– Não vou me casar. Desista. - Falei decidida.

– Mas filhinha! Você tem que se casar, pois já tem 17 anos. É sua obrigação como princesa arrumar um marido para poder assumir o trono e manter o reino equilibrado! - disse meu pai.

– Eu não quero o trono! E você não vai me forçar a ficar presa à um idiota rico sem escrúpulos!

Jude levantou-se raivoso da cadeira e encarou-me friamente.

– Você irá casar-se sim, Lucy Heartfilia! Desista desse seu sonho bobo de se tornar uma pirata! Mulheres não podem ser piratas! - exclamou elevando a voz.

– Mamãe era o que então? - levantei-me desafiando-o com o olhar.

Ele se calou no mesmo instante e suspirou pesadamente.

– Amanhã será o baile em que eu escolherei seu marido. Até lá, ficará de castigo em seu quarto. - Jude afirmou.

Ele virou as costas e saiu de meu quarto, fechando a porta atrás de si. Joguei-me na cama e comecei a socar meus travesseiros, espalhando-os pelo chão. Preciso fugir, eu não vou me casar com nenhum daqueles nobres idiotas. Levantei-me furiosa e comecei a caminhar por meu quarto tentando bolar um pano para escapar desse casamento arranjado.

Meu quarto era muito grande, tinha uma cama de casal, uma penteadeira, dois armários -um para roupas outro para sapatos- paredes brancas com adornos rosas e seu chão era rosa-claro. Resumindo, era um quarto digno de uma princesa, ou seja, digno de mim e eu o odiava com todas as minhas forças, pois ele me lembrava a cada segundo que eu não podia fazer nada devido a minha classe social. ''Não faça isso'', ''não faça aquilo'', ''esse não é o comportamento de uma princesa'', essas eram as principais frases que eu ouvia durante toda a minha vida. Tudo bem se uma camponesa for pirata, mas uma princesa? Era inadmissível, o que é bem irônico considerando o fato de que minha mãe Laya Styler, ou melhor Lyad como era conhecida no mar, foi uma das melhores piratas táticas do reino.

O fato de minha mãe ser uma pirata encantou o príncipe Jude Heartfilia, meu pai, eles apaixonaram-se e casaram-se alguns meses depois de se conhecerem. Mesmo casada ela ainda saqueava outros reinos e aumentava sua fama, porém nunca deixou de ser uma mãe amável e de certo modo presente. Ela era um demônio no mar, mas uma mulher gentil e amável em terra. Lembro-me até hoje de quando ela me contava histórias relacionadas às suas aventuras. Minha preferida era a de como ela se tornou pirata vestindo-se de homem e entrando em um navio qualquer.

Espere um momento..É isso! Olhei o relógio azul na parede e percebi que eu estava atrasada, muito atrasada. Elas me matarão com certeza! Fui em direção ao meu armário e, olhando ao redor para confirmar que estava sozinha, peguei uma caixa de madeira vermelha com detalhes em preto que estava bem escondida sob todos meus grandes e bufantes vestidos de baile.

Abri-a e tirei de lá uma fina e longa espada de prata com detalhes em dourado. Ela tinha o cabo vermelho e uma cabeça de leão no punho. O objeto foi um presente de minha mãe para mim quando completei 10 anos, um pouco antes dela falecer devido a uma doença. Desde então, eu treinava sempre escondido de meu pai e da maioria dos empregados junto com minhas amigas Erza Scarlet e Levy Mcgarden. Graças à isso agora posso afirmar que domino com maestria o uso da espada. Ouço alguém batendo na porta e guardo o objeto rapidamente.

– Princesa, posso entrar? - perguntou a governanta que possuía cabelo curto de tonalidade rósea.

– Claro Virgo. Não há necessidade de toda essa formalidade. - respondi-lhe.

– Tenho uma mensagem para você, da Erza e da Levy. Elas querem que você as encontre no mesmo lugar de praxe e que venha apropriada com o objeto. - avisou-me.

– Obrigada Virgo!

– Está na hora da punição princesa?

– Ainda com essa mania Virgo? Claro que não! - falei e ela retirou-se do recinto.

Logo que ela saiu, tirei o vestido longo e vermelho que eu usava e, em seu lugar, pus uma calça de couro marrom, que era colada no corpo, uma blusa bufante de mangas longas na cor verde, juntamente com uma bota de cano alto com salto pequeno de cor preta e, por fim, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo apertado. Peguei a espada de dentro da caixa e fui em direção a minha cama. Arredei-a um pouco com esforço e logo vi uma fissura mínima no chão. Segurei o pingente de meu colar, que era uma chave parecida com uma pluma de ferro pequena, e a enfiei no pequeno buraco. Rapidamente ouço um estralo e surge uma escada descendo até o subterrâneo. Ah! Como eu adoro morar neste castelo cheio de passagens secretas!

Peguei uma vela em cima de minha cômoda e a acendi, já descendo as escadas. Quando cheguei ao subsolo, andei uns poucos metros e me vi diante de uma maciça porta de carvalho trancada. Puxei meu colar e enfiei o outro pingente, que tinha a forma de uma pequena espada simples, na maçaneta rodando-a. Ouvi um clique e empurrei a porta, que se abriu com rapidez.

O cômodo em que estava era grande e era iluminado por inúmeras lamparinas nas paredes. Haviam vários manequins de tecido rasgados e com suas espumas caindo para fora, pacotes de feno rasgados, além de muitas cadeiras e tocos de madeira encaixados um nos outros que se moviam ao serem empurradas por uma pequena força. Assim que dou um passo para dentro do recinto, sinto uma lâmina afiada em meu pescoço.

– Você está enferrujada Lu-chan. - disse uma voz conhecida.

– Será mesmo Levy? Então explique-me o por quê de minha espada estar em sua barriga. - retruquei sorrindo.

A azulada olhou para baixo e viu minha lâmina espetada em sua barriga. Praguejando ela retirou sua espada de perto de mim e fiz o mesmo sorrindo.

– Ainda te pego desprevenida Lu-chan.- ouvi ela murmurar e sorri mais ainda.

– Está atrasada para o treino Lucy. - disse a ruiva sentada em um pequeno sofá branco arfando e mandando-me um olhar assustador, que fez com que eu encolhesse de medo.

– Tive uns problemas com meu pai Erza. Desculpe-me.

A azulada se chamava Levy e tinha 17 anos igual a mim. Ela era pequena, inteligente e delicada, mas seus golpes eram ágeis e possuíam grande força e precisão. Seu maior sonho era ser uma navegadora. Seu pai havia sido um e ela sempre andava com vários livros sobre navegação.

A ruiva se chamava Erza, e tinha a mesma idade que eu e a baixinha. Ela era alta, carinhosa, um pouco nervosa e tinha um corpo muito bonito. Consegue transformar qualquer objeto em uma arma mortal, principalmente se alguém derrubar seu precioso bolo de morango. Além disso sabia montar armadilhas muito bem. Seu maior sonho era ser chefe de armas e de batalhas em um navio pirata, desde criança ela era fascinada por isso.

As duas moravam no castelo por motivos diferentes: a mãe da baixinha era uma das governantas e a ruiva era órfã. Ambas eram minhas melhores e únicas amigas, pois convivíamos juntas desde pequenas. Normalmente, as pessoas só se aproximavam de mim por interesse, o que me deixava louca de raiva, mas com elas foi diferente.

– O que foi desta vez Lu-chan?- perguntou a azulada sentando-se ao lado da ruiva.

Suspirei pesadamente.

– Meu pai vai escolher meu marido amanhã. - falei com uma expressão indiferente.

– E devo relacionar o fato de você não estar chorando a suposição que você tem um plano? - disse a ruiva se divertindo.

– Eu sempre tenho um plano. - falei rindo travessa.

– E qual será desta vez? Se esconder na floresta? Colocar cobras no salão de baile? Fingir ter sido atacada e pôr sangue de porco em suas roupas para que seu pai pense que você está morrendo? - perguntou a baixinha listando alguns dos meus planos anteriores.

– Não, melhor. Agora é um plano definitivo e eu não vou pedir para vocês o realizarem comigo. - enrolei olhando a cara de expectativa das meninas- Eu vou fugir e me esconder em um navio pirata.