Capitulo 16 - Ninguém disse que seria fácil

Cheguei da escola morta de cansaço. Quando diziam que você tinha que ralar no último ano e que não é para qualquer um eu não levava a sério, mas hoje sei que é verdade. E por isso, estou dando tudo de mim. Acho que nunca estudei tanto, na verdade eu uso o estudo para ocupar meu tempo e evitar perguntas, principalmente das meninas.

Eu ainda não contei. E acho que Edward também não. Decidimos que cada um contaria da sua maneira, quando quisesse, afinal se reuníssemos todos teríamos que responder diversas perguntas e isso não seria nada legal. Muito menos algo fácil.

Sei que uma hora vou ter que falar sobre o término, mas é difícil. Eu não quero nem pensar nisso quem dirá falar sobre, ou inventar sobre. O que combinamos é que falaremos que o namoro caiu na rotina, que éramos mais amigos que namorados, ou algo do tipo.

Sentei-me na minha cama e peguei meu livro de cálculo na mochila. As cartas das faculdades já haviam chegado e estávamos todos muito animados, já que nós seis fomos admitidos em Dartmouth. Afinal, esse era o plano desde o começo.

Não estava muito no clima para estudar, mesmo assim tentei me concentrar ao máximo. Estava terminando um dos exercícios quando ouço batidinhas na porta. Pedi para entrar e logo minhas duas melhores amigas adentraram o quarto.

Elas deram um meio sorriso, provavelmente sabiam que havia algo errado comigo, elas me conheciam desde sempre. Percebi que estava chorando quando as duas me envolveram em um abraço apertado.

Alice e Rose. Minhas melhores amigas. Conhecemos-nos desde pequenas. Sempre dividimos segredos, medos e alegrias. Eu as amo tanto, nunca deixaria ninguém machucá-las. Mas então, por que tenho mentido tanto para elas? Por que tenho mantido elas afastas agora que estou precisando tanto delas?

Soltamos-nos do abraço sem falar nada. Alice fechou meu livro e estojo colocando-os no chão enquanto Rose apoiava minha cabeça em seu colo e fazia carinho em meu cabelo. A baixinha segurou minha mão e começou:

– Bella, nós estamos aqui para o que precisar, você sabe, ... e também...

– Acabou – falei a cortando. Eu ainda chorava e não conseguia encara-las. Ficamos em silencio por alguns minutos. Elas se entreolhavam sem saber o que dizer. – Nós não estamos mais juntos.

– Ele terminou com você? – Rose perguntou.

– Foi de comum acordo. – eu falava sem vida encarando um ponto qualquer na parede.

– Eu imaginei que algo tinha acontecido entre vocês, meu irmão também não está nada bem... – Alice suspirou – Sabe, eu e o Jazz sempre discutimos e ficamos super mal, mas então conversamos, resolvemos as coisas, nos desculpamos e então tudo fica certo. – Eu continuei em silencio.

– Talvez vocês dois só precisem conversar... – Rose sugeriu.

– Vocês não entendem – Me levantei sentando na cama de frente para elas. – Nós terminamos porque é o melhor para nós dois, decidimos isso juntos. Conversar não vai ajudar, não nesse caso. E decidimos ser amigos, logo estaremos conversando normal e tudo será como sempre foi, não se preocupem.

Eu tentei tranquilizá-las, mas elas continuavam a me olhar preocupadas.

– Você tem certeza? Se tudo está bem, por que você está mal desse jeito? – Rose me perguntou.

– Eu não sei – minhas lágrimas se transformaram em uma cachoeira e eu voltei a deitar no colo dela. Eu soluçava agora.

– Olha, Bella, nós somos suas amigas, e se essa é sua decisão iremos te apoiar – Alice falava – Mas saiba que não queremos te ver sofrer, faremos tudo que for possível para você ficar bem, ok? – Eu concordei com a cabeça.

Passamos o resto da tarde juntas, conversamos, estudamos um pouco e assistimos TV. Não tocamos mais no assunto e quando elas foram para casa eu já me sentia melhor. Porém a sensação durou pouco tempo.

No jantar decidi contar para meus pais, fui direta e não enrolei muito. Foi um simples e sem vida “Eu e Edward não estamos mais juntos. Somos só amigos agora”. Eles fizeram algumas perguntas, mas preferi não responder. Meu peito já doía demais.

Fiz o possível para não chorar na frente deles e consegui. Achei que já havia chorado tudo que tinha para chorar, que minhas lagrimas já haviam secado. Mas eu estava errada. Chorar antes de dormir virou uma rotina.

No dia seguinte, acordei como um zumbi, fiz minha higiene e me vesti para a escola. Desci e fui pegar uma fruta na cozinha, mesmo com apetite nenhum para comê-la.

Estava quase saindo em direção ao meu carro quando encontro Emmet descendo as escadas. Eu não o via desde ontem na escola, já que ele saiu com os meninos e acabou não jantando com a gente. Sem falar nada ele me deu um de seus grandes abraços de urso, só que dessa vez foi um pouco mais demorado. Ele já sabia.

– O que acha de ir comigo para a escola? – perguntou.

Concordei com a cabeça, não estava no clima para dirigir. Fomos para escola conversando e ouvindo musica.

Nas aulas ocorreu tudo bem. E era incrível como todas as matérias pareciam mais fáceis quando você estuda o tempo todo. As semanas se passavam sempre desse jeito, com Emmet me levando para a escola, eu estudando pra caramba, etc.

A pior parte do dia era a aula de biologia, nós tentamos, mas eu e Edward não conseguíamos voltar a ser o que éramos. O clima era super tenso e o pior é que eu não fazia ideia de como mudar isso.

Hoje era sexta feira. Eu havia vindo de carona com Emmet para a Escola e pedi para na volta ele me deixar no correio, precisava dar uma checada nas correspondências, já que nossa caixa de correio havia sido roubada (bem como as dos Hale e dos Cullen), eu sei, por que alguém roubaria algo assim? Mas vai entender.

Meu irmão estava com pressa então o tranquilizei falando que voltaria para casa a pé. Porém me arrependi quando pisei na calçada e percebi que havia começado a chover. “Mas eu não sou de açúcar, vou ficar bem” pensei. Então fui pegar as cartas.

Estava checando os envelopes em minhas mãos enquanto caminhava em direção à porta. Por sorte o bolso do meu casaco era grande, então coloquei as cartas nele e ia vestindo meu capuz para enfrentar a chuva.

( http://www.youtube.com/watch?v=RB-RcX5DS5A )

Eu ia abrir a porta quando alguém abriu ao mesmo tempo. Era o Edward. Nossos rostos ficaram muito próximos então logo nos afastamos. Eu dei um sorriso fraco e abaixei a cabeça desviando dele e saindo.

Comecei a caminhar e me encolhi quando meu corpo entrou em contato com a chuva fria, que ficava cada vez mais forte. Ouvi alguns passos correndo atrás de mim e então ele segurou meu braço, me virando para ele.

Vim pra lhe encontrar, dizer que sinto muito

Você não sabe o quão amável você é

Tenho que lhe achar, dizer que preciso de você

E te dizer que eu escolhi você

Ficamos nos encarando sem falar nada. Eu observava seu cabelo e rosto aos poucos ficarem encharcados por conta da chuva. Meus olhos piscavam freneticamente, eu tentava entender o que estava acontecendo, eu queria falar alguma coisa, tentei abrir a boca varias vezes, mas nada saía.

Conte-me seus segredos, faça-me suas perguntas

Oh, vamos voltar pro começo

Correndo em círculos, perseguindo a cauda

Cabeças num silêncio à parte

Edward ainda segurava meu braço possessivamente. Seus olhos estudavam meu rosto e quando foram de encontro aos meus minhas pernas fraquejaram e mentalmente eu agradeci por ele estar me segurando.

– A gente... er... nós... quero dizer... er.... temos que conversar. – falou embaralhando as palavras.

– Sobre o quê? – perguntei curiosa.

– Sobre o quê? Sobre... – ele desviou o olhar para baixo – sobre nós, sobre o que está acontecendo... – ele voltou a olhar para mim – tínhamos combinado que voltaríamos a ser como antes... mas isso não é o que esta acontecendo...

Meu coração deu um aperto forte. Por um momento achei que ele queria conversar sobre nós como casal, eu poderia até me declarar para ele, mas não, ele queria saber da amizade. Eu também queria, não queria?

Ninguém disse que seria fácil

É uma pena nós nos separarmos

Ninguém disse que seria fácil

Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim

Oh, me leve de volta ao começo

– Bella? Bells? – ele começou – Por favor, não me diga que você não vê o que está acontecendo.... – droga, agora eu estava chorando.

– Eu vejo Edward, é claro que eu vejo... – me soltei dos seus braços – Mas você acha que eu quero isso? È claro que não... eu quero o que tínhamos antes! Eu amava a relação que tínhamos, mas passou, e por mais que eu tente, não sei se vou conseguir recuperar... eu não me sinto da mesma forma que me sentia antes. – eu estava sendo sincera, meus sentimentos haviam mudado, acho que acabei de me declarar indiretamente... mas ele nunca perceberia.

Eu só estava pensando em números e figuras

Rejeitando seus quebra-cabeças

Questões da ciência, ciência e progresso

Não falam tão alto quanto meu coração

Diga-me que me ama, volte e me assombre

Oh, quando eu corro pro começo

Correndo em círculos, perseguindo a cauda

Voltando a ser como éramos

A chuva estava ficando cada vez mais forte e eu tinha que apertar meus olhos para enxergá-lo. Ele colocou uma mão em cada ombro meu, me segurando e olhou fundo em meus olhos.

– Bella, olha, eu juro, de verdade, se eu pudesse apagar tudo o que aconteceu eu apagaria. Se eu pudesse voltar no tempo e nunca ter te incluído naquela mentira para a Tânia, eu voltaria. Eu faria isso sem pensar duas vezes – suas palavras eram como facadas em meu coração, pois eu a via em seus olhos. Em seus olhos eu via a verdade – Acredite em mim, eu faria isso, faria tudo isso para não perder a Bella. Não essa Bella que eu estou falando agora, essa que mal olha para mim, mas sim a Bella minha melhor amiga, a qual eu conversava sobre tudo, a que me entendia mais do que ninguém. Eu sinto falta daquela Bella e eu... – não aguentava ouvir mais, simplesmente o cortei.

– O problema, Edward, - me soltei de suas mãos – é que não são duas Bellas! – meu rosto estava encharcado, mas não era da chuva e sim minhas lágrimas. Deixei a raiva tomar conta de mim e gritei – Quer saber? Eu não vou ficar aqui discutindo com você! Você só falou merda pra mim até agora e, sinceramente, se a nossa “relação” e a nossa “amizade” – fiz aspas com as mãos – está uma bosta, depois dessa conversa vai ficar ainda pior! Deus, você não vê? Não podemos desfazer as coisas, nós temos que assumir quando erramos e talvez a culpa seja dos dois, agimos muito por impulso e sem pensar, e eu sei que pra você tudo aquilo nem era verdade, mas de uma coisa você pode ter certeza, eu posso ter mudado, mas só existe uma Bella!

Falei tudo bem rápido e sem pensar muito. Eu descontei toda a raiva que sentia. Mas isso não fez eu me sentir melhor, afinal ele queria apagar todos os momentos que fizeram eu me apaixonar por ele.

Fiquei mais um tempo parada na chuva lhe encarando. Acho que meu coração esperava que ele fizesse ou falasse algo. Mas ele não se mexeu, continuou sério, seus olhos em mim.

Cansada e derrotada virei as costas, pronta para ir para casa.

– Bella! – ele gritou. – Espere! – Meu coração disparou. Me virei na expectativa. Eu realmente esperava que ele falasse algo depois de tudo que eu despejei sobre ele - Olha, eu sei que você está chateada, mas está chovendo muito. Eu estou com meu carro, eu te dou uma carona até em casa. – Engoli meu choro me sentindo idiota por ter esperado que ele falasse outra coisa. Simplesmente virei as costas indo para casa.

Ninguém disse que era fácil

É uma pena nós nos separarmos

Ninguém disse que era fácil

Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim

Eu estou indo de volta para o começo

Cheguei em casa e fui tomar um banho quente. Tentei relaxar ao máximo. Mas só pensava em tudo que foi dito. Estava arrasada. Será que eu merecia isso? O motivo para eu ter acabado com tudo foi para termos a chance de sermos como antes, mas agora está bem claro que isso não será possível. Nós vemos o que aconteceu de formas diferentes e queremos coisas diferentes e, sinceramente, eu desisto.

Talvez a melhor opção seja seguirmos nossas vidas, sei que sempre estaremos ligados por causa da amizade das nossas famílias. Mas eu preciso tentar esquecê-lo, ou pelo menos esquecer o que eu sinto por ele. Talvez se eu superar essa paixão poderemos então, um dia, voltar a ser amigos.

Olhei para minha cama na qual as cartas que eu fui buscar mais cedo se encontravam. Dentre os envelopes um pouco molhados da chuva um deles me chamou a atenção. Tinha o logo da NYU (Universidade de New York), essa era uma das melhores faculdades para o curso que eu queria.

Eu havia me inscrito depois de ter enviado as cartas de admissão para as outras universidades, não imaginava que haviam recebido minha carta. Mas, talvez, ela seja a resposta para meus problemas. Talvez eu não precise ir para Dartmouth com todos e com ele. Abri o envelope rapidamente, corri meus olhos pela carta, e sorri quando lá no final encontrei:

APROVADA