Nick e Kath chegaram após exatamente uma hora. Eu não tinha notado o quão bonitos eles ficavam juntos. Ele usava um conjunto da Nike enquanto ela estava extremamente arrumada como uma Barbie ruiva.

Eu conversava com Nick e Katherine enquanto James estava em um escritório, do qual a existência eu não sabia até hoje, procurando algo.

– Pronto! Está tudo aqui. – James sentou ao meu lado colocando uma pilha de papel em cima da mesa de centro. – Por onde quer começar Mary? – Ele perguntou me mostrando que aquilo eram fichas sobre o caso, e sobre as pessoas cujo os nomes estavam na lista.

– Podemos acabar primeiro com o Richard, se ele cai todos caem também. – Nick murmurou abrindo uma das pastas com a ficha completa do dono da empresa.

– Não. – Murmurei. – Ele vai ser o último. – Sorri malignamente.

– Porque? – Kath perguntou me encarando com seus incríveis olhos castanhos transbordando curiosidade.

– Eu quero que Richard veja, de camarote, seu reino pegar fogo. – James me encarou sorrindo, eu o encarei de volta sem entender.

– Ela aprendeu comigo. – Ele murmurou, fazendo todos rirem.

Peguei as pastas em cima da mesa, percebendo que todos da lista estavam ali, em todas as fichas haviam anotações com a letra do meu pai, e em uma folha alheia seus planos de como finalizar o caso.

– Ele pensou do mesmo modo que eu. – Segurei firmemente o papel em minha mão, prendendo a atenção de todos avisando que começaria a ler o que estava escrito na folha. – “ Richard não é somente o principal dono da empresa Burning Flight, ele é o rei daquele castelo e o ponto de equilíbrio, se ele cair todos caem. Porém, sua insegurança é seu maior defeito. Richard pode parecer o homem mais corajoso em sua frente, mas quando vê que algo lhe ameaça, automaticamente vira um bebê a procura de um esconderijo em baixo da saia de sua mãe.” – Sorri ao ler as palavras sabias de meu pai. – “ Ele não vai a lugar nenhum sem seu capacho, Michael Toby, o filho da mãe que atirou em Khloe. Michael era professor de karatê, ele tem passagem pela polícia após algumas brigas envolvendo tráfico de drogas no bairro onde morava. Richard é casado, sua mulher não tem nada a ver com essa história, e eu muito desconfio que nem saiba dos planos de seu marido pois pouco o vê, e enquanto ela trabalha Richard mantém um caso de anos com sua secretária executiva, Alisson Colins. “ – Nick e Kath me encaravam atentos fazendo algumas anotações em agendas avulsas, James procurava algo em seu laptop e eu tentava me concentrar nas palavras escritas ali, era muita informação da qual eu tinha certeza de que irei precisar. – “ Alisson Colins, uma bela mulher, nunca a vi sem seu batom vermelho extremamente chamativo. Ela não tem família então faz de Richard seu alicerce, tudo o que ele pede ela faz. O computador que ela utiliza na empresa contém informações preciosas sobre a Burning Flight, além de sua conta bancária cheia por desviar dinheiro de Richard. Ele ficará furioso quando descobrir isso! “– Inúmeros planos começaram a se formar em minha cabeça, e eu sabia exatamente por onde começar. – “ Edward Greg é o economista mais chato que eu conheci! Ele está sempre fazendo piadas estúpidas e sem graça nenhuma. Edward é responsável pela bolsa de valores, ou seja, ele apenas fica sentado em frente a uma tela de computador, comendo para manter sua grande barriga gorda, e investindo em bolsas que ele tem certeza que dará lucro e que irá fazer outras empresas falirem. Seu ponto fraco são as mulheres, ele largaria tudo por alguém. “– Pausei para fazer anotações rápidas em uma agenda, assim como Kath estava fazendo desde que comecei a ler. – “ Ashton Derik, sócio de Richard, é casado com a bancária da empresa, Zoe Lauren. Desconfio que ela só esteja com ele pelo dinheiro, pois Ashton tem idade para ser o pai dela. Ele anda com uma bengala de prata, e não tem muita paciência, qualquer coisa e ele sai do sério. Burning Flight é comandada por alguém de Israel. Não sei o nome, não sei quem é, somente Richard pode ter contato com ele e qualquer um que o descubra acabará morto. Todo cuidado é necessário. “– Terminei de ler encarando todos. – Eu sei por onde podemos começar. – Murmurei confiante.

– A sorte está do nosso lado! – James gritou me interrompendo. – Estão contratando assistente na Burning Flight, a entrevista está marcada para amanha. – Ele sorriu para mim daquele jeito que eu tanto gosto. – Você e Katherine podem tentar essa vaga, já temos identidades falsas e currículos prontos. – Ele me deixou animada com a ideia. – Será fácil!

– Esse é meu James! – Nick gritou animado.

– Identidades falsa? Currículos? – Perguntei curiosa para saber como ele continha tudo isso.

– Agentes de uma Máfia devem sempre estar preparados, baby. – James piscou para mim me fazendo corar.

– E como faremos? – Katherine pegou a folha de minha mão, anotando algumas coisas que estavam nela em seu caderno.

– Segundo a carta, Alisson tem um caso com Richard e desvia dinheiro da empresa, se flagrarmos eles juntos e conseguirmos acesso ao computador dela, tudo ficará mais fácil. – Murmurei percebendo as primeiras barreiras aparecerem.

– Não entendi. – Nick me olhou confuso. Ri baixo de suas expressões.

– Simples, enviamos as fotos de Alisson e Richard junto para a esposa dele que provavelmente acabará com o casamento, assim eu espero, e mandamos copias dos documentos que provam o desvio do dinheiro para Richard, que se vingará da garota por conta própria. – Um enorme sorrido surgiu em meu rosto, eu estava gostando disso. – Assim não precisaremos fazer nada com ela, porque ele fará isso por nós.

– Isso pode dar certo. – Katherine sorriu para mim animada.

A campainha tocou.

Meu cérebro tentou adivinhar quem poderia ser, chegando a conclusão de que seria alguém da Máfia, um vendedor, alguém perdido, ou uma visita para James, já que ele é o único dessa casa que provavelmente receberia visitas.

Me levantei para atender a porta, mas James correu em minha frente e com sua postura de protetor abriu-a.

– Olá! – Uma voz masculina ecoou em meu ouvido. James sorriu educadamente, demonstrando que não havia perigo nenhum. – É aqui que mora a Senhorita Benson? – Ouvi meu nome e caminhei até a porta.

 Meu coração se despedaçou quando que vi quem estava ali. O marido de Cinthia, cujo o nome eu não sei, e sua filha, Tifanny, sorriram para mim assim que apareci na porta.

– Oi Mary. – A pequena garota sorriu com as bochechas coradas. Sua voz era doce e inocente, o que me traria uma paz enorme se não fosse pelo meu sentimento de culpa. – Eu queria falar com você.

– Desculpe Marylin, ela insistiu muito para que viéssemos. – O rapaz murmurou sem graça.

– Tudo bem, eu estava com saudade dela. – Olhei para a garotinha de onze anos em minha frente. – Entrem. – James e eu demos um passo para trás, permitindo que eles entrassem. – Quer ir até o meu quarto Tifanny? – Perguntei arrependida das minhas palavras.

– Sim. – Ela segurou minha mão. – Pai, eu não demoro. – Ela sorriu para ele e começou a acompanhar meus passos.

 Minha mente se contorcia tentando descobrir o porquê dessa visita inesperada. Meu coração pulsava descontrolado com medo do que aquela garota inocente tem a me falar. Eu não sei o que disseram a ela sobre sua mãe, eu não sei qual história foi contada, e não sei o que dizer se ela me perguntar algo sobre esse assunto.

Contaram a ela que a culpa é minha? Contaram a ela que o assassino de sua mãe está morto?

 Entramos no quarto de James, que parecia ter sido engolido pelo terrível monstro da bagunça. Eu não podia leva-la ao meu quarto por razões obvias.

– Esse é o seu quarto? – Ela perguntou olhando ao seu redor confusa.

– Não, esse é o do meu amigo, o meu está em reforma. – Tentei sorrir. – O que quer falar comigo Tif? – Joguei os edredons, que estavam em cima da cama, no chão e fiz um sinal para que ela sentasse ao meu lado.

– Você soube o que aconteceu com minha mãe Mary? – Ela me encarou com seus pequenos olhos castanhos, me deixando tremula. – Ela estava vindo te ver quando um homem mal assaltou ela. – Sua voz doce agora era baixa e falha, como o sopro de um vento nas noites frias de Londres.

– Eu sinto muito querida. – Segurei sua mão quente. – Eu queria ter ido para Oxford assim que soube, mas eu não consegui sair do trabalho. – Menti.

– Eu sei Marylin. – Ela sorriu fracamente para mim, seus olhos estavam sem brilho, e eu sabia o que ela estava sentindo naquele momento. A dor da perda. – Eu quis vir aqui porque eu sei que você já passou por isso antes, não é mesmo? – Concordei com a cabeça sem achar as palavras certas para serem ditas. – Vai passar? Toda essa dor que eu sinto vai embora um dia Mary? – Seus olhos se encheram de lágrimas, que logo foram enxugadas pela manga da blusa rosa que ela vestia.

– Eu não vou mentir pra você e dizer que tudo isso vai passar. – Tentei não chorar. – Mas vai doer menos, a cada dia que passar vai doer menos. – Ela desviou os olhos dos meus, encarando o chão. – Eu ainda sinto muita falta da minha mãe, mas agora toda a dor que eu sentia virou saudade. – Passei a mão em seu cabelo negro deixando ali delicadas caricias. – Cinthia te amou todos os dias, todos os segundos, você é e sempre será a coisa mais preciosa para ela e para seu pai, e você também me tem como amiga, você sabe que eu gosto muito de você, não sabe? – Ela afirmou com a cabeça, voltando a me encarar. – Sua mãe agora é o seu anjo, e ela vai estar com você o tempo todo te protegendo. Ela quer te ver feliz, ela quer ver esse sorriso lindo no seu rosto. – Sorri apertando as bochechas dela.

– Ela gostava muito de você também Mary. – Ela me abraçou colocando suas mãos pequenas ao redor de meu pescoço.

 Eu vi Tiffany crescer. Quando cheguei na casa de Janie, Cinthia estava esperando ansiosamente por sua linda filha. Eu a visitei na maternidade, eu ajudei-a a lhe dar banho, eu brincava com essa pequena menina enquanto Cinthia fazia os serviços domésticos. Ela era especial para mim, por mais que eu não tenha demonstrado nem citado ela antes. E agora ela sente o mesmo que eu. Ela esta sentindo a dor que eu senti quando perdi meus pais, ela esta sentindo a dor que eu ainda sinto. Mas saber que ela só está passando por isso porque a culpa é minha, me faz sentir a pessoa mais cruel do mundo, como se fosse eu quem tivesse esfaqueadoCinthia.

Ver o rosto de Tiffany, me fez voltar ao dia em que senti toda essa dor. Eu era pequena e não entendia direito o que tinha acontecido, eu só fui perceber o que aconteceu quando o tempo passou e meus pais não apareciam em Oxford para me buscar na casa da tia Janie.

A dor da perda não é algo fácil de ser explicado, pois junto com essa dor vem toda a nostalgia e as reflexões de como será daquele dia em diante, porque a parte mais difícil de tudo isso é descobrir quem você era, quem você é, e quem você será sem ter essa pessoa na sua vida.

Metade de mim é a dor da perda, a outra metade é divida entre a culpa, o desejo de vingança, e a fé de que um dia ainda terei uma vida normal.

Se é que isso será possível.

                                                             ~X~

Eu terminava de me arrumar quando Katherine invadiu o meu banheiro me assustando. Em poucos minutos iremos fazer a entrevista para a vaga de assistente das empresas aéreas Burning Flight.

Katherine usava calça social preta, camisa lilás, e sapatos de salto da mesma cor da calça. Eu estava com uma saia tubo grafite, camisa preta, e blazer no mesmo tom da saia, roupas adequadas para uma entrevista de trabalho.

– Vamos repassar mais uma vez. – Katherine sentou na pia com um papel em suas mãos. – Você se chama Kate Hudson, tem vinte e dois anos, nasceu em Bristol e fez faculdade de economia e administração na Cambridge. – Sorri para ela dando a total certeza que eu já tinha decorado minha identidade falsa. – Eu me chamo Marie Boyel, tenho vinte e cinco anos, e fiz administração e relações públicas em Oxford.

– Trabalhar para as empresas aéreas Burning Flight é o meu maior sonho. – Murmuramos juntas, caindo na gargalhada em seguida.

Dei mais uma olhada no espelho, respirei fundo, e comecei a caminhar para fora da casa chegando no carro de Katherine, estacionado logo em frente.

Ela dirigia em direção a Burning Flight cantarolando a música que tocava na Radio, enquanto eu tentava controlar meu nervosismo, e torcia em pensamento para que Katherine conseguisse a vaga, pois tenho medo de que se eu a conseguir acabe colocando fogo naquele lugar.

A Barbie ruiva ao meu lado não parecia estar nervosa, nem se quer demonstrava um pouco de receio por estar fazendo parte disso.

– Porque concordou com tudo isso? – Perguntei curiosa para saber o porque de Katherine ter aceito vingar a morte de meus pais.

– A entrevista? – Ela me olhou sorrindo.

– Tudo! – Enfatizei.

– Marylin, lembra quando eu disse que poderia contar comigo para tudo, e que eu seria sua amiga? – Ela parou no sinal vermelho. – Essa é minha forma de mostrar a você que vou estar ao seu lado, para tudo. – Seu sorriso perfeito iluminou meu mundo me fazendo sorrir, e me sentir segura de que tudo dará certo.

 Em poucos minutos chegamos em nosso destino. Kath estacionou o carro em frente a empresa com um grande letreiro laranja escrito “ Burning Flight ltda “.

Eu me lembro perfeitamente da última vez que estive aqui a dois anos atrás, tudo parecia estar exatamente do mesmo jeito.

Entramos em elevadores separados, pois era obvio que tínhamos que fingir que não nos conhecíamos. O elevador parou no quarto andar, abrindo as portas para que alguém pudesse entrar, e assim que feito, meus olhos não podiam acreditar em quem estava entrando naquele elevador.

– Boa tarde. – Richard murmurou cambaleando ao meu lado.

– Boa tarde. – Murmurei secamente.

– Veio para a entrevista de emprego? – Ele perguntou enquanto o elevador subia até aparentemente o nosso destino, o décimo andar.

– Sim. – Esbocei um fraco sorriso tentando disfarçar toda a vontade que tinha de mata-lo.

– Eu te conheço de algum lugar? – Ele me olhou dos pés da cabeça.

– Não, desculpa. – Engoli a seco, sentindo o medo de ser descoberta invadir cada centímetro de meu corpo.

Mais alguns segundos se passaram e Richard ainda me encarava me deixando sem graça. A porta do elevador se abriu e eu sai de lá imediatamente.

Alisson estava sentada em sua mesa digitando algumas coisas em seu computador, enquanto Katherine se apoiava no balcão murmurando algo para a garota do batom vermelho.

O ambiente era bem arejado, paredes brancas, piso de madeira, janelas grandes de vidro de onde era possível ter uma bela visão da cidade, poltronas pretas ao redor de um tapete peludo branco, e algumas plantas compridas e belas  em cada canto do cômodo. Era um lugar bonito, e um ambiente de trabalho aparentemente muito agradável.

Caminhei até elas fingindo não conhecer Katherine.

– É aqui que aguardo para fazer a entrevista? – Encarei Alisson furiosamente, prestando muita atenção no tom de minha voz pois mesmo estando com ódio de todos que trabalhavam nesse lugar, eu tinha que manter a calma para não ser descoberta.

– Sim. Preencha essa ficha e aguarde um momento. – Ela esboçou um lindo sorriso no rosto, e se eu não soubesse o que havia por trás dele, até a julgaria como uma pessoa agradável.

Coloquei os meus dados falsos na ficha e esperei me chamarem.

Kath estava em minha frente e me encarou seria, pedindo em meio a gestos para eu me controlar e ficar calma.

                                     “ Estou aqui em baixo te esperando.

                                                Vai dar tudo certo! “

                                                 –– James Lannes

Eu sabia que James estava me esperando em seu volvo preto blindado, mas mesmo assim não me sentia protegida , na verdade, nunca me senti tão vulnerável a tudo como estou me sentindo agora.

– Kate Hudson. – Alisson chamou pelo meu nome falso.

Me levantei e a segui pelo corredor de mármore branco.

– Boa sorte. – Ela parou em frente a uma enorme porta de madeira vernizada, abrindo-a, e dando um passo para trás para que eu entrasse.

Respirei fundo antes de dar alguns passos e entrar na sala de Richard, que me entrevistaria para a vaga de assistente.

 – Ora ora. – Richard murmurou sorridente. – Kate Hudson, sente-se. – Fiz o que ele pediu. Seus imensos olhos castanhos fitavam meu currículo, sua pele negra brilhava com a luz forte de sua sala, e seus dedos giravam uma caneta sem parar. – É um belo currículo para alguém com vinte e dois anos. – Ele me encarou ainda sorrindo. – Porque gostaria de trabalhar para a Burning Flight?

Para acabar com você, desgraçado! Minha mente gritou.

– Seria um ótimo lugar para começar minha carreira. – Sorri friamente.

Eu estava odiando estar ali fingindo interesse na vaga de emprego, tudo o que eu queria era poder cuspir tudo o que estava entalado em minha garganta, eu queria faze-lo sentir toda a dor que eu senti, e ainda sinto, pela morte de meus pais, mortes da qual ele é culpado.

– O que procura em um ambiente de trabalho? – Seu olhar era ameaçador, como se soubesse que eu estava ali para esmaga-lo, e o fato de que ele não estava fazendo as devidas anotações me deixou perturbada.

– Em um ambiente de trabalho? – Respirei fundo pensando nas palavras certas. –Honestidade e sinceridade. – Não essas não eram as palavras certas, porém eram palavras que eu sabia que o afetaria.

– Belas palavras. – Ele desviou o olhar focando agora em fazer anotações. – Eu procuro uma assistente para atender todas as minhas necessidades de trabalho. – Ele suspirou fundo lendo novamente meu currículo falso. – Está realmente disposta a essa vaga Senhorita Hudson? – Ele apoiou os cotovelos na mesa me encarando sem expressões.

– Eu, realmente, quero essa vaga Senhor Jeremy. – Sorri o encarando.

– Tudo bem. – Ele abriu um imenso sorriso e anotou mais algumas coisas. – Irei analisar novamente seu currículo, em breve te informarei sobre minha decisão. – Ele se levantou para me cumprimentar e eu fiz o mesmo impaciente por ainda estar naquela sala.

Sai da sala caminhando rapidamente de volta ao hall de entrada, meu salto batia contra o chão fazendo barulhos que avisavam que eu estava a caminho.

Alisson se levantou assim que passei por sua mesa.

– Tudo certo Kate? – Ela sorriu. Seu tom de voz era doce, e eu diria que até inocente.

– Sim, obrigada. – Sorri para ela, e esperei o elevador chegar no andar.

– Marie Boyel, vamos? – Ouvi Alisson chamar Katherine, que me encarou sorrindo enquanto se levantava e seguia a garota do batom vermelho.

                                                              ~X~

É uma linda tarde de terça-feira, o sol brilhava fraco aquecendo minha pele pálida, e os ventos gelados faziam meu cabelo voar. Eu estava sentada na toalha quadriculada, perfeita para um pique nique, estendida na grama verde do Hyde Park, James estava ao meu lado deitado, seus olhos fechados, sua boca em linha reta, e seu braço na testa tentando fazer com que o sol não batesse em seu rosto.

– Isso está me matando! – Murmurei colocando as mãos em meu rosto.

Esperar uma ligação da Burning Flight, ou de Katherine, dizendo que a vaga era de uma de nós estava me deixando desesperada. Não, eu não queria trabalhar naquele ambiente, com aquelas pessoas, nem queria aquela vaga, mas eu queria vingança e para isso teria que seguir o combinado.

– Calma Marylin, com o currículo que fizemos é impossível nenhuma de vocês conseguir a vaga. – Ele se sentou em um impulso e me encarou sereno. – Porque eu acho que quer que Katherine consiga a vaga? – Ele perguntou lendo meus pensamentos.

– Porque eu quero! – Choraminguei. – Eu tenho medo de conseguir a vaga e não aguentar ficar sem fazer nada, não poder falar o que está entalado em minha garganta. – Era evidente o desespero em minha voz.

– Você está fazendo algo Mary! – Sua mão tocou a minha me obrigando a encara-lo. – Estamos todos fazendo algo, por favor, fique calma. – Ele riu baixo.

– Do que está rindo James? – Desviei meus olhos dos dele, encarando as famílias que passavam sorrindo ao meu redor.

– Você é igual o seu pai. – Ele chamou minha Atenção. – Ele odiava esperar as coisas acontecerem, ele gostava de faze-las acontecer. – Sorri fraco. Eu gostava de ser comparada aos meus pais. – Nunca te falei isso antes, mas eu te admiro e muito garota. – Suas mãos tocaram meu rosto, envolvendo-o.

– O que tem em mim para ser admirado? Eu sou um baú de coisas ruins James. – Murmurei baixo sentindo meu coração acelerar, e minhas bochechas corarem.

– Não Mary. – Ele negou com a cabeça. – Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço! Um baú de coisas ruins? Não! – Ele riu achando tudo aquilo um absurdo. – Você não é isso, você é um baú de esperança...

– Esperanças? – Perguntei, o interrompendo.

– Cada vez que olho pra você vejo que está lutando contra todas as lembranças, está lutando com todas as coisas ruins, porque você tem esperança de dias melhores. – Ele juntou nossas testas. – E não me diga que isso é mentira, pois eu sei que não é.

Esperança de dias melhores. James realmente me conhecia. Eu acordo todos os dias lutando contra os fantasmas que querem que eu me renda as lembranças do passado, eu luto o tempo todo com o meu medo, com minhas fraquezas, eu luto todos os dias pelo happy end. Talvez eu não seja um baú de coisas ruins, talvez eu seja um baú de esperanças onde as coisas ruins são apenas coisas que guardo nele pois sei que com o tempo, essas coisas irão se decompor e desaparecer, deixando espaço para a minha felicidade.

Meu celular tocou.

– Quem é? – James perguntou afastando nossas faces.

– Anônimo.