Marylin escrita por Juliana Moraes


Capítulo 11
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Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora, tenho estudado muito esses dias =( Mas em fim capítulo postado! Boa leitura e Enjoy it!



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– James, ai meu Deus! Você está bem? – Me ajoelhei ao lado de James, que estava com a mão sob sua barriga ensanguentada. – James, fala comigo! – Eu gritava desesperadamente.

– Nick leve Marylin para casa. Levarei James ao hospital da MB. – Jacob murmurou para Nick que estava logo atrás de mim.

– Eu vou com James! – Olhei para Jacob que me encarou de volta. – Não Jacob, eu vou com ele. – Murmurei adivinhando quais seriam as palavras de Jacob.

Olhei para James em minha frente, seus olhos piscavam a cada tentativa de dizer algo, sua voz saia como um assoprar dos ventos, baixo, suave, sua mão procurou a minha e assim que a encontrou, ele apertou-a forte.

– Desculpa James, tudo isso é minha culpa. – Choraminguei. – Me desculpa...

– Mary... não se culpe. – Ele sussurrou com dificuldade.

Uma van branca parou perto de nós, dois rapazes uniformizados adequadamente desceram e caminharam na direção de James segurando uma maca. Eles pediram para eu me afastar, Nick me abraçou segurando meu rosto contra seu peito. Jacob entrou na van-ambulância com os enfermeiros, que logo deram partida.

Entrei novamente no carro, dessa vez no banco de carona enquanto Nick dirigia em direção ao campus da Máfia.  

Meu coração estava esmagado, minha mente se contorcia de preocupação com James, haviam vozes dentro de mim que gritavam dizendo que eu era a culpada de tudo isso, meu corpo pesava como chumbo, e meus olhos estavam cansados de ver o mundo caindo por todos os lugares que eu passo.

 Se eu tivesse dito não a toda essa loucura de Máfia Britânica, se eu tivesse dito não a ter um protetor, se eu tivesse escolhido viver a vida sem pensar na vingança, nada disso estaria acontecendo. Se eu tivesse escolhido as coisas ao contrarias do que eu escolhi, eu poderia estar morta, poderia estar presa em algum lugar, poderia saber quem está me perseguindo e o porque, Cinthia estaria viva ao lado de sua família adorável,  e James estaria sem nenhuma sequela, eu não machucaria ninguém.

– É tudo minha culpa, não é mesmo? – Sussurrei para Nick, enquanto olhava a estrada passar rapidamente diante de meus olhos. – Se eu não tivesse aceito toda essa loucura, nada teria acontecido. – Suspirei dolorosamente.

– Não se culpe Senhorita Benson. – Sua voz era firme e despreocupada. – Você fez a escolha certa, se analisarmos bem o seu caso, há muitas pessoas envolvidas e você precisa de proteção. – Ele abriu um sorriso fraco e me encarou rapidamente. – James vai ficar bem.  Aquele cara é forte!

Se algo acontecer com James eu não me perdoarei jamais.

Ainda existiam inúmeras perguntas sem respostas em minha mente, e uma delas envolvia Ryan e seu amor por mim, um amor que eu não sei de onde surgiu, nem como começou. Na verdade haviam muitas perguntas sobre ele em minha mente que agora não obterão respostas. Mas não era com isso que estava preocupada no momento, eu queria saber de James, eu queria estar ao lado dele, eu queria entrar no campus da Máfia e vê-lo lá, de pé com aquele sorriso que eu tanto gosto no rosto, de braços abertos esperando um abraço meu. Porém assim que coloquei meus pés para fora do carro e caminhei rapidamente até o pequeno hospital dentro do enorme campus, tudo o que vi foi Jacob sentado ao lado de uma mulher loira e muito bonita. Eles pareciam ansiosos, e muito preocupados.

– Jacob! – Cambaleei até ele, que me encarou sem muita animação. – O que aconteceu com ele? Ele está bem, não está?

– Ele vai ficar bem Senhorita Benson.  – Ele se levantou ficando em minha frente, suas mãos seguraram meu ombro apertando-os delicadamente, como se quisesse me confortar. – A bala não acertou nenhum órgão graças ao colete que ele usava, porém ele está na sala de cirurgia fazendo alguns pontos.

– Marylin? – A mulher loira se levantou ficando em minha frente. – Eu sou Megan, a mãe de James. – Ela estendeu a mão para que eu cumprimentasse-a, e assim eu fiz. – James chamou por você assim que chegou.

– Ele chamou por mim? – Fiquei surpresa, pois em minha mente ele me culparia pelo tal acontecimento. 

– Sim querida. – Megan sorriu fracamente. – Você está tremendo! Está tudo bem? – Seus olhos passaram por toda extensão do meu corpo, que lutava para ficar em pé.

– Um pouco preocupada apenas. – Tentei sorrir mas foi em vão, já que meu sorriso se tornou um suspiro cheio de dor.

– Acho melhor você comer algo. Tem algumas coisas gostosas na cafeteria do campus, quer que eu te leve até lá? – Sua voz era doce e preocupada, e em seu rosto haviam expressões que eu não sabia que podiam estar juntas.

– Eu a levo! – Uma voz feminina e familiar ecoou pela pequena sala. – Oi Marylin. – Katherine me abraçou sorridente. – Eu cuido dela! – Ela murmurou para Megan, me puxando logo em seguida para fora dali.

                                                               ~X~

Katherine pegava nossos cappuccinos no balcão da cafeteria, enquanto eu olhava desanimada o sanduiche em minha frente. Meu pensamentos me transportavam para longe, para um futuro que eu espero que não demore tanto para chegar, um futuro onde tudo ficará bem, sem ouvir tiros, sem ver sangue, sem ver pessoas que eu amo caírem sem pulsação no chão, um futuro onde eu possa viver sem medo do que acontecerá no dia seguinte. Mas será possível esse futuro chegar para mim?

– Prontinho! – Katherine colocou a xicara em minha frente e sentou-se sorridente. – Não comeu nada Mary? – Seu tom de voz me fez lembrar as broncas que minha mãe me dava, quando eu não guardava meus brinquedos.

– Estou sem fome Katherine. – Encarei-a sem expressões.

– Pode me chamar de Kath, e você vai comer pelo menos um pouco. – Ela segurou minha mão. – James não iria gostar de te ver assim. – Seu sussurro invadiu meu cérebro e atingiu meu ponto fraco.

Levei o sanduiche até minha boca, mordendo-o, enquanto Kath me encarava sorridente e vitoriosa.

– Você se importa muito com James, não é mesmo Mary? – Seu tom de voz era amigável, e me transmitiu a confiança que eu estava precisando nesse exato momento.

– Eu só tenho ele agora. – Sussurrei encarando meu cappuccino.

– Eu sei como se sente. – Ela me olhou carinhosamente bebendo seu café.

– Sabe? – Perguntei em tom de ironia, já que saber como eu me sinto era meio impossível no momento, nem eu mesma sabia o que eu estava sentindo.

– Sim, eu sei. – Ela segurou minha mão sorrindo sem muito entusiasmo. – Quando eu tinha dezesseis anos, minha mãe foi assassinada por uma gangue do norte da Inglaterra. Meu pai trabalhou a vida inteira na MB como agente, e quando minha mãe faleceu ele foi atrás dos rapazes que me sequestraram após o aviso que meu pai deu. – Seu sorriso foi sumindo de seu rosto conforme as lembranças apareciam em sua mente. Eu não queria força-la a me contar a história se a fizesse se sentir mal, mas ela parecia estar sufocada com tudo aquilo. – Eu fiquei uma semana presa em cativeiro, sem comida, sem higiene, sendo violentada de todas as formas que você pode imaginar. Eles não foram atrás de minha mãe querendo passar um aviso para meu pai, dizendo que eles sabiam quem meu pai era. – Ela tomou outro gole de seu café, enquanto eu me apoiava na mesa interessada em sua história. – Meu pai estava investigando a gangue a muito tempo, eles eram suspeitos de alguns homicídios e um dos integrantes tinha sido preso. – Ela fechava os olhos entre algumas palavras, incomodada talvez. – Eles pediram resgate e meu pai agiu o tempo todo sozinho. A gangue pegou o dinheiro, me soltaram, no outro dia foram atrás do meu pai para mata-lo. – Sua voz falhou. – Então no funeral Nick apareceu e me contou toda essa loucura que é a Máfia Britânica, e como a gangue continuava solta eu precisava de um protetor. – Kath tentou sorrir. – Nick era tudo o que eu tinha, minha base, minha coragem, minhas forças, e eu me apaixonei por ele, e aparentemente ele por mim já que estamos juntos até hoje. Quando tudo isso acabou tínhamos poucas opções, ele deixar a MB e viver ao meu lado, ou eu virar uma integrante dessa montanha russa.

– Eu sinto muito. – Murmurei com os sentimentos entalados em minha garganta.

– Não sinta! No começo foi horrível, tudo dando errado o tempo todo, mas mesmo a luta sendo difícil e muitas vezes cansativa, não podemos desistir do nosso final feliz. – Katherine começou a mordiscar seu sanduiche sem me encarar.

 Na primeira vez em que vi Katherine a invejei por estar sorrindo tão alegremente, a invejei por toda sua beleza, e a invejei por parecer ser tão feliz. E agora acredito em tudo o que ouvi sobre um sorriso conseguir esconder histórias e marcas de um passado triste e sombrio.

– Mas o que importa agora é James. – Ela sorriu. – Não quero te ocupar com minha vida chata enquanto você tem tanto para me contar.  – Seus olhos castanhos encontraram o meu me deixando confusa.

– E sobre o que quer que eu conte? – Terminei de comer meu sanduiche enquanto Kath ainda estava na metade do seu, me encarando assustadoramente.

– Sobre você. Tudo o que sei sobre Marylin Benson é o que está nos papeis de seu caso, e sei que você não é feita só de tragédias.  – Ela apoiou seu cotovelo na mesa de uma forma graciosa, e me encarou com os olhos arregalados. – Me conte sobre os seus amigos, namorados...

– Eu nunca tive amigos nem namorado. – A interrompi.

– Nunca? – Ela perguntou assustada pois realmente achava que eu estava mentindo. 

– Nunca! – Afirmei.

– Agora você tem. Serei sua amiga Mary. – Sua mão fria tocou a minha me fazendo sorrir.

  Alguém de confiança e capaz de me entender era tudo o que eu precisava no momento.

                                                                  ~X~

 James dormia tranquilamente na cama mal feita, enquanto eu o observava sentada em uma  poltrona verde e dura.

Ele estava sem camisa e sua barriga continha um pequeno esparadrapo preso com a ajuda de fita adesiva, sua boca estava entreaberta e sua respiração era tudo o que se ouvia naquele quarto. Eu perdi a noção do tempo que fiquei na mesma posição o olhando, me sentindo culpada por ele estar ali. Era para ser eu.

– Marylin? – Megan me assustou, entrando no quarto sem que eu a visse. – Não está cansada querida? – Sua mão pousou em meu ombro, enquanto eu a encarava delicadamente.

– Estou bem. – Sorri tentando não bocejar.

– Como deve saber sou perita da Máfia, e enquanto fazia a autopsia não necessária de Ryan, achei uma carta no bolso do casaco dele. – Ela estendeu o pedaço de papel em minha frente. – É para você.

Peguei o papel de suas mãos e comecei a abri-lo, insegura. Megan caminhou até a cama de James, ficando ao lado dele e beijando sua testa.

Querida Marylin...

 Se achou essa carta significa que fui morto, se não foi por policiais foi pela minha doença. A seis meses fui diagnosticado com tumor cerebral e com a certeza de que viveria poucos meses, eu queria fazer esses meses valerem a pena, mas junto com o transtorno bipolar acabei fazendo coisas horríveis para te ter ao meu lado.

Deve estar se perguntando tanta coisa, e eu a entendo, sua vida nunca foi fácil e provavelmente com o meu aparecimento ela ficou mais um vez de cabeça para baixo.

Vou te contar o pouco que tem que saber sobre mim:

 Quando eu tinha seis anos de idade minha casa pegou fogo após o botijão de gás explodir, algumas partes pularam em meu olho e eu acabei ficando cego. Aos meus dez anos consegui um transplante de córnea e a sensação de enxergar novamente era incrível. Fazia apenas um ano quando aquele incidente aconteceu, você acertou o lápis no olho de Philipe e eu fiquei imensamente grato por não ter me escolhido para tal ato, pois não queria ficar na escuridão novamente. Isso pode parecer egoísmo, e talvez seja.

Alguns anos depois te vi nas olímpiadas de matemática, você parecia não querer está lá e ficou decepcionada ao ser vencida por mim. Sinto muito por isso.

 Comecei a te ver sempre após o horário da escola, você não pegava ônibus  pois preferia ir andando e sempre passava por minha casa, me ignorando completamente. Sempre gostei de garotas assim, mas com você foi diferente.

Você me conquistou através do seu caos, eu queria ser seu alicerce mas acabei te fazendo sofrer.

Você é uma garota linda Marylin, e muito especial não deixe seu caos te engolir e te levar para a escuridão. Posso ser louco, mas sou o louco que te amou até a ultima batida de meu coração e que vê o quão bom é sua alma.

 Só espero que seja feliz não importa com quem.

 Me perdoa pelos meus erros.

 Com amor... Ryan x

– Mary? – A voz fraca de James ecoou pelo quarto. – Mary, você está bem? – Seus olhos se arregalaram ao me ver.

– Eu estou, mas e você? está bem? – Me levantei indo até ele. Onde estava Megan?

– Sim, eu acho. – Ele me encarava confuso. – O que aconteceu?

– Você não se lembra? – Minha mão encontrou a dele, que estava fria.

– Eu me lembro da moto e do tiro, mas o que aconteceu depois? Pegaram quem fez isso? – James segurou forte a minha mão.

– Eu não sei de nada. – Sussurrei admirando-o.

– Iremos pega-los. – Ele levou minha mão até seu rosto, deixando nela um beijo suave.

Meu coração pulsou mais rápido e um grande alivio invadiu meu corpo. Eu estava feliz por vê-lo acordado, por vê-lo bem.

– O que estava lendo? – Ele perguntou apontando para o pedaço de papel caído no chão. – Parecia meio chateada.

– Não importa. – Balancei a cabeça pedindo para não tocarmos nesse assunto. Ryan, assim como meu pai, me destinou uma carta que seria entregue somente após sua morte, o que me deixava perturbada pois eu preferia não ter lido aquelas palavras. Eu não conhecia Ryan o suficiente para saber o que ele passou, mas eu o conhecia o suficiente para saber do que era capaz, do que seu amor e seu ódio poderiam fazer, e após vê-lo cair no chão até a ultima batida de seu coração me deixava confusa em relação ao que sentia por ele, pena, compaixão ou ódio. – Como está se sentindo? – Perguntei realmente preocupada.

– Eu estou bem, foi só um arranhão. – Ele sorriu aquecendo meu coração.

– Um arranhão que te fez sangrar. – O lembrei. – Minha culpa, não é mesmo? – Murmurei rindo nervosa.

– Por favor, pare de se culpar. Você não tem culpa de nada disso, o culpado somos todos da MB que não tomamos os devidos cuidados. – Suas expressões eram suaves, compreensivas, sua voz era fraca e baixa e fundas olheiras em baixo de seus olhos o deixavam com a aparência apropriada para o lugar onde estávamos. – Que horas são?

– Duas e meia. – Murmurei olhando para o relógio.

– E porque está acordada? Você precisa descansar. – Ele se aconchegou ficando sentado, me puxando para sentar ao seu lado.

– Ultimamente está sendo difícil dormir. – Admiti.

– Marylin, eu gostaria muito de dizer que sinto muito ter matado Ryan, mas eu estaria mentindo. – Ele respirou fundo. – Eu prometi a você que seria sincero, então eu sinto muito por ter feito você ver aquilo, mas eu não sinto exatamente nada por ter o ferido. – Sua voz era calma e sincera.

– Quantas pessoas você matou? – Perguntei curiosa porém com medo da resposta.

– Com Ryan, duas. – Ele me encarou preocupado com minha reação.

– E você não é punido por isso? – Não sabia ao certo o que pensar, ultimamente tenho passado meus dias vendo pessoas morrerem e ouvindo armas sendo disparadas, nada mais parecia me assustar.

– Eu trabalho para Máfia Britânica, que é sustentada pelo governo para fazermos o que acharmos melhor desde que a Inglaterra e as pessoas que nelas habitam, fiquem longe de qualquer mal que possam resultar em terrorismo. – Ele sorriu vitorioso por seu texto muito bem decorado. – Porém eu não me orgulho disso.

– Eu terei que matar pessoas? – Perguntei encarando-o. – Para me vingar de todos naquela lista, eu precisarei matar pessoas?

– Não. – Sua mão foi até o meu rosto colocando minha franja atrás da orelha. – Podemos deixa-los na prisão, leva-los a falência e retirar tudo o que eles possuem, e faze-los se arrepender de cada ato feito.

– James, não quero que se machuque novamente. – Meus olhos encontraram os dele que me fitavam brilhantemente.

– Ninguém irá se machucar, eu prometo. – James beijou minha testa me fazendo corar.

                                                                  ~X~

James teve alta no dia seguinte, aliás não havia motivos para ele ficar hospitalizado sendo que ele levou apenas alguns pontos.

Eu estava me arrumando em sua sala, enquanto ele esperava do lado de fora assoviando uma canção. Coloquei roupas de ginastica, calcei meu tênis, e prendi meu cabelo em um rabo mal feito e torto.

 Hoje eu passarei o dia no campus da MB fazendo os treinamentos impostos pelo meu protetor. Isso era algo realmente bom, não por eu aprender a me defender e a lutar como uma agente da Máfia, mas sim pois os treinamentos me deixavam ocupada o suficiente para não pensar em tudo o que estava acontecendo.

 Ficar sozinha e pensar, coisas que eu gostava antes, me davam medo agora. Eu tinha medo de ficar sozinha, eu tinha medo do silêncio, eu tinha medo dos meus pensamentos que me transportavam para um lugar onde tudo era sombrio e muito frio. Me pergunto o tempo todo como estou aguentando tudo isso, como é que eu estou sobrevivendo a tudo isso? Porque ainda insisto em estar aqui? Porque não vou embora e começo a finalmente viver minha vida? De onde vem essa força que me mantem seguindo em frente?

– Marylin? – James gritou batendo na porta e respondendo todas as minhas perguntas, sem mesmo saber disso.

Segui ele pelos corredores mal iluminados sem murmurar nenhuma palavra. James andava torto com a mão em sua barriga, devia estar doendo pois era isso que suas expressões demonstravam, porém não perguntei nada pois sabia que ele responderia que estava tudo bem.

Fizemos um caminho diferente, ao invés de irmos para o campus onde as salas e a pista estavam, seguimos por outro corredor que nos levou a uma enorme sala escura.

James acendeu as luzes e eu comecei a pensar se esse seria realmente o treinamento de hoje.

– Essa é a sala de tiro. – Ele sorriu torto.

– Eu não quero aprender a atirar James. – Cruzei meus braços encarando-o. – Você disse que não será preciso matar ninguém. – Sussurrei ficando em sua frente.

– Não será preciso, mas é melhor você aprender a usar uma arma Marylin. – Ele me encarou sério, de um jeito que o James que eu gosto não faria.

Foi ai então que percebi que não teria escolha.

Cambaleei até a mesa onde estavam o protetor de ouvido e o óculos e os coloquei. James pegou uma arma pequena e colocou algumas balas nela, a preparando-a.

Me posicionei na linha amarela marcada no chão, e em minha direção havia cartazes de alvo iguais aqueles que aparecem em filme. James me entregou a arma e após respirar fundo, estiquei meu braço deixando-o em linha reta, apontei para o cartaz e atirei me assustando com o tiro.

– Eu odeio esse barulho. – Resmunguei notando que não tinha acertado o cartaz. – Droga!

– Você tem que deixar seu braço firme. – Ele ficou atrás de mim arrumando meus braços. – Segure a arma com as duas mãos. – Seu rosto encostou em meu ombro ficando próximo ao meu. – Relaxe os ombros. – Ele murmurou como se fosse fácil relaxar com ele aqui. – Agora, imagine que aquele cartaz é quem matou sua mãe. – James se afastou.

Encarei o cartaz tentando fazer o que James pediu, fechei meus olhos respirando fundo, relaxei um pouco os ombros e assim que abri meus olhos novamente, consegui imaginar Richard em minha frente no lugar do cartaz sem graça. O ódio tomou conta de mim me fazendo atirar duas vezes seguidas nele, ou melhor, no cartaz.

– Muito bem Marylin! – James riu baixo. – Mais algumas vezes e você estará pronta para usar uma arma.

                                                             ~X~

Era fim de tarde quando voltamos para casa. Uma senhora muito amigável estava saindo da casa quando chegamos, ela cumprimentou James o abraçando e dizendo que toda a casa estava limpa, ele a agradeceu enquanto ela entrava em um dos carros blindados da MB estacionados na rua da frente.

A casa cheirava agradavelmente a produtos de limpeza, havia alguns vasos com flores coloridas perto da lareira e em cima das mesas, e o piso brilhava feito diamante. A Máfia contratou com certeza a melhor empregada do Reino Unido.

Sentei no sofá sentindo minhas costas reclamarem por causa do treinamento. Tirei meu tênis jogando-o no tapete e coloquei meus pés em cima da mesinha de centro. James entrou e começou a rir, o som da sua risada era incrível o que me fez rir também.

– Se você está pensando que ficará a noite inteira sem fazer nada, está muito enganada Mary. – Ele riu tirando seu terno e o pendurando na poltrona.

– E para onde irei Senhor Lannes? – Perguntei me espreguiçando.

– Eu te levarei a um lugar essa noite. – Aquele sorriso torto que eu tanto gosto apareceu em seu rosto.

– Posso saber onde? – Tirei meus pés da mesa e o encarei curiosa.

– Claro! – Ele riu baixo. – Quando chegarmos lá você saberá. – Ele subiu as escadas antes que eu pudesse xinga-lo.

Após alguns preguiçosos minutos no sofá, criei coragem para ir até o meu quarto e me arrumar para seja lá onde James me levará. Subi as escadas e cambaleei pelo corredor parando em frente a porta do meu quarto. Eu o olhei lembrando de Cinthia, eu não queria entrar ali novamente porém eu precisava.

Fui direto ao banheiro ligando o chuveiro quente e entrando em baixo dele.

Vozes invadiam minha cabeça me deixando confusa sobre o que fazer em relação a vingança. Eu queria desistir disso, queria seguir minha vida sem pensar no passado, mas após imaginar Richard no lugar daquele cartaz e atirar nele eu me senti bem, eu me senti fazendo algo útil, eu me senti aliviada pois notei um pouco do ódio saindo de mim dando lugar a sentimentos novos e bons.

 A vingança não leva a nada, ela é um prato que se come frio. Eu ouvi isso a minha vida inteira, mas agora nada faz sentido, nada parece o certo a ser feito, nada parece ser errado a ponto de não ser feito.

Sai do banho cambaleando até o enorme armário com minhas roupas novas. Vesti uma calça jeans preta, regata branca com escritos prateados, uma jaqueta de couro preta metálica e calcei meu Lita shoe. Sequei meu cabelo, e fiz uma maquiagem simples e rápida, olhos esfumaçados e bem contornados com lápis preto, e batom vermelho.

Fiquei me admirando no espelho, finalmente tinha me acostumado com aquele cabelo, porém tinha a total certeza de que quando tudo isso acabasse meus fios voltariam a ser negros como os de minha mãe. Sorri para meu reflexo não entendo o porque.

Voltei ao meu quarto  me assustando ao encontrar James sentado em minha cama.

– James! Você me assustou. – Minha voz falhou. – Sem terno? – Perguntei o admirando.

– Sem terno. – Ele sorriu se levantando.

– Isso quer dizer que...

– Não sou seu protetor essa noite, sou apenas o James. – Ele me interrompeu.

– Uau! – Murmurei o olhando novamente. Ele vestia uma calça jeans clara, camiseta azul da Calvin Klein, jaqueta de couro preta e all star de couro branco e imundo. – Temos um avanço aqui. – Ri baixo.

– Vamos? – Ele apontou para a porta. Afirmei com a cabeça e comecei a caminhar para fora do quarto – Aliás você está... muito bonita.

– Obrigada, você também. – Murmurei sem encara-lo, eu estava corada.

Entramos no carro e James deu partida.  Ele dirigia em direção ao Soho, bairro onde se encontra as melhores baladas, os melhores bares, e as pessoas mais animadas de Londres.

Não demorou muito para que ele estacionasse o carro em frente a uma casa de shows.

Descemos do carro e meus olhos brilharam ao ver o letreiro do lugar.

– Ai meu Deus! – Gritei. – Isso é sério? – Dei pulinhos infantis enquanto James gargalhava.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Então deixe seu comentário para que o próximo capítulo seja postado o mais breve possível.

See you soon listers xoxo -JJ