Marylin escrita por Juliana Moraes


Capítulo 6
Heavy training


Notas iniciais do capítulo

Olá, quero agradecer aos cinquenta leitores, vocês estão tornando meu sonho realidade. Espero que gostem. Boa leitura!



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– Marylin, você precisa estar bem disposta para os treinamentos, acho melhor voltar a dormir. – James murmurou, levantando-se.

– James não! – Gritei, segurando os papeis e mostrando a ele. – O que aconteceu com Janie?

Ele suspirou, colocando a mão no cabelo loiro bagunçado, cambaleou de um lado ao outro do quarto, e depois parou em minha frente, tão perto que eu podia sentir se hálito de quem acabou de acordar invadindo meus pulmões, ele tirou os papeis de minha mão e me encarou.

– Olha, Mary...

– Apenas a verdade, por favor. – Pedi.

– Ela foi envenenada.

– O que? Não. – Eu o encarei confusa. – Ela teve uma parada cardíaca. – Lembrei do que o hospital tinha me informado.

– Acharam uma substancia chamada Sarin no organismo de Janie.

– Sarin? O que é isso? – Minha cabeça doeu, caminhei até a cama de James, me sentando.

– É um dos venenos mais letais que existem. – Ele jogou os papeis em cima da mesa, e cruzou os braços sob o peito, me encarando. – É um gás criado em 1939 pelos nazistas, e se inalado, ele debilita os músculos e causa parada cardíaca.

– Isso quer dizer que fizeram ela inalar esse gás. Como? – Perguntei, encontrando seus olhos azuis.

– A MB encontrou esse gás na tubulação de sua casa. – Minha casa? – Um sensor estava conectado com a porta de seu quarto, assim que alguém passasse por ela, o sensor mandava um sinal e o gás seria liberado.

– Meu quarto? – Me levantei. – Não era para Janie estar morta. Era para ser eu. – Meu olhos transbordavam. – James, era para ser eu? – Minha voz falhou.

– Sim. – Ele sussurrou.

 Isso foi como um golpe no meu estomago. Quem estava atrás de mim? E porque queriam me matar? O que eu tinha que tanto os incomodavam? Isso teria a ver com o que a mídia diz sobre meu pai? Ou é alguém envolvido com o assassinato de minha mãe? Eu precisava de respostas, e eu precisava delas o mais rápido possível.

– Marylin. – James me chamou a atenção. – Está tudo bem?

– O que querem de mim James? – Choraminguei.

– Eu não sei... ei! Não chora Mary. – Ele sentou ao meu lado, e me abraçou. Eu o encarei. – Vai ficar tudo bem. – Ele sorriu torto. – Eu prometo.

                                                                ~X~

Chegamos na MB, hoje eu começaria alguns treinamentos que James afirmava ser para a minha defesa.  Havia menos pessoas no campus dessa vez, talvez fosse culpa do clima ruim que Londres nos proporcionou hoje.

 Segui James que andava rápido em minha frente. Ele usava um terno parecido com o que vestia no dia anterior. 

– Sempre terno? – Perguntei.

– Quase sempre. – Ele estava sério.

Ele me entregou roupas de ginastica, e deu um tempo para que eu me arrumasse em sua sala. Guardei minhas roupas em minha enorme bolsa, prendi meu cabelo em um rabo alto, e terminei de ajeitar as roupas apertadas que eu vestia.

– Está pronta Marylin? – James gritou batendo na porta. – Não temos todo o tempo do mundo.

– James você está insuportável hoje. – Gritei abrindo a porta. – Estou pronta. – Ele fez uma careta e continuou andando. Eu o segui.

 Andamos por mais cinco minutos, até chegarmos em frente a uma das salas do lado de fora do campus, perto da quadra de tênis.

– Box? – Li a placa na porta.

– Para a sua defesa.

– James, eu mal consigo andar em saltos altos e você quer que eu aprenda... box?

– Sim. – Ele riu.

– Você é bipolar? – Perguntei cruzando meus braços.

– Vamos Marylin... – Ele abriu a porta, puxando-me pelo o braço.

Era uma sala grande e pouco iluminada, um ringue bem ao meio, onde dois rapazes lutavam, alguns bancos de madeira ao redor, cordas e luvas pelo chão, sacos de pancadas pendurados em um canto, um espelho gingante em toda a parede lateral, e logo ao meu lado uma prateleira lotada de troféus e cinturões. Ah, não posso esquecer de descrever o cheiro daqui, fedia a homem suado.

– Nick! – James chamou um dos rapazes. Ambos pararam de lutar, e nos olharam. – Trouxe sua nova aluna.

– Acabamos por hoje Philip. – O rapaz negro, alto, extremamente musculoso, e com um sorriso atraente murmurou para o outro rapaz, magro, baixo, e suado. – Olá... – Ele caminhou em nossa direção. Estendendo o braço para me cumprimentar. – Marylin, certo?

– Certo. – Sorri.

– Sou Nick David. – Ele sorriu  – Podemos começar?

– Devem! – James murmurou. O encarei sem paciência.

Fiz um aquecimento de dez minutos, pulei corda por mais cinco, e depois subi ao ringue junto de Nick.

– O seu pulso tem que estar sempre reto para que não ocorra lesões, entendeu? – Ele prendia as luvas no meu pulso, mostrando como deveria ser o soco. – Me bata.

– Você não deveria usar alguma proteção para que eu pudesse te bater? – Perguntei o encarando.

– Não vai doer Marylin. – Ele riu.

– Logico que não vai doer, ela não tem força. – James murmurou, virando a pagina do livro que estava lendo.

– Então venha lutar comigo. – Encarei James com os olhos pegando fogo. Ele riu. – Acha que eu estou brincando babá?

– Protetor! Eu sou um ... Ah! – Ele colocou o livro no banco ao seu lado, abriu os botões do terno, o tirando e jogando-o em cima do livro. Ele subiu no ringue, e caminhou em minha direção. – Quer lutar comigo Marylin? – Ele sorriu ironicamente, movendo seu rosto cada vez mais perto do meu.

– Sim, eu quero. – Estávamos poucos centímetros um do outro.

– Crianças, não briguem por favor. – Nick gargalhava. – Tudo bem, podem continuar, isso vai ser divertido. – Ele entregou luvas para James, que retirou sua camisa e seu sapato social, ficando apenas de calça e regata branca.– O primeiro  cair perde, só um round pois ainda tenho muito o que fazer aqui. – Ele olhou para mim. – Pulso reto, não se esqueça. James, cuidado com a garota. – Nick deu alguns passos para trás, e logo falou para começarmos.

James deu passos para o lado, e eu fiz o mesmo para o outro lado. Ele me olhava segurando a risada, mas eu não via graça em nada daquilo. Eu sentia meu corpo queimar com toda o ódio que existia dentro de mim. Não, eu não sentia ódio de James, por mais chato que ele estivesse hoje, eu sentia ódio de mim. Eu estava me sentindo culpada por tudo o que aconteceu nesses últimos anos, meu pai teve que se esconder durante anos, para me proteger, Janie morreu no meu lugar, e James aparentemente teria que viver colado comigo durante muito tempo. 

Ele avançou em mim, enquanto estava perdida em meus pensamentos, me dando um soco na costela.

– Ai! – Reclamei.

– Quer desistir? – James gargalhou.

Nada pessoal, mas acho que teria que descontar um pouco desse sentimento ruim que estava sentindo, em James.

– Não mesmo. – Lhe acertei um soco na bochecha.

– Ei! – Ele arregalou os olhos.

– Quer desistir? – Olhei para ele, sorrindo.

– Não mesmo! – Ele começou a ameaçar socos, enquanto eu desviava deles dando passos para trás, ou colocando a mão na frente.

Consegui acertar outro soco em James, dessa vez no queixo. Ele me olhou, colocando a mão no lugar onde acertei, ele parou de se aproximar e fechou os olhos como se estivesse sentindo dor.

Me virei para olhar Nick, e dizer a ele que tinha aprendido como se batia em alguém, mas assim que fiz tal ato, senti os braços de James capturarem minha cintura, e sua perna passar sobre a minha me derrubando.

– Regra número um, nunca vire as costas para seu adversário. – Ele riu. Assim que ele ameaçou caminhar, enrosquei minhas pernas nas suas, fazendo ele caiu sobre mim. – Esse golpe não vale. – Ele sussurrou, um braço em cada lado de meu corpo.

– Tudo vale quando se quer derrubar um adversário, até fugir das regras.

Ele me olhou, abrindo um sorriso torto incrível.

– Hm... você foi muito bem Marylin. – Nick murmurou, tossindo.

James se levantou, estendendo a mão para me ajudar a se levantar.

Lembram quando ele disse que a minha mudança de humor iria acabar com ele? Acho que essa frase era para eu dizer, pois sinceramente, a mudança de humor dele já está acabando comigo. Em vários sentidos.

Mais vinte minutos de aula de box, eu já não aguentava comigo mesma, e praticamente implorei para Nick me dispensar.

Fui ao vestiário, no fundo da sala, lavei meu rosto e me joguei em um dos bancos perto da porta, meu corpo reclamava, e provavelmente amanha eu acordaria com hematomas por ele todo.

– E Amy? – Ouvi Nick perguntar para James.

– Terminamos. – Sua voz era suave, calma.

– Não me diga que foi por causa da Marylin? – Eu? O que eu tenho a ver com essa história?

– Não, não, ela não tem nada a ver com isso. Porque teria? – Ele blefou.

– A qual é James, desde que começou a ser o protetor dela, você não fica uma hora sem falar o nome dela. – Nick riu. Eu apoiei meu corpo para mais perto da porta, em uma tentativa de ouvir melhor a conversa. – Lembro a dois anos atrás você falando que ela era linda, com os olhos azuis tão profundos e com o cabelo negro... O que aconteceu com o cabelo negro?

– Nick, fale baixo por favor! – Ele sussurrou. – Ela teve que fazer mudanças. Mudanças necessárias.

– Bem, não sei como ela era antes, mas ela é muito bonita. – Nick sussurrou tão baixo, que apoiei mais meu corpo para frente para ouvi-los.

– Sim, ela é. – James sussurrou no mesmo tom de Nick. Apoiei meus braços na ponta do banco, que virou, me derrubando. – Marylin, está tudo bem ai? – Ele gritou.

– Sim, eu estou bem. – Gritei de volta, arrumando o banco o mais rápido possível.

– Será que ela ouviu, dude? – Nick perguntou baixo.

– Espero que não. – James suspirou, e eu ri.

Coloquei o banco no lugar com dificuldade, ele era um pouco pesado, ouvi passos e logo me sentei novamente, como se nada tivesse acontecido.

– O que aconteceu? – Nick perguntou. – A gente ouviu um barulho e ...

– Eu tropecei no armário. – Menti.

– Eu vou me trocar para podermos ir para a próxima etapa do treinamento. – James saiu do vestiário.

– Tem mais? – Eu encarei Nick assustada. – Ele está blefando não é mesmo?

– Bem vinda a MB Marylin. – Ele riu.

 Esperei James em sua sala, ele estava demorando, e eu estava com tédio. Comecei a mexer em seus livros, todos muito antigos, e com uma leitura aparentemente difícil para a minha capacidade de raciocínio.

Ouvi meu celular tocar. Um nova mensagem.

              “ Toda a dor que eu te fiz passar, eu queria poder retira-la completamente e ser aquele que apanha todas as suas lágrimas, é por isso que eu preciso que você saiba que eu encontrei uma razão para mim, para mudar quem eu costumava ser, uma razão para começar de novo, e a razão é você.

                                                           –– Anônimo

E novamente o anônimo ataca. Eu até tinha me esquecido dele. Quem será que era? Alias, quem poderia ser já que não me resta ninguém? Li a mensagem mais uma vez reconhecendo as palavras, era a letra de uma música, The Reason da banda Hoobastank.

– Estou pronto, podemos continuar agora? – James entrou em sua sala, me assustando. – Marylin, você pode mexer no celular depois? Realmente quero ir embora logo.

– E o que faremos agora Senhor Lannes?

– Correremos.

– E no que isso me ajudará?

– Resistência.

– E no que isso me ajudará? – Repeti.

– Você vai me agradecer em um futuro muito próximo. – Segui ele pelos corredores escuros, e logo estávamos no campus novamente, começamos a correr pela pista de caminhada, ele corria mais rápido do que eu, obvio, meu coração estava acelerado, e meus pulmões pareciam que iriam explodir a qualquer momento. Eu parei. – O que foi Marylin? Não aguenta?

– Chega por hoje! – Murmurei se folego. – Eu quero ir pra casa. Agora!

– Tudo bem. – Ele riu, caminhando rápido em direção a sua sala.  – Não vem?

– Pode ir na frente, depois eu te alcanço... – Ele voltou, me agarrou pela cintura e me jogou em seu ombro. – James, me coloca no chão!

– Estou te fazendo um favor. Pare de reclamar Senhorita Benson! – Ele gargalhava.

– James! Me coloca no chão agora! – Gritei agudamente.

 – Eu acho que não. – Ele continuou andando, enquanto eu pedia para ele me por no chão, e batia em sua costa suada. – Marylin, eu não vou te colocar no chão, então pode parar de bater em mim. – Ele gargalhou. O som de sua risada ecoou em meu ouvido, me fazendo rir junto dele. Parei de me debater contra ele, e fiquei quieta.

 As pessoas que passavam ao nosso redor, nos encaravam rindo, fazendo meu rosto corar.

– James! – Uma voz feminina o fez parar. – E... Marylin Benson? – James me colocou no chão, e eu encarei a garota em minha frente. Ela era alta, magra, olhos castanhos escuros, sardas na bochecha e nariz, e cabelo longo e ruivo, ela era linda. – Oi! – Ela sorriu animada. – Eu sou Katherine Johnson, professora de karatê, e melhor amiga do James.

– Oi. – Sorri. – Espera. Eu não vou ter que fazer mais nenhum treinamento hoje, não é mesmo? – Olhei para James, praticamente implorando para ir embora.

– Não Mary, por hoje chega. – James murmurou rindo. – Mas amanhã seu treinamento será com Kat.

– Acho que seremos grandes amigas Mary. – Katherine me abraçou. – Eu tenho que ir. Preciso treinar o pessoal do caso 33. – Ela abraçou James, que retribui o abraço sorrindo. – Vejo vocês amanhã. – Ela começou a correr na pista, e em poucos segundos tinha sumido do meu campo de visão.

– Podemos ir para casa agora? – Implorei.

– Claro, vamos... – Ele ameaçou me colocar em suas costas novamente, mas eu comecei a correr em sua frente. – Ah Marylin! – Ele gargalhou, correndo ao meu lado.

                                                              ~X~

Após um rápido e demorado banho, vesti um conjunto de moletom e deitei em minha cama, sentindo cada musculo do meu corpo reclamar de dor.

 Peguei o laptop, e abri em uma pagina de pesquisa, digitando na barra de busca “ Richard Jeremy

Tinha várias e várias paginas falando sobre ele, todas expondo suas qualidades e mostrando como ele era um bom empresário, e qual o futuro que esperava as linhas aéreas Burning Flight.

– Richard Jeremy, o bem sucedido empresário e dono da empresa inglesa Burning Flight foi nomeado pelo congresso como uma das linhas aéreas mais seguras. – Eu lia baixo, fazendo algumas pausa para tentar entender como o congresso britânico podia ser tão cego. – Richard diz que o segredo para manter os voos sempre lotados, é o carinho que os passageiros recebem dos tripulantes, além do conforto e do ótimo serviço de atendimento que somente a melhor linha aérea poderia ter. – Só para constar que isso estava em um dos melhores jornais locais. – Um herói para os americanos, o inglês salvou os Estados Unidos de um ataque terrorista...Chega! – Coloquei o laptop ao meu lado, e respirei fundo.

 Como as pessoas não conseguiam ver quem ele realmente era? Herói?

Coloquei um travesseiro em meu rosto, para afagar meu grito que veio logo em seguida junto com as lagrimas.

  A dor que eu sentia no meu peito era extremamente forte, pois nessa dor, além da dor da perda, estava também minha culpa, meu desejo por vingança. Eu me sentia sozinha. Eu estava sozinha. Todos aqueles que eu amava se foram, se foram de um jeito brutal, de um jeito tão frio. A imagem de minha mãe naquela noite de natal, me atormentava todos os dias, suas ultimas palavras, seus olhos pedindo socorro, seu corpo frio no qual eu me aconcheguei até nos acharem, tudo isso eram coisas pela qual eu lutava todos os dias para poder esquecer. Meu pai, esteve vivo por todo esse tempo, enquanto a mídia comemorava a morte dele todos os anos. Eu queria poder abraça-los uma última vez, um adeus justo, um adeus sincero.

Lagrimas escorreram pelo meu rosto ainda mais violentas, assim que lembrei de Janie. Não conversávamos, não éramos uma família unida, mas ela era tudo o que eu tinha, e eu, era tudo o que ela tinha. E mesmo não chegando a sermos a família perfeita, ou até mesmo conversar sobre algo digno de sorriso durante todos esses anos, eu amava Janie, e eu sei que bem lá no fundo ela me amava também, pois ela aceitou cuidar de mim, ela aceitou ficar comigo mesmo quando eu estava atirando lápis no olho dos meus colegas de sala, ou até mesmo sendo expulsa de várias escolas. Ela teve a oportunidade de me mandar para um internato, mas ela não o fez, ela preferiu cuidar de mim. Ela morreu no meu lugar. Oh céus! Era para ser eu no lugar dela.

Minha vida seria completamente diferente se nada disso tivesse acontecido. Eu teria a vida perfeita, meus pais me esperariam todo dia para o jantar, eles estariam sorrindo em minha formatura, ficariam felizes ao me ver entrando em uma faculdade, realizando meus sonhos. E hoje... eu estou longe de ter uma vida perfeita.

E tudo por culpa deles, Burning Flight.

Eu vou fazer eles pagarem por cada momento que não tive com meus pais. Eu vou fazer eles apodrecerem na cadeia, e vou mostrar pro mundo quem realmente é o herói da história. Eu vou me vingar de cada um que tem o nome na lista. E eles vão desejar nunca terem nascido.


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Notas finais do capítulo

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