Anteriormente:

Lucy encarava Ashley com irritação. Ela já estava ficando cansada e o braço direito – o que segurava a espada – estava ficando dormente devido à força dos golpes. Entretanto, o que a animava era ver que sua oponente estava no mesmo estado ou até mesmo pior do que ela. Ambas tinham consciência de que teriam que findar logo aquilo. Ashley já percebera que seus amigos estavam sendo amarradas no mastro após serem nocauteados e ela se espantou pelo fato da Fairy Tail não os estar matando. Afinal, eles haviam usado o nome do grupo como se fosse deles, isso daria todo o direito de morrerem, mas eles não tinham essa intenção. Lucy estava preocupada com a irmã do Erick, ela precisava tomar o medicamento logo, e por isso ela tinha que acabar com a luta para poder libertar os prisioneiros.

Uma gota de sangue escorreu do ferimento no braço da Heartfilia e ela tomou sua decisão: teria que atacar com tudo enquanto suas forças não fossem exauridas completamente. Ela deu um passo na direção da inimiga com determinação. O sangue manchava as duas espadas, que refletiam as labaredas das velas de modo macabro. Um berro angustiado foi ouvido e todos que ainda estavam lutando congelaram, tamanho o sofrimento e desespero contido naquele grito.

Tanto Lucy quanto Ashley observaram, com o coração apertando-se cada vez mais no peito, o corpo do homem de cabelos róseos desabar no chão e permanecer imóvel com a espada de Mystogan cravada em sua barriga. O sangue jorrava do ferimento, mas nenhum outro ruído foi emitido pelo homem, cujo olhar vazio encarava a imensidão da noite sem realmente vê-la.

Atualmente:

Tanto Lucy quanto Ashley ficaram paralisadas de medo ao verem o corpo do homem de cabelos róseos imóvel e sangrando no chão de madeira do navio. Só de pensar no amor de suas vidas morto, uma grande preocupação e raiva havia invadido ambas. As batalhas continuavam por toda a embarcação, porém nenhuma das duas ouvia o som ao redor delas, seus olhos não conseguiam desviar da pessoa inconsciente.

Lucy correu na direção do corpo e sentiu suas pernas fraquejaram fazendo-a cair no chão com um baque que machucou seus joelhos, mas ela nem notou. Para seu horror, o homem usava uma pulseira idêntica a de todos os membros da Fairy Tail e isso a fez sentir seu coração se despedaçar em milhões de pedaços. Sua mente só conseguia repetir a frase ‘‘Natsu está morto’’, como se esse fosse o refrão de uma música trágica. O que ela não viu foi Ashley suspirando de modo aliviado enquanto tentava acalmar as batidas frenéticas de seu coração. Dragion, seu namorado, estava bem.

– Não é possível. – murmurou Heartfilia arrastando-se em direção à Natsu.

Ela estava com medo de encostar nele, mas tomou coragem e o arrastou para seus braços, colocando a cabeça dele em seu colo. Arrancou uma faixa de tecido de sua calça e em seguida enrolou-a ao redor da barrida do homem estancando um pouco o sangramento. Sua mão delicada afagava carinhosamente os cabelos róseos enquanto a outra segurava a mão inerte dele em sua bochecha.

– Você não pode estar morto, Natsu. – falou inconsolável com as lágrimas percorrendo seu rosto – Natsu, por favor, abra os olhos. Por favor! Seu idiota, eu entrei para a Fairy Tail graças à você, ainda temos muitas aventuras para viver juntos.

Os soluços fortes e sofridos que irrompiam pelo peito da loira a impedia de proferir qualquer palavra. Até mesmo Ashley, que era sua inimiga, sentia um pouco de dó dela porque, se a situação fosse invertida e seu namorado, Dragion, estivesse no lugar do Natsu, ela também estaria arrasada tanto quanto sua oponente. Mas ainda precisava acabar com ela.

– Natsu, vou te levar para a Wendy, ela vai cuidar de você. Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem – ela repetia essa frase como um mantra enquanto afagava o rosto do capitão – Eu te amo! Eu te amo Natsu! Por favor, não me deixe. Eu te amo, vai ficar tudo bem.

Nesse ponto Lucy já proferia coisas desconexas. Ela se levantou servindo de apoio para o rosado, mas ele era muito pesado e estava inconsciente, era um peso morto. Havia mais chances da Heartfilia cair no mar ao atravessar a prancha do que de conseguir leva-lo ao seu navio. Entretanto, ela não iria desistir. Deu o primeiro passo trôpego, mas se manteve firme. Outro passo, seu joelho se dobrou, porém, não caiu. As lágrimas incessantes cegavam-na fazendo com que ela não visse as lutas ao seu redor nem Ashley se aproximando enquanto levantava a espada.

– Não se preocupe, vou tirar seu sofrimento. – falou Ashley com a voz tranquila.

– Me ajude Natsu, você é muito pesado. Acorde para facilitar meu trabalho, meu amor. Estamos quase lá, vai ficar tudo bem.

Ashley acertou a espada em Lucy. A lâmina atravessou a carne da cintura da loira, fazendo o sangue escorrer em abundância. A dor foi tanta que a perna da lateral que foi atingida não aguentou suportar o peso da mulher e do homem e vacilou. Ao invés de cair, Heartfilia apoiou-se por um instante em seu joelho recusando-se a ir ao chão e admitir sua derrota. Natsu precisava dela e ela não iria decepcioná-lo. Ignorando a dor, levantou-se sentindo uma forte pontada no ferimento, mas mesmo assim recomeçou a andar – com mais dificuldade, claro – aguentando silenciosamente todo sofrimento e o peso do rosado. Isso gerou uma enorme raiva em Ashley, ninguém nunca tinha a amado tanto para fazer aquele sacrifício por ela, nem mesmo seus pais.

– Pare com isso! Ele está morto, desista! – berrou Ashley levantando novamente a espada, pronta para dar mais um golpe.

A Heartfilia parou de andar, com as lágrimas ainda caindo de seu rosto sem sessar, mas em menor quantidade.

– Ele não está morto, mas sim quase. E enquanto Natsu não der o último suspiro, continuarei acreditando que ele ficará bem. – afirmou olhando a inimiga com os olhos transbordando determinação – Eu irei ajudar a salvá-lo, nem que isso signifique que eu tenha que ser fatiada em pedacinhos por você.

Nesse instante, Ashley acertou a lâmina na coxa da loira e depois mirou a cabeça de Natsu, que pendia para frente, mas Lucy interceptou o golpe com o antebraço, cortando sua carne até ficar a poucos milímetros de quebrar o osso. Como se fosse chamado, Elfman apareceu na frente da loira com os olhos espantados e pegou o rosado com facilidade.

– Leve-o para Wendy, por favor. – pediu Lucy cambaleante.

– Ajudar o Natsu é coisa de homem! – berrou e foi em direção à embarcação da Fairy Tail.

Assim que o peso extra foi retirado de si, a Heartfilia consegui se manter em pé com mais facilidade. A dor que sentia era lancinante, fazia com que ela quisesse aceitar a morte só para se sentir aliviada. Entretanto, sua raiva e a adrenalina serviam como morfina em seu sistema – mesmo que não tivessem tanto êxito quanto a droga.

– Você não dá valor a seus amigos, não preza por suas vidas. Tenho pena da pessoa sem sentimentos e vazia que você é. – falou a loira olhando para Ashley sem demonstrar nada.

– Vai morrer só para protegê-lo? – perguntou jocosa.

– Não, irei viver para protegê-lo. E para isso acontecer, terei que acabar com você. – respondeu já atacando de surpresa a inimiga.

A mulher desviou do golpe letal por pouco, fazendo a espada cortar profundamente sua clavícula. Nesse movimento Ashley pôde sentir a mudança em Lucy, que já não esboçava seu olhar amedrontado. A batalha recomeçou, de modo desigual, mas com mais afinco.

Ao redor delas, o rumo das lutas já estava sendo decidido com uma grande vantagem para a Fiary Tail, apesar das baixas que estavam tendo. Até aquele momento, a batalha entre Erza e Knightwalker era a mais equilibrada e seu resultado não era previsível. Um grito distraiu por um segundo Knightwalker, fazendo com que Erza tivesse uma excelente oportunidade para acabar com aquilo. Usando a lâmina de uma de suas espadas, acertou o calcanhar de Aquiles da oponente, fazendo-a ir ao chão, deu um outro golpe em direção do pescoço da mulher, mas ela desviou a tempo, o que provocou somente um corte em sua bochecha.

Knightwalker já estava se levantando, ignorando completamente a dor que sentia quando perdeu os sentidos. Seu corpo caiu para frente e ficou inerte no chão. Erza olhava da mulher para Jellal, que possuía um sorriso vitorioso nos lábios por ter desmaiado a oponente de sua amada, mas o que recebeu foi um olhar zangado da ruiva.

– Eu poderia ter feito isso sozinha, Jellal. – ralhou.

– Claro, meu amor, agora vamos amarrá-la. Trouxe umas correntes de ferro com cadeado? Uma simples corda não vai segurá-la já que ela possui o mesmo demôn– interrompeu sua fala ao perceber o que estava dizendo.

Entretanto não recebeu a paulada que esperava, e quando levantou o olhar para Erza, viu-a gaguejando e com o rosto completamente corado. Então se deu conta que havia a chamado de meu amor e suas bochechas ficaram coradas. Tentou disfarçar isso prendendo a outra ruiva no mastro junto aos outros inimigos, mas o rubro ainda habitava suas feições.

Levy passava por dificuldades. Sua oponente, apesar de ter quase a mesma aparência que ela, era cruel e violenta. Seus golpes eram fortes e, mesmo que não tivessem a mesma precisão de Levy, deixavam o braço dela dormente ao tentar impedir que a lâmina atingisse o alvo, tornando cada vez mais difícil brandir a espada de maneira hábil.

Em um ato descuidado, a baixinha, já sem paciência, se precipitou e teve sua espada arrancada de sua mão tamanha a força do golpe. Estava vulnerável. A oponente olhou dentro dos olhos de Levy sem hesitação e deu um sorriso vitorioso levantando a lâmina e abaixando-a como um raio fazendo a baixinha fechar os olhos e aceitar a morte. O que não aconteceu. Um milésimo antes da arma acertá-la, Gajeel envolveu-a em seus braços de modo protetor, ganhando um extenso e profundo corte nas costas.

– Gajeel! – exclamou Levy.

– Você é muito desatenta, baixinha. – falou rindo com a voz fraca.

– Seu brutamonte idiota! Por que fez isso? – perguntou com lágrimas nos olhos.

– Ela ia matar você, baixinha. Não podia deixar isso acontecer. – respondeu fechando os olhos e sendo levado pela inconsciência.

– Seu idiota. – murmurou com lágrimas escorrendo pro seu rosto.

– Own, que bonitinho. Ele quase morreu por sua causa, você é uma inútil que o usa o sentimento alheio para se proteger. É só mais uma garotinha em perigo a espera do príncipe encantado. ‘‘Quem liga se ele morrer? Eu estou salva.’’ Patético. – falou a oponente.

– Eu não sou assim! – berrou Levy pegando a espada do moreno e avançando furiosamente para cima da inimiga com a força de vontade tornando seus golpes pedados e potentes.

Após alguns minutos da luta árdua, a mulher já estava cansada e abismada com a mudança de atitude de Levy. A baixinha finalizou a oponente com um forte golpe na cabeça usando a parte horizontal da lâmina que não cortava. Afinal, por mais que quisesse, não iria mata-la. Amarrou-a no mastro, que já estava repleto de desacordados e voltou para Gejeel.

– Francamente, você só me traz problemas. Como vou carregá-lo até Wendy? – perguntou sentindo um bolo se formar em sua garganta.

– Levy-chan! O que aconteceu? Quem te fez chorar? Vamos acabar com ele! – exclamaram Jet e Droy.

– Rapazes! Eu preciso da ajuda de vocês. Levem, por favor, Gajeel até o nosso navio e deixem-no nas mãos de Wendy. – pediu a baixinha.

– Nós temos mesmo que ajudar nosso rival Jet? – Sussurrou Dry para o ruivo.

– Se fizermos isso vamos parecer melhores para Levy. – murmurou baixinho Jet – Vamos, Droy! Temos que leva-lo para Wendy!

– Sim! – exclamou ajudando a levar o moreno à médica.

Lisanna procurava todos de sua equipe em meio a confusão, porém só encontrou Gray e Levy – ainda com marcas de choro no rosto. Os únicos que não encontrava era Natsu e Lucy. Ela cogitava a hipótese dos terem ido juntos e sozinhos, mas lobo retirou isso de seus pensamentos. A albina não omitia que gostava muito do rosado, talvez por ele ter sido seu melhor amigo na infância e única pessoa da taverna Fairy Tail que a animava e conversava abertamente, já que ela sempre foi uma pessoa reservada. Porém, aceitava que Natsu só possuía olhos para Lucy e, apesar de ter um pouco de ciúmes, gostava de vê-lo feliz, mesmo que não fosse com ela.

– Aquela ali não é a Lucy? – perguntou Levy encarando duas mulheres que lutavam com fervor.

– Qual das duas? – questionou Gray sem notar diferença alguma entre elas.

– A da direita, ela está com a pulseira está vendo? – disse Lisanna.

– Mas cadê o Natsu? – indagou a baixinha preocupada.

– Lucy deve saber. Vamos ajuda-la! – exclamou Gray com a adrenalina não abandonando seu corpo por nem um segundo.

Quando ele deu seu primeiro passo prestes a correr na direção da loira, foi impedido pela albina, que colocou a mão em seu ombro.

– Deixe-a lutar a própria batalha, ela não iria querer que a interrompemos. Parece que o que a está motivando é algo pessoal, tenho certeza que daqui a pouco ela vencerá. – esclareceu Lisanna com um sorriso, admirando a determinação da loira.

Lucy estava cansada, mas Ashley estava muito mais. O suor excessivo atrapalhava a ambas, caindo em seus olhos, deixando suas mãos escorregadias e fazendo suas roupas colarem em seus corpos. Seus braços já estavam dormentes e o excesso de sangue que a Heartfilia perdia servia somente para deixa-la tonta, zonza e com a visão borrada. Apesar de estar a todo custo disfarças sua fraqueza, a oponente já havia percebido a sua situação e tentava a todo custo se aproveitar disso, embora não estivesse tendo êxito.

Ashley pisou com seu pé de apoio em uma poça de sangue no convés e se desequilibrou por um segundo, dando chance para Lucy acertá-la na têmpora direita com o cabo de sua espada, fazendo-a imediatamente cair inconsciente no chão.

Seus amigos, vendo o desfecho de longe sorriram. Porém, logo ficaram preocupados ao ver o corpo da amiga cair com um baque surdo no chão. Correram desesperados ao seu encontro e assustaram-se ao ver a quantidade de sangue que saía de seus grandes ferimentos.

– Leve-a para a enfermaria Gray, eu e Lisanna assumiremos daqui. – pediu Levy estralando os dedos, aflita.

– Tem certeza que ficará tudo bem? – perguntou ajoelhando-se para pegar a loira de forma delicada nos braços.

– Há poucos inimigos ainda acordados. Está tudo sob controle, não se preocupe. – respondeu Lisanna preocupada.

Enquanto Gray ia para o navio com a mulher nos braços, as duas desceram rapidamente as escadas que levavam até o porão da embarcação e, consequentemente, onde se localizavam as celas dos prisioneiros. O lugar era sujo, escuro e tinha um cheio de bolor impregnado no ar. Grades de ferro enferrujadas eram visíveis, delimitando a prisão e não havia nenhum guarda. Quando seus olhos acostumaram-se à escuridão, as duas levaram um susto, pensando que suas visões estavam pregando-as uma peça.

– Não há ninguém aqui! – exclamaram juntas.