Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 41
Eu já disse adeus


Notas iniciais do capítulo

Vou copiar e colar o que escrevi em A100H heauheuhe
"Ai, gente, desculpa a demora mesmo. Eu não tive férias, tô estudando direto desde o ano passado, e ainda precisei me mudar. Faz uma semana agora e o apê novo ainda tá de pernas pro ar D: sem falar que eu fiquei meio desmotivada esses meses, mas não foi por nenhum motivo em particular. Mas obrigada pra todo mundo que sempre me apoia e não me mata por essas demoras horríveis :( "
E pra terminar, vou agradecer MUITO a Babi, a Yoolucky, a Gleh e a Giovanna Styles, por terem recomendado PW apesar de eu não estar merecendo. Vocês me fizeram muito feliz!



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   Como esperado, meu pai saiu do hospital no fim da semana. Ele tinha um milhão de recomendações sobre repouso e recuperação e depois exercícios e novos hábitos alimentares. Reclamava de tudo, claro, mas no fundo eu sabia que não se importava tanto de trocar as batatas fritas gordurosas por sanduíches naturais. Ele também estava assustado, também queria fazer o possível para que não precisasse passar por algo como aquilo de novo, para que nós não precisássemos sequer imaginar um mundo sem ele.

   Eu permaneci em Parsons e perdi a inauguração da exposição de Christopher, mas não podia dizer que estava muito chateada por isso. Cherry disse para eu não me preocupar, para ficar com minha família que ela e JJ se encarregariam de tudo, afinal, nem havia mais tanto trabalho a ser feito. Mandei uma mensagem educada a Chris no dia da inauguração e pedi desculpas por não estar lá e ele me respondeu de sua maneira sempre charmosa, mas não perdi muito tempo pensando nele.

   – O que você acha de Otto, se for menino? – Erin perguntou, chutando-me para fazer com que eu prestasse atenção ao que ela estava dizendo.

   – Essa criança vai ser o quê, um oficial nazista? – retorqui, arqueando uma sobrancelha, o que a fez me jogar uma almofada e riscar o nome em seu caderninho.

   Estávamos esparramadas no sofá da casa dos pais dela, considerando nomes de bebê. Mamãe e papai haviam dito que não me aguentavam mais – papai por já ter a mamãe lhe enchendo a paciência sobre o horário dos remédios e mamãe por alegar que ficaria louca se eu fizesse outra faxina na casa – e me mandaram ir fazer alguma coisa útil com a minha vida, tipo assistir alguma coisa na netflix com Erin. Acabei indo, até porque, apesar de minha melhor amiga continuar na cidade, eu a tinha visto muito pouco naquela semana.

   De fato, começamos a assistir a última temporada de America’s Next Top Model – eu ganhei no cara ou coroa –até Erin pedir minha ajuda com nomes de bebê.

   – Você não devia estar discutindo isso com Mitch? – eu havia perguntado, afinal eu era terrível com nomes de qualquer coisa. Sushi, o peixinho dourado que eu tive aos doze anos, ainda era uma prova irrefutável disso.

   – E ele está aqui, por acaso? – tinha sido sua resposta irritada.

   Não, Mitch não estava ali. Havia voltado para Nova York porque precisava trabalhar, segundo Erin, que não parecia nem um pouco feliz com isso. Mas ela não queria falar sobre Mitch e a quantidade excessiva de horas que ele começara a trabalhar desde que ela entrara no segundo trimestre da gravidez, não, minha amiga queria falar sobre nomes de bebê.

   – Que tal Magenta, se for menina? – perguntou, olhando da sua lista para mim.

   – Você realmente está considerando nomes de cores ou é uma referência a Rocky Horror Picture Show? – talvez Erin fosse pior nisso que eu.

   – Ah, cala a boca – mandou, mas não tinha nenhuma outra almofada sobrando para atirar em mim. – Você não está ajudando.

   Dei de ombros.

   – Não é minha culpa se você só escolheu nomes horríveis.

   – Então dá alguma sugestão, porra! – rosnou, fuzilando-me com o olhar. Aparentemente estar grávida não era a viagem nas nuvens que as pessoas sempre diziam que era.

   Ou talvez fosse apenas minha amiga que era eternamente mal humorada e ter um bebê crescendo em seu útero não ia mudar isso.

   – Tudo bem – cedi, ajeitando-me no sofá para vê-la melhor. – Que tal Jane?

   Erin rolou os olhos.

   – Aí quem sabe eu posso trocar o sobrenome dela para Smith – zombou. – Será que dá pra ser mais original?

   Respirei fundo, lembrando que minha amiga estava grávida e eu não podia simplesmente derrubá-la do sofá.

   – Certo – concordei de novo, tentando lembrar de algum nome que Erin gostasse e não fosse totalmente abominável. – Eu gosto de nomes curtos, então, se for menino...eu gosto de Zack. E Milo.

   – Milo parece nome de cachorro – Erin comentou, pensativa. – Mas eu gosto de Zack, vou colocar na lista. E se for menina?

   – Por que você não faz logo um ultrassom e descobre se é menino ou menina, assim a gente pode limitar as possibilidades? – sugeri, porque eu não entendia como ela ainda não tinha feito isso.

   Erin jogou o caderninho com a lista no colo e, com a cabeça para trás e os olhos fechados, suspirou, dizendo:

   – Você também não. O Mitch disse a mesma coisa.

   – E qual o problema? – perguntei, sem entender.

   Erin se levantou e apertou seus braços perto do corpo, virando para a direção oposta.

   – O problema é que eu quero que seja surpresa! Eu sei que é besteira, mas...

   Levantei-me e fui até ela, abraçando-a por trás e me inclinando para apoiar meu queixo em seu ombro.

   – Não é besteira, Erin, ninguém disse que é. É sua opção – falei.

   – Mitch disse que era – ela falou, apertando minhas mãos nas dela. – Ele disse que eu não estava sendo prática e que precisamos comprar as coisas agora e não depois do nascimento e que, sem saber o sexo, vamos acabar comprando tudo amarelo e ele odeia amarelo.

   Eu não podia acreditar naquilo. Nunca ia imaginar que Mitch pudesse ser tão burro, babaca e insensível. Eu realmente esperava que Erin tivesse chutado suas partes até que aquele fosse o único filho que eles pudessem ter na vida.

   – E o que você fez? – perguntei, soltando-a para poder ir para sua frente e encará-la.

   – Eu o mandei se foder – respondeu monotonamente, dando de ombros. – Depois peguei seu cartão de crédito e comprei todas as coisas de bebê bonitinhas que encontrei na internet. Tudo cor de rosa.

   Isso me fez rir e só então Erin esboçou um sorrisinho.

   – Mas e se for menino? – perguntei, ainda rindo.

   – Quem estabeleceu que rosa é exclusivo para meninas? Se eu tiver um menino, ele vai usar cor de rosa e pronto – respondeu, batendo o pé. – Amarelo meu rabo – resmungou, o que me quase me fez engasgar de tanto rir.

   Se Mitch estava agindo como um babaca, o único a perder seria ele. Erin era muito decidida e sabia se defender. E se vingar também. Mitch corria o sério risco de acordar careca um dia desses. Erin estava num humor muito pior do que da vez em que raspou minha sobrancelha quando eu estava dormindo, no primeiro ano de faculdade, e só porque eu tinha tomado o seu toddynho.

   A pequena sombra de sorriso nos lábios de Erin sumiu de repente e seu semblante ficou sombrio e sério. Ela começou a enrolar seu cabelo com as mãos do lado da cabeça, o que costumava fazer quando estava nervosa ou angustiada. Eu queria perguntar o que estava acontecendo, mas conhecia Erin melhor que qualquer pessoa. Ela não respondia à pressão, ela fazia as coisas apenas quando queria, quando se sentia pronta, sem se importar com a opinião de ninguém.

   Acabou que não precisei esperar muito.

   – Mitch tem estado estranho desde que voltamos de viagem – contou, desviando os olhos dos meus. – Ele está distante, sempre trabalhando demais, me deixando sozinha...eu acho que ele está entrando em pânico.

   Aproximei-me e a guiei de volta ao sofá, onde ambas sentamos.

   – Entrando em pânico por quê? – perguntei.

   Erin me fitou como se não acreditasse que eu não tinha entendido.

   – Ele não tem nem trinta anos e já está casado e com um filho a caminho – explicou como se fosse óbvio. – E ainda por cima precisou abandonar um emprego que amava por causa do bebê. Acho que foi tudo muito rápido, Max...nós com certeza não planejamos que as coisas acontecessem assim. Eu mesma entrei em pânico algumas vezes, mas sempre consegui ver todas as coisas boas sobre o que estamos vivendo, no fim. Talvez ele não veja as coisas boas, talvez tenha se arrependido.

   Balancei a cabeça, tirando as mãos de Erin do seu cabelo e colocando uma mecha atrás de sua orelha.

   – Erin, Mitch te ama demais – comecei, acariciando eu mesma seus cabelos – e eu acho muito difícil que ele tenha se arrependido de casar com você. Eu acho muito difícil que ele tenha se arrependido de vocês dois, do que vocês são, do que estão construindo. Ele não é um babaca. Ele é o cara mais maravilhoso do mundo.

   Ela assentiu, mas não pareceu convencida.

   – Certo, mas e se não for? E se ele mudou? E se ele realmente estiver arrependido e não quiser mais essa vida? Mitch é jovem, Max, talvez ele queira mais aventura que uma cerquinha branca e dois filhos e meio.

   Erin era forte, mas eu podia ver o brilho das lágrimas que eu sabia que ela não derramaria. Não na minha frente, pelo menos. Então eu a fiz se recostar contra meu peito e a abracei, confortando-a como podia.

   – Se isso acontecer, ele é o maior idiota do mundo. E você não vai estar sozinha – falei.

   Ela assentiu.

   – Eu sei que não, sei que tenho um emprego, minha família, meus amigos. Não é como se eu fosse ficar desamparada – disse e então soltou uma risadinha amarga. – Mas eu também sei que, se ele realmente estiver querendo cair fora, eu mesma vou mandá-lo tomar onde o sol não bate, sair batendo a porta e ser uma feliz e independente mãe solteira. Mesmo que isso acabe comigo. Não vou prender ninguém a mim que não queira estar ao meu lado, Max.

   Eu ri com a imagem mental que suas palavras me fizeram conjurar, mas foi um riso curto. Eu sabia que Erin amava Mitch loucamente, mas também sabia que ela era orgulhosa e determinada. Nunca ficaria num casamento com um homem que não a amasse mais, nem que isso significasse ser mãe solteira. Claro que eu não acreditava que esse fosse o caso, o que quer que estivesse acontecendo com Mitch, eu duvidava que fosse um ataque de pânico ou falta de amor. O cara sempre quis uma família, por que surtaria agora que tinha uma?

   – Eu vou ser uma boa mãe, Max – Erin acabou dizendo, tirando-me dos meus pensamentos. – Com ou sem Mitch, eu preciso ser uma boa mãe para a minha filha.

   Eu não podia concordar mais. Erin seria uma ótima mãe. Exceto quando esquecesse a criança no supermercado, mas nem tudo pode ser perfeito.

   – Filha? – perguntei, sorrindo. – Você não disse que não sabia o sexo?

   – E não sei, mas estou sendo feminista, ok? – respondeu e parecia mais leve, de alguma maneira, embora seu rosto ainda estivesse sério. – Com a minha sorte, será provavelmente um menino com nome de cachorro que vai sair do hospital usando um macacãozinho cor de rosa do My Little Pony.

   Dessa vez não consegui me segurar e ri alto.

   Depois de um tempo, Erin riu comigo.

...

   Quando voltei para casa já era bem tarde e meus pais provavelmente já estavam dormindo. Sorri ao ver que mamãe havia deixado a luz da varanda acesa pra mim, como ela fazia quando eu era adolescente, e saí correndo para casa, ansiosa para sair do frio. Estava procurando as chaves na bolsa quando um vulto à minha esquerda me fez pular tão alto que minha pele quase descolou dos ossos.

   Soltei um palavrão tão sujo que sabia que, se minha mãe tivesse ouvido, meu fígado iria parar na panela.

   Palavrões não eram aceitos na casa Hyde, o que era estranho já que a Hyde mais nova (leia-se: eu) tinha uma boca tão suja.

   Coloquei a mão sobre o coração, como se tentando impedi-lo de fugir pela boca com suas batidas desesperadas. James se levantou do banco da varanda onde estivera sentado. Seus olhos estavam vermelhos e suas botas, sujas de neve até quase o topo de suas calças. Seu carro não estava na entrada – ou eu o teria visto ao estacionar –, então eu assumi que ele tinha andado até ali. O que era uma boa coisa, levando em consideração a garrafa de Jack pela metade que ele tinha nas mãos.

   – Max – disse apenas meu nome.

   Pela sua voz, ele não parecia tão bêbado, apenas um pouco alterado. Seu cabelo estava desalinhado e seu casaco estava aberto e escorregando de um ombro, mas ele parecia estar se mantendo em pé firmemente.

   – James, que porra você tá fazendo aqui? – perguntei irritada.

   O que ele podia esperar depois de me assustar a ponto de quase fazer minha alma ir encontrar o criador?

   – Eu precisava ver você – ele balbuciou, se aproximando.

   Abaixei-me para pegar a bolsa que tinha derrubado com o susto, sentindo meu coração voltar lentamente ao seu ritmo normal.

   – Você podia ter ligado – argumentei, rolando os olhos. – Ou aparecido aqui em uma hora conveniente, como uma pessoa normal, e não às duas da manhã. E de preferência não com a cara cheia de uísque.

   James não disse nada, apenas me olhou com aqueles olhos caídos de cachorrinho que espera ser chutado na barriga. Suspirei audivelmente, sentindo a raiva se dissipando, e peguei-o pelo braço, fazendo-o voltar a se sentar no banco frio e me sentando ao seu lado. Estava tão frio que eu me aproximei instintivamente dele, na esperança de que o contato fizesse meus dentes pararem de bater. Peguei a garrafa de suas mãos, tanto para impedi-lo de beber mais quanto por eu mesma estar precisando de um gole.

   Levei a garrafa aos lábios e bebi generosamente por um segundo, fazendo uma careta com o gosto forte e a ardência que desceu pela minha garganta.

   – O que é tão urgente, James? – perguntei depois de limpar o uísque dos meus lábios. – O que não pode esperar até amanhã de manhã?

   James não respondeu imediatamente. Por um tempo, pensei que ele não diria nada. O silêncio entre nós não era tranquilo, não era pacífico. Era quase como se eu soubesse o que ele diria antes mesmo que suas palavras formassem sons.

   Ele colocou a mão sobre a minha, a mesma que segurava a garrafa entre nós.

   – É difícil – falou, a voz ainda não soando muito normal por conta do álcool. – Ver você aqui. Eu pensava que estava te superando, pensava que podia começar a ver outras pessoas, seguir minha vida. Que podia lembrar de você apenas como alguém do meu passado, alguém que amei. Mas a verdade é que não posso.

   – James... – sussurrei, virando-me para olhar em seus olhos, que brilhavam mesmo na luz fraca da varanda.

   – Não posso, Max – continuou como se eu não tivesse dito nada. – Não posso porque não te amei, não no passado. Eu te amo, ainda. Eu te amo sempre.

   Senti sua boca na minha antes que pudesse esboçar qualquer reação. A garrafa escorregou de minhas mãos para o banco. O celular em meu bolso começou a vibrar de repente. Suas mãos permaneceram onde estavam, quase como se ele tivesse medo de se mover. Seus lábios também estavam estáticos sobre os meus, até que eu finalmente me afastei.

   – James, eu sinto muito – murmurei, segurando seu rosto entre as mãos com carinho.

   Seus olhos estavam baixos e não me encaravam.

   – O que mais machuca é saber que sua felicidade não depende mais de mim – falou, engatando um pouco nas palavras. – Porque eu sei que faria qualquer coisa para vê-la feliz, mas ele...eu não tenho como saber se ele vai fazer o mesmo, se ele vai amar você, se ele vai amar você tanto...

   Passei os dedos gentilmente por sua testa, por sua bochecha. Dei um beijo casto em seus lábios e apoiei seu rosto em meu ombro, abraçando-o com delicadeza.

   – Ele ama, James – falei baixinho, ainda segurando-o. – Ele me ama.

   James não disse nada e, depois de um tempo, senti todo o seu peso sobre mim. Ele parecia ter apagado. Consegui acordá-lo o suficiente para fazê-lo se levantar e ajudá-lo a entrar em casa comigo, mesmo que achar as chaves na minha bolsa com 90 quilos de ex namorado meio apoiado em mim tenha sido bem mais difícil do que eu tinha antecipado. Também não foi fácil ajudá-lo a subir as escadas, mas acabei conseguindo e sem fazer muito barulho. Deitá-lo em minha cama foi fácil, assim como tirar suas botas. Suspirei ao vê-lo se acomodar, abraçando um dos meus travesseiros e sentei-me, cansada, na poltrona perto da janela, com uma manta para me aquecer.

   Tirei os sapatos e me encolhi, pegando o celular que havia ignorado mais cedo. Eram mensagens de Asher.

   Nero sente sua falta.

   E outra, alguns segundos depois:

   Eu também.

 

   Desde que ele havia voltado, vínhamos conversando quase que apenas por mensagens, agindo como sempre agíamos, falando muito sem realmente dizer o que realmente queríamos dizer.

   Eu nunca havia mencionado a foto que ele havia me deixado.

   Seu gato me odeia, escrevi como resposta. E ele respondeu imediatamente.

   Boa coisa que o dono dele não. O que você está fazendo acordada tão tarde?

 

   Pensei no que dizer. Olhei para a minha cama, com James apagado nela e decidi que ambos mereciam a verdade.

   James estava me esperando na porta de casa. Ele bebeu um pouco.

 

   Você está bem? Ele fez algo? Onde ele está?

 

   Ele está dormindo. Eu estou bem, não se preocupe. A poltrona do meu quarto é bem confortável.

 

   Eu queria estar com você.

 

   Por quê? Está com ciúmes?

 

   Sim, mas não é por isso. Eu confio em você para não machucar quem te ama, não de propósito. E para sofrer quando precisa fazê-lo.

 

   Meu coração deu um salto, mesmo com o cansaço que eu sentia e o sono me puxando para suas profundezas. Meus dedos tremiam enquanto digitava uma resposta.

   Então, por quê?

 

   A resposta demorou alguns minutos. Eu já estava quase adormecendo quando o celular vibrou em minhas mãos.

   Porque sempre quero estar com você. Porque sei que ele é uma parte do que você é e que te machuca vê-lo assim. Porque sinto sua falta tanto como sinto sua presença.

 

   Eu não respondi, estava perdendo a luta contra o sono. Mas meu coração se apertou e eu pensei ter derramado uma lágrima. Mas quando acordei, se ela existiu, já havia secado.

...

   Meus pais iam ficar bem. Meu pai ia ficar bem. Ele mesmo me assegurou disso, dizendo que ia seguir todas as ordens médicas, que ia se cuidar mais, que amava a vida demais para tratá-la com pouco caso.

   – Nem todo mundo tem uma segunda chance, menina. A gente precisa aproveitar quando tem essa sorte – havia me dito com um sorriso de quem sabe das coisas.

   Suas palavras talvez tivessem mais significado para mim do que ele podia imaginar. Ou talvez ele soubesse, meu pai sempre havia sido bem ciente das coisas e das pessoas ao seu redor, mesmo que não fizesse alarde disso.

   James também ficaria bem. Eu esperava que sim. Talvez demorasse um pouco, mas ele era um bom homem, um bom amigo. Ele apenas precisava seguir em frente. Nem sempre essa era uma tarefa fácil, mas se havia alguém capaz de fazer o impossível, esse era James. E ele nunca desistia.

   – Eu vou continuar aqui para o que você precisar – me dissera com um sorriso triste. – Qualquer coisa, Maxine. Lembre que você tem alguém com quem contar.

   – Eu sei – eu o assegurara, sorrindo também. – Não se esqueça de que tem a mim também. Eu não estou sumindo da sua vida.

   – Eu sei – ele repetira. – Boa viagem, Max. E...desculpe por ontem. Eu...

   – Tudo bem, não precisa dizer nada. Não precisa se desculpar.

   Abraçara-o uma última vez e beijara meus pais antes de entrar no taxi com Erin. Havia ligado para ela no minuto em que havia acordado no dia seguinte e dito:

   – Acho que ficamos longe de casa tempo o suficiente, não?

   Erin não precisou de mais convencimento que isso.

   Ambas tínhamos coisas para consertar. E outro lugar em que deveríamos estar.

   E era para lá que estávamos indo.

   Não tinha olhado para trás enquanto o táxi se afastava. Não era que eu não quisesse dar um último adeus, era que eu já havia feito minhas despedidas e não via sentido em prolongá-las. Claro que eu os veria de novo. Meus pais e até James. Mas, mesmo agora, eu não era mais a mesma Max. Mesmo agora, eu estava mudando. E deixando uma grande parte da minha vida para trás.

   – Você avisou ao Asher que está voltando? – Erin perguntou muito tempo depois, quando já estávamos no avião.

   – Não. Você avisou ao Mitch?

   – Teria, se ele tivesse atendido minhas ligações.

   – Erin...

   – Tudo bem, talvez seja até melhor. Ele não vai nem saber o que o atingiu.

   Nós duas estávamos voltando à Nova York com uma missão. Eu só esperava que a da Erin não envolvesse assassinato premeditado.

   – Se eu for presa, você cuida do meu bebê? – Erin perguntou, quase como se tivesse lido meus pensamentos.

   Eu ri e respondi:

   – Acho que você vai ter que pedir para a Cherry ou o JJ, porque eu provavelmente serei presa com você por te ajudar a esconder o corpo.

   Erin riu e apoiou a cabeça no meu ombro enquanto o avião decolava.


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Notas finais do capítulo

Gente, PW tá no finalzinhooo, deem logo seus adeus pros nossos personagens amados - e os não tão amados - porque eu pretendo acabar logo :(
Ah, e pra quem gosta de yaoi fofinho, eu postei uma oneshot de presente pra uma amiga heuaheuahe, quem quiser ler, tá aqui :)
https://fanfiction.com.br/historia/670544/O_Guia_de_Gui_para_Quebrar_uma_Maldicao

beijos!