Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 31
Céu colorido


Notas iniciais do capítulo

Oi genteee :3
Então, quem é diabético, pfvr, não leia esse capítulo, porque ele tá só o açúcar #nãomejulguem
Muuuuito obrigada pra Girl Cocaine (eu não esqueci de você não, hein haha), Yasmim Chiarini, Babaloo Courier (seus reviews são os melhores *.*), AThinker e ApplePie. Meninas, vocês me fizeram EXTREMAMENTE feliz e eu nem sei como agradecer. O açúcar, digo, capítulo de hoje, é pra vocês :3
Espero que gostem :3



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– Eu sei que tem dedo seu nisso – falei, dois dias depois, ao chegar em casa.

Cherry estava sentada no seu sofá elegante, com uma bacia de pipoca intocada e uma coca diet. Uma coisa que eu gostava sobre minha chefe era que ela, como eu, precisava tomar cuidado com o que comia. Erin, por outro lado, era do tipo que podia comer toda a loja de doces sem engordar uma grama.

O que era uma pena, porque eu realmente amava doces e comida gordurosa.

– Eu não sei do que você está falando – Cherry respondeu, num tom que não enganaria ninguém. Ela estava usando calças de moletom e um top que não chegava a cobrir seu umbigo. Seus pés estavam cruzados embaixo dela, que parecia extremamente relaxada enquanto assistia Tubarão, do Steven Spielberg.

A mulher tinha uma coisa com filmes sangrentos de qualquer tipo.

– Você não me engana, Cherry – falei, sentando-me ao lado dela, depois de deixar meu pesado casaco no armário de casacos e meus sapatos alinhados ao lado do tapete. Peguei um punhado de pipoca antes de continuar. – Asher me disse que foi você que o convidou, ou eu deveria dizer intimou?, a ir à festa de ano novo.

Ela suspirou e se virou para me olhar. Seus longos e cheios cabelos estavam presos no alto da sua cabeça, deixando seu rosto pequenino totalmente livre, o que a fazia parecer muito jovem. Reparei que, por trás do sorriso, havia uma tristeza e um cansaço sobre ela, junto com círculos escuros embaixo de seus olhos.

– Ok, em minha defesa, eu não disse a ele pra levar aquela inglesinha – ela falou, levantando as duas mãos em rendição.

– Imaginei que não.

– E por você estar voltando para casa só hoje, imagino que não tenha sido uma ideia assim tão ruim convidá-lo. Ou estou errada?

Sorri e joguei a cabeça para trás no sofá, lembrando dos últimos dois dias.

– Não. Não está.

Eu não podia me impedir de sorrir. De deixar meu exterior mostrar como meu coração parecia elevado e como eu estava feliz. Sim, os últimos dois dias haviam sido incríveis além das palavras, maravilhosos, transcendentes.

E irreais.

Apesar da minha felicidade transbordante, eu tinha perfeita consciência disso. Dois dias sem sair de casa, enrolada em lençóis que tinham o cheiro das nossas peles, pedindo comida pelo telefone, assistindo reality shows, espiando os vizinhos e fazendo sexo em todos os cômodos do apartamento não eram realmente amostras de realidade.

Havíamos vivido em nosso mundinho, sem interferências do mundo exterior – exceto pelas mensagens preocupadas de Erin, que queria saber o que diabos havia acontecido comigo depois que eu fui arrastada para fora da galeria – e sem nenhuma conversa realmente importante. Eu, como a covarde que era, não havia insistido em nada disso depois daquela primeira manhã. Eu não queria saber como seria o depois, não quando o agora era tão bom.

E era bom. Era melhor do que em meus sonhos mais loucos. Poder tocar Asher do jeito que eu quisesse e ser tocada por ele, não como se eu fosse frágil ou delicada, mas como se apenas ter suas mãos longe de mim por mais que um minuto fosse doloroso. Poder correr os dedos por seu cabelo macio, poder encaixar meu rosto na curva do seu pescoço, poder sentir seus beijos em minha nuca, seus dedos afastando meu cabelo gentilmente antes. Sentir seus dentes em minha pele, seus beijos por todo meu corpo, suas mãos que me excitavam mais do que imaginei possível. Poder deixá-lo me amar como quis que me amasse por muito tempo. Olhar para aqueles olhos e ver um sorriso neles, um sorriso que era só para mim.

Eu o amava e sabia que podia fazê-lo me amar, se ele deixasse. Mas esse era exatamente o problema. Eu não sabia se ele estava pronto para isso. Se conseguiria deixar para trás sua vida de vagabundo mulherengo pra estar só comigo. Se eu seria o suficiente para ele.

As dúvidas guerreavam com a euforia dentro de mim, mas não conseguiam apagar minha felicidade. Mesmo que tudo desse errado, eu não me arrependeria por não ter tentado, por ter tido medo.

– Você vai me contar o que aconteceu? – a voz de Cherry tirou-me dos meus pensamentos, fazendo-me levantar a cabeça e fitá-la.

– Ficamos juntos – respondi simplesmente.

Ela me olhou sarcasticamente.

– Será que dá pra elaborar?

Sorri maliciosamente.

– Não mesmo. Os detalhes são só meus e de Asher, cerejinha.

Ela revirou os olhos e voltou a sua atenção para o filme, ou pelo menos fingiu que tinha.

– Sem graça.

Sorri, mas não durou muito. Eu sabia o que vinha pela frente. E não tinha certeza se eu queria ir por aquele caminho, mas agora eu já considerava Cherry uma amiga. Eu me preocupava com ela, até a amava um pouquinho. Eu morava com a criatura, pelo amor de Deus! Eu confiava nela. Principalmente depois do que ela havia feito por mim. Ela podia falar sobre o assunto como se não fosse nada, mas havia significado o mundo para mim que ela se preocupasse o bastante comigo para ir procurar minha felicidade para mim. E a ter trazido para mim.

Cherry era a responsável por minha felicidade irresponsável. Ela era a culpada por eu ter me jogado de um abismo sem ter certeza se haveria algo no qual me agarrar. Ela me fizera arriscar tudo.

E eu nunca conseguiria agradecer o bastante por isso.

Mas havia algo que eu podia fazer.

– Eu posso te contar tudo – comecei, captando a atenção dela imediatamente – se você fizer o mesmo.

Ela franziu as sobrancelhas ruivas, confusa.

– Como assim? – perguntou.

– Eu não quero bisbilhotar, Cherry. Eu quero que você confie em mim. Eu quero ser sua amiga. E amigos não compartilham só alegria, não estão lá só para os momentos bons. Será que você pode me deixar carregar um pouco da sua dor?

Eu vi nos seus olhos o momento em que ela entendeu. Vi sua expressão mudar, sua máscara cair. Cherry estava sofrendo, estava machucada. E eu não tinha ideia do quanto, porque ela escondia a maior parte das suas feridas, como a mulher forte que estava acostumada a ser.

– Eu não quero falar sobre isso, Max – ela respondeu com a voz baixa e fraca.

– Tente – eu insisti. Eu não podia voltar atrás agora, não se eu realmente me considerava uma amiga. – Deixe-me ajudar você.

Ela não voltou a olhar a TV, mas também não me encarava. Seus olhos estavam baixos e seu lábio inferior tremia, mas mesmo assim ela não chorava. Depois de muito tempo, tanto tempo que eu me perguntei se ela sequer voltaria a dizer qualquer coisa, sua voz saiu, meio instável, mas quase sem emoções.

– Eu sou muito ambiciosa, Max – começou, ainda sem me encarar. – Sempre quis tudo que não tive enquanto crescia. Queria ser alguém, alguém que as pessoas respeitassem, que tivesse sucesso no que faz.

– E você conseguiu – falei, olhando ao redor para o seu apartamento extremamente luxuoso.

Ela soltou uma risada sem humor.

– Sim. Sim, eu consegui – por algum motivo, eu sentia que ela não estava falando exatamente comigo, quase como se estivesse se dirigindo a alguém que não estava na sala. – Minha mãe era empregada doméstica na casa de uma família muito rica, muito importante. Se tem algo pelo qual sou agradecida é por nunca, em nenhum momento da vida, ter sentido vergonha dela, como muitas outras crianças sentiriam no meu lugar. Minha mãe era uma mulher incrível e eu sempre a admirei, sempre tive orgulho dela.

Dessa vez eu fiquei calada e a deixei continuar no seu próprio tempo. Não demorou muito.

– Mas eu cresci com essa família para a qual minha mãe trabalhava. Eles tinham um filho da minha idade. Sebastian. Eu o seguia como um cachorrinho – ela riu um pouco, como se lembrando. – Ele costumava gostar de mim, mas não queria admitir, então fingia que só me aguentava. Mas nós vivíamos juntos. Os problemas só começaram anos depois, pouco depois de eu ter completado treze anos. Eu ia para uma escola nova e estava realmente ansiosa por isso. Era uma escola realmente difícil de entrar e eu tinha me esforçado muito para conseguir uma vaga. Desde sempre, eu queria mais para a minha vida e me esforçava para isso.

“Sebastian não ficou feliz quando descobriu. Ele achava que íamos para a mesma escola e que minha mãe deixaria que seus pais pagassem por minha educação numa escola particular. Nós brigamos por isso, mas eu fui determinada e não mudei de ideia. Então ele passou por cima da minha decisão e convenceu seus pais a falarem com minha mãe.”

Ela suspirou e descruzou os pés, colocando-os na frente do corpo e abraçando os joelhos.

– Nem preciso dizer que acabei indo para a escola dele. Uma escola cheio de riquinhos esnobes que me desprezavam por ser a filha da empregada. Sebastian era o pior de todos e os fazia rir de mim como se eu fosse uma atração de circo. Mas quando chegávamos em casa, ele voltava a ser doce como sempre. Quando eu perguntei por que ele mudava tanto, se era porque tinha vergonha de mim ou algo, ele disse que era simplesmente porque não queria ninguém perto de mim. Não queria que eu tivesse nenhum amigo, porque ele era o suficiente para mim.

Soava como se um certo garoto tivesse sérios problemas de personalidade, mas eu continuei calada e esperei Cherry continuar.

– Eu estive sempre à sombra dele. Não podia me aproximar de ninguém que ele dava um jeito de destruir qualquer tentativa de amizade. Ele era o único para quem eu podia olhar, o único que eu podia ter por perto. Era de se esperar que acabássemos usando um ao outro para fazer nossas primeiras descobertas sexuais, era de se esperar que, mesmo quando eu devia odiá-lo, eu tenha me apaixonado por ele.

Não consegui me impedir de fazer um daqueles sons de solidariedade, e segurei a mão dela, que estava no sofá com a palma para cima. Disse, sem palavras, que entendia, e que não a julgava. Que estava ali por ela.

Foi quando ela começou a chorar.

– E-eu descobri que estava grávida logo depois de saber que tinha conseguido uma bolsa de estudos na universidade – falou entre soluços, deitando nas minhas pernas. – Eu estava tão assustada! Tudo o que eu sempre quis da vida estava ali, ao meu alcance, mas aquela notícia veio para destruir tudo! Eu nunca ficaria livre do Bastian, nunca! Eu o amava, sim, mas queria mais da minha vida. Queria ter amigos, conhecer pessoas diferentes. Queria ser alguém, por mim mesma. Eu... – ela parou, tentando engolir os soluços e continuar com mais calma. – Eu convenci minha mãe a me ajudar a fazer um aborto. E eu chorei por aquele bebê por anos. Sebastian nunca soube, assim como não sabia que eu tinha me inscrito numa faculdade longe dele. Fui embora sem deixá-lo saber e minha mãe protegeu meu segredo, mesmo depois de ele ameaçar demiti-la se não lhe dissesse onde eu estava.

“Eu floresci longe dele. Posso não ser a pessoa mais sociável e simpática do mundo, mas fiz alguns amigos. Tive alguns namorados. Quebrei a cara algumas vezes, mas nada muito devastador. Fiz minha vida, tornei-me quem queria me tornar. Consegui o que queria. Ano passado, convenci minha mãe a se aposentar e vir morar comigo, mas ela...ela sofreu um infarto antes.”

– Oh, Cherry – sussurrei, acariciando o lado do seu rosto e sentindo suas lágrimas em minhas calças.

– Eu só consegui voltar a tempo para o enterro – soluçou, agarrando-se à minha perna. – Em minha corrida pra ganhar o mundo, eu passei anos sem vê-la, a mulher que deu tudo de si para conseguir o melhor pra mim. A pessoa que eu mais amava no mundo...e quando eu voltei, descobri que Sebastian sabia tudo sobre o...o nosso bebê. Ele descobriu pouco antes de mamãe morrer e era por isso que ela finalmente havia concordado em se aposentar. Ela também queria sumir comigo e tinha medo que ele fizesse algo para mim.

Oh meu Deus, será que o maluco tinha realmente feito algo para Cherry?

Ele fez de propósito, Max!

Suas palavras voltaram à minha cabeça como uma chacoalhada. O que aquele cara tinha feito?

– Cherry, ele não... – comecei, sem saber como terminar meu pensamento.

Ela riu entre lágrimas, mas não parecia especialmente feliz.

– Não, ele não me forçou a nada. Ele é um idiota, mas não a esse ponto. Bastian não faria isso e não é como se precisasse. Eu sempre fui fraca perto dele...por isso...por isso precisei ir embora. Como foi que consegui cometer o mesmo erro duas vezes? – ela se perguntou, entre rir e chorar.

Abracei-a apertado, encostando nossas bochechas, sentindo a umidade na dela.

– Ele é o pai do seu bebê, não é? – perguntei.

Ela não respondeu, apenas assentiu com a cabeça, fechando os olhos e deixando mais lágrimas escaparem.

– Eu não quero ficar presa a ele para sempre, Max – ela sussurrou. – Mas não posso passar por aquilo de novo. Eu não... eu não p-posso matar meu bebê, não de novo. Eu...eu não sei o que fazer.

Eu também não tinha ideia do que fazer ou sequer do que dizer. A situação era pior do que eu tinha imaginado. E ver a grande – figurativamente, claro – Cherry toda enrolada no meu colo, tão frágil e vulnerável era não só chocante, como triste. Eu queria que ela voltasse a ser a Cherry brigona e segura, mas depois de saber tudo aquilo, tinha medo que ela nunca voltasse a ser.

– Não é entre uma escolha e outra, Cherry – eu finalmente disse, ainda abraçada a ela. – Você não precisa se prender a um cara só porque vai ter o filho dele. Ele não tem poder nenhum sobre você. Eu vou ficar ao seu lado, assim como JJ. E vamos apoiar qualquer decisão que você tomar.

Ela sorriu para mim, mas não parou de chorar. Eu estava prestes a começar a fazer o mesmo, então tentei me distrair e olhei para a TV.

– Olha, o Quint vai ser devorado – falei, apontando para o filme.

Cherry virou-se para ver a cena, quando o tubarão atacava o barco e Quint caía direitinho na bocarra dele.

– Eu adoro essa parte – ela falou, secando os olhos e abrindo um sorriso fraquinho, enquanto no filme, Quint cuspia sangue e logo era engolido pelo tubarão.

...

Depois de ter assistido Tubarão e os dois primeiros filmes da franquia Jogos Mortais com Cherry, ela foi dormir em seu quarto. Eu fui para o meu, ainda com tudo o que ela havia me contado na cabeça. Precisava urgentemente falar com JJ, que havia sumido do meu radar nos últimos dias, por motivos ainda ocultos. Mas assim que cheguei no quarto e peguei meu celular, percebi duas chamadas perdidas de Asher e, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele voltou a tocar. Abrindo um sorriso enorme, atendi e me joguei de costas na cama, como uma adolescente apaixonada.

– Oi, estranho – falei e o ouvi rir.

– Você anda assistindo muitos filmes – falou, o que me lembrou de não mencionar os três extremamente sanguinários que eu tinha acabado de assistir.

– E você ainda não me disse o que quer, me ligando tão tarde – retruquei, enrolando uma mecha de cabelo no dedo. Nem era tão tarde assim, afinal, passava pouco das onze horas, mas eu queria provocá-lo um pouquinho.

– Eu só quero ouvir sua voz – falou, a voz extremamente séria. – Já sinto sua falta.

Ofeguei inaudivelmente, minha tentativa falha de provocação sendo levada pelo vento. O que eu devia esperar? Asher sempre havia sido cruelmente direto, pelo menos comigo. Aparentemente, ele não ia mudar esse traço de sua personalidade, e não ia se guardar como achei que iria. Assim como eu, ele estava se arriscando.

Seria possível amar aquele homem ainda mais?

– Também sinto a sua falta – sussurrei de volta, lembrando que havíamos nos beijado em despedida apenas poucas horas atrás. Mas parecia uma eternidade. Droga, por que eu soava tão clichê?

Eu podia ouvir seu sorriso através da ligação.

– Volta pra cá, então – pediu, sedutor. – Você disse que tinha que conversar com Cherry, não que ia demorar tanto.

Mordi o lábio inferior, tentada. Mas depois suspirei, lembrando que tinha coisas para fazer. Responsabilidades. Eu estava de folga do trabalho naquela semana, já que havia terminado todos os detalhes que faltavam para a grande inauguração de Chris, mas ainda precisava checar tudo de novo, para não ter qualquer problema mais tarde. Além disso, precisava falar com JJ e Erin – que ainda estava querendo me matar por ter fugido da festa para a qual eu a havia praticamente obrigado a ir.

Como se a pilantra não houvesse se divertido.

– Não posso – falei com desapontamento. Tudo o que eu queria era voltar a entrar naquele mundo de fantasia que havia criado com Asher, mas era impossível. Precisávamos encarar a realidade cedo ou tarde. Melhor que fosse cedo. – Tenho coisas para fazer e...Asher, não podemos continuar assim.

Foi a vez dele de suspirar. E eu quase podia ver suas sobrancelhas se unindo enquanto ele as franzia.

– Você é realmente uma estraga prazeres, sabia?

Eu ri levemente, rolando na cama e apoiando-me nos cotovelos, ainda segurando o celular no ouvido.

– Você sabia disso quando entrou nessa, amigo – retruquei e ele riu.

– Tudo bem, é verdade – concedeu. – Então vamos fazer assim. O que você vai fazer amanhã?

– Por que você quer saber? – eu não era uma pessoa exatamente fácil, mas Asher sabia disso, por isso nem reclamou por eu ter respondido uma pergunta com outra pergunta.

Ao invés disso, só o que ele falou foi:

– Quer sair comigo?

Demorei alguns segundos para acalmar meu coração antes de, novamente responder com outra pergunta:

– Tipo um encontro? – e fiquei feliz por minha voz sair quase normal.

– Exatamente como um encontro, monstrinha – sua voz era rouca e quente, amável. – Vamos tomar o seu vanilla latte preferido no Starbucks, patinar no gelo no Central Park, comer aquele cachorro quente nojento que você tanto gosta.

Mais uma vez, eu mordia os lábios. E dessa vez era pra ver se conseguia me impedir de chorar. Talvez...só talvez, aquilo pudesse dar certo.

Talvez não fosse errado. Asher e eu. Asher e Maxine. Talvez nós pudéssemos ser certos um para o outro.

– E vamos conversar? – perguntei, finalmente.

– Sobre tudo que você quiser.

Sorri, não consegui me impedir. Asher não tinha ideia do quanto me fazia feliz, do quanto aquecia meu coração. Do quanto eu estava apaixonada por ele.

– Tudo bem – cedi, com um sorriso de mil watts. – A que horas nos encontramos?

– Eu ligo para você de manhã, assim minha voz vai ser a primeira coisa que você vai ouvir. E aí nós podemos sair e tomar o café da manhã juntos.

Fechei os olhos e fiz uma pequena prece para o universo inteiro. Pedi que aquilo pudesse ser tão real quanto o que eu sentia. Que pudesse ser pra sempre.

– Soa perfeito para mim – respondi.

...

Assim que desliguei o celular, pensei que deveria ligar para Erin e JJ e que realmente precisava dar uma olhada no material sobre a exposição que começaria em menos de uma semana, mas tudo o que pude fazer foi tomar um banho, me jogar na cama e pensar...em nada, na verdade. Eu fechava os olhos e via um rosto pálido, olhos cinzentos e quentes e um meio sorriso que me arrepiava – no melhor jeito.

Prometi a mim mesma que iria parar de agir como uma adolescente boba...no dia seguinte.

Mas foi difícil.

Como prometido, Asher me ligou de manhã. Eu já estava acordada, mas havia ficado rolando na cama, esperando sua ligação. Ouvir sua voz rouca pela falta de uso de quem acabou de acordar dizendo “bom dia, monstrinha” me deixou sorrindo feito idiota.

Infelizmente, nossos planos foram destruídos pelo tempo. Estava nevando como quase nunca se via nevar em Nova York. Dificilmente o clima para se sair de casa, mas Asher insistiu que daria um jeito. Eu acreditei e me arrumei para sair. Pouco depois do meio dia, ele havia chegado para me buscar. Cherry não estava em casa e havia deixado um bilhete para mim na porta da geladeira. Dizia apenas uma coisa. “Obrigada”. Sorri, sem saber se tinha realmente ajudado, querendo ser capaz de fazer mais por ela do que apenas ser um ombro para chorar.

Bom, eu esperava que ela soubesse que, pelo menos para aquilo, eu sempre estaria ali.

Peguei meu casaco e minha bolsa e saí do apartamento, quase correndo para encontrar Asher.

Sério, alguém podia, por favor, sacudir minha cabeça até essa coisa toda passar? Eu nunca havia agido daquele jeito, nem com James.

Asher estava me esperando do lado de fora do táxi, usando jeans escuros, um suéter azul marinho e um sobretudo preto. Seus cabelos não estavam a bagunça de sempre, como se ele tivesse se dado ao trabalho de tentar arrumá-los para mim. Sorri, esqueci minha promessa de parar de agir feito retardada e me joguei em seus braços. Imediatamente, nossos lábios se encontraram. Os meus, quentes, os dele, gelados. Gemi, sem poder me controlar. Beijá-lo era sempre uma mistura de sentir seus lábios pela primeira vez com uma familiaridade que só se adquire depois de prová-los por uma vida. Ele passou a língua suavemente pelo meu lábio inferior, antes de se afastar e sorrir o mais lindo dos sorrisos para mim. Havia alguns flocos de neve em seu cabelo e imaginava que no meu também. O céu estava escuro com a tempestade e só então eu notei o frio.

– Pronta? – ele perguntou, beijando meu nariz de leve.

Assenti e entramos no táxi.

– Sinto muito por ter demorado – falou, passando o braço pelos meus ombros e me puxando para ele. – Tive que resolver umas coisas.

– Tudo bem – falei e era verdade. – Não esperei muito.

Não falamos muito mais no caminho para o apartamento dele. Eu não sabia por que, mas estava meio nervosa. E sentia que ele não estava de todo calmo também, embora continuasse a me abraçar e a sorrir como se eu fosse a coisa mais linda em que ele já havia posto os olhos. Ou pelo menos era como o olhar dele me fazia sentir, como a mulher mais linda do mundo.

– Sei que você queria um encontro de verdade, fora de casa e tudo isso, mas infelizmente eu ainda não posso controlar o tempo – falou depois de pagar o táxi, para logo depois me guiar para a portaria do prédio.

– Está tudo bem, Asher – eu disse para tranquilizá-lo enquanto entrávamos no elevador. Ele não tinha culpa pela neve, aquilo nem era normal. – Nós podemos sentar no sofá e assistir a um filme ou algo – eu parei aí, antes de completar que só me interessava ficar com ele.

Saímos do elevador e ele pegou as chaves, sorrindo daquele jeito de menino malicioso que me deixava pensando besteiras.

– Bom – falou, destrancando a porta. – Eu meio que tive outra ideia. Espero que você goste.

Quando abriu a porta, Asher deu um passo para o lado para me deixar passar na frente.

E eu não podia acreditar naquilo.

Em cima do balcão – perfeitamente limpo, devo acrescentar – havia copos do Starbucks com o que eu suspeitava fosse minha bebida preferida. Pipoca queimada e uma bandeja com meus cachorros quentes nojentos do carrinho de cachorros quentes. Também notei uma enorme sacola da Papabubbles pendurada na cadeira.

Mas não era isso o que havia chamado a minha atenção. Não.

Uma vez, há muito tempo, logo que Asher e eu deixamos de ser estranhos vivendo juntos e passamos a ter certa intimidade, ele havia me perguntado qual seria o encontro perfeito para mim. Eu dei a resposta típica que seria o “com a pessoa certa”, mas ele me pressionou por detalhes. Até que eu finalmente respondi que era completamente apaixonada por balões coloridos de gás hélio e que, quando criança em um parque de diversões, o vendedor de balões acidentalmente os soltou e, por um momento, o céu ficou completamente tomado por azul, rosa, vermelho, amarelo, verde e branco. E foi a coisa mais linda que eu já havia visto. Um céu colorido.

Mas logo que eu começara a sair com James, tinha vergonha até de pedir para ele me comprar um único balão. Era coisa de criança e eu pensava que ele riria de mim. Não disse essa parte para Asher, mas eu podia lembrar perfeitamente de falar o resto e também esperar que ele fizesse graça.

Na época eu não me importava com a opinião dele. Mas ele não havia dito nada.

E agora, caminhando até o centro da sala, minhas pernas tremiam. O teto estava completamente coberto por balões de todas as cores, com fios prateados caindo deles, balançando e refletindo a luz.

– Sei que não é a mesma coisa – sua voz soou ligeiramente hesitante atrás de mim. – Mas para o nosso primeiro encontro, eu...eu queria que você tivesse o seu céu colorido.

Voltei-me para ele e tive medo de que pudesse ver as lágrimas não derramadas acumuladas nos meus olhos. Puxei um dos fios e um balão azul desceu alguns centímetros no ar antes de voltar a subir.

Eu não sabia o que dizer. Ou melhor, sabia. Mas não achava que ele gostaria de me ouvir dizer que o amava tão cedo. Então só fui até ele, ainda segurando o fio prateado do balão azul, e o beijei de leve nos lábios.

– Obrigada.

Eu te amo.


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Notas finais do capítulo

Hey, e aí, o que acharam?
Bom, eu comecei uma shortfic (é, de novo hahhaha) e se vocês quiserem ler, é essa aqui:
http://fanfiction.com.br/historia/545658/A_100_Heartbreaks/
Hoje to meio emotiva huasheuh, e vocês são os melhores leitores do mundo < 3
Beijos e até o próximo capítulo :*