Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 4
Minha vida virou o playground do diabo


Notas iniciais do capítulo

Hey, tudo bem?
Comigo não tá, como eu já expliquei pra algumas pessoas, fiquei doente e estive morta esses últimos dias e hoje renasci. Ok, isso tá ficando papo de igreja da conversão. Então, ainda não tô totalmente recuperada, mas consegui escrever esse capítulo chatinho - desculpa, não deu pra sair nada melhor.
Obrigada pra linda e fofa da Luli e pra Anna, pelas recomendações ~cry
Fiquei emocionada, sério
Boa leitura



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   Estávamos no meio do outono e o vento gelado da noite me fez enterrar as mãos nos bolsos do casaco e me encolher nele. A caminhada até nosso prédio não era muito longa, demorava no máximo uns dez minutos, mas com o frio e a raiva que eu sentia, aquele pequeno percurso parecia a travessia do mar vermelho.

   Asher seguia na frente tranquilamente, como se fosse a pessoa mais sem problemas no mundo.

   Irônico quando eu lembrava que ele era o cara mais problemático que eu conhecia.

   Eu o seguia com dificuldade; os saltos mutilavam meus pés e cada passo que eu dava enviava uma dor aguda pelas minhas pernas. No entanto, eu permaneci calada. Aqueles saltos eram as únicas coisas que haviam funcionado como eu queria naquele dia infernal, obrigando meu colega de quarto abusado e sem moral a precisar olhar para cima para falar comigo.

   E não era só porque eu provavelmente teria que amputar meus pés depois que os tirasse que eu ia reclamar.

   Finalmente, quando eu comecei a achar que não conseguiria mais me controlar e começaria a gritar de dor e a arrancar os sapatos no meio da rua, a tortura acabou. Chegamos. Asher abriu a porta do elevador para mim e depois estendeu a mão para que eu lhe desse minha chave, mas eu o ignorei e abri a porta do apartamento eu mesma, cambaleando para dentro com o máximo de dignidade que meus pés torturados permitiram. O que não era muita coisa. Mas aí acabei pisando em algo que me fez perder totalmente o equilíbrio e cair esparramada no sofá.

   – Você bebeu? – ouvi aquela voz meio rouca perguntar e podia jurar que o maldito estava rindo com só um canto da boca.

   Lockwood tinha acabado de largar a sacola de comida em cima do balcão da cozinha americana e parou para me olhar. Peguei o objeto maligno que me fez perder o equilíbrio e o que restava da minha dignidade – e que podia ter me feito torcer um pé, eu ainda não tinha muita certeza – e joguei com força na direção dele.

   Ele apanhou o chaveiro antes que batesse no seu peito.

   – Obrigada por achar minhas chaves, Hyde – disse e sorriu para mim com os dois cantos da boca dessa vez. – Mas eu sugiro que você se sente como uma mocinha. Não que eu esteja reclamando, a vista daqui está ótima...

   Endireitei-me no sofá e rapidamente juntei os joelhos – não que antes eu estivesse toda arreganhada, mas eu ainda estava usando saia curta.

   – Eu sei que você não viu nada, Lockwood – respondi, inclinando-me para tirar os sapatos.

   Aleluia.

   Tirei o lado direito e gemi quando vi que meus piores temores haviam se concretizado.

   Não, eu não teria que amputar os pés. Mas eles estavam cobertos de bolhas latejantes e vermelhas que doíam como o inferno.

   – Quer que eu diga a cor da sua calcinha? – meu super inconveniente e tarado em tempo integral colega de apartamento perguntou no meu ouvido antes de se sentar ao meu lado, colocando nossa comida na mesinha de centro.

   – Quer que eu diga a cor que vai ficar seu olho depois do meu soco?

   Ele jogou uma olhada ao meu pé mutilado.

   – Se ficar tão ruim quanto isso aí, acho que vou precisar me preocupar.

   Rolei os olhos e o ignorei enquanto tirava o outro sapato e gemia ao ver o pé esquerdo tão acabado quanto o direito. Que ótimo. Como eu faria para – como diria Erin – colocar minha bunda magra na galeria amanhã?

   Asher se levantou do sofá e foi pegar dois copos de chá gelado para nós.

   – Pode me trazer a aspirina? – pedi, com medo de até encostar meus pés destruídos no chão.

   – Onde está? – ele perguntou, colocando os copos na mesa.

   – No armário do banheiro. E você esqueceu os porta-copos. De novo.

   Ele só rolou os olhos e murmurou algo que soou muito como “abusada”, mas pegou os porta-copos na cozinha e os atirou para mim antes de ir pegar a aspirina no banheiro. Eu sequei a mesa com um guardanapo antes de colocar os porta-copos e os copos sobre eles.

   – Liga a TV – mandou quando voltou a sentar ao meu lado, jogando o vidro de aspirinas no meu colo.

   – Liga você – respondi, colocando duas aspirinas na mão e as engolindo com o chá gelado.

   – Porra, Hyde, o controle está do seu lado, liga logo essa porcaria.

   Rolei os olhos e liguei a merda da TV, só para – nossa, que novidade – Lockwood tomar o controle da minha mão e insistir em colocar no History Channel.

   – Sinceramente, tem que ter algo mais interessante que Alienígenas do Passado passando na TV – reclamei enquanto provava o meu frango com curry. Ainda estava quente e era provavelmente a coisa mais deliciosa que eu comia naquela semana. E eu amo o hot dog nojento do cara da esquina, mas aquilo estava divino.

   – Cala a boca – foi a resposta do cara muito bem educado ao meu lado.

   – Fala sério, esse episódio ainda é reprise! Me devolve esse controle! – tentei tirar o controle dele, mas ele o afastou de mim.

   – Nem pensar, você vai querer assistir algum filme meloso de merda no Telecine Cult e eu não tô com paciência pra isso!

   Puxei os pelinhos do braço dele – ele havia tirado a jaqueta ao entrar, mostrando que a camisa branca que usava era de mangas curtas – e ele grunhiu e soltou o controle.

   – Golpe baixo – reclamou, massageando a área atingida enquanto eu voltava para o meu canto, feliz e sorridente, com o controle nas mãos. – Mas é sério, se você colocar no Telecine Cult, eu furo essas bolhas nos seus pés com meu garfo.

   – Você não ousaria – murmurei, olhando torto para ele.

   – Quer arriscar?

   Não, eu não queria. Se existia uma coisa que eu sabia sobre aquele cara – tirando o estranho amor por documentários toscos – era que ele era completamente imprevisível. Vai que ele era realmente um psicopata? Eu só estava morando com ele há cinco meses, talvez eu ainda não tivesse procurado o esconderijo das suas vítimas com muito empenho.

   Então eu fiquei zapeando os canais até deixar no Cartoon Network.

   Me julgue.

   Estava passando Adventure Time.

   Me julgue ainda mais, eu amava aquele desenho.

   E Asher também.

   É, além de observar a vida alheia como se o mundo fosse um grande Big Brother, nós dois gostávamos de desenhos animados, comida vietnamita e pipoca queimada. Infelizmente, não era nem de longe o suficiente para fazer com que nossa convivência fosse pacífica.

   Ele era um babaca e eu uma garota gentil e respeitável. Nunca seríamos amigos.

   Depois que terminamos de comer, eu me espreguicei no sofá e peguei meu celular para ver as horas. Ainda não eram nove da noite.

   – Você não vai sair hoje? – perguntei. Nunca vi o cara trabalhar e a vida dele parecia um eterno final de semana. Tinha sérias suspeitas de que ele era traficante de drogas.

   Ou gigolô.

   Sério, eu bem que conhecia algumas mulheres que pagariam para dormir com ele.

   – Não, hoje estou cansado, então a Jessica vem aqui – respondeu coçando a barba e bocejando.

   – É Jenna – corrigi, pensando na bonita morena com peitos enormes que ele estava pegando naquela semana.

   Ele assentiu e se levantou.

   – Isso, Jenna.

   Rolei os olhos enquanto ele se dirigia ao banheiro. Desliguei a TV e me levantei.

   Bom, eu tentei.

   – Merda – grunhi, voltando a me estatelar no sofá, sentindo como se tivesse acabado de pisar em fogo.

   É, eu tinha esquecido a droga das bolhas.

   – Tudo bem aí? – Asher perguntou, saindo do banheiro, abotoando as calças.

   Rolei os olhos, mas não falei nada a esse respeito. Ó, as inconveniências de morar com um homem...

   – Eu não consigo apoiar meus pés no chão – falei, frustrada.

   Ele me fitou por alguns segundos e então sorriu e estendeu a mão para mim.

   – Vem, eu te ajudo a chegar no quarto.

   Cerrei os olhos, meio desconfiada. Seria bem típico se ele me largasse no chão no meio da varanda ou algo do tipo, mas mesmo assim eu resolvi arriscar. Estava quase dando minha mão para ele quando a recolhi subitamente e perguntei.

   – Você lavou as mãos?

   Eu sabia que ele não tinha. Honestamente, homens são porcos. Bom, pelo menos a maioria onde está localizada a categoria de Asher, que são porcos e safados.

   Ele rolou os olhos para depois me fitar exasperado.

   – Sério mesmo? – perguntou.

   Assenti.

   – Se eu não lavar as mãos, você não vai me deixar tocar em você?

   – É claro que não!

   – Você prefere ficar aí a noite toda, com essas águas vivas crescendo nos seus pés a me ajudá-la a ir pro quarto, só porque eu não lavei a porra das mãos?

   Sorri brilhantemente para ele, que esperto esse garoto era, entendeu tudo direitinho.

   – Exatamente.

  Ele me deu as costas e voltou pro banheiro, murmurando:

   – Honestamente, mulheres são todas frescas...

   Depois de fazer muito barulho enquanto lavava as mãos – só para me provocar, é claro – Asher voltou, enxugando as mãos na toalha de rosto, que jogou no sofá. Eu olhei para a toalha e depois para ele, mas seu olhar ficou tão irritado que eu não me atrevi a dizer nada.

   – Então, vossa majestade, já posso ter a honra de tocar na preciosidade que é seu corpo? – perguntou com ironia, fazendo uma mesura exagerada.

   Eu sorri e respondi:

   – Já que não tem outro jeito mesmo... – e estiquei meu braço para ele.

   Asher o ignorou e me puxou pela cintura, colocando-me de qualquer jeito em cima do seu ombro, suas mãos me segurando pelas coxas.

   – Idiota! – gritei, batendo nas costas dele com os punhos fechados. – Me solta!

   Ele riu.

   – Não até colocá-la em segurança, majestade.

   Pelo menos ele me levou até meu quarto, enquanto eu gritava e esperneava.

   – Prontinho – falou, jogando-me sem delicadeza nenhuma na cama. – Precisa de mais alguma coisa, minha amada rainha?

   – Sim – respondi, trincando os dentes de raiva. – Sua cabeça numa bandeja.

   Ele só riu e se apoiou no batente da porta, passando a mão nos cabelos escuros e olhando-me com aqueles olhos cinzentos que simplesmente não conseguiam não ser intensos.

   – Sério, Hyde – começou, sem parecer que zombava. – Você não precisa de nada, não? Essas coisas aí – apontou para as enormes bolhas nos meus pés – parecem feias mesmo.

   Respirei fundo e controlei-me para não dizer que a única coisa de que eu precisava era ler o jornal no dia seguinte e ver a notícia de que um maluco com cabelos negros e olhos enervantes tinha se jogado do sexto andar de um prédio na Broome Street.

   – Se você puder fazer a gentileza de pegar a caixa de primeiros socorros no banheiro... – pedi, engolindo meu orgulho.

   Ele assentiu e fez o que eu pedi, voltando com a caixa logo depois, colocando-a na minha cama.

   – Mais alguma coisa? Estou me sentindo generoso hoje.

   – É, é o apocalipse chegando – ele riu torto e fez um movimento para sair do meu quarto, mas eu o chamei. Que merda.

   – Sim? – perguntou, virando-se novamente para mim.

   Mordi os lábios, jurando que se alguma vez precisasse passar por aquilo de novo, eu mesma me jogava da janela.

   – Será que você pode abrir a terceira gaveta da cômoda e...pegar algo pra eu vestir pra dormir?

   Meu rosto estava tão quente que eu nem queria imaginar o tom de vermelho que tomou conta da minha pele enquanto o sorriso daquele canalha se alargava.

   – Com todo o prazer – respondeu, se apressando para a minha pequena cômoda de madeira com pátina verde e abrindo a gaveta que eu indicara.

   Muito tarde para se arrepender, Hyde.

   Ah, mas eu me arrependi. Amargamente. No momento em que ele levantou e eu vi que tinha nas mãos simplesmente a camisola branca de renda transparente, de longe a coisa mais sensual do meu armário – porque eu raramente sou sensual – e que eu só usei uma vez, no meu último aniversário de namoro com o James.

   – Quer ajuda para se vestir também? – ele perguntou maliciosamente, se aproximando da minha cama.

   – Não, obrigada – respondi, tirando a maldita camisola das mãos dele com violência. – Fica pra próxima.

   Asher ia falar alguma coisa, mas meu celular escolheu esse abençoado momento para tocar e eu o atendi sem pensar.

   Eu senti que aquele dia seria infernal...minha vida virou o playground do diabo e ninguém me avisou.

   Era James.

   – Oi, amor – sua voz bonita soou enquanto eu fazia mímicas para que Asher saísse do meu quarto e ele só ria de mim. – Tudo bem?

   Estou prestes a cometer suicídio, apenas.

   – Oi, James, tá tudo ótimo – foi o que respondi e então a campainha tocou.

   Ótimo, a vagabunda do Lockwood havia chegado para a festinha.

   – Isso foi a campainha, Max? – James perguntou, confuso.

   – Não, amor, foi a TV – menti descaradamente, o que fez Asher segurar o riso enquanto ia atender a porta e, por isso, bater o pé na minha poltrona Luis XV, que ficava perto da porta.

   – Porra! – xingou alto, fazendo-me atirar um travesseiro nele e mentalmente xingar todos os poros do seu maldito corpo.

   – Maxine, tem alguém aí com você? – James perguntou, agora desconfiado.

   Por que exatamente eu precisava ter o namorado mais ciumento do globo?

   – Não, amor, ninguém – respondi enquanto meu colega de quarto idiota e gato pra caralho fechava a porta do meu quarto para ir transar com uma morena gostosa que ele mal conseguia lembrar o nome.

   Quando foi que minha vida ficou tão decadente?


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Notas finais do capítulo

Cara, já começou essa coisa de leitores fantasmas? Sério? To proibindo isso aqui, apareçam logo, vai que eu morro, aí eu REALMENTE vou perseguir vocês...
Beijos