Eu corria desesperadamente por entre os muros do labirinto escuro e sujo. Os muros em minha volta eram de tijolos quebrados porém fortes o suficiente para me manter ali.

– Você não irá mudar seu destino Marylin! – Richard gritava enquanto me perseguia. – Você matou pessoas, você destruiu famílias, você não é tão boa quanto pensa! – Sua palavras eram como chicotadas em minha costela. – Não fuja de mim Marylin!

Meu corpo parecia estar sendo sugado para o outro lado do labirinto, para ser mais especifica, para o inferno, porém eu lutava para chegar na luz que estava um pouco mais a minha frente.

– Marylin! – Richard gritou me encontrando. – Você não pertence aquele mundo!

Ele caminhou em minha direção parando involuntariamente alguns segundos depois, algo não deixava-o chegar até mim, como um muro invisível.

– Abra seus olhos! – Uma voz doce cantarolou de algum lugar.

– Não Marylin! – Richard gritou.

– Abra seus olhos Mary, você ainda precisa ser feliz! – Aquela voz era como seda tocando minha pele. – Abra seus olhos filha... – A dona da voz era também a dona das canções de ninar que me fizeram adormecer durante os seis primeiros anos de minha vida, minha mãe.

– Não se atreva Marylin! – Richard gritava cada vez mais forte. – Não!

– Feche seus olhos e pense naquilo que te fará feliz! – Khloe cantarolou e eu sabia que ela estava ao meu lado o tempo todo, mesmo não vendo-a.

Fechei meus olhos com força e comecei a pensar naquilo que me fará feliz. Sem demora imaginei os olhos azuis de James no meu, como na primeira vez em que nos encontramos, lembrei de seu toque, seu beijo, sua voz, e de todas as vezes que ele me fez sorrir. Senti meu coração bater mais forte ao pensar em James.

– Foque nos seus sentimentos! – Minha mãe pediu.

Foquei então nas batidas do meu coração e em todo amor que eu sentia por ele, e eu soube naquele instante que James será para sempre o caminho certo, pois não importa quando, nem onde, mas se ele estiver comigo qualquer tempestade será um arco-íris.

– Abra seus olhos! – A voz doce de Khloe pediu. – Eu vou estar sempre aqui Mary, cuidando de você. – Sua voz foi sumindo conforme eu abria meus olhos.

– Não! – Richard conseguiu passar o muro invisível e correu em minha direção.

– Não! – Gritei assustada abrindo meus olhos com dificuldade, pois eles pareciam pesar toneladas assim como minha cabeça que doía até mesmo quando eu pensava em movê-la.

– Marylin! – James segurou minha mão e arregalou os olhos.

Olhei ao meu redor e não era difícil de adivinhar que eu estava em um quarto de hospital, os aparelhos ao meu lado, ligados a todo o meu corpo, faziam barulhos irritantes. Havia flores por todos os lados me fazendo pensar quanto tempo eu estava ali.

James estava ao meu lado me analisando preocupadamente. Seu cabelo bagunçado, seus olhos inchados, sua roupa amassada, havia barba em seu rosto, e vários copos de café na mesa atrás dele que o deduravam dizendo que ele esteve aqui o tempo todo.

Coloquei minha mão sob a dele sem conseguir dizer nada.

– Graças a Deus! – Ele se levantou em uma tentativa de ficar mais perto de mim, depositando um beijo em minha testa.

– Jay... – Sussurrei ainda muito fraca.

– Não precisa falar nada, ainda deve estar muito fraca depois de tudo o que aconteceu. – Ele começou a brincar com meus dedos. – Você não sabe o quanto eu pedi a Deus para que você ficasse bem... isso é quase um milagre! – Sua voz era como estar enrolada em um cobertor macio, não poderia ser mais reconfortante.

– O que aconteceu? – Perguntei esperando que ele entendesse que aquela era uma pergunta que envolvia todos os últimos acontecimentos.

– Prendemos Robert. – Eu abri um fraco sorriso. – Ele vai para uma prisão de máxima proteção em Cuba e nunca mais voltará a nos atrapalhar. – Ele beijou minha mão. – Você foi muito valente Baby, os médicos chegaram a pensar que não sairia dessa.

– Mas eu sai. – Sorri vitoriosa, porém esse ato foi doloroso.

– Como sempre! – Ele riu baixo. – Após Robert ter atirado em você, você teve uma grave hemorragia no estomago, e como estava desnutrida as coisas se agravaram e você ficou alguns dias inconsciente.

– Quantos dias se passaram? – Perguntei confusa.

– Treze. – Arregalei os olhos assustada.

– E você... ficou aqui os treze dias?

Ele corou e eu me senti mal por tê-lo feito ficar aqui todo esse tempo.

Seus olhos pareciam ter recuperado aquele brilho que somente os olhos dele continham, seu cabelo bagunçado dava a ele um ar mais desleixado fazendo eu me lembrar dos nossos dias longe da MB. Aquele, mesmo preocupado e exausto, era o James pelo qual meu coração era aquecido.

– E para onde eu iria? – James sorriu daquele jeitinho que eu tanto gostava, me fazendo agradecer aos céus por estar aqui vendo ele novamente. – Jacob morreu. – Suas expressões mudaram para o luto.

– Minha culpa. – Sussurrei ao lembrar da cena.

– Culpa do Burn. – Ele me corrigiu.

As imagens de treze dias atrás vieram em minha cabeça como um rápido filme.

– Quem era aquela garota loira? – Perguntei com uma vaga lembrança dela.

– Filha do Robert com uma russa. – Ele respirou fundo. – Minha meia irmã, mas ela está bem e pressa, se é o que quer saber. – Ele sorriu com o canto da boca.

– Você nunca me falou dela...

– Tudo relacionado a Robert não me faz bem, entende? – Ele parecia preocupado com a maneira como eu pensava.

– Tudo bem. Você mataria sua meia irmã para me salvar? – Perguntei lembrando da cena.

– Eu só a vi duas vezes contando com aquele dia, e desde pequena meu pai a ensinava que não deveria obter laços com os familiares, o que me inclui. – Ele não respondeu minha pergunta.

– Katherine? Nick? Megan? – Eu queria saber como estava todo mundo, eu precisava saber como Katherine estava após perder Jacob, se Nick estava bem, e se Megan estava conseguindo digerir todo o acontecimento envolvendo sua família.

– Katherine veio aqui todos os dias acompanhada de Nick, eles estão bem e ambos, assim como eu, saíram da MB para começar uma vida mais... segura. – Eu sorri aliviada. – E minha mãe já estava preparada para o que iria acontecer, ela te manda flores todos os dias.

Uma vida longe da MB não seria algo tão terrível assim, afinal, não há mais nada lá que me queira continuar como a agente louca e sem treinamento nenhum.

Eu queria começar uma nova vida, do zero! Estudar, trabalhar, montar uma família, a família que eu não tive, e viver como uma pessoa normal.

– Você... foi a razão pela qual eu voltei. – Sussurrei passando a mão em seu cabelo.

– Bem, se você não voltasse... eu iria te buscar. – Sorri sentindo meu coração bater mais saudável.

– Como será a partir de agora?

– Como quer que seja? – Sua mão acariciava meu cabelo.

– Quero entrar na universidade, comprar uma nova casa para nós, arrumar um trabalho que ...

– Casar, formar nossa família. – James me interrompeu.

– Isso pode esperar um pouco, não é mesmo? – Ele riu.

– James o Nick... – Katherine entrou no quarto tagarelando. – Mary! – Ela se assustou ao me ver acordada após treze dias. – Você acordou! Jay você já chamou o médico? Está se sentindo bem Mary? Você está sentindo alguma coisa? Tontura? Dores? Fome? Você já comeu? Você parece cansada...

– Kathe! – Murmurei sorrindo. – Que bom vê-la. – Ela parou de falar ficando com as bochechas vermelhas.

– Que bom que está bem Marylin... senti muito a sua falta. – Ela cambaleou até meu lado na cama e me deu um beijo na bochecha.

Não demorou muito para que o médico entrasse no quarto e começasse a fazer perguntas similares a que Katherine fez a pouco tempo atrás. Ele me explicou um pouco melhor sobre o que tinha acontecido comigo, e pediu para eu agradecer a Deus pois eu poderia ter sequelas ou poderia ter morrido, o que é algo que eu prefiro não pensar sobre.

Mesmo em uma cama de hospital, eu nunca me senti tão bem como me sentia agora. Não digo sobre a saúde, ou nada que envolva isso, mas sim pelo fato de que eu estava bem emocionalmente, eu não tinha mais aquela culpa sobre mim nem o medo de que algo poderia acontecer a qualquer momento. Tudo isso tinha acabado e agora eu só preciso me preocupar em ser feliz.

~X~

– As vezes eu fico me perguntando como seria se eu não tivesse te conhecido. – Sussurrei sussurrou enquanto James e eu encarávamos o céu deitados no telhado da nossa nova e segura casa.

– Isso é estranho. – James comentou.

– O que? – O encarei.

– Você sabe que eu só aceitei trabalhar na MB porque eu queria ser seu protetor, não sabe? Seu pai me mostrava tantas fotos suas, me falava de como era, como você agia... ele me levou várias vezes com ele para te observar, e isso me encantava. – Ele me encarou. – Cada passo seu enquanto voltava da escola, cada noite que passava sozinha na janela de seu quarto, era um motivo a mais para eu querer estar com você. – Ele sorriu. – Eu pensava “ Ela poderia ser minha companheira, poderíamos viajar pelo mundo, comprar um cachorro juntos... segurar minha mão para uma caminhada no parque após cinquenta anos juntos, ambos de cabelos brancos”.

– Eu quero um chow chow. – Sorri dizendo a ele sobre a raça de cachorro que eu preferia. – Então estamos indo rumo ao parque de mãos dadas ambos velhinhos após cinquenta anos juntos? – Coloquei a mão em seu rosto.

– Estamos indo rumo ao para sempre.

– Eu amo você. – Encostei meu nariz no dele.

– Para sempre.