Já era noite quando os meninos e Hefesto avistaram o templo que, agora, por fora era idêntico ao Coliseu. Nico dormia feito um bebê no colo de seu pégaso. Enquanto Thalia se segurava quase que estrangulando o animal por causa do seu medo de altura; o filho da morte sonhava com Bianca. Estavam no chalé de Hades no acampamento, o que era estranho.

“Sinto sua falta Bianca.” Nico disse.

“Eu também sinto Nico. Mas também estou muito orgulhosa de você. Está até no acampamento.”

“Só porque Afrodite me deixou mais sensível, se não fosse por isso, eu estaria pelo mundo como sempre.” ele deu de ombros.

Ela deu um leve sorriso e tocou o rosto do irmão, parecia tão real, que Nico quase sentiu o calor da mão dela.

“Nico, quando chegar lá, você precisará ser forte.”

“Por quê? Bianca, o que está acontecendo?”

“Não posso contar...”

“Bianca” ele disse sério.

Ela deu um pesado suspiro e encarou o irmão, arrumou-lhe os cabelos e deu um beijo demorado em sua testa, o que fez ele chorar, então a porta do chalé abriu. Luke entrou, parecia feliz, tinha um sorriso largo no rosto. E assim como Bianca, trajava uma armadura completa.

“É bom ver que você está bem Nico.” Disse Luke.

“Obrigado.” Nico respondeu estranhando o fato de Luke estar ali.

Luke sorriu e trocou olhares com Bianca, que passou a mão pelo rosto de Nico.

“Hera quer destruir os semideuses.” Disse Bianca.

“É, eu já sei. Apolo, Ártemis e Hermes já haviam chegado a essa conclusão.” Nico comentou.

“Nico, você não entendeu? Hera quer destruir todos os semideuses.” Disse Bianca.

“Inclusive os que tiveram a benção ou receberam o presente de serem imortais.” Disse Luke.

Nico recuou um pouco, mesmo estando sentado em sua própria cama.

“Hermes e Dionísio...” Nico disse pasmo.

“Bem, Mia, minha avó, é uma ninfa.” Lembrou Luke. “Então não acho que papai ele se encaixe na lista.”

“Mas... a mãe de Dionísio foi uma mortal, Sémele. E há também outros semideuses imortais, acho que você se lembra do Rancho Triplo G”. Bianca o alertou.

“Por que tártaros Hera que banir os meios-sangues do mundo?” Nico franziu a testa.

Bianca e Luke trocaram olhares novamente, dessa vez preocupados.

“Hera, no original da mitologia, sempre foi exageradamente ciumenta e possessiva em relação ao marido.” Disse Luke. “Por isso tentou matar Hércules. Eu ainda tenho minhas dúvidas se ela realmente gostava ou não de Perseu. Bem, o primeiro Perseu, o que primeiro decapitou a Medusa e fez assim nascer o cavalo Pégaso”.

“Tá e o que isso tem haver com o fato dela ter roubado a memória de todos no acampamento, falsificado a inocência do Percy, levando ele, o Chris e mais os verdadeiros traidores para uma arena para lutarem até a morte? Isso é Esparta demais pro meu gosto!” Nico exclamou.

“Hera tem um ego muito grande, às vezes eu acho que até maior que o de Atena e Afrodite juntos. Annabeth a irritou de um jeito que poucos semideuses tem coragem de fazer, Nico.” Bianca justificou.

“Zeus quer botar medo nos semideuses e honestamente, não vejo nada de tão ruim nisso. Antigamente quando estavam com raiva, os deuses destruíam cidades inteiras e ainda bem que estão mais calmos hoje em dia. Não há nada de errado em um pai querer que seus filhos o tema, em certa quantidade é claro.” Disse Luke.

“Acontece que Hera se aproveitou da ideia de Zeus e infelizmente ela deve ter lido Jogos Vorazes e então já viu né.” Bianca satirizou.

“É o seguinte povo!” Luke brincou como se estivesse imitando Hera. “Vamos jogar os traíras sobreviventes numa arena para lutarem até a morte, o sobrevivente ganha perdão. Assim nossos filhos irão nos temer, mas também verão que não somos tão crápulas assim. Há, e no livro são 24 tributos então vamos pegar aquele filho de Hermes, o Rodriguez, pegar aquele guri de Atena que foi forçado a ir pra batalha, mas que sobreviveu e há, vamos dizer que o Jackson é um traíra porque assim eu tenho minha vingança contra a Annabeth só porque ela falou grosseiro comigo para chegarmos ao número vinte e quatro.”

Nico franziu o cenho, a imitação de Luke era horrível, mas o importante é que ele intendeu a ideia.

“Gente, não há como Hera matar Dionísio, ele é um deus.” Nico os lembrou.

“Mas já foi mortal. Dionísio só ganhou a imortalidade porque criou o vinho.” Disse Bianca.

“É só Hera convencer as Parcas de que os meios-sangues são inúteis, que as três matam todos os semideuses a pedido a senhora das vacas.” Disse Luke.

“Desde quando as Parcas limitam a vida de alguém? Nem o papai tem controle sobre elas.” Disse Nico.

“Sabemos disso irmão, mas...” Bianca e Luke trocaram olhares novamente.

“Os fantasmas estão nervosos Nico. Por isso que sabemos tanto, você não tem ideia do quão agitado está o Mundo Inferior. Os boatos são de que as Parcas fizeram um trato com Hera, todos os meios-sangues, sem exceção, morrerão e no lugar as três velhas ganham benção de Hera.” Luke complementou.

“Benção de Hera? As Parcas querem mugir e serem umas filhas de uma pê... é?” Nico zoou.

“Não sabemos o que a benção dela faz, mas para as Parcas terem aceitado...” disse Bianca. “Não deve ser algo bom, ao menos para a gente. Porém deve ser algo divino para as Parcas.”

“Papai sabe disso?” Nico perguntou.

“Por que acha que ele decidiu ajudar os demais?” Bianca respondeu. “Mesmo que alguns deuses aparentem ser maus ou não ligar pra nada... eles têm sentimentos. Papai liga sim, Nico. Dá mesma forma que Ares.”

“Então... por que... Hera...” Nico começou a dizer.

“Hera não tem filhos semideuses para saber o que quer dizer amor mortal.” Disse Luke.

“Nem Ártemis e ela está ajudando mais que sei lá o que.” Nico retrucou.

“Ártemis tem as Caçadoras. Quando os deuses experimentam amor mortal, eles ficam mais sensíveis e não é preciso 'intervenção' ou benção de Afrodite para isso.” Disse Bianca.

Nico se levantou e caminhou pelo chalé, pensativo. Pelo que ele notou, Morfeu também estava ajudando, havia meses que Nico não sonhava e se Bianca e Luke estavam ajudando, é porque Morfeu e talvez até Hipnos, também estivessem ajudando. “Vocês terão toda ajuda que precisarem.” A voz de Ártemis soou na mente do menino.

“Deixe-me ver se eu entendi... Hera tá pê da vida com as traições de Zeus e por isso ela quer matar todos os semideuses, sem exceção. Incluindo o deus do vinho e começando pelo Percy só porque Annabeth falou grosseiro com ela?!” Nico resumiu.

“É.” Bianca e Luke concordaram juntos.

“Nossa, que jeito mais sem pé nem cabeça de morrer.” Nico zombou.

“Acorde Nico, vá ajudá-los, os meninos precisam muito de você. Principalmente o Percy.” Disse Bianca.

“E quando acordar... diga a Thalia que... ah... que eu... mandei um beijo...” Luke disse sem jeito.

Nico franziu o cenho e assentiu com a cabeça. Acordou com Thalia o sacudindo, haviam chegado a arena, todos os deuses estavam ali. Afrodite milagrosamente segurava uma faca. Poseidon e seu tridente, claro. Ares tinha bem uma meia dúzia de armas indo de facões a espadas presas a sua cinta e segurava um porrete. Deméter segurava uma espada, assim como Perséfone e Nico nunca as viu tão empolgadas. Hefesto tinha um machado pegando fogo em mãos. Atena não segurava arma nenhuma, talvez porque sua maior arma fosse a estratégia. Todos trajavam armaduras gregas completa.

– Vocês acham que irão fazer o que? – Thalia perguntou aos deuses. – Brigar com Tifão de novo é?

– Grace, quieta. – Clarisse disse pegando sua lança.

– Ela está certa. Isso é precipitado. – Nico disse.

– É guerra! – Clarisse disse animada.

– Pode parar com essa historinha de "é guerra"! – Nico exclamou contando seu sonho.

Os deuses ficaram pálidos.

– Hera surtou de vez. – disse Poseidon.

– Ela nunca foi normal! – Deméter lembrou.

– Sim, mas daí a querer dizimar todos os meios-sangues incluindo Dionísio...?! Deméter, irmã, isso nem de longe se parece com Hera. Nem mesmo quando ela está morta de ciúmes de Zeus. – disse Poseidon.

– E o que faremos? Como iremos provar para Zeus que Hera virou a deusa da maluquice e da falta de bom senso?! – Chris perguntou.

– Zeus terá que falar com as Parcas. – disse Perséfone. – Creio eu que ele acreditará nas palavras delas.

– O quão poderoso é a benção de Hera para que as Parcas troquem a vida de um deus e de toda uma espécie por sua benção? – Clarisse perguntou.

– Hera nunca distribui benção, filha. – disse Ares.

– Nossa mãe é meio... reservada nesse quesito. – disse Hefesto.

– Meio? – Ares zombou.

– O que estamos esperando? Vamos entrar! – disse Poseidon.

– Sabe-se lá que horrores Hera fez Percy e Annabeth passar. – disse Afrodite.

– Eles estão vivos, disso eu garanto. – Nico disse.

Os deuses assentiram e entraram. Os meninos foram atrás deles e mesmo que Clarisse e Thalia não fossem admitir, elas estavam com um pouco de medo do que essa “conversa” ia dar. Enquanto Clarisse e Chris foram na frente de mãos dadas, Nico e Thalia foram lado a lado atrás do grupo e Nico contou, meio envergonhado, para a Thalia o que Luke disse.

– Ah. – foi a resposta dela.

Nico pode jurar pelo rio Estinge que Thalia corou com o que ele disse, mesmo eles estando em um corredor escuro iluminado apenas pelo machado com fogo de Hefesto. Sem perceber, Nico e Thalia pegaram a direita, enquanto os demais seguiram em frente e eles terminaram parando na arena, Percy estava mancando, com uma fratura exposta na perna que faria qualquer pessoa de estômago fraco vomitar e depois desmaiar. Annabeth estava caída no chão, os olhos de Percy estavam vermelhos, então a loira disse algo e os olhos de Percy momentaneamente ficaram verdes. Igualzinho à vez que Luke estava possuído por Cronos e decidiu cometer suicídio. Percy levantou a faca que o filho de Hermes deu a Annabeth quando ela era criança e abaixou, ferindo sua própria perna já bastante machucada. Nico e Thalia se entreolharam e correram para eles.

– Annabeth, fuja. – Percy grunhiu cuspindo sangue.

Hera se levantou e caminhou para o centro da Arena. Thalia e Nico foram impedidos de se mover por algo invisível. Os olhos de Percy voltaram ao normal e ele se contorcia de dor.

– Ora, ora, ora... o que temos aqui? Minha enteada nada preferida. – Hera disse com um sorriso psicopata.

– Deixe-os ir! – Thalia gritou.

– Eu irei sim, pode ficar tranquila, Thalia Grace. Os deixarei ir... para o Tártaro. – gargalhou.

– Annabeth, corre. – Nico gritou.

Mas os ferimentos das pernas de Annabeth eram muito graves, ela não conseguia se levantar, Percy estava perdendo muito sangue, não ia aguentar ficar acordado sem desmaiar por mais que três minutos. Teria uma morte muito dolorosa, por hemorragia ou infecção.

– Você quer A MINHA morte, deixe-os ir! – Thalia exclamou.

– Sempre a heroína da história... sempre se sacrificando por seus amigos... e o que ganhou com isso, hum? Luke a traiu e morreu amando Annabeth. Annabeth ama Percy e nem liga se você irá ou não morrer...

– Não é verdade! – Annabeth conseguiu gritar.

– Ninguém se opôs ao fato de você virar Caçadora como o Percy fez com Annabeth. Nico liga mais para a irmã morta do que pra você... diga-me filha de Zeus... vale a pena se sacrificar por pessoas que não lhe dão importância?! – Hera a provocou.

– Não dê ouvidos a ela, Thalia. – disse Annabeth.

– Nós te amamos. – disse Nico.

Percy conseguiu com suas últimas forças rastejar até Annabeth, abraçou-lhe e beijou sua testa.

– Para sempre. – ele disse com suas últimas forças.

– E sempre! – ela complementou, beijando-lhe de leve os lábios.

Hera brilhou com uma intensidade tão forte que faria o sol em si ser uma fonte fraca de luz. As formas invisíveis seguraram os rostos dos quatro semideuses, para que eles morressem fulminados.

– Eu te amo Cabeça de Alga. – Annabeth disse antes que a luz ficasse insuportável.