“Fui ali no céu brincar com as estrelas, domar cometas e saltar buracos negros. Um dia me encontro, um dia te encontro. Um dia além dos céus, além de nós.”

(Adriano Hungaro)

~*~

O tempo passou e nós continuamos seguindo em frente. Em nossas missões vemos muitas cidades já reconstruídas. Tenho deixado de lado minhas preocupações, apesar das palavras daquele diário ficarem rondando minha mente todo instante. Eu apaixonada? Será que vou conhecer um príncipe como aqueles dos romances que eu leio? Meus olhos brilham só de pensar.

– Ei Lucy, você está fazendo uma cara assustadora – Gray disse ao meu lado no trem, estávamos indo para uma nova missão, era apenas capturar alguns criminosos e se ganhava muito bem, isso com certeza chama a atenção.

– Me deixa em paz Gray – falei fazendo bico e me virando para a janela, vendo a paisagem sendo mudada rapidamente. O tempo passou como essas árvores que encontramos no meio do caminho. Suspiro. Ontem mesmo era o primeiro dia do ano e agora já estamos no começo de fevereiro. Isso me lembra que mês que vem tem a festa hanami, e isso me deixa muito animada mas... espero que o Natsu esteja com a gente até lá.

Ainda me recordo a oito anos atrás quando ele arrancou a cerejeira para que eu pudesse ver, foi a coisa mais linda que já fizeram por mim, mesmo assim esse ano não sei se ele vai estar aqui... com certeza não vai ser a mesma coisa sem ele.

– Lucy-san você está bem? – Wendy inclinou sua cabeça para frente tentando ver meu rosto que estava abaixado. Nem tinha percebido que havia mudado de expressão, não quero ficar preocupando ninguém.

– Estou sim – sorri – Estava pensando, logo vai ser a festa hanami né?

– Isso me lembra bingo... – Erza falou enjoada.

– Acho que ela ainda não esqueceu do prêmio dela da última vez – Falei olhando Erza deprimida.

– Não se preocupe Erza-san, esse ano com certeza seu prêmio será bom. –Wendy tentou consolá-la.

– Você se preocupa com tão pouco – Gray disse ao seu modo indiferente.

Conversamos animadamente de tudo que poderíamos fazer no evento, isso me deixava bem, tê-los comigo, rindo distraidamente, sem preocupação... Até ouvirmos um estrondo no trem, e ele parar.

– O que foi isso? – Perguntei com medo.

– Vou ver – Gray foi até a cabide do motorista ver o que havia acontecido.

Ficamos ali esperando ele voltar com as informações...

– Ele está demorando... – Erza falou desconfiada. – Vamos ver o que está acontecendo.

– Será que algum ladrão invadiu o trem? – Wendy disse chorosa.

Nos levantamos e começamos a ir pelo corredor, silêncio demais, suspeito. Olhava para os lados atenta, nenhum sinal de nada. Abrimos o cabide do motorista, nos espantamos, vendo o motorista e Gray desmaiados.

– O que está acontecendo aqui? – Erza diz assustada – Wendy cuide de Gray, vou para fora do trem. – Ela falou e assim que olhou pela janela, voltou o olhar para nós. – Estamos em um penhasco, não parece ter ninguém.

– Isso tá me dando medo – falei me encolhendo – Gray está bem Wendy? – olhei para ela ajoelhada ao lado dele usando seu poder de cura.

– Não sei, ele não quer acordar.

Eu estava assustada, alguém fez isso com ele, e se estamos em um penhasco, só podem estar por aqui. Escutamos alguns sons de aproximando, nos olhamos fazendo um sinal para ficar mais atentas.

– Cuidado Lucy – Erza disse concentrada. Vou levando minhas mãos até minhas chaves. E não as encontro.

– O quê? Minhas... – tentei dizer, mas logo senti algo em meu rosto, minha visão foi ficando escura, ouvi alguns gritos, minha cabeça girava e não vi mais nada.

~*~

Fui recuperando minha consciência aos poucos, abri os olhos lentamente, algo apertava meus pulsos, estava escuro. Onde estou? Onde estão os outros? Não consigo mexer minhas mãos, vejo elas amarradas atrás de mim. Que lugar é esse? Era sombrio, sujo e horripilante. Olhava em volta, não via ninguém, apenas algumas cadeiras velhas como todo o resto que havia lá, o teto parecia poder desabar a qualquer momento. Estou com medo, estou sozinha.

Após algum tempo, uma porta se abriu, alguns homens com capuzes se aproximaram, não conseguia ver os rostos, meu corpo tremia, mesmo assim não poderia ficar quieta.

– Quem são vocês? Onde estão meu amigos? Que lugar é esse? O que vocês querem? Qual o objetivo de vocês? – comecei a gritar.

– Que garota escandalosa – um deles sussurrou.

– Me soltem! – continuei gritando.

Em um piscar de olhos um deles apareceu em minha frente, senti um calafrio percorrer meu corpo.

– Cala a boca, terei que te por para dormir de novo? – ele falou perto de mim, mesmo assim não conseguia olhar seu rosto.

– Onde estão meus amigos? – o olhei irritada.

– Não se preocupe, eles estão tendo bons sonhos em um trem de volta para Magnólia – falou em tom de deboche. Foram eles que fizeram aquilo com Gray! Porque? Eles conseguiram por todos para dormir? Até Erza? Agora eles pareciam mais assustadores que o normal. O que estava mais próximo de mim parecia ser o líder, vai que todos os outros ficaram parados em seus lugares atrás deste. Ele se agachou, pegou meu queixo com sua mão, o apertando. – Escuta, é só você responder algumas de nossas perguntas que te deixaremos ir, certo princesa?

Estava doendo, meu queixo, meus pulsos. Ele apertava com força.

– Vocês não sabem com quem estão mexendo, assim que meus amigos acordarem vão me procurar, e pode ter certeza que eles vão me achar. – falei com um tom de convencimento. Pois eu tinha certeza que eles viriam até mim. Eles sempre vêm. Mas ele não pareceu ficar com medo, apenas riu na minha cara, podia ver apenas sua boca e seu nariz. Parecia jovem.

– Eles não vão te encontrar, e mesmo que encontrem meus amigos e eu daremos um jeito neles, e quando eles estiverem mortos na sua frente, você vai se sentir culpada – falou rindo. Engoli a seco. – Agora responda, ou teremos que puni-la.

– O que vocês querem? – perguntei.

– Nos diga onde está o Salamander! – falou determinado. Salamander? Natsu? É ele que eles querem?

– Porque eu diria? – os desafiei, e senti uma mão bater com tudo em meu rosto. Ardia, ardia muito.

– Fale logo maldita! – gritou e me socou de novo. Gritei de dor, mas continuei os encarando. – Sei que ele voltou para essa guild maldita!

– Não fale mal da minha guild! – falei e cuspi nele. Ele cerrou os punhos e me bateu de novo.

– Você quer morrer? Vamos, diga, onde ele está? – voltou a apertar meu queixo. Algumas lágrimas escorreram por meu rosto. Indecifrável o que eu sentia, mais que dor, mágoa, queria poder saber onde ele estava, queria muito saber.

– E-eu não sei – falei entre minhas lágrimas.

– Mentirosa! – ele gritou e voltou a me bater no rosto.

– Mestre-sama, não está... – um dos caras que estavam atrás se manifestou mas logo se calou com o olhar impiedoso de seu ‘mestre-sama’. Como imaginei ele era o líder.

– Vamos loirinha, vai mesmo dar a sua vida para salvar a dele? – Seu capuz havia caído, demonstrando um jovem com cabelos negros, todo seu rosto já emanava escuridão. Ele me pegou pelo queixo e me ergueu. A dor estava ficando insuportável, não sabia como agüentaria. – Diga!

– E-eu já disse... n-não sei onde ele está – minhas lágrimas inundavam por meu rosto, e ele me soltou, cai com tudo no chão, meu corpo doía. Meu coração ardia.

– Não é possível, ele não veio para cá depois que escapou? – ele disse pensativo e irritado. Escapou? Eles viram Natsu? Eles estiveram com Natsu? Ele está bem?

– V-vocês o viram? – perguntei com minha voz fraca. Ele voltou seu olhar para mim com raiva.

– Aquele maldito escapou quando o capturamos, mas enquanto ele dormia ficava sussurrando seu nome, então achamos que quando ele escapasse fosse te encontrar – falou impaciente. Meu coração acelerava. Natsu está vivo. Natsu está vivo. Essa frase ecoou pelos meus pensamentos, uma sensação de conforto vem ao meu corpo. Que bom. Mais lágrimas desciam pelo meu rosto. – Mas ele virá te salvar, tenho certeza! – falou com um sorriso no canto da boca. Se aproximou e me agarrou pelos meus cabelos. – Enquanto isso vamos nos divertir!

Ele começou a me socar. Eu gritava, meu corpo estava dolorido, sangrava. Ele ainda me puxava pelos cabelos, socou meu estomago, minha consciência se redobrava, minha visão ia ficando escura, ele me socou no queixo, doía, minha voz quase não saia.

– NATSU! – gritei com todo fôlego restante.

E de repente ouvi um barulho de coisas estourando, a mão que me segurava me deixou cair no chão, fiquei tentando me manter consciente. O que estava acontecendo? Ouvia sons de luta, mas não identificava o que acontecia. Não agüentava mais, meus olhos se fecharam e eu não escutava mais o que acontecia.

~*~

Ouvia passos, não conseguia mover meu corpo, ainda doía, meus olhos teimavam em continuar fechados, eu estava deitada em algo, era madeira, conseguia olhar para o céu, e eu estava em movimento.

– Até que enfim você acordou, como está? – uma voz suave e calorosa falava comigo. Quem é? Será que...Tentei dobrar meu pescoço que ardia, e logo vi seu rosto.

– Gildarts... – Não era ele... mesmo assim fiquei feliz – o que aconteceu? – minha voz era fraca, só de falar era dolorido demais.

– Ouvi seu grito, estava passando por ali voltando para Magnólia, desculpe a demora, o lugar era bem escondido. – falou calmamente – Desculpe não ser o Natsu, mas tente não falar certo? Estou te devendo por ajudar Cana. – vi um sorriso se esboçar em seus lábios, voltou a olhar para frente, parecia me carregar em algo. – Vamos voltar para a casa.

Voltei meu pescoço para o lugar, e a última coisa que vi foi as estrelas que brilhavam para mim, pareciam tentar tirar a minha dor. Ainda assim algumas lágrimas caíram pelo meu rosto. Meus olhos inquietos pareciam procurar por entre as estrelas, algum lugar onde ele possa estar, onde eu possa encontrá-lo. “Natsu”.