Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 37
Hora de ser adulto


Notas iniciais do capítulo

OI GENTE BONITA EM CLIMA DE PAQUERA, OLHA QUEM TÁ AQUI O/
Nem demorei, né? 20 dias não é nada pra quem passa 5 meses sem aparecer heuasheuahseuha
Bom, hoje é aniversário de uma menina linda e princesa, e esse capítulo é pra ela! Amanda, sua fofa, você merecia um capítulo melhor, mas é esse que eu tenho pra oferecer D:
Mas não é de todo ruim, é narração do Asher! Yep, nosso gostosão ex-casado vai narrar. Não era o que eu tinha planejado, mas eu queria mostrar coisas que só podiam ser narradas por ele, então deu nisso.
ENJOY :)))



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Eu sempre fui uma pessoa muito egoísta.

Não sei se posso culpar minha criação, já que a primeira parte dela foi aos cuidados de minha mãe, a pessoa mais estúpida e altruísta que eu conhecia. A amante abandonada com um filho para criar. Ela podia ter me impedido de nascer, ela podia ter tomado a decisão que teria feito sua vida mais fácil. Ou ela podia ter me colocado para adoção, já que vários casais estão sempre à procura de um recém nascido, não seria tão difícil. Ela podia ter me deixado ir, para a morte antes mesmo de nascer ou para um lar mais feliz.

Talvez essa tenha sido sua única decisão egoísta em relação a mim.

Ela me manteve. Não me abandonou. Não tornou nossas vidas mais fáceis. Nem melhores. Mas pagou por esse único ato egoísta durante o resto de sua vida. Ela não tinha família, conhecimentos, conexões. Não era muito inteligente também, não do jeito tradicional. Deixava-se levar por impulsos, paixões. Meu pai não foi seu primeiro amante e nem o último. Não que ela quisesse ser a destruidora de casamentos.

Minha mãe apenas era impulsiva o bastante para se apaixonar pelos caras errados e estúpida ao acreditar que podia fazê-los se tornarem certos.

Nunca pôde.

Mas ela me amava como sabia. Apenas...existiam mulheres que não eram feitas para a maternidade. Patricia Hale, minha mãe, era uma dessas mulheres. Ela fez tudo o que podia para me dar uma infância boa, trabalhou em vários empregos diferentes ao mesmo tempo para que nada importante me faltasse, nunca era má, nunca me culpava por ser o que eu era: um erro que havia destruído sua vida.

Ela era boa para mim, apenas...não era mãe. Não me abraçava, não bagunçava meus cabelos como eu via outras mães fazerem com seus filhos na escola, não...não olhava para mim como se eu fosse o se o sol nascesse e se pusesse por um sorriso meu. Eu era uma obrigação da qual ela não se ressentia, mas uma obrigação ainda assim.

Eu não era idiota. Sabia que precisava deixá-la. Que seria a maior prova de amor que eu poderia oferecer. E eu a amava, nunca pude deixar de amá-la, mesmo com suas limitações. Nada daquilo era sua culpa, exceto pelo fato de eu estar vivo. Eu não podia odiá-la por ter me permitido viver. Então...com doze anos eu pedi para conhecer meu pai.

Eu não queria conhecê-lo. Não tinha interesse no homem que havia me abandonado antes mesmo de eu nascer, que não me quisera nem à minha mãe. Mas sabia que ele era importante, que tinha dinheiro, família. E pensei que talvez ele pudesse me ajudar a ser um fardo menor para a única pessoa que eu tinha na vida. E ele ajudou.

Eu o conheci pouco tempo depois de ele ter se casado com sua segunda esposa, mãe de Georgie. Vivian o convenceu a me levar para sua casa, a ser meu pai, cuidar de mim, tirar-me daquela terrível influência que era a mulher que me gerara. E, por achar que era o que eu queria, minha mãe me deixou ir. Ela não me abandonou.

Ela me deixou ir.

Eu sabia que era o que ia acontecer. Buscara aquilo. Mas ainda assim...parte de mim desejava que ela tivesse lutado por mim. Parte de mim acreditava naquilo. E essa parte foi destruída.

Daquele dia em diante, todas as decisões que tomei foram para minha conveniência, meu desejo. Meu pai era assim, egoísta. Minha avó tinha suas motivações misteriosas que até hoje não chego perto de desvendar. Georgie era uma adolescente mimada que não aceitava sua nova vida.

Eu me tornei egoísta também. Ter sido altruísta, ter feito algo por outra pessoa, havia machucado tanto, destruído tanto...decidi que não queria mais sentir aquilo. Eu faria o que queria, conquistaria o que desejava, agiria apenas em meu interesse. E isso funcionou por um tempo.

Pelo menos até Rose.

Meu casamento com ela foi a segunda coisa altruísta que havia feito na vida. Pensei que era o certo e talvez fosse, mesmo que todos estivessem contra. Passei por cima dos que haviam se tornado minha família, passei por cima dos meus próprios sentimentos porque Rose precisava de mim. Porque era o que eu devia fazer.

E foi exatamente como da primeira vez. Sua partida se tornou dor. E, pior, culpa.

Culpa que me corroía e arruinava. E que havia me transformado no homem que era hoje. Um homem fraco, pequeno e indigno da mulher que amava.

Max Hyde queria que eu a apresentasse para a minha família? As pessoas que tinham todas as provas do quanto eu era desmerecedor dela?

Sim, eu era perfeitamente consciente do que era. E do que Max era. Uma garota do interior que abandonou tudo para seguir seus sonhos. Uma garota que cometeu erros e levantou deles ainda mais forte que antes, que aprendeu com eles e não se deixou destruir. Uma garota empenhada, dedicada, que se permitiu arriscar, que se permitiu viver. Ela podia ter ficado com a segurança da sua pequena cidadezinha, de um amor estável, de um futuro certo. Mas ela escolheu o mundo, escolheu seus sonhos, seus medos. Escolheu a mim.

Asher Lockwood, o cara que havia passado os últimos três anos focado apenas na próxima mulher e no próximo copo.

E agora, como duas vezes antes em minha vida, eu tinha uma escolha. Eu podia voltar a fazer o certo. Eu podia ser um homem melhor. Eu podia ser altruísta e tentar viver com a dor.

Porque a coisa certa a se fazer era deixar Max ir. Como minha mãe. Como Rose. O melhor a se fazer era sair da vida dela, deixá-la com seus sonhos e sua paixão pela vida. Deixá-la ter sua felicidade com outra pessoa. Eu já vinha pensando nisso há algum tempo, praticamente desde o primeiro dia em que havíamos ficado juntos, mas tinha tentado esconder isso de mim mesmo. Eu não queria pensar que não era bom pra ela, que era errado.

Porque eu a queria para mim.

E vê-la sair da minha casa – da nossa casa – com a expressão destroçada, vencida, machucada...me fez voltar a isso. A essa escolha.

E me fez ver que eu não podia me importar menos com o que era certo. Que eu também podia aprender com meus erros e que duas vezes haviam sido o bastante. Assim como havia pessoas que não deviam ser pais, havia pessoas que não deviam ser certas.

Eu nunca tinha acertado aquilo de qualquer jeito.

Então eu estava jogando a porra do altruísmo no lixo.

Dessa vez eu seria egoísta de verdade.

Eu amava Max. Ela era minha.

E o inferno congelaria antes que eu a deixasse sair da minha vida.

...

Cheguei ao apartamento da minha avó sem me atrasar, o que era um feito e tanto, na minha opinião. Georgie já estava lá com Ren. Nós éramos basicamente as únicas pessoas que haviam restado na vida de Vivian Lockwood.

Ela estava impecável como sempre. Vivian, eu quero dizer. Usava um vestido comportado e apropriado, que ia até os joelhos e deveria custar provavelmente o preço do meu apartamento. Era da sua cor preferida, verde. Pelo menos eu achava que era sua cor preferida, já que ela a usava repetidamente. Georgie parecia mais casual, em calças pretas e suéter de caxemira.

– Tio Ash! – quase não tive tempo para segurar a pequena criatura que se jogara contra mim, abraçando-a apertado. – Muito obrigada pelo meu presente! Deixou a mamãe doida, mas eu amei!

Ri enquanto imaginava o quanto Georgie deve ter me xingado, embora não acreditasse que ela o tivesse feito na frente de Ren.

– Da próxima vez, vê se avisa antes de dar um animal vivo para a minha filha – Georgie falou, cheia de sarcasmo. – Principalmente quando eles não cabem no elevador.

– Pode deixar – respondi – colocando Ren de volta no chão. – O que você prefere, abóbora, um elefante ou uma girafa?

Ren me lançou um olhar irritado.

– Eu prefiro que você não me chame de abóbora – respondeu, cruzando os braços no peito, fazendo-me rir.

– A maçã não cai mesmo longe da árvore – comentei ao ver as expressões idênticas de irritação nos rostos de mãe e filha.

Em seguida, fui beijar o rosto de Vivian, como sempre fazia. Minha avó parecia muito calada, mas eu sabia que aquilo não duraria muito, não depois do que eu tinha para dizer.

No entanto, antes que eu pudesse sequer cumprimentá-la direito, outra pessoa entrou na sala. Uma pessoa que eu conhecia muito bem.

– Seren? – soltei, surpreso. – O que você está fazendo aqui?

Vivian lançou-me um olhar gelado.

– Isso são modos de falar com os convidados? – admoestou.

Ela tinha razão, eu apenas tinha sido pego de surpresa. Aproximei-me de Seren, que sorria alegremente para mim. Não pela primeira vez, percebi o quanto ela era vibrante. Tudo nela parecia brilhar, sua pele, seus olhos, seu sorriso. Ela podia ser pequena, mas sua presença enchia qualquer lugar em que estivesse.

– Olá, Asher – ela disse, ficando na ponta dos pés calçados em saltos altíssimos para beijar minha bochecha. Sorri internamente ao lembrar que Max precisaria se abaixar para fazer a mesma coisa se estivesse com aqueles saltos absurdos.

Antes eu me incomodava com o fato de ela ficar mais alta que eu em sapatos de salto alto. Ainda me irritava um pouco quando ela me olhava de cima, mas não podia negar que havia algo de muito sexy no jeito em que ela andava com saltos.

– Quanto tempo – disse ao cumprimentá-la.

Percebi no momento em que sua expressão pareceu se transformar em uma de pânico que dissera as palavras erradas.

– O que você quer dizer com isso, Asher? – Vivian perguntou atrás de mim, a voz perigosa.

Seren fez que não com a cabeça quase imperceptivelmente antes de pregar um sorriso no rosto e falar com voz doce e falsamente surpresa, embora eu talvez fosse o único que pudesse perceber isso:

– Tempo? Mas nós nos vimos ontem mesmo! – exclamou, como se estivesse genuinamente confusa. Depois olhou para as outras mulheres na sala e deu um sorriso brincalhão, antes de voltar seus olhos para mim. – Você sentiu tanto a minha falta que um dia já é muito tempo?

Sem entender o que diabos era aquele teatrinho, eu só fiquei fitando Seren com o cenho franzido, pensando seriamente que ela podia ter batido a cabeça em algum lugar. Mas, mesmo que o sorriso continuasse emplastrado em seu rosto, seu olhar era intenso, como se ela estivesse batendo minha cabeça na parede em pensamento.

E então tudo me veio à cabeça. Seren estava me protegendo. Sim, havíamos ficado amigos no curto período em que havíamos passado juntos. Parceiros de cama, uma ou duas vezes, mas ela era uma garota legal e eu não a enganara. Não que costumasse fazer isso. Todas as mulheres que haviam passado por minha cama sabiam que eram apenas uma diversão momentânea.

Bom, todas menos uma.

De qualquer maneira, eu havia sido totalmente sincero com Seren quando nos encontramos pela primeira vez. Ela não era uma escolha para mim, era uma obrigação, um dever que minha avó havia jogado em meus braços. Eu estava ressentido por precisar bancar a babá para a neta de um amigo de Vivian, mas aquele havia sido o acordo que fizera com ela. Eu precisava pajear a inglesinha fútil e metida em sua viagem pela América. Odiava ser obrigado a fazer o que não queria e odiava mais ainda ser manipulado. Estava claro que Vivian não colocaria uma mulher bonita e interessante como Seren Jacobs sob meus “cuidados” se não quisesse que eu me envolvesse com ela.

Mas no fim, a inglesinha fútil e metida era uma garota doce e geniosa, para não mencionar sua mente maliciosa e instigante. Eu havia gostado dela quase de cara e passar um tempo com ela não havia sido esforço nenhum.

Quer dizer, exceto pela vez em que precisei levá-la ao balé. Eu odiava balé e Vivian sabia disso. Ainda assim, entregou-me as entradas com ordens explícitas para acompanhar Seren.

No dia do casamento de Erin e Mitch.

E agora ela estava me protegendo. Porque eu não a havia visto de novo desde o ano novo. Eu não a havia levado a todos os lugares que Vivian mandara, não havia nem retornado suas ligações. E ela estava mentindo para a minha avó para salvar minha pele.

Sorri para ela, agradecido. Mas talvez aquela fosse a chance que eu estava querendo. Era simplesmente melhor acabar com tudo de uma vez.

– Obrigado, Seren – falei, colocando uma mão em seu ombro e sorrindo para ela. – Mas não precisa mentir por mim.

Pela expressão em seu rosto, era fácil deduzir que ela queria pregar minhas orelhas com marteladas na parede mais próxima, mas eu sabia o que estava fazendo.

Ou pelo menos pensava que sabia.

Merda, a quem eu estava tentando enganar? Eu não tinha ideia do que estava fazendo. Não tinha a menor certeza da minha decisão, não sabia se acabaria me arrependendo ou não.

Eu apenas precisava fazer isso.

– Vó – comecei, virando-me para ver o olhar irado no rosto de Vivian. – Acho que precisamos conversar.

...

Fechei a porta da biblioteca atrás de mim enquanto Vivian ia até o armário de bebidas e se servia de uma grande dose do seu melhor uísque com mel.

Não que ela tenha me oferecido.

Bem, eu teria recusado, de qualquer maneira. Eu acho. Dá uma folga, era uísque com mel.

– O que vou fazer com você, Asher? – ela perguntou depois do primeiro gole, a voz pingando desgosto. – Eu lhe pedi apenas um pequeno favor e você –

– Ah, sim – interrompi, sem me exaltar. – Cuidar da filha de um dos seus amigos milionários em sua viagem à Nova York, mostrar-lhe a cidade, essas coisas. Não sou idiota, sei o que você queria com isso.

Vivian colocou o copo na mesa de café com força, fazendo um som alto e derramando um pouco da bebida. Seu rosto estava contorcido de raiva.

– E você me culpa? – explodiu, o que me assustou um pouco, já que era raro ver Vivian Lockwood ser outra coisa que não calma e fria. – Você é meu neto e está jogando seu futuro fora com essa vida de excessos e promiscuidade. Se não vai voltar para a universidade e ser alguém na vida, podia muito bem se casar com uma boa mulher!

– Você está preocupada comigo ou com o precioso nome da família?

– Com os dois!

Respirei fundo. Não era para brigar com minha avó que tinha ido até ali. E, embora fosse um choque saber que não era apenas com o bom nome Lockwood que ela estava preocupada, sua preocupação comigo não era bem a de uma avó. Sim, querer controlar minha vida era meio que seu jeito de dizer “eu me importo um pouquinho com a sua existência” e perceber isso era como colocar a peça que faltava num quebra cabeça. Não, eu nunca seria o neto perfeito nem bom o bastante para minha avó. Mas ela se importava comigo mesmo assim. Pelo menos um pouquinho.

Ficamos os dois em silêncio por algum tempo. Era como ver uma máscara de frieza ser colocada novamente sobre o rosto de minha avó. Ela estava resgatando sua compostura e o mínimo que eu podia fazer era recuperar a minha.

– Eu vou voltar para a universidade – falei lentamente. O choque no rosto de Vivian era cômico e eu teria rido se não quisesse ser levado a sério. – Mas não para a faculdade de Direito. Vou fazer Arquitetura.

Era o que eu queria ter feito desde o início, mas meu pai não pagaria meus estudos se fosse assim. Não, eu tinha que ir para a faculdade de Direito, como ele.

Bom, meu pai estava morto.

Vivian parecia mais calma, sua expressão fria e controlada substituindo o choque. Ela pegou o copo e se sentou em uma das poltronas, tomando um lento gole.

– Bem, suponho que isso é melhor que nada – suspirou, mas não parecia de todo contrariada. – Eu tive dúvidas se você era homossexual, mas aí você se casou com aquela menina...

Engasguei com minha própria saliva.

Minha avó achava que eu era gay?

– Espera um pouco, você está dizendo que acha que eu sou...bem, gay? – perguntei, sem saber se caía na risada ou não. Aquilo estava acontecendo mesmo ou era algum sonho esquisito?

Tantos anos ingerindo álcool deve ter afetado meu cérebro.

– Nunca conheci um arquiteto que não fosse – respondeu dando de ombros, como se estivéssemos discutindo se era melhor tomar chá com leite ou limão. Nem parecia a mesma mulher que tinha explodido há um minuto, era espantoso. – Mas tudo bem, desde que você encontre um bom...rapaz e pare de ficar vadiando por aí...

– Vó – sentei-me na poltrona em frente a ela e falei bem devagar, para não haver dúvidas. – Eu não sou gay, tudo bem?

Ela me olhou meio desconfiada.

– Se não é, então qual o problema com Seren? – indagou.

Passei as mãos pelo cabelo, sentido-me mais frustrado a cada segundo.

– Não há nada de errado com Seren. Eu só...Eu estou saindo com outra pessoa – pelo menos estava até a pessoa em questão decidir sair correndo de casa sem me deixar explicar as coisas. – E eu sei que não sou o tipo que leva as mulheres a sério, mas é de verdade com essa.

A expressão de Vivian se tornou inescrutável, eu não sabia se ela estava satisfeita ou irritada com minha declaração. Sim, ela queria que eu me assentasse com uma boa garota, mas tinha certeza que preferiria se a tivesse escolhido ela mesma. Mas isso não ia acontecer. E ela pareceu perceber isso, porque apertou os lábios e me olhou da mesma maneira desaprovadora que fazia desde que eu tinha doze anos.

– Bem, não há nada que eu possa fazer, não é? – resmungou, tomando outro gole de seu uísque. – Só não diga que ela é uma stripper ou algo assim.

Isso me fez rir. Não só rir, mas foi como um peso tirado das minhas costas. Não, eu não achava que me importava com o que Vivian pensava de mim, mas Max queria conhecê-la e eu não iria trazê-la numa casa onde ela seria tratada como algo menos que a mulher incrível que era. Se Vivian a aceitasse, mesmo que contrariada, faria as coisas bem mais fáceis para mim.

– Ela não é stripper. É uma boa garota.

– Não pense que por isso eu vou liberar seu dinheiro, menino – avisou, o dedo em riste. – Você ainda vai continuar vivendo com sua mesada.

Levantei-me, subitamente mais nervoso do que tinha estado desde que entrara naquela sala. Eu não saia se queria realmente fazer aquilo, parecia...assustador.

Eu me arrependeria com certeza, mas iria fazer de qualquer jeito.

Era bom que Max me escutasse depois daquilo tudo ou eu teria que sequestrá-la até que aquela teimosa parasse de achar que eu não era sincero, que eu não estava dando tudo o que tinha para aquele relacionamento, que eu não estava tentando.

Porque eu podia ter sido casado, mas não sabia nada sobre estar num relacionamento. Sobre estar apaixonado. E ela devia me ajudar, não fugir quando algo dava errado.

– É sobre isso que eu gostaria de falar com você – soltei, virando-me de costas por um momento e respirando fundo antes de voltar a encarar minha avó, que continuava sentada confortavelmente em sua poltrona, o copo vazio na mão. – Eu quero que pague pelos meus estudos com o dinheiro que meu pai me deixou.

– Ora, mas é claro – começou, mas eu não a deixei continuar.

– E só. Não quero mais nada. Não quero mais o dinheiro dele. Não vou mais viver de mesada como um adolescente. Acho que já está mais do que na hora de me tornar um adulto.

...

– E aí, como foi? – Georgie praticamente pulou sobre mim quando entrei na sala de estar, encontrando duas mulheres e uma criança com expressões preocupadas. – Ela colocou você no tanque dos tubarões? Cortou certa parte da sua anatomia e deu para o cachorro comer? Ameaçou vender seus rins no mercado negro? – perguntou, fazendo sua filha fitá-la com assombro.

Baguncei o cabelo da minha irmã e sorri, balançando a cabeça.

– Deixa de exagero, Vivian nem tem um tanque com tubarões – respondi, olhando para as três. – E nós tivemos uma conversa adulta e séria, sem ameaças ou violência.

Dessa vez a expressão das três era de ceticismo. Até mesmo de Ren. A menina conhecia bem sua bisavó, aparentemente.

– Você podia ter ido na minha, idiota – Seren falou, dando um soco no meu braço com força. – Aí nada disso teria acontecido.

– Teria acontecido de qualquer jeito – retruquei, massageando meu braço. Quem poderia dizer que aquela mulher tão pequenininha podia bater com tanta força. – Vivian e eu tivemos uma conversa que devíamos ter tido há muito tempo.

– Sobre o que vocês conversaram, tio Asher? – Ren perguntou, puxando a perna da minha calça.

Abaixei-me para ficar da sua altura e respondi:

– Coisas de adulto.

A menina rolou os olhos e resmungou:

– Não me venha com essa. Isso é o que todo mundo me diz quando não quer me falar a verdade.

– Bom, então é isso. Não quero lhe falar a verdade. E por que você subitamente começou a me chamar de tio? – perguntei. Ren sempre havia me chamado pelo nome.

Ela pareceu um pouco envergonhada e irritada.

– É coisa de criança! – exclamou e se afastou, indo sentar no sofá e brincar com videogame portátil ou o que quer que fosse aquilo.

Georgie apenas balançou a cabeça, como se não quisesse falar sobre aquilo e eu assenti.

Seren chegou ao meu lado e entrelaçou seu braço no meu.

– Ok, agora é o momento em que você me diz por que anda me ignorando – exigiu.

Passei minha mão livre sobre o cabelo, pensando em como podia respondê-la, mas não precisava ter me preocupado, porque Georgie respondeu por mim.

– Não leve a mal, Seren, mas ele provavelmente estava ocupado com sua nova namorada.

Valeu, Georgie. Eu com certeza arranjaria uma girafa para dar para Ren de aniversário depois dessa.

– Ah, você está falando da loira escultural? – Seren fez uma falsa expressão de choque. – Onde você a conseguiu mesmo? Da capa de uma revista masculina?

Georgie e Seren riram de alguma coisa que eu não entendi, aparentemente as duas haviam conversado sobre mim e minha vida amorosa enquanto eu estava conversando com Vivian na biblioteca.

– Vocês não têm outra coisa pra fazer, não? – perguntei, tentando soltar meu braço de Seren, mas ela segurou-o em um aperto ainda mais forte.

– Ah, para com isso, só estou dizendo que a garota é bonita – Seren falou, ainda sorrindo. – E totalmente material para capas de revista.

– Ele sempre teve uma queda por loiras – Georgie acrescentou, meio amarga. – E essa ainda tem um rostinho inocente esse jeitinho do Meio Oeste.

Eu não sabia qual era o problema de Georgie com Max, mas suspeitava que não fosse exatamente com ela que minha irmã tinha um problema. Era comigo. Ela estava assim desde o natal.

– Desculpe, Seren – falei, porque não tinha tempo agora para lidar com Georgie, e nem era o lugar certo para isso. – Eu sei que devia ter retornado suas ligações e –

Seren balançou a cabeça e bateu levemente em meu braço.

– Não se preocupe – falou, com um sorriso malicioso. – Eu soube no momento em que a vi em seu apartamento que você estava completamente bobo por ela. E nós já tínhamos decidido ser amigos antes da festa de ano novo, não é? Mas só avisando que da próxima vez em que você me deixar plantada numa festa, eu vou assar suas orelhas.

Antes que eu pudesse responder, um dos empregados de Vivian entrou na sala e disse que ela estava nos esperando na sala de jantar, que já tinha sido servido.

E enquanto acompanhava as três mulheres pensei que talvez apresentar Max para a minha família não fosse tão ruim. Claro que teria que resolver algumas coisas com Georgie primeiro, mas minha irmã era minha melhor amiga. Se Max sentia alguma coisa por mim, não teria como não gostar dela. Ren era a criatura mais adorável a caminhar sobre a terra. E minha avó...

Bom, Vivian não era o monstro verde que eu sempre pensei que fosse.

Talvez tudo ficasse bem, afinal.

Isto é, se eu convencesse aquela teimosa a voltar a falar comigo. Ou melhor, quando.

Porque dela eu não ia desistir.


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? Não esqueçam de comentar porque eu to respondendo todo mundo! Sério, eu fico muito chateada porque eu sei quantos leitores a história têm e a maioria quase nunca aparece. Isso tá me deixando bem desanimada :(
Anyway, olha só a louca, postei outra fic, sim, podem jogar pedras hausheuashe
Não sei se é o tipo de fic que vocês vão curtir, porque ela é meio diferente do que eu costumo escrever, mas Manchas tava deixando um vazio e aí eu decidi postar essa. Deem uma olhada, talvez vocês curtam :)
http://fanfiction.com.br/historia/621457/Something_Wicked/

BEIJOS GALERAAA