Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 8
Torturando o monstrinho


Notas iniciais do capítulo

OIE PESSOOOAAAAS O/
Então, nem demorei dessa vez, né?
Esse capítulo tá um pouquinho maior do que o normal, mas espero que vocês me perdoem. E ele é dedicado à minha leitora e amiga Clove Flor, que além do fato de ser linda e fofa em tempo integral, ainda fez uma recomendação maravilhosa pra PW *.*
Espero que gostem :**



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O som da campainha tocando repetidamente me acordou do meu torpor. Cobri o celular com a mão e gritei:

– Já vou!

Voltei a colocar o aparelho na orelha a tempo de escutar James dizer:

– Max? Você ainda está aí?

– Estou sim, James, mas eu realmente preciso desligar – não sei como, mas consegui dizer num tom de voz quase normal. – O entregador já está ficando impaciente. Depois nos falamos, ok?

Ele concordou e voltamos a nos despedir. Desliguei o celular e o deixei no balcão, depois fui atender a porta. O entregador estava de fato impaciente e nem esperou pela gorjeta. Peguei minha comida e a coloquei sobre o balcão, mas havia perdido a fome.

O que diabos eu iria fazer?

Não podia mais pedir o apartamento da Erin emprestado porque ela havia se mudado – eu até havia mencionado isso para James em uma de nossas conversas –, o que me deixava meio sem opções. Era evidente que eu não podia trazê-lo para cá, não sem correr o risco de um Asher, vestido só com uma toalha ao redor dos quadris, aparecer me perguntando sobre suas chaves ou qualquer coisa assim.

James me mataria, eu não tinha nem dúvida.

Estava tão ferrada que decidi que não me preocuparia com isso ainda. Eu era muito boa em adiar os assuntos nos quais não queria pensar. Eu só precisava me distrair, depois, com certeza, teria uma ideia brilhante que me tiraria dessa confusão.

Voltei à sala e coloquei no meu canal preferido. Candelabro Italiano começaria em 45 minutos, então deixei a TV no mudo, pequei meu notebook e meu yakissoba e me esparramei no sofá, me forçando a comer enquanto respondia a um e-mail da minha mãe.

A Sra. Pam Hyde era, sem dúvida, uma mulher moderna.

Ela basicamente queria saber se eu estava comendo direito, se meus colegas de trabalho eram gentis comigo, como iam Erin e Mitch e se meu colega de quarto continuava sendo um babaca completo.

É claro que eu nunca poderia nem pensar em esconder a verdade dela. Minha mãe conseguia detectar uma mentira num raio de mil milhas.

Eu respondi que sim, eu estava comendo muito bem, se comer muito bem significava muitos litros de café e comida para viagem a maior parte do tempo. JJ continuava sendo o mesmo descarado de sempre, mas era impossível não amá-lo e Cherry era uma bruxa vingativa. Mas eu também não conseguia desgostar dela, até porque era ela quem assinava meus cheques. Erin e Mitch estavam cada dia mais felizes juntos, mas a gravidez não deixou minha melhor amiga florescendo como uma flor na primavera como todos dizem que deve acontecer. Pelo contrário, parecia que ela tinha adquirido TPM eterna. Asher era um filho da puta maldito, mas ela já sabia disso. Preferi não comentar com ela o incidente da noite anterior e, ao invés disso, perguntei sobre o papai e se ela sabia que o James viria me visitar em duas semanas.

Depois que fechei meu notebook e terminei de comer, o filme já estava começando. Enrolei-me no cobertor e minha atenção foi totalmente tomada pelo filme que eu já tinha visto umas vinte vezes, mas que continuava a amar. Troy Donahue estava simplesmente irresistível como Don Porter.

No meio do filme, meu celular tocou, mas eu o ignorei porque era Erin, provavelmente com o intuito de me xingar e me ameaçar de morte. Ela tentou mais duas vezes e depois desistiu. Depois eu ligaria para ela, me desculpando. A garota era minha melhor amiga há anos e bem sabia que eu jamais atenderia o celular para ser xingada bem no meio de Candelabro Italiano nem de qualquer filme com o Cary Grant.

Quando o filme acabou, eu estava meio sonolenta. Outro filme começou, um que eu não conhecia, mas não conseguiu prender minha atenção e, pouco tempo depois, eu acabei dormindo.

Sonhei com tardes de primavera e flores coloridas. Era a época em que minhas fotos ficavam mais bonitas, pelo menos na minha opinião. E, como se fossem várias fotografias, eu via diferentes imagens no sonho. Um picolé derretendo na mão de uma criança, jovens andando de skate, um casal dividindo uma coca cola, um solitário balão cor de rosa voando no céu.

O sonho foi se desfazendo devagar, como bolhas que vão sumindo num banho de espuma, quando a água vai esfriando. O calor da primavera deu lugar ao vento gelado do outono, que parecia soprar meu cabelo para longe do meu rosto. Não abri os olhos, não sabia se tinha chegado a acordar, mas o frio me incomodava. Então, suavemente, senti algo quente e vivo se mexendo ao meu lado, se aconchegando ao lado do meu corpo. Aqueceu-me um pouco e o vento parou, como se fosse um ventilador que alguém tivesse desligado.

Tentei voltar para o meu sonho com flores e calor, mas era como perseguir um perfume suave que fica depois que alguém sai da sala, vai se apagando rapidamente. Mas não foi exatamente o que me fez acordar. Abri os olhos, piscando por causa da escuridão, até meus olhos se acostumarem. Sem precisar olhar, percebi que as janelas estavam fechadas, porque eu não conseguia ouvir o ruído da rua lá embaixo e nem sentir o vento que sempre balançava as cortinas, que continuavam abertas, já que as únicas luzes que impediam a escuridão de ser completa vinham lá de fora. A TV estava desligada.

Me movi para levantar e ouvi um miado alto e indignado. Embaixo da mão que eu tinha usado para me apoiar estava a cauda peluda do Nero, que aparentemente estivera dormindo enroscado a mim. Gato abusado.

Um ruído baixinho tirou minha atenção daquele felino sem modos e eu virei o rosto na direção da porta. Mesmo no escuro, eu pude ver aquele contorno característico que só poderia pertencer a uma pessoa.

Não me assustei. Meses convivendo com Nero e sua mania de se esgueirar no meu quarto no escuro me fizeram imune a isso. Asher parecia ter acabado de chegar e girava seu chaveiro numa mão. Perguntei-me se não tinha sido o barulho de chaves que havia me acordado e que aquele idiota tinha feito de propósito. Mas aí ele andou até a parede e acendeu as luzes. Pisquei algumas vezes, os olhos doendo pela luminosidade repentina, mas segundos depois, voltei a olhar para Asher e percebi que tinha algo em sua outra mão.

Algo que me fez soltar um gritinho de empolgação, um que só garotas e crianças conseguem soltar. Pulei do sofá e por pouco não me joguei no meu colega de quarto lindo.

Que tinha uma sacola da Papabubbles na mão.

– Diz que é pra mim, diz que é pra mim – exigi, sorrindo de orelha a orelha e vendo a expressão dele passar de espanto para satisfação.

– Para quem mais seria? – perguntou, dando de ombros, tentando parecer casual. – Você sabe que eu odeio essas porcarias.

Precisei me segurar para não me jogar nos braços dele e, ao invés disso, quase arranquei a sacola da sua mão, correndo com ela para o sofá, onde virei todo o seu conteúdo. Papabubbles era uma pequena loja de doces que ficava na nossa rua, a uns dois quarteirões de distância, do lado de um restaurante vegetariano que Asher adorava. O lugar tinha os melhores doces que eu já tinha experimentado na vida e, ao vê-los espalhados pelo sofá, percebi que meu colega de quarto não podia ser tão detestável assim, já que escolhera meus preferidos.

Vários saquinhos cheios de pirulitos coloridos, bengalas de açúcar, anéis comestíveis e bombons em formato de sushi nos sabores laranja, limão, morango, cereja e canela picante.

Desembalei um dos bombons em formato de sushi, ignorei os hashis que vinham para que a pessoa pudesse comer como um sushi de verdade, e enfiei-o na boca com os dedos mesmo.

Paraíso.

Eu estava de olhos fechados enquanto o sabor explodia na minha boca, mas ainda pude ouvir a risada de Asher.

– Você tem noção do que isso parece, não tem? – ele perguntou enquanto eu o olhava, questionadora.

– Isso o quê? – perguntei, com a voz enrolada por causa do doce na minha boca.

– A sua expressão.

Quando eu continuei encarando-o, provavelmente parecendo tão confusa como me sentia, ele fez a gentileza de explicar:

– Fico imaginando se é essa expressão que você faz quando tem um orgasmo.

Engasguei.

E ele riu.

Filho da puta.

Joguei um pirulito nele, que desviou, fazendo o doce se espatifar no chão.

Droga, eu não conseguia acreditar que tinha acabado de desperdiçar um pirulito da Papabubbles por causa do Lockwood.

Meu colega de quarto, não tão detestável assim? Eu já podia riscar essa frase da minha vida.

Ele continuou rindo e eu precisei me segurar para não tacar mais nada nele.

– Idiota! – tive que me contentar em xingá-lo.

– De nada – foi a resposta.

Bufei e desviei o olhar, pegando um pirulito e colocando-o na boca.

– Com essa cara emburrada, esse pirulito e esse cabelo bagunçado, você parece ter uns treze anos, monstrinho – Asher parecia feliz em me provocar, mas quando eu tirei o pirulito da boca para mandá-lo lamber pedra, ele levantou as duas mãos com as palmas viradas para mim e disse:

– Calma, calma. Eu não quero brigar – e foi se aproximando do sofá.

– Não parece – retruquei, fitando-o com os olhos apertados.

– É sério. Eu até trouxe doces para você como uma oferta de paz, mesmo que eu deteste essas coisas e pense que você vai estragar seus dentes com isso.

Rolei os olhos e ele se sentou no sofá do meu outro lado, o que não estava tomado por delícias doces.

– Meus dentes são preocupação minha, papai – falei, mas não podia negar que ele tinha um ponto. Afinal, fora muito...fofo? Não, Asher e fofo na mesma frase simplesmente não poderiam coexistir. Fora muito legal da parte dele trazer doces para mim. Era o melhor pedido de desculpas que eu iria conseguir. – Mas obrigada pelos doces. Eu aceito sua oferta de paz se você se comportar.

Ele me lançou aquele sorrisinho de canto que costumava fazer mulheres mais fracas derreterem no chão como gelo no calor.

– Isso eu não posso prometer, monstrinho – ele disse e só sua voz já era uma provocação.

– E por que não?

Ele não respondeu imediatamente, e aquele sorriso sem vergonha dele continuava no lugar. Talvez ele tivesse me dado uma resposta, talvez não. Eu nunca tive a chance de saber porque um grito, seguido de um barulho de louça sendo quebrada, conseguiu ultrapassar a barreira das janelas fechadas e chegar aos nossos ouvidos.

É claro que – como bons curiosos que éramos – corremos na velocidade da luz para a janela e a abrimos o mais discretamente que conseguimos. Asher acabou sentado no batente e eu fiquei ajoelhada na frente dele, com o rosto meio escondido atrás dos seus joelhos.

O escândalo era na casa da Joker. Aparentemente, o pai dela havia descoberto sobre a namorada da filha, se os gritos de “eu não vou ter um sapatão em casa!” servissem de indicação.

A menina de cabelo verde chorava e tacava pratos na parede, dizendo que o pai era um tirano e que ele nunca conseguiria separá-la da Allison.

Assumimos que Allison fosse a namorada dela.

Até que, vinte minutos, muitas ofensas, lágrimas e objetos quebrados depois, Joker se trancou em seu quarto e o Sr. Tweed encheu um copo com uísque sem gelo e mandou ver.

E foi aí que decidimos que dificilmente alguma coisa interessante iria acontecer depois que o Sr. Tweed caísse dopado de bêbado na poltrona da sala enquanto a filha se descabelava de tanto chorar no quarto. Então nos afastamos da janela e eu voltei a sentar no sofá – terminando meu pirulito e entregando meu palito para Asher jogar no lixo, já que ele estava indo para a cozinha.

– Você está com fome? – ele perguntou enquanto minha cabeça ainda estava nos problemas da pobre adolescente de cabelo verde do prédio da frente.

Fiz que não com a cabeça.

– Você acha que a Joker está só passando por uma fase ou ela realmente gosta dessa tal de Allison? – perguntei.

Asher pegou um vinho no armário e duas taças, antes de desligar a luz da sala com o cotovelo, deixando o lugar na penumbra, só iluminado pelas luzes da rua. Ele havia tirado as botas e as deixado perto da janela, mas eu estava me segurando para não mandá-lo guardá-las. Eu não queria ser tão chata com o cara que tinha me comprado doces da minha loja de doces preferida.

– Talvez nem uma coisa nem outra – ele respondeu, sentando-se no chão, na frente do sofá e abrindo o vinho. – Acho que ela só está tentando enfurecer o pai.

O jeito como ele falou foi estranho. Fazia parecer que ele falava por experiência própria.

– Você teve um namorado gay só para irritar seu pai? – perguntei, meio como brincadeira.

Ele me ignorou e perguntou:

– Quer vinho?

Assenti e ele colocou a bebida para nós dois nas duas taças, entregando-me a minha sem me encarar.

Será mesmo que ele tinha tido um namorado? Eu simplesmente tentava, mas não conseguia imaginar Asher com outro homem, era quase engraçado.

– Quer parar de me imaginar como gay, Max? – ele pediu, soando aborrecido e me pegando de surpresa.

– E-ei, eu não estava imaginando nada! – gaguejei, sentindo-me como se tivesse sido pega no flagra.

Ele só me deu aquele sorrisinho de quem sabe das coisas.

– Para de ler minha mente! – gritei, o que o fez soltar uma gargalhada.

Eu não consegui me impedir de rir junto com ele, o que era meio ridículo, afinal, ele estava rindo de mim. Mas a risada dele tinha aquele componente contagiante que algumas risadas têm, que impelem as pessoas ao redor a acompanhar.

– Você é um idiota, sabe disso, não é? – falei, ainda rindo e tomando um gole do vinho.

– E você me adora – ele respondeu e riu ainda mais quando eu lhe lancei um olhar cético.

Eu ainda tinha um sorriso no rosto quando meu celular tocou. Eu o peguei e vi que era uma mensagem de James, com o dia e o horário do seu voo.

O sorriso morreu nos meus lábios e eu senti como se, de repente, meu estômago pesasse 300 quilos.

– O que foi? – Asher perguntou, soando preocupado. – Quem é?

Desviei o olhar do celular, mas não o encarei. Bebi mais do vinho.

– James – respondi.

Por um bom tempo, ficamos em silêncio. Eu encolhi minhas pernas no sofá e as rodeei com um só braço. Asher havia se apoiado no sofá, de modo que tudo o que eu podia ver dele eram o topo da sua cabeça com cabelo escuro, seus ombros e suas pernas esticadas.

Foi quase como se horas tivessem se passado quando ele quebrou aquele silêncio opressivo:

– Você nunca pensou em experimentar coisas novas? – sua voz soava neutra demais, calma demais.

– Você quer dizer pessoas novas? – repliquei.

Ele ficou alguns segundos calado, como se estivesse pensando na resposta, até que disse:

– Bem, sim.

Suspirei. Eu já havia tido aquela conversa tantas vezes, com tantas pessoas. Erin, JJ, amigos da faculdade e até meus pais. Eu não precisava falar com mais ninguém sobre aquilo, muito menos com um cara que eu desprezava na maior parte do tempo e que não me conhecia absolutamente, mesmo que tivéssemos passado os últimos meses sobre o mesmo teto.

Lockwood simplesmente não entenderia. Seu estilo de vida era tão diferente do meu que era quase como se fôssemos de espécies diferentes obrigadas a conviver juntas dentro de um zoológico, mas que, na natureza, nunca cruzariam o caminho uma da outra.

Pensei em me levantar e deixá-lo sem resposta, como ele fazia tantas vezes comigo, mas antes que eu pudesse fazer isso, me percebi dizendo:

– Sim, uma vez.

Eu senti, mais do que vi, ele se virando para me olhar.

– E o que aconteceu? – inquiriu, parecendo genuinamente interessado.

Fechei os olhos por alguns segundos, quando as lembranças de alguns anos atrás voltavam com força total. Eram como flashes, não ordenadas, totalmente caóticas. Sorrisos secretos, olhares que diziam muito, o banco de trás de um carro, gotas de chuva molhando meus sapatos, minha voz ensaiando mil vezes o mesmo discurso, acordar no fundo de uma banheira vazia, cabelos loiros e compridos, sujos. A voz de James. Calma, suave, que fazia meus olhos encherem de lágrimas.

– James me convenceu do contrário – finalmente respondi, ainda de olhos fechados.

– Como?

Abri os olhos e, mesmo somente com a luz fraca da rua, eu sentia o olhar pesado de Asher no meu.

– Não é da sua conta.

De repente, a mão de Asher estava sobre a minha. Seu polegar acariciava os nós dos meus dedos como se ele fizesse aquilo o tempo todo.

– Ele...ele não foi violento com você, não é Max? – sua voz soava quase assombrada, como se ele estivesse com medo da minha resposta. – Você sabe...eu posso ser meio irresponsável, mas se você precisar de ajuda, eu...

Eu ri, nervosamente, e tirei minha mão debaixo da dele, passando a esfregá-la com a outra.

– Não, não é nada disso – eu dei uma risadinha com a ideia de James levantando a mão para mim. Primeiro que a lista de pessoas para castrá-lo e assassiná-lo se ele fizesse algo assim comigo era bem longa. E, bem, James nunca me machucaria. – James pode ter uma aparência meio intimidadora e um gênio controlador infernal, mas ele se jogaria de um penhasco antes de fazer mal a mim. Ele me ama.

Outro longo silêncio veio depois da minha declaração. Por algum motivo, eu estava desconfortável com aquilo, quase como se tivesse cometido uma gafe ao falar que James me amava. Asher não o conhecia – a não ser pelas coisas que eu, Erin ou Mitch falávamos dele – mas algo me dizia que qualquer cara que perdesse tempo ficando tanto tempo com a mesma garota sempre seria desprezado pelo meu colega de quarto.

Ou algo assim.

– Então, como ele a convenceu? – Asher perguntou de repente, como se aquele silêncio nunca tivesse existido.

Franzi o cenho, mas ele não tinha como ver, já que tinha voltado a se apoiar no sofá, de costas para mim.

– Por que você quer saber? – eu não confiava nem um pouco naquele cara, apesar de morar com ele.

Não, eu não acreditava que ele fosse me matar durante o sono ou algo do tipo. Mas eu nunca o escolheria para fazer confissões. Asher Lockwood tinha todo o jeito de ser o cara que usaria todas as informações que pudesse reunir contra você, se precisasse. Ele não tinha escrúpulos ou moral. Às vezes, eu me perguntava se ele era mesmo um ser humano.

– Curiosidade – foi a única palavra dele.

Eu ri pelo nariz.

– Você espera que eu acredite nisso?

Ele se virou mais uma vez e sorriu brilhantemente para mim. Eu podia ver seus dentes imaculadamente brancos mesmo com pouca luz.

– Claro – respondeu.

Sorri. Ele havia falado como se esperasse que eu confiasse cegamente nele. Não, como se tivesse a certeza de que eu confiava nele. De que eu deveria acreditar em cada palavra que saísse da sua boca.

Ou ele era muito ingênuo ou muito confiante.

Ou burro.

– Idiota – eu disse, ainda sorrindo, mas não como se fosse um xingamento. Era meio como se eu não tivesse outro nome para chamá-lo.

Ele também continuou sorrindo e colocou sua taça vazia no chão ao seu lado, antes de levantar e se sentar perto de mim no sofá.

– “O mundo lá fora é muito cruel, cruel demais para você” – eu disse, citando James. Não que Asher soubesse disso. Eu olhei para ele tão perto de mim e meu sorriso se apagou. – Eu aprendi isso da pior forma possível, Asher.

Ele levou a mão até meu rosto e afastou uma mecha do meu cabelo, colocando-a atrás da minha orelha, roçando a pele da minha bochecha com seus dedos enquanto fazia isso.

– Eu sinto muito – ele murmurou, o seu sorriso também havia desaparecido. – Vai me contar que forma foi essa?

Balancei minha cabeça.

– Não nessa vida.

Ele suspirou e disse:

– Imaginei que fosse dizer algo assim.

Eu ri e também coloquei minha taça vazia no chão. Voltei a me encolher no sofá e a abraçar minhas pernas, dessa vez com os dois braços e com os olhos fixos no homem ao meu lado.

– Posso pedir um favor? – perguntei timidamente.

Ele sorriu e fez uma mesura estranha, já que estava sentado.

– Pode pedir qualquer coisa, Srta. Hyde – respondeu, dando bastante ênfase no “pedir”.

Rolei os olhos, mas me obriguei a explicar tudo para ele. James, aniversário de namoro, visita, duas semanas. Ele ficou bem calado enquanto eu explicava o quanto isso era importante para mim e pedia para ele que, por favor, me deixasse ficar com o apartamento por um final de semana.

– E onde eu ficaria durante esses dias? – perguntou quando eu acabei.

– Duvido que você não possa ficar na casa de uma das mil mulheres que você tem.

Ele riu.

– Mil mulheres? Acho que devo ficar lisonjeado por você pensar que eu sou tão incansável assim.

Agradeci mentalmente por estar escuro e o idiota não poder ver meu rosto sendo tingido de vermelho pelo rubor.

– Asher, você vai fazer isso por mim ou não? – perguntei com um suspiro.

Ele ficou calado durante alguns segundos, até que respondeu:

– Depende.

Arqueei uma sobrancelha para ele – embora talvez ele não pudesse ver – e pensei que era melhor nem perguntar do que esse favor dependia. Mas como eu estava ferrada até o pescoço, decidi que uma simples pergunta não poderia doer.

– Depende do quê? – perguntei com cautela.

– Do que você tem para me oferecer.

Por que eu fui perguntar mesmo?

– Se você insinuar qualquer coisa sexual, eu mato você aqui e agora.

– Calma, monstrinho! – ele riu. – Não foi você mesma quem disse que eu tenho mil mulheres? Não se preocupe, não estou tentando te levar para a cama.

Bufei, mas me senti meio idiota.

– Então o que você quer? – perguntei, brusca.

Ele pareceu pensar por um momento, colocando a mão no queixo e tudo, mas me pareceu fingimento. O que quer que ele tivesse em mente, já sabia há muito tempo que queria.

– Primeiro, eu quero que lave minhas roupas – revelou finalmente.

Fiz uma careta. O cara não podia ser mais original? Pedir para a colega de quarto – que era garota – lavar suas roupas não era nada novo. Mas também não era tão ruim, então eu nem podia reclamar.

– Tudo bem – concordei, já pensando em comprar aqueles pegadores de macarrão só para não precisar tocar nas roupas dele. – Mais alguma coisa?

– Sim – ele sorriu e, mesmo no escuro, eu sabia que não era um sorriso agradável. – Eu quero que você lave minhas roupas junto com as suas.

Espera um pouco...

– O QUÊ? – soltei, largando minhas pernas e me virando totalmente para ele. – Nem pensar!

Ele deu de ombros e eu pude ver o movimento contra a luz que vinha lá de fora.

– Então esqueça a ideia de trazer seu namoradinho para cá – falou, com a voz quase neutra.

O descarado não conseguia esconder a satisfação.

Merda.

– Por que você quer que eu lave a sua roupa junto com a minha? – perguntei, frustrada.

Ele deu de ombros novamente.

– Porque eu me preocupo com o meio ambiente e, como você bem sabe, lavando roupa duas vezes, você gasta mais água.

Minha vontade era pegar a taça que estava no chão e quebrar na cabeça dele, mas me controlei. Não era tão ruim. O idiota até que estava certo. Eu estaria ajudando o meio ambiente...

Mas só o pensamento das cuecas dele perto das minhas roupas me fazia estremecer.

– Tudo bem, tudo bem – consegui dizer, embora ainda não soubesse como faria aquilo sem ter uma embolia. – Só isso?

Ele sorriu, satisfeito, e fez que não com a cabeça.

Oh meu Deus, eu quase não queria saber o que mais ele queria de mim.

– O quê? – perguntei, rezando para ser algo não tão horrível.

– O Halloween está chegando e eu preciso de alguém para ir comigo em uma espécie de festa.

Mais uma vez, arqueei uma sobrancelha para ele, totalmente cética. Aquilo era esquisito demais e eu não tinha certeza se tinha entendido.

– Você quer que eu arranje alguém pra ir com você? – perguntei. – Mas você tem... –

– Mil mulheres, é – ele me interrompeu, rindo. – Não é isso. Eu quero que você vá comigo.

Eu tinha escutado direito?

– Eu? – não consegui manter a surpresa longe da minha voz. – Por quê?

– Porque eu não gostaria que nenhuma mulher que eu estou tentando levar pra cama me visse fantasiado e pedindo doces de porta em porta.

O cara só podia estar brincando.

– Você não está meio grandinho para isso?

Ele ignorou minha pergunta, o que já era quase um hábito, e me fez outra pergunta, uma que eu não podia ignorar, por mais que quisesse:

– Sim ou não, Max? Você é quem sabe.

Suspirei e acabei assentindo. Podia ser pior, eu fiquei dizendo para mim mesma. Podia ser bem pior...

– Ah, e você vai ter que usar uma fantasia – Asher disse, como se tivesse só se lembrado disso naquele momento, embora eu sentisse que ele tinha planejado revelar essa parte só depois que eu tivesse concordado. – E eu sei exatamente o que você vai usar.

O jeito como ele me olhou enquanto disse isso me fez estremecer.

– Por que eu sinto como se tivesse acabado de negociar com o diabo? – pensei em voz alta.

Asher riu alto e, dessa vez, eu não senti vontade de acompanha-lo. Ele se levantou, pegou as taças vazias e a garrafa de vinho pela metade e foi para a cozinha, olhando-me por cima do balcão, onde colocou as taças e a garrafa.

– Talvez você tenha – ele disse, sorrindo sardonicamente.

Balancei a cabeça e passei as mãos nervosamente pelo cabelo.

– Eu não entendo por que você está fazendo isso comigo – revelei, sem ter a intenção de fazê-lo. Foi quase como se eu tivesse pensando alto novamente.

O sorriso morreu nos lábios dele, que voltou para a sala e parou na frente do sofá, olhando-me de cima. Então ele se abaixou e segurou meu queixo, falando sem sorrir:

– Talvez eu só goste de torturar meu monstrinho.

Então me largou e se sentou ao meu lado, perguntando se eu queria assistir um filme, como se nada tivesse acontecido.

Eu peguei meus doces e os coloquei de volta na sacola, antes de ir para meu quarto e bater a porta com toda a minha força.

Peguei meu celular e quase liguei para James, para contar toda a verdade.

Quase.



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Notas finais do capítulo

Agradeçam a Nana também, porque sem ela esse cap não tinha saído agora heausheuasheuahse. E ela sempre tem as MELHORES ideias pra chantagem, só falando...
Já comecei a responder os reviews do cap passado e vou terminar ainda, então beijos :**
E até o próximo!