“  – Marylin órfã! – O menino de olhos e cabelo escuros gritou. – Como é ter pais terroristas? Opa! Esqueci! Você não sabe porque o governo o matou! – Ele gargalhou estendendo a mão para o amigo bater. Eu o encarei com fúria em meus olhos.  – O que foi Ryan? Vai defender a orfãzinha agora?

O garoto ao lado do que acabara de me zombar, me olhava paralisado.

– Claro que não Philipe! Mandou bem! – Ele bateu na mão do Philipe, me lançando um olhar diferente logo em seguida.

 Minha garganta ardia, e meus olhos pareciam pegar fogo, agarrei o lápis com que eu estava pintando meu dever, e acertei ele no rosto de Philipe, que começou a gritar e chorar. Ryan suspirou aliviado, e logo depois correu par ajudar o amigo, enquanto a professora me tirava da sala aos gritos.“

– De onde o conhece Senhorita Benson? – O careta voltou a me questionar.

– Ryan Detunno... ele estudou comigo na quinta, ou sexta série, não me lembro. Ele tinha um amigo chamado Philipe, eles viviam zombando de mim, me chamando de orfãzinha e filha de terrorista, uma vez depois que eles fizeram as mesmas piadas estúpidas, eu acertei um lápis no olho do Philipe. – Fiz uma pausa, tentando ligar as mensagens com a ultima vez que o vi.

– É isso! – Gritou James, o encarei confusa. – Você feriu o amigo dele e não ele. Ele é grato a você por não ter o deixado cego.

– Você percebe o quão sem sentido isso é? – Murmurei sem encara-lo.

– James tem razão Marylin. – O careca, cujo o nome eu ainda não sabia, murmurou  me lançando um olhar simpático. – E o que iremos fazer sobre isso?

Frase errada na hora errada, caro Senhor Careca!

Uma longa discussão começou sobre o que deveria ser feito. Muitas opiniões foram dadas, vários meios de fazer isso dar errado também, e a maioria envolvia James quebrando a cara de Ryan.  Eu estava sentada no sofá, afastada de todos, pensando em alguma forma de acabar com tudo isso, pensando em algo que não envolvesse James batendo em ninguém, pois eu queria fazer isso com minhas próprias mãos.

 Ele me queria. Ryan queria que eu me afastasse de James e me rendesse, de alguma forma muito esquisita.

– Eu sei o que podemos fazer. – Sussurrei chamando a atenção de todos. – Eu posso marcar um encontro com ele, em um lugar público, e depois quando estivermos indo embora vocês agem. – Seria arriscado porém a única maneira disso dar certo.

– De jeito nenhum deixarei você ficar sozinha com ele. – James me encarou com a testa enrugada e os olhos arregalados. O tom de sua voz me deixou com medo.

– James, isso é uma boa ideia. – O careca murmurou caminhando ao meu lado. – Você consegue marcar um encontro com ele na Pizzaria Principale da Charlotte Street amanhã oito horas da noite? – Ele me entregou o meu celular. – James você pode estar lá disfarçado. Marylin usará uma escuta, e estará o tempo todo com o gravador ligado passando toda a conversa para nossa equipe.

– Isso é perigoso, vocês viram o que ele fez com Cinthia, se ele descobrir que ela está com a gente ...

– James! Ninguém sabe da existência dessa Máfia. – Gritei com ele.

– Marylin isso é perigoso!

– E você ir lá enfrenta-lo até que ele arranque seu fígado pela boca não é perigoso? – Me levantei ficando na frente de James, que fez o mesmo me encarando furiosamente. – Eu vou fazer isso, e você não vai me impedir.

– Tudo bem, mas eu vou estar lá o tempo todo.

– Ótimo!  – Blefei.

– Ótimo. – Ele voltou para o seu lugar, afastado de mim, e eu fiz o mesmo.

Peguei meu celular e comecei a pensar nas palavras certas para serem digitadas na mensagem, mas todas as palavras que apareciam em minha mente eram sobre o ódio que sentia por ele. Ele matou Cinthia, que não tinha nada a ver com a história, ele destruiu uma família, deixou uma garotinha esperando a mãe que não poderá nunca mais voltar, ele ameaçou James, e conseguir me deixar furiosa.

                      “ Eu me rendo! Me afastarei de James, e ficarei com você...”

                                                 –– Marylin

Enviei a mensagem não tendo certeza se aquelas era as palavras certas.

– Senhor Lannes, o laudo que você me pediu está pronto. – Uma mulher morena, e muito atraente, entrou na sala entregando um envelope branco para James.

– Obrigado. – Ele pegou o envelope e voltou para o seu lugar, ignorando os olhares que ela direcionava a ele.

                               “ Como sei que não está mentindo para mim? “

                                                   –– Anônimo

Li a mensagem com calma, e fiquei muito feliz por Ryan ter feito a pergunta certa.

                            “ Me encontre na Pizzaria Principale da Charlotte Street

                                           amanhã, oito horas da noite. “

                                                               –– Marylin

Todos olhavam para James, enquanto ele lia atentamente os papeis que estavam dentro do envelope.

Meu dedos batiam ansiosos na tela do celular esperando a próxima mensagem.

 – Cinthia teve hemorragia cerebral devido as facadas. – James sussurrou passando os olhos por mim, sua expressão mudou de furioso e incompreensivo para preocupado e amável. – A família foi informada de que ela sofreu um assalto relâmpago, o marido de Cinthia disse que ela estava em Londres para fazer uma visita a Marylin.

– E como ela foi parar no quarto da Senhorita Benson? – Um dos rapazes perguntou.

– Ela deve ter chegado no meio da noite e encontrado Marylin comigo na sala de estar, resolveu então ir até o quarto da Senhorita Benson e dormido por lá.

– Ryan deve ter entrado no quarto de Marylin atrás dela, e como encontrou Cinthia foi procura-la pela casa e então os viu deitados no chão da sala, o que provocou toda a fúria dele. – O careca sussurrou. – Era o meu dia de vigiar a casa, mas acabei chegando atrasado... me desculpa. – Ele me encarou com os olhos aguados.

– Tudo bem... – Meu celular apitou avisando que uma nova mensagem tinha chegado.

                        “ Fique linda para mim. Eu estarei segurando um buquê de rosas

                              vermelhas.  Te vejo em breve minha querida Marylin”

                                                      –– Anônimo

– Tuchê! – Gritei. Todos me encararam como se eu tivesse problemas mentais. – Ele estará lá. – Sorri como se já estivesse ganhado essa batalha.

– Agora é só esperarmos até amanhã. – Um dos rapazes sussurrou em meio a bocejos.

                                                              ~X~

Estava a caminho de casa com meu coração acelerado e desesperado, eu não queria voltar lá.

James dirigia seu volvo enquanto outros dois carros, um a nossa frente e outro logo atrás, com dois agentes cada nos acompanhavam até o nosso destino. A segurança iria aumentar, e aparentemente James Peter Lannes também iria ficar mais rígido com suas regras, o que me leva a pensar que o rapaz doce e gentil que estava se abrindo comigo noite passada, irá desaparecer.

Todos os carros estacionaram em frente a casa, que agora me dava medo, os agentes entraram armados para verifica-la.

Bocejei encostando a cabeça no vidro gelado da janela.

– Cansada? – James perguntou sem mover um músculo.

– Um pouco. – Afirmei direcionando meus olhos para ele. – Mas provavelmente não conseguirei dormir. – Um dos agentes apareceu na porta da frente, avisando que poderíamos entrar.

Abri a porta do carro, pulando dele no mesmo instante, dei alguns passos em direção a porta de entrada parando em frente a porta.

– Tudo bem? – James sussurrou logo atrás de mim.

Olhei para ele, que estava com os olhos em mim, preocupado. Respirei fundo e comecei a caminhar novamente, James colocou uma de suas mãos em minha costa, e me acompanhava em silêncio a cada passo dado. Subimos a escada, e paramos em frente a porta de meu quarto. De onde eu estava era possível ver que tudo ali estava limpo, e eu poderia dizer que uma pequena reforma aconteceu ali, as paredes agora eram azul turquesa, e o piso continha um carpete tão branco quanto uma folha de papel.

Minha mente me trouxe de volta tudo o que eu vi na última vez que estive aqui. A imagem de Cinthia não saia de minha cabeça, e a culpa que eu carregava era enorme. Duas mortes, duas pessoas que tiveram suas vidas brutalmente tiradas por minha causa, minha culpa. Eu não sei se aguentaria viver com isso dentro de mim.

– Eu não consigo. – Minha voz falhou, e meus olhos me traíram deixando um conjunto de lágrimas fugirem de meu controle. – Eu não consigo... – Minhas pernas amoleceram e eu perdi todo o equilíbrio caindo no chão. James envolveu minha cintura e se ajoelhou ao meu lado me mantendo sentada.

– Você sabe que não precisa fazer isso Mary. – Ele sussurrou em meu ouvido.

– Eu preciso fazer isso. – Murmurei aos prantos fechando os meus olhos para não encarar o quarto, que deixava minha mente perturbada.

Ele me carregou e me levou até o seu quarto.

– Você pode dormir aqui. – James me colocou em sua cama, e sentou ao meu lado. – Eu vou estar no corredor se precisar de mim.

Ele se levantou para sair do quarto mas eu capturei sua mão, puxando-o de volta.

– Por favor, fica! – Sussurrei fracamente.

  James me olhou daquele jeito diferente que eu ainda não sabia desvendar o que expressava, um sorriso fraco surgiu em seus lábios e sua expressão mudou radicalmente, ficando mais suave. Ele pediu para que eu me afastasse e se deitou ao meu lado, seus braços me envolveram em um abraço confortável, uma de suas mãos deslizavam pelo meu cabelo embaraçado, e sua respiração quente batia no topo de minha cabeça. Fechei meus olhos para tentar descansar mas foi em vão. As batidas do coração de James me distraiam, e eu intercalava meus pensamentos entre os últimos acontecimentos, e a maneira como estava me envolvendo com o loiro ao meu lado.

  Eu me sentia bem ao lado dele, me sentia protegida, talvez isso fizesse parte do que era ter um protetor mas eu sentia que James estava se tornando algo além disso. Eu nunca tive amigos, nunca tinha me relacionado com alguém até ele aparecer e me deixar assim. Ele era como uma bússola me mantendo sempre na direção certa, mesmo que essa direção seja a mais complicada e difícil. Quando Janie morreu, passei horas pensando em como seria minha vida a partir daquele momento, pensei em como iria entrar em uma faculdade, em como acharia um lugar pra morar, e em como iria fazer para me encontrar mas então James apareceu mostrando que o meu lugar, é aqui. Eu era uma garota sem noção nenhuma sobre o que era a vida, eu era vulnerável a tudo e a todos e qualquer coisa conseguiria me atingir, e com tudo o que está acontecendo agora tive que mudar, James me ajudou a encontrar a força e a coragem que estavam escondidas dentro de mim durante todos esses anos. Ele me mudou e continua me mudando a cada dia que passa, me tornando uma garota forte e guerreira, e mesmo sabendo que vou viver com essas imagens e acontecimentos em minha cabeça durante toda a minha vida, agora eu sei que sou capaz de aguentar muita coisa.

– Eu vou proteger você. – James sussurrou provavelmente achando que eu estava dormindo. – Se eu pudesse, eu tirava você daqui e te levava para um lugar onde nada pudesse lhe afetar. – Senti sua mão segurar a minha lentamente. – Mas eu sei que não iria a lugar nenhum, não antes de terminar o que seu pai começou. – Ele bocejou. – Sei que é errado tudo isso, mas se eu não te ajudar fará sozinha e pode acabar se ferindo. – Sua mão acariciava a minha. Meu coração começou a acelerar, e meus músculos paralisaram lutando para não fazer nenhum movimento que me dedurasse. – Tenho medo de que quando tudo isso acabe você parta... sem mim. – Seus lábios tocaram o topo de minha cabeça. – Você parece um anjo dormindo. Pena que me falta coragem para lhe falar isso enquanto está acordada. – Ele riu baixo. – Mas você também não ajuda, tão durona. – Ele se moveu me fazendo deitar em seu peito. – Boa noite anjo. – Esbocei um fraco sorriso torcendo para que ele não tivesse visto.