POV Daniel

            “– Eu... Eu estou... Grávida.” Eu ainda ouvia ressoar a voz da Julie em minha mente quando ela nos disse essas palavras. Eu ficava repetindo aquele momento, várias e várias vezes, sempre a ouvindo dizer a mesma frase, o tempo todo.

            Eu confesso que estou muito assustado e confuso. A sensação de “Isso nunca vai acontecer comigo” ainda persistia em continuar tão presente em tudo que eu fazia, ali, tão junto, andando lado a lado. Eu sinceramente, nunca pensei que eu passaria por isso.

            Eu passei o primeiro dia desde que soube da notícia em casa, pensando, pensando, pensando e... Adivinhem só! Pensando. E quando mais eu pensava mais eu percebia o quão confuso e quão idiota, engraçado, desesperado e todos os sentimentos juntos era aquela situação. Qualquer outra passaria longe de ser igual aquela.

            O fato era que nem em um milhão de anos eu poderia supor que isso aconteceria. E de tanto pensar que isso nunca aconteceria... Acabou acontecendo. Chato isso, né?

            Bom, eu acredito que tudo acontece com um propósito, nada acontece por acaso. Certo! Acho que vou longe com um pensamento assim. Mas, enfim... Sei lá. Talvez as coisas aconteçam para nos dar alguma lição de vida, ou talvez para nos darem razões suficiente para que saibamos que a vida é assim: tem seus altos e baixos, seus desafios, suas metas, suas vitórias, suas derrotas... E isso, provavelmente não vai mudar nunca.

            Sinceramente, a ficha não caiu ainda. Como assim? A Julie? Grávida? Foi um choque e tanto receber essa noticia dela. Ficar pensando nisso me deixou meio abobado. Eu pensava nisso e percebia meu queixo caindo, literalmente. É... Realmente, foi um choque e tanto. Mesmo se eu quisesse, eu não conseguiria tirar toda essa estória da cabeça.

            E, aproveitando que eu estava em casa, eu fiquei aqui “juntando os pauzinhos” e tentando entender tudo. Realmente havia acontecido alguma coisa na casa da Julie aquela noite. Na noite da festa na casa da prima da Julie. Eu só queria saber o que e como aconteceu. Seria mais fácil assim.

            Sinto não poder lembrar, porque a Julie precisaram de suporte a partir de agora. Ela seria mãe e um de nós três, eu, Martim e Félix, éramos os prováveis pais do bebê que ela esperava. Bebê esse que foi apelidado carinhosamente de Júnior. Ideia do Martim que eu particularmente aprovei. Talvez a primeira coisa inteligente que ele pensou e disse. Mas, deixa pra lá. Não é do Martim que eu quero falar, mas sim, da grande enrascada que nós metemos. Nós quatro.

            Não... Eu não me referi ao bebê. Tanto que ele é uma vida que vai nascer e ele será muito bem vindo e amado. Digo que é uma enrascada toda essa situação. Cuidar de uma criança, ainda mais na nossa idade, é muita responsabilidade. Por isso, dizem que filho tem que ser planejado. Ah, e ainda não citei o pior: O pai da Julie. O seu Raul. Eu o conheço há anos e sei que seu temperamento é forte. Ele é bem bravo e rígido. Com certeza vai querer esfolar o cara que “desvirtuou” a filhinha, a princesinha do coração dele. Ok, eu fui um pouco dramático agora, mas não tem como não pensar em outra coisa. Alias, não tem como pensar em nada.

            A Julie pretende contar ao pai o quanto antes que está grávida. E eu vou ter que estar preparado para o pior. Não só eu, mas meus amigos também. Vamos ter que enfrentar a “fera”, uma hora ou outra.

POV Martim

            Quando a Julie nos disse que estava grávida, confesso que, na hora, eu fiquei muito, mas muito assustado. Naquela hora eu não sabia o que eu senti. Foi uma sensação de desespero, uma ânsia, um frio na boca do estômago, uma tremedeira sem explicação, uma falta de ar que não parava nunca. Todas as sensações passaram por mim naquele momento. Eu não sabia de nada. Alias, eu só sabia de uma coisa... Ãhn, não... Uma não, duas: Primeiro, que a Julie estava grávida. E segundo, que um de nós três era o pai do bebê, que ganhou um apelido de Júnior. Que a propósito, fui eu quem escolheu. Fala serio, eu sou muito criativo, não sou? Enfim... Esquece.

            Depois do choque, eu até posso dizer que gostei de saber da gravidez da Julie. Assim eu arranjo um motivo de sobrar para ficar perto da Julie e cuidar dela.

            E, sabendo que realmente aconteceu... Aquilo... Naquela noite, eu internamente torcia para eu ser o pai do Júnior. Doía-me pensar que aconteceu algo eu não consigo lembrar.

            Ah, se tiver realmente acontecido algo entre a Julie e eu, eu enlouqueceria se não lembrasse. Eu torcia para que eu... Hum, pra dizer de um jeito mais puritano... Tivesse dormido com a Julie. Eu sei, foi um pensamento idiota, mas foi o mais próximo que eu consegui de ficar com ela. Mas próximo até mesmo do que o Daniel. Eu ainda competia com ele pelo coração da Julie. E vou continua assim até EU conseguir ser o namorado da Julie.

            E eu ainda não pensei no pior: O pai da Julie. Eu, Daniel e Félix teríamos que enfrentá-lo a qualquer momento. Julie iria contar para ele que ela está grávida e ela nós chamará para conversarmos com ele. E nós tínhamos que estar prontos.

POV Félix

            Choque. Foi a primeira coisa que eu senti. É serio. Nunca em minha vida eu imaginei passar por algo assim. Saber que a Julie, a garota que eu gostava, estava grávida foi um tremendo choque. E pensar que eu poderia ser o pai do filho dela me assustava mais ainda. “Poderia”, sim, por que nenhum de nós quatro sabemos quem pode ser o pai. Não lembramos de absolutamente nada daquela maldita noite, que com certeza, ficará na memória pra sempre.

            Será que eu era o pai? Eu passei o tempo inteiro desde que eu soube disso pensando se eu poderia ser o pai do “Júnior”. Pra falar a verdade, eu não tinha confiança de que eu pudesse ser o pai desse bebê. No fundo, mas bem no fundo, eu torcia para que sim. Mas não sei... Não é do meu feitio “abusar” de uma garota bêbada, ainda mais se tratando da Julie.

            Embora as minhas dúvidas, eu queria ser o pai do bebê e ficar com a Julie. Era a coisa que eu mais queria. Apesar de que a minha prioridade era ficar com a Julie independente de quem fosse o pai. Eu não iria desistir dela nunca. Se for preciso eu passo por cima dos meus dois amigos e por cima de todos os meus princípios para poder ter meu final feliz ao lado da Julie.

            Enfrentar o pai da Julie será também um grande desafio. Eu imagino como ele reagirá: Sua filha querida que de repente acordou pela manhã na cama com três garotos. Eu se estivesse em seu lugar, provavelmente, teria a mesma reação. Tão logo, encararemos o Seu Raul. É, eu preciso me preparar.

POV Julie

            É... Contar para meu pai que a filha dele, EU, estava grávida, não foi fácil. Não queria que ele ficasse tão bravo, mas infelizmente ele tem um temperamento pesado e ficou MUITO bravo. Eu prometi contar melhor toda a estória para ele, mas eu tinha a sensação que ele ficaria muito mais bravo ainda quando descobrir. E eu tinha que chamar os garotos para essa conversa nada agradável. Mandei uma mensagem para cada um com um texto parecido, algo como: “Contei tudo para ele. Prontos para enfrentar seu calvário?” e esperei que eles chegassem em casa. Era agora ou nunca.