — Ele ri. — Pessoas me devem dinheiro agora, pelas apostas que fizemos. — Ele diz, arrancando sorrisos de quase todos na sala.

Digo quase todos pois meu pai parece não ter ficado muito feliz com a cena. E eu estava quase morrendo de vergonha. Novamente, eu odiava me expor na frente de tantas pessoas, mas era o que estava acontecendo.

— Stark júnior, que tal se afastar um pouco? — Meu pai se aproximou de nós. Minha mãe, que estava logo atrás, tinha um leve sorriso em seu rosto.

— Eu avisei que o Clint seria ciumento. — Carol diz de brincadeira.

— O homem rena sendo capturado, viagens no tempo e descobrir que meu filho namora a filha da aranha assassina e do Légolas. — Tio Tony elevou a voz. — Este dia está cada vez mais estranho.

Mamãe revira os olhos e se aproxima de mim.

— Você está bem? — Ela me analisa da cabeça aos pés.

— Eu estou legal mãe. Quer dizer, Natasha. — Eu me corrijo. Eu ainda não sabia ao certo como me dirigir a ela no passado.

— Não tem problema em chamar ela de mãe. — Carol se intromete. — Ela é sua mãe, não é mesmo? Você não se incomoda com isso, certo Tasha?

— Carol está certa, eu não me incomodo.

— Não quero atrapalhar nada mais. — Lorraine diz indiferente, e eu a agradeço mentalmente. — Precisamos do Tesseract para voltarmos pra casa.

Thor vira-se para nós.

— Venham, vou levá-los até ele.

O deus seguiu em direção a saída daquela sala dourada, com um último olhar para o irmão.

— Só eu to achando o grandão um pouco pra baixo? — Peter pergunta de forma irônica.

— Problemas familiares. — Tio Tony o informa. — O cara é bem sensível quando se trata do irmão.

Um por um todos começaram a seguir Thor em direção a sala de tesouros de Odin.

Antes de eu ir para o local onde abriríamos o portal, passei ao lado de Loki que estava sendo preso e acorrentado por alguns guardas Asgardianos, e infelizmente não pude conter minha raiva.

— Tenho que fazer uma coisa, já encontro vocês. — Digo para Logan, que me olha desconfiado, mas resolve deixar o assunto para lá. Ele sabe que não ganharia uma discussão comigo.

Me aproximo de Loki e dos guardas, com a postura mais confiante que eu consigo atingir. Os guardas não deixaram que eu me aproximasse de Loki, mas consegui ficar cara a cara com Luthor, enquanto o mesmo está sendo algemado.

— E agora? Você já era, perdeu de novo. — Minha voz é fria e meu olhar encontra o de Luthor.

— Isso ainda não acabou, Scarlett. — Ele disse no mesmo tom frio e indiferente. — Quando voltarmos para nosso tempo, você vai descobrir que foi você quem perdeu.

Apesar de estar com medo por dentro, eu arranjo coragem para falar:

— Vai fazer o que? Me torturar de uma cela em Asgard? Boa sorte com isso.

— Eu não contaria tanta vantagem, Ruiva. — Ele riu. — Você e minha irmã, assim como todos os outros vão pagar.

Eu me virei e deixei o irmão de Lorraine rindo sozinho, como um psicopata. Não valia a pena discutir com ele.

(X)

— Lorraine é um nome meio grande. — Aiden conversava com Logan e Lorraine enquanto eu me aproximava. — Você tem algum apelido?

— Eu detesto apelidos. — Lorraine foi bem direta.

— Por que? — Logan perguntou, curioso.

— Eu não gosto. Não preciso de um motivo.

— Tem que ter um motivo! — Logan rebate. — Todos temos um motivo para odiar algo. — Lorraine não respondeu.

— Podemos te chamar de Lorire? — Eu pergunto, me juntando a eles.

— Lorrie é um apelido legal. — Aiden tenta convencer a garota.

— Já que é tão importante para vocês, podem me chamar assim se quiserem. — Lorrie diz a contragosto, depois de pensar um pouco.

Assim que chegássemos ao palácio de Odin, poderíamos pegar o Tesserct e ir embora para casa de verdade, e levaríamos conosco dois maravilhosos prêmios: Luthor e Loki. E não podemos nos esquecer do brinde, Aaron.