Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 39
Você ainda vai me amar se eu for?


Notas iniciais do capítulo

OI GENTEEE
Então, eu não ia postar esse capítulo agora, porque ainda não consegui responder a todos os comentários. Mas acontece que eu tenho uns leitores aqui que se tornaram meus amigos e nós temos um grupo no whatsapp e tudo. E eles estão passando por um momento triste na vida, porque vão precisar mudar de escola e se separar :( então eu resolvi postar esse cap pra ver se eles se animavam :3
Antes de parar de falar aqui ehusaheuh quero agradecer à heyjackson, que deixou o comentário mais maravilhoso de todos os tempos < 3 eu ainda não respondi porque nem sei o que te dizer, menina, mas to quase imprimindo ele e colocando na parede em cima da minha cama, muito obrigada mesmo!
Última coisa! Esse capítulo ficou bem confuso, mas eu confesso que gostei muito dele e espero que vocês gostem também!



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Quase cinco horas depois, eu chegava à minha cidade natal. Eu havia ligado mais uma vez pra minha mãe antes de embarcar para avisar que estava indo e mandara uma mensagem para Cherry e JJ já no avião, antes de desligá-lo. Pedi para JJ avisar a Erin o que havia acontecido e me desculpei com Cherry por quebrar minha promessa.

Como não tinha bagagem, saí praticamente correndo para a saída do desembarque assim que desci do avião, até esbarrando em algumas pessoas. Eu iria pegar um táxi, já que não esperava que ninguém fosse me buscar. Minha mãe estava no hospital com meu pai e sabia que eu começaria a terceira guerra mundial se ela sequer pensasse em sair do lado dele enquanto eu não chegasse.

Então confesso que a palavra surpresa seria o eufemismo do ano para o que senti quando vi James me esperando do outro lado dos portões. Eu o tinha visto há poucos meses, mas parecia estranho, de alguma forma, que ele continuasse exatamente o mesmo. Eu me sentia tão mudada, tão...diferente. Embora, se parasse para pensar, não devia haver nada de muito diferente em mim fisicamente, tirando meus cabelos que haviam crescido e uns quilinhos a mais. Talvez, aos seus olhos, também fosse estranho que eu parecesse a mesma.

Eu não era. E talvez ele também não fosse. Mas vê-lo ali, com toda a sua altura, sua pele eternamente bronzeada (não era o sol, ele era assim mesmo), seu sorriso hesitante de boas vindas e seus olhos calorosos que pareciam nunca me dizer não...foi como se tudo voltasse. Não, não nosso namoro e todas as razões pra que eu o tivesse terminado. Mas tudo o que eu ainda sentia por ele e nunca deixei de sentir. Eu não estava mais apaixonada, mas isso não eliminava todas as coisas boas que um dia havíamos compartilhado, todos os momentos em que eu sabia que nele podia encontrar, acima de tudo, um amigo.

Eu não pensei mais. Até onde eu sabia, minha mãe devia tê-lo intimado a me buscar, mas não importava. Corri até ele e deixei-o me segurar em seu abraço, onde eu sempre me sentira segura. Era o que eu precisava e ele sabia disso.

– Você não precisa fazer isso – murmurei contra seu peito mesmo assim, segurando seu casaco em minhas mãos apertadas. – Você pode simplesmente me odiar se quiser.

Ele estreitou-me mais em seus braços e beijou o topo da minha cabeça.

– Eu tentei – ele respondeu, em tom de brincadeira. – Mas não é muito fácil.

Afastei-me o suficiente para levantar o rosto e encarar seus olhos. Tentei sorrir, mas sentia meus lábios tremendo.

– Você vai precisar tentar mais.

Ele sorriu daquele jeito que fazia seus olhos quase desaparecerem, do jeito que iluminava seu rosto e que fizera tantas garotas suspirarem por ele no ensino médio.

– Depois – falou, segurando meu rosto e tirando alguns fios de cabelo dele com o dedão. – Depois que passarmos por isso.

Assenti, sentindo que se dissesse qualquer coisa, ia acabar chorando. Deixei James me guiar para fora e para o carro. Não era uma grande distância até o hospital, mas havia nevado na noite anterior e ainda havia neve nas estradas, então James precisava dirigir cuidadosamente.

– Como você soube? – perguntei, abraçando minhas pernas e me encolhendo no banco do passageiro.

James pareceu segurar o volante com mais força e respondeu, embora não tivesse tirado os olhos da estrada:

– Eu estou passando a semana aqui e encontrei seus pais para jantar duas noites atrás. Sua mãe me ligou logo que seu pai começou a passar mal. Eu liguei para a ambulância e fui encontrá-los no hospital. Foi quando ela ligou pra você.

Suspirei fundo e enterrei meu rosto em meus joelhos. Meus pais não podiam nem ao menos contar comigo. Para qualquer coisa que precisassem, me levaria quatro horas para chegar até eles. Se James não estivesse estado ali...

– M-mamãe disse que ele infartou – murmurei, as palavras atravessando meus lábios com dificuldade.

James me lançou um rápido olhar e tirou uma das mãos do volante para acariciar minha cabeça por um momento.

– Foi uma trombose coronária – informou calmamente. – Provavelmente causada por ele ter quebrado o pé. Você sabe que na idade dele qualquer fratura que o imobilize é perigosa...

Assenti, mas na verdade não sabia. Eu não tinha feito a merda da faculdade de medicina! Não havia feito nada de útil, ao que parecia. Comecei a respirar fundo antes que acabasse explodindo em grito ou choro. Eu precisava me manter sã.

– E o que isso quer dizer? – perguntei baixinho. Soava perigoso.

– Bom, quer dizer que seu pai tem um coágulo numa das artérias do coração.

Soltei um pequeno soluço antes que pudesse me segurar.

– Que bom médico você vai ser, dizendo coisas assim como se não fosse nada – acabei dizendo, sem saber sequer de onde isso tinha vindo.

– Max... – sua voz estava cheia de dor e ternura.

Balancei a cabeça, arrependida.

– Desculpa – sussurrei, passando as mãos nervosamente pelos cabelos. Eu era uma idiota insensível. Sabia o quanto James amava meus pais e o quanto isso devia estar fazendo-o sofrer também. – Você não tem culpa de nada. Você é um grande homem e vai ser um grande médico, James. Eu só...eu estou apavorada.

Senti sua mão enlaçar a minha.

– Eu também.

...

Meu pai estava passando por um cateterismo quando chegamos ao hospital. Foi o que minha mãe disse. Eu só consegui ouvi-la porque ela falou perto do meu ouvido enquanto me abraçava tão apertado que parecia que nunca me soltaria.

Eu não queria que soltasse. Queria que me abraçasse assim até que eu pudesse sentir que era criança de novo e que tudo ia passar com um beijo e um abraço. Que tudo ficaria bem.

Mas eu não sabia se tudo iria ficar bem. E isso me matava. Lembrei da conversa com meu pai quando viera visitá-los no feriado de Ação de Graças, de como tínhamos rido sobre a briga com Dave na igreja, de como minha mãe parecia estar sendo gritando carinhosamente com ele – como só ela sabia fazer –, de como ele fingia que tolerava tudo como um grande mártir, mas na verdade amava o fato de que ela se preocupava tanto com ele. Lembrei de como podia fitá-lo e me ver nele, ver tanto dele em mim mesma.

Sentei entre minha mãe e James na sala de espera. Mamãe parecia completamente perdida, como eu nunca a tinha visto antes. Ela parecia menor do que eu me lembrava. Mais velha. Foi como se, de repente, os anos tivessem passado de uma vez só bem diante dos meus olhos. Enlacei minha mão na sua e a fiz apoiar a cabeça em meu ombro, suas lágrimas molhando meu casaco. Seus dedos pareciam frágeis entre os meus e foi ao perceber isso que eu mais quis chorar.

Não chorei, não quando minha mãe precisava que eu fosse a rocha que ela havia sido para mim durante toda a minha vida. Ter James lá ajudava. Ele conhecia os médicos, confiava neles e cuidou de todas as formalidades para nós. E durante todo o tempo, parecia completamente calmo e em controle. Se eu não o conhecesse, nunca perceberia que o modo como ele apertava os lábios discretamente ou esfregava os olhos de vez em quando eram sinais de como ele estava nervoso. Sim, ele seria um grande médico. Eu tinha orgulho dele, orgulho de poder ter tê-lo conhecido, de ter sido amada por ele.

Minha mãe estava exausta e acabou cochilando por alguns minutos, apoiada em mim. Acariciei seu rosto com delicadeza, para não acordá-la, e me aproximei para sentir o cheiro dos seus cabelos. Era o mesmo sempre, mesmo que ela mudasse de shampoo. Era cheiro de mãe, de doçura, de segurança.

Não demorou muito para James, que havia ido buscar mais informações sobre meu pai, voltasse, parecendo meio aliviado. Ele se aproximeu e eu fiz de tudo para acordar mamãe suavemente, mas ela despertou como alguém que acorda de um pesadelo, com o cenho franzido no rosto exausto e preocupado, levantando rapidamente da cadeira que pareceu quase perder o equilíbrio. Eu me coloquei rapidamente ao seu lado para lhe dar estabilidade.

– O procedimento já terminou e Brice já foi transferido para a unidade de recuperação – ele falou, segurando as mãos trêmulas da minha mãe. – Eles encontraram o coágulo e já estão tratando-o com anticoagulantes. Eles estão confiantes de que ele não vai precisar de intervenção cirúrgica.

Mamãe apertou as mãos de James com uma força que era visivelmente dolorosa, mas ele não pareceu se importar.

– Ele vai se recuperar? – perguntou, a voz com traços de desespero e esperança.

Ele não assentiu como eu esperava que fizesse. Ao invés disso, respondeu com a voz clara e calma:

– Os médicos esperam que sim. Eles estão vindo logo com mais informações pessoalmente, mas estão otimistas de que vão conseguir diluir o coágulo antes que cause danos permanentes ao coração.

Minhas pernas apenas não cederam porque as da minha mãe o fizeram primeiro. James e eu a ajudamos a sentar novamente na cadeira enquanto ela o abraçava e chorava de alívio. Eu apenas acariciei suas costas enquanto ela se acalmava.

– Obrigada, meu filho – falou quando finalmente o soltou de seu abraço para vir para mim.

Coloquei sua cabeça em meu peito e acariciei seus cabelos, passando todo o conforto que conseguia, murmurando que tudo ia ficar bem, como ela fazia comigo quando eu era pequena e tinha um machucado.

– Sim – ela concordou depois de um tempo com um sorriso cheio de lágrimas. – Vai ficar tudo bem – ela secou os olhos e soltou um risinho nervoso. – Eu estou muito velha pra ficar chorando desse jeito, não é? James, você sabe onde fica o banheiro? Eu quero lavar o rosto...

Mamãe parecia mais firme em suas próprias pernas quando levantou e James lhe apontou o caminho do banheiro, ela inclusive disse que eu não precisava ir com ela quando eu ofereci, porque queria ficar sozinha por uns minutos. Eu suspirei e assenti, dando-lhe o que eu esperava que fosse um sorriso otimista.

Mas assim que ela desapareceu pelo corredor, eu comecei a chorar. James me abraçou com firmeza e apoiou minha cabeça em seu peito, acariciando meu cabelo carinhosamente.

– Shh – fez, acariciando minhas costas com a outra mão enquanto eu soluçava. – Vai ficar tudo bem, Max.

– V-você não sabe – solucei em sua blusa, que já estava úmida com minhas lágrimas. – Os médicos têm esperanças, não certezas.

– Esperança é mais do que muita gente tem. Vai ser o suficiente para o seu pai, Max. É assim que você precisa pensar.

Não disse mais nada. Ele tinha razão, meu lado racional concordava. Mas eu não conseguia ser totalmente racional naquele momento. Eu só queria meu pai. Queria que alguém me dissesse que ele ia ficar completamente bem, sem nenhuma sombra de dúvida. Que nós podíamos levá-lo para casa e ele viveria por mais cem anos.

Mas ninguém me diria isso. Ninguém podia me dar isso.

Continuei soluçando nos braços de James, simplesmente não conseguia parar. Pelo menos até sentir sua voz, mais do que ouvi-la, ao dizer:

– Acho que tem alguém aqui pra ver você, Max.

Levantei a cabeça para olhá-lo, confusa. Sua expressão era dolorosa. Ele parecia um pouco destruído....e resignado. Não me soltou, mas fez um sinal para que eu olhasse para o outro lado do corredor. O que eu fiz, lentamente.

Asher estava lá, com os braços caídos ao redor do corpo, vestido com seu casaco de couro mais surrado e com neve nas botas. Seu rosto pálido estava corado com o frio, seu cabelo sujo indo em todas as direções.

Horas se passaram em um segundo. Eu não sabia qual era a sensação de perder tanto sangue ao ponto de não sentir mais dor, de não sentir mais nada. Mas talvez fosse como aquilo. Eu tinha desejado tanto que fosse ele aparecendo em meu escritório ainda naquele dia. E agora aquele desejo parecia tão distante que quase não era real.

– Vivian me disse – foi sua resposta à pergunta que eu não fiz.

Ele se aproximou, parecendo preocupado. Triste. Mas não estava acabado como da outra vez que ficamos sem nos ver. Para começar, ele estava barbeado. E sóbrio.

– O que houve com seu pai, Max? – perguntou, encarando meu rosto, mas não meus olhos. – Ele vai ficar bem?

O peso em meu peito que havia surgido no momento daquela primeira ligação da minha mãe pareceu aumentar, até o ponto em que cada respiração era um desafio. Falar, impossível.

– Ele... – comecei, a palavra se afogando no ar.

James tomou o controle da explicação.

– Ele sofreu um infarto, mas os médicos acreditam que ele vai ficar bem – informou, calma e friamente, mas não de maneira inamistosa.

Ficamos os três presos num silêncio pesado e desconfortável. Eu sabia que tinha muito para dizer, principalmente para Asher, mas minha cabeça parecia vazia – e ao mesmo tempo tão cheia que doía. Não conseguia sequer pensar no que éramos um para o outro naquele momento. No motivo para ele estar ali.

Eu estava de repente dolorosamente consciente das mãos de James ao meu redor. E ele olhava de mim para Asher como alguém que entendia o que estava acontecendo. Bom, isso o fazia o único, na minha opinião.

– Suponho que esse é o momento em que você me dá um soco por estar abraçando sua namorada – acabou dizendo, de forma não muito ácida. Na verdade, de forma quase amigável.

Asher não o corrigiu. Não pensei que o faria. Nós não sabíamos o que éramos, de qualquer jeito. Namorada era uma palavra que serviria como qualquer outra, apesar de agora soar tão vazia e fútil.

– Talvez seja o que você deva fazer, já que eu a roubei de você primeiro – foi sua resposta, embora eu o conhecesse o suficiente para saber que ele não acreditava em uma palavra que estava dizendo.

James assentiu e seus lábios quase formaram um sorriso amargurado. Ele me soltou devagar e deu dois passos para longe de mim.

– Pode ir, Max – ele murmurou, os ombros caídos, mas os olhos firmes. – Eu fico com sua mãe por um momento.

Aquiesci, sem conseguir dizer nada e comecei a seguir pelo caminho em que Asher havia surgido no corredor. Senti que ele seguia ao meu lado antes mesmo de vê-lo em minha visão periférica. Não sabia para onde estávamos indo ou sobre o que falaríamos, se é que alguma palavra seria dita. Talvez eu tivesse perdido momentaneamente a capacidade de formar frases coerentes.

Não lutei nem me surpreendi quando Asher me segurou pelo braço e me puxou clandestinamente para um quarto vazio. A cama de hospital vazia, com lençóis azul claro cuidadosamente feitos, me fez respirar uma rajada de melancolia. Como se a própria ausência de alguém fosse uma presença. De dor e solidão.

Olhei para os olhos cinzentos de Asher, para seu rosto livre da barba por fazer que ele parecia sempre ter, para seus lábios tensos. E senti-me saindo do meu choque, como alguém que respira fundo depois de muito tempo submergido. O ar dói ao entrar nos pulmões depois que se é privada dele. Mas é uma dor a qual você se entrega, que você deseja, busca.

Eu não conseguia parar de chorar. Nem mesmo quando fechei a distância entre nós dois e esmaguei meus lábios nos dele. Asher engoliu meus soluços, sorveu as lágrimas que chegavam até nossas bocas, como se assim pudesse levar a minha tristeza para dentro de si. Suas mãos me seguravam apenas o suficiente para eu saber que não cairia se minhas pernas não pudessem me segurar. Ou pelo menos, não cairia sozinha.

Com ele era sempre assim. Eu não sabia se me seguraria ou se iria ao chão comigo. Era um estranho consolo.

– Não há nada que eu possa fazer – ele confessou contra meus lábios, seu hálito quente tocando minha pele e envolvendo-me em umidade, canela e cigarros – para fazer você se sentir melhor.

E não havia.

– Você pode ficar comigo – retorqui, beijando o canto da sua boca. – Você pode ir embora e parar de bagunçar minha cabeça.

Ele encostou a testa na minha, os olhos fechados me impedindo de espreitar seus pensamentos, mesmo que eu fosse terrível em lê-lo, de qualquer jeito.

– Se eu ficar, você vai fugir. E se eu for embora, você vai me deixar ir.

Não consegui me convencer a me afastar dele, minhas mãos estavam dos lados do seu pescoço enquanto a deles seguravam meu rosto, seus polegares em minhas bochechas.

– O que você quer fazer?

Asher abriu os olhos. Não era mais fácil entendê-lo ou decifrá-lo. Era apenas mais difícil encará-lo com o peso do seu olhar sobre mim.

– Quero ser seu conforto, seu bálsamo. Quero ver sua dor e tristeza, quero sentir o sabor amargo delas. Quero experimentá-las com você – ele beijou meu nariz, a pele embaixo do meu olho. Sua língua roubou uma das minhas lágrimas antes que ela pudesse morrer nos meus.

Afastei-me.

– Asher, eu... – murmurei, desviando do seu olhar.

Ele não me permitiu fugir, voltou a entrar em meu espaço e segurou meus braços, puxando-me para ele. Não era nada...dominante ou sexual. Não era sobre poder. Ele me segurava porque doía não me tocar, como doía quando eu não o tocava. Era sobre dor e desespero, que não amainavam quando compartilhados, mas nos faziam mais fortes para resistir.

– Eu posso ser o que você quiser – ele disse como uma promessa. – Posso ir com você aonde quiser. Mas só se você deixar. Não vou me desculpar pelo meu passado, assim como não a condeno pelo seu. Você me pergunta o que eu quero. Eu quero ser seu. Quero que você seja minha. Mas isso não vai funcionar se você me ama e me deixa ir.

Meus lábios tremiam.

– Eu nunca disse que te amo – sussurrei, as palavras mal formando sons.

Ele ouviu mesmo assim.

– Certas coisas não precisam ser ditas, Max.

Eu não queria reconhecer a verdade em suas palavras.

– Talvez fosse melhor se você simplesmente fosse embora. Eu não sei como lidar com isso agora, Asher.

– É o que você quer?

– Não.

– Você ainda vai me amar se eu for?

– Não – respondi sem pensar.

...

Depois de duas horas, meu pai foi transferido para um quarto, onde podíamos ficar com ele, que ainda estava apagado por causa dos remédios. Seu rosto estava tranquilo e eu chorei mais um pouco enquanto acariciava seu cabelo. Mas só uma pessoa podia passar a noite com ele e minha mãe, apesar de parecer exausta, bateu o pé e mandou James e eu embora quando uma das enfermeiras veio dizer que dois de nós tinham que ir.

Papai ainda não tinha acordado, mas mamãe prometeu me ligar no momento em que ele abrisse os olhos. A enfermeira disse que ele provavelmente dormiria a noite inteira e que mamãe só precisaria ligar pela manhã. Beijei os dois e deixei James me arrastar para fora do hospital. Estava nevando um pouco quando saímos e eu imediatamente comecei a esfregar uma mão na outra para me aquecer. Entramos no carro e James imediatamente ligou o aquecedor no máximo.

Quando saímos do estacionamento do hospital, ele olhou para mim rapidamente antes de voltar a prestar atenção na estrada. Era óbvio em sua expressão que estava preocupado comigo – e estressado com toda a situação.

– Você pode ficar lá em casa se não quiser ficar sozinha, Max – disse, lentamente, como se tivesse pensado bastante sobre isso. – Minha mãe está lá, nós não vamos, você sabe, ficar sozinhos.

Esfreguei as mãos no rosto, subitamente exausta. Eu estava novamente com os pés no banco, apertando minhas pernas contra meu peito. Eu só queria chegar em casa e dormir. Fingir que aquele dia não tinha acontecido. Talvez ligar o celular e encarar as ligações perdidas e as mensagens dos meus amigos que provavelmente estariam lá.

– Não se preocupe, eu vou ficar bem – assegurei-o, a voz saindo mais cansada do que eu pretendia. – Só quero ir pra casa. Mas obrigada.

Não dissemos mais nada pelo resto do caminho. Ao chegarmos, ele me desejou boa noite e eu disse-lhe para tomar cuidado no caminho, porque estava começando a nevar mais forte. Ele nem desligou o carro e eu desci rapidamente, correndo para a varanda da casa dos meus pais e procurando a chave extra que mamãe sempre escondia embaixo de algum vaso. James esperou até que eu a achasse e entrasse em casa antes de ir embora.

Eu continuei com meu casaco, já que estava muito frio. Liguei o aquecedor e fui até a cozinha, enchi a chaleira com água e a coloquei no fogão. Enquanto esperava ela ferver, sentei-me numa das cadeiras e apoiei meus braços e minha cabeça na mesa em que costumávamos tomar o café da manhã. Em que meus pais ainda comiam todas as manhãs, mesmo que eu não estivesse mais lá.

Devo ter cochilado por alguns minutos porque acordei com o assobio da chaleira. Levantei-me e tirei o casaco, colocando-o nas costas da cadeira, a casa já estava começando a ficar agradavelmente aquecida. Desliguei o fogão e peguei a caixa onde mamãe guardava os saquinhos de chá. Peguei o primeiro que meus dedos tocaram – maçã com canela – e o joguei numa caneca, colocando a água quente em seguida.

Fui até a sala, tirei os sapatos e me sentei com minhas pernas embaixo de mim no sofá. Tomei um gole do meu chá amargo – eu tinha esquecido de colocar açúcar – e pesquei meu celular em meu bolso. Ele continuava desligado, já que eu não tinha me dado ao trabalho de ligá-lo ao sair do avião. Realmente não queria falar com ninguém naquele momento nem responder às mensagens de Erin que, se JJ a tivesse avisado sobre o que tinha acontecido, com certeza estariam pipocando na minha tela no momento em que eu ligasse o aparelho. Acabei jogando-o em cima da mesinha de centro, apagado. Mamãe provavelmente ligaria para o número de casa.

Continuei tomando pequenos goles do meu chá que, apesar de não estar doce, não estava ruim. Pensei se não devia começar a chorar de novo, mas não ia acontecer. Eu estava cansada até pra isso, embora também estivesse inquieta, por mais contraditório que isso fosse.

Terminei o chá. Fiquei olhando para o teto. Estiquei as pernas, encolhi-as de novo, mudei de posição umas cinquenta vezes.

Eu ainda estava preocupada e com medo por causa do meu pai. E me sentia culpada por essa não ser a única coisa na minha cabeça no momento. Agora que papai já estava fora da UTI e eu não estava mais no hospital, minha mente começava a vagar novamente.

Eu sabia que ele não tinha ido. Ele não podia.

Não iria.

Não foi bem uma decisão consciente. Eu já estava com os sapatos de volta nos pés, já tinha enfiado o celular de volta no bolso e pegado o casaco na cozinha antes que percebesse o que estava acontecendo. As chaves do carro da minha mãe também estavam apertadas em uma das minhas mãos. Fazia bastante tempo desde que eu tinha dirigido pela última vez e eu provavelmente não deveria estar pegando um carro de noite enquanto estava nevando, mas não pensei muito nisso enquanto dirigia para fora da garagem.

A maioria dos hotéis e motéis de Parsons ficava na Main Street e me levou cerca de meia hora para chegar lá, dirigindo devagar e cautelosamente como eu estava fazendo. Meu cabelo estava molhado de neve e eu estava batendo os dentes de frio depois de parar nos dois primeiros. Asher não estava em nenhum deles. Havia apenas mais dois na rua. O terceiro era um motel barato de dois andares com a fachada verde e bege – e alguns arbustos e árvores mortas em volta, dando ao lugar uma aparência meio desolada. Estacionei o carro de qualquer jeito e fui até a janela em que estava escrito “recepção”. Não havia ninguém lá, embora a luz estivesse ligada. Bati algumas vezes, mas ninguém apareceu.

Não sei o que me deu. Era medo e desespero e coisas que eu nem podia dar nome. Fui até o corredor em que ficavam os quartos e bati nos seis primeiros. Quatro estavam aparentemente vazios – ou pelo menos, se havia alguém lá, não se importaram em abrir as portas –, um estava sendo o lugar do que parecia uma festa de faculdade cheia de prostitutas – não, eu não queria entrar e participar do concurso de quem conseguia dar um nó num cabo de cereja com a língua mais rápido – e o outro era ocupado por uma mulher muito rude que xingou toda a minha árvore genealógica por incomodá-la à uma da manhã.

Eu estava louca, essa era a verdade. Eu não queria ser a mulher que ficava invadindo motéis de madrugada em completo controle das suas ações. Eu preferia estar maluca, porque não queria ser essa pessoa. Talvez eu estivesse errada e Asher estivesse num maldito avião de volta para Nova York depois de ter perdido seu tempo naquela cidade de merda. Depois de ter ido embora do hospital sem dizer mais nada.

Mas eu não conseguia acreditar naquilo.

Ninguém atendeu nos dois quartos em que bati em seguida. Eu praticamente me joguei no seguinte, batendo com minha mão fechada até machucar meus dedos e quase chorando de dor com a força com que meus dentes batiam.

Consegui cambalear para trás ao ouvir passos do lado de dentro do quarto. A porta se abriu e ele estava lá. Os cabelos molhados como se ele tivesse acabado de tomar banho, uma toalha em volta dos ombros, os mesmos jeans que estava usando mais cedo, os pés descalços. Não parecia surpreso em me ver, apenas me puxou para dentro e fechou a porta.

Ele me ajudou a sair do meu casaco úmido e usou a toalha para secar meus cabelos. Beijos meus lábios gelados.

– Você é muito difícil de entender, monstrinha – falou, segurando meu rosto entre as mãos.

Eu não falei nada e apenas deixei que ele cuidasse de mim.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que vocês acharam? a história tá em reta final, gente, não me abandonem!
Beijos e até o próximo!