Marylin escrita por Juliana Moraes


Capítulo 20
I am not in your game




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– Alisson em nossa casa? – Comecei a rir. – Por favor James, esse assunto é sério não comece a fazer piadas...

– Marylin! – Ele me interrompeu. – Isso não é brincadeira! – Sua voz e suas expressões me deixaram assustada. – Olha... – Ele pegou rapidamente o celular, que estava jogado na poltrona onde estava sentado, e após digitar algo me entregou o aparelho.

Não! Isso não pode estar acontecendo!

Fechei meus olhos com força devolvendo o celular para James.

– Você está bem? – Ele segurou minhas mãos.

– Não, James! – Murmurei me levantando e me afastando dele. – Temos que voltar para Londres, agora! – Comecei a arrumar as poucas coisas que trouxe.

James parecia confuso em relação ao modo como eu estava agindo, mas não o julgo, ver aquelas imagens trouxe de volta a pior versão que existia de mim.

As imagens eram de Alisson deitada sob minha cama, seu corpo pálido, garganta mutilada, seus olhos já sem cor pareciam desesperados, sua boca entreaberta, ainda coberta com seu batom vermelho, parecia pedir socorro. Algo em especial me chamou a atenção fazendo com que eu me sentisse desprotegida, vulnerável, e incondicionalmente culpada. Ela estava extremamente arrumada para alguém que acabara de que ser assassinada. Seu cabelo estava arrumado em ondas perfeitas, seu batom parecia ter sido retocado, o vestido vermelho que ela vestia parecia ter sido comprado recentemente em uma loja cara, e o que mais me intrigava era que não havia nenhum rastro de sangue em seu corpo, indicando que ela foi colocada ali para que eu a encontrasse.

– Ele voltou, não é mesmo? – Perguntei para James assim que ele entrou no carro.

– Não temos certeza. – Ele me encarou preocupado.

– Eu tenho. – Murmurei desviando meu olhar do dele. Ele voltou! Aquilo não podia ser obra de Richard, muito menos de Ryan, o que me leva a pensar que quem estava me perseguindo voltou, ou na verdade nunca foi embora. O que mais me preocupava era que, seja lá quem é que está me perseguindo, sabia que eu era a culpada pela morte de Alisson, e com certeza deve saber de todos os meus planos envolvendo a Burning Flight. Eu não sei o que ele queria, eu não sei quem pode ser, aliás tudo o que eu sabia era que ninguém tinha controle sobre ele, o que me deixava com medo. – Você vai estar comigo, certo?

O tempo todo.

~X~

Algumas longas horas se passaram até que infelizmente chegamos a nossa casa.

O carro de Nick e a van mágica de Jacob estavam estacionados em frente a entrada da casa, já os outros carros da MB estavam espalhados por todo o bairro em uma tentativa de não chamar a atenção dos moradores.

Assim que desci do carro senti minhas pernas me traírem e meu estomago revirar. Eu não sabia o que iria encontrar lá dentro, porém qualquer coisa seria suficiente para me fazer mudar de casa.

– Está bem? Se quiser podemos ir para outro lugar... – James correu para o meu lado, e me segurou pela cintura me dando o suporte necessário.

Comecei a andar em direção a porta de entrada, e sem falar nada James me acompanhou.

Agentes estavam perambulando de um lado a outro da casa, Nick estava no sofá da sala mexendo no seu laptop de ultima geração, enquanto Katherine e Jacob estavam logo ao lado discutindo sobre algo.

– Mary... – Katherine cambaleou em minha direção assim que me viu. – Como você está? – Ela me abraçou carinhosamente e eu mais uma vez agradeci por ela ser minha amiga, e estar ali fazendo parte de toda essa loucura comigo.

– Estou bem. – Menti forçando um sorriso e retribuindo um abraço. – O que aconteceu? – Perguntei sem ter certeza se essa era realmente a pergunta certa ser feita.

– Não sabemos ao certo. – Jacob murmurou caminhando em nossa direção. – Estamos revendo as gravações feitas pela câmera do seu quarto, mas como a câmera pega somente metade do cômodo por causa de sua privacidade, não conseguimos ver o rosto de quem a colocou... Quem é que tenha entrado na casa, sabe muito bem onde as câmeras estão instaladas.

– E como ele entrou aqui? – James perguntou voltando a envolver minha cintura.

– Eles entraram pela cozinha. – Nick comentou.

– Eles? – Perguntei assustada.

– Chegamos a conclusão de que foram mandados para cá, eram três pessoas, uma ficou encarregada por tampar as câmeras enquanto posicionavam o corpo. Havia uma mulher entre eles. – Jacob procurava algo em seu ipad. – Isso estava escrito no pulso da Alisson. – Ele me entregou o aparelho.

Esse é o meu jogo!

O pulso de Alisson onde não continha nenhuma frase estava completamente mutilado, uma tentativa de retirar todo o seu sangue, imaginei.

– O que isso significa? – James perguntou após analisar a imagem.

– Significa que agora temos que tomar cuidado, não temos controle sobre essa pessoa e como não sabemos o que ela quer estamos perdendo. – Jacob acrescentou. – Enquanto isso vocês irão ficar hospedados no campus da MB, e quem ficará aqui serão alguns agentes disfarçados. – Ele fez uma pausa para ter certeza de que concordaríamos com o que ele tinha dito. Como se houvesse outra opção a não ser concordar. – A segurança na Burning Flight também irá aumentar, mas como não podemos entrar enviaremos seguranças altamente treinados para cercar o prédio.

– Eu ainda estou confusa. – Admiti. – Se quem está fazendo isso sabe todos os meus planos, porque não me entregou a Richard? O que querem comigo? – Perguntei encarando todos a minha volta.

– Com você não querem nada. – Jacob segurou minha mão e me guiou até a poltrona logo ao lado. – Querem algo que deve estar com você, provavelmente algo que seu pai deixou.

– A lista? – Foi tudo o que veio a minha mente. – Falta um nome na lista! – Lembrei.

– Falta um nome na lista? E por que eu só soube disso agora? – Jacob me encarou seriamente.

– Eu achei que não seria importante... – Minha voz falhou.

O celular de Jacob começou a tocar e ele se afastou de nós sem dizer nenhuma palavra.

James se agachou em minha frente e segurou minha mão, me encarando carinhosamente com aquele olhar que eu já conhecia e dizia “ Eu estou aqui, vai ficar tudo bem!”.

– James... – Megan o chamou. – Estou com o resultado da autópsia da Alisson, onde está Jacob? – Ela mostrou o envelope branco em suas mãos.

– Eu... eu posso ver? – Perguntei.

– Você entende algo disso querida? – Ela murmurou cuidadosamente.

– Você pode me explicar? – Pedi com olhos de cachorro abandonado. Ela sorriu e sentou ao meu lado. – Obrigada. – Sussurrei.

– Alisson teve a artéria jugular cortada o que foi a causa principal da morte. Em todo o corpo dela havia hematomas que indicavam que ela lutou para continuar viva... e os cortes em seus pulsos foram feito pós morte. – Uma pausa dramática talvez para que eu pudesse raciocinar tudo aquilo. – Havia marcas de seringa em suas veias, mas todo o sangue dela foi drenado.

– Ótimo, estamos lidando com um vampiro. – Blefei abaixando a cabeça.

Jacob voltou a sala e tirou Megan de lá, que aparentemente ficou preocupada com o modo como estava agindo.

Nada fazia a culpa que eu estava sentindo desaparecer. Eu não deveria me sentir assim, tão confusa, tão atingida com a morte de Alisson, afinal ela fez parte do assassinato de minha mãe, ela estava lá quando tentaram matar o meu pai, ela fez parte de um grupo terrorista pronto para atacar novamente... eu deveria estar saltitando e comemorando “ Menos um!” ,não é mesmo? Não. Não era para ser assim. A morte dela, e de mais ninguém, estava incluído no plano de vingança. Tudo o que eu queria era vê-la infeliz, atrás das grades, e não morta!

Eu não cheguei a pensar no quão terrível Richard poderia ser, e agora isso é um caminho sem volta.

– James, por favor... me tira daqui. – Pedi sentindo meus olhos arderem.

~X~

– Tem certeza que vai continuar naquela empresa? – James murmurou enquanto eu me arrumava para o trabalho.

– Sim... eu não posso simplesmente desaparecer de lá Jay. – Estávamos hospedados em um dos chalés da MB, o que me deixava mais tranquila e com a sensação de que estava mais segura. – Esse lugar está uma bagunça. – Procurava um blazer em uma das bolsas com minhas roupas, não que eu tivesse muita. – Aliás, Katherine estará lá...

– Nick ficará do lado de fora hoje, tenho que ajudar Jacob com algumas coisas, mas irei te buscar. Tudo bem? – Ele ainda estava deitado desleixadamente na cama bagunçada.

– O que irão falar para a família dela? – Essa duvida estava em minha cabeça desde o tal acontecimento.

– Ela não tem família. – James respirou fundo finalmente levantando.

– Ah! – Preferi ignorar a resposta para não ficar pensando nela enquanto dirijo até trabalho. – Tenho que ir. – Caminhei em sua direção parando em sua frente, e depositei um suave beijo em seu nariz, tendo que ficar na ponta dos pés para tal ato.

– Tome cuidado e se não for incomodo, me mande mensagens. – Ele beijou minha testa e me abraçou.

Mesmo sem vontade para voltar a Burning Flight, reabasteci minhas forças no abraço de James e fui confiante até meu trabalho. Como o campus era um pouco afastado, entende-se escondido, de Londres, tive que sair mais cedo do que eu costuma para ir ao trabalho. As ruas estavam calmas, o céu estava nublado, e tudo o que se notava era que as poucas pessoas que estavam na rua para ir ao trabalho, ou ao colégio, já estavam se preparando para as manhãs geladas de outono. E enquanto elas preparavam os casacos, eu tentava achar um jeito de preparar meu bom humor para aturar Richard e todos daquela empresa.

Eu já não sabia se queria continuar com aquela história de vingança, mesmo os odiando com todas as forças existentes no meu pálido corpo, mas agora não era querer ou não, era uma obrigação. Eu não posso deixar alguém tão terrível como Richard preparar outro atentado, não posso deixar que mais ninguém relacionado aquela empresa, ou a mim, perca a vida.

Não posso negar que já cheguei a pensar inúmeras vezes em uma forma rápida e prática de acabar com todos daquele lugar. Digamos que uma bomba poderia resolver todos os meus problemas em uma explosão só, ou quase todos.

~X~

Planilhas, orçamentos, telefonemas, cópias de documentos, e-mails, mais telefonemas, reclamações, mensagens, e mais planilhas. Esse trabalho estava realmente ficando pesado!

– Kate. – Katherine me chamou rindo pois durante todo dia ela esqueceu desse pequeno detalhe e acabou me chamando de Mary várias vezes, e com sorte ninguém ouviu. – Já são seis horas, você vai embora agora? –

– James ainda não chegou. – A encarei com uma cara triste. – O que achou do seu primeiro dia Marie? – Voltei a digitar assim que Richard entrou na recepção.

– Na verdade, eu gostei muito Kate. – Ela sorriu organizando alguns papeis.

– Fico feliz em saber disso. – Richard parou em frente a minha mesa, direcionando a palavra para Katherine que agiu com entusiasmo. – Alguns homens irão dedetizar o andar, se não se importam de se retirarem o mais breve possível... Kate, amanhã você me entrega as planilhas que lhe enviei, não se preocupe em fazer isso agora. – Ele estava dócil, o que me fazia desconfiar ainda mais.

– Tudo bem. – Concordei salvando o que tinha feito, e desligando o computador.

Arrumei minhas coisas, e junto de Katherine desci até a entrada da empresa para esperar por James.

– Mary! – Nick murmurou sorrindo assim que me viu. – Como está? – Ele perguntou após abraçar e beijar Katherine.

– Estou bem. – Sorri vendo os dois tão lindo juntos. – James me mandou uma mensagem dizendo que está a caminho, sei que está cansado Nick então isso é uma deixa para vocês irem se amar longe de mim.

– Não se importa de esperar sozinha? – Katherine perguntou demonstrando cansaço. Neguei com a cabeça. – Te vejo amanhã? – Ela me abraçou e cambaleou em direção ao carro de Nick.

Fiquei ali no mesmo lugar esperando meu príncipe encantado aparecer para me levar para casa, mas os minutos resolveram brincar comigo e demoravam a passar. Já não havia ninguém por perto, a rua parecia deserta, e o céu já começara a escurecer.

Senti uma mão me agarrar pela cintura me apertando contra seu corpo, a outra mão agarrou meu cabelo, tirando-o de meu pescoço e depositando ali um beijo.

– James! – murmurei esperando uma resposta. Tentei me virar para encara-lo e sem sucesso notei que algo ali estava errado. Não era o cheiro de James.

– Desculpa decepciona-la mas eu não sou o James. – Uma voz murmurou me apertando ainda mais em seus braços.

– Richard! Me solta! – Comecei a me mexer em uma tentativa em vão de me soltar. – Richard! Por favor me solta! – Eu gritei desesperada.

– Não tem ninguém aqui para ouvir você Kate. – Ele riu maliciosamente.

– Me solta! – Gritei mas ele tampou minha boca.

– Não precisa se fazer de difícil Kate, eu já percebi pelo seu olhar que você me quer. – Mordi a mão dele e sai correndo. – Desgraça! Você não vai a lugar nenhum. – Ele me agarrou novamente em questão de segundos. Suas mão apertavam com força os meus braços, fazendo com que eles ardessem e eu gritasse. – O que você quer Kate? – Ele gritou, seus olhos cheios de ira.

– Eu quero que você me solte! – Gritei sentindo minha garganta arder.

– Isso não será possível. Você é minha secretaria e tem que fazer tudo o que eu peço. – Ele me encarou ferozmente apertando ainda mais meus braços.

– Não sei se percebeu mas o expediente já acabou! – Murmurei em um tom mais alto do que ele. – Não me confunda com a Alisson! – Blefei me arrependendo imediatamente do que acabara dizer.

– Cala a boca! – Ele me jogou contra a parede.

Senti minha costa arder com o impacto e sem ter no que me apoiar cai no chão. Ele se aproximava cuidadosamente sabendo que eu não tinha como sair dali.

– Richard... por favor. – Pedi deixando as lagrimas escorrerem pelo meu rosto.

Eu estava com medo do que ele poderia fazer. Eu não queria acabar como a Alisson.

– Pobre Kate. – Ele riu me puxando brutalmente pelo braço me fazendo ficar de pé. – Sinto muito. – Ele me prensou contra a parede e tentou me beijar.

– Não! Me solta! – Eu gritei no tom mais alto que minha garganta conseguia atingir.

Fechei os olhos com força enquanto gritava desesperadamente.

– Ah! – Ouvi o gemido de Richard após um estrondo perto de meus ouvidos.

Richard caiu sobre mim. Eu o empurrei para o lado e o encarei assustada, ele estava desmaiado e com grandes chances de acordar a qualquer momento.

– De nada. – Uma voz grossa murmurou logo atrás de mim.

Eu olhei para trás e me assustei ainda mais assim que vi alguém inteiro de preto caminhando rápido para longe de mim.

– Ei! Quem é você? – Gritei tentando ir atrás dele.

– Não chegue perto de mim! – Ele gritou me fazendo parar imediatamente. – Esse é o meu jogo Marylin! Eu não vou deixar esse idiota estragar o meu jogo! – Sua voz era extremamente assustadora, como se fosse gravada e alterada com ajuda de especialistas em vozes para filme de terror. – Você é meu jogo! – Ele continuou andando.


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Notas finais do capítulo

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xx- JJ