Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 16
Capítulo Bônus Asher


Notas iniciais do capítulo

Oláááá
Alguns disseram que era lenda urbana, mas cá estou.
FELIZ NATAAAAL!
Bom, eu sei, eu sei... eu não deveria postar esse capítulo. Mas o espírito natalino tomou conta de mim e eu resolvi dar esse capítulo como presente de natal pra todo mundo... mas as pessoas que comentaram vão ganhar o outro capítulo bônus (que eu espero poder terminar em janeiro!), então se você ainda não me mandou seu email, manda por MP, review ou fala comigo pelo facebook ou twitter.
Obs: esse bônus se passa no capítulo "Odeio os clássicos!", então se vocês quiserem reler o referido capítulo pra se situar melhor... enfim, vocês que sabem. Ah, e como vocês devem saber, quem narra é o Asher.
Espero que vocês gostem de saber o que se passa na cabecinha desse ser.
Divirtam-se!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/360597/chapter/16

– Ei, Ash, essa expressão concentrada não combina com você.

Levantei os olhos para a bonita morena que havia se aproximado da minha mesa. Seu rosto estava perfeitamente maquiado, seus longos cabelos castanhos e ondulados caindo com graciosidade em seus ombros, e o sorrisinho debochado chegava até seus olhos azuis acinzentados.

– Não me chame de Ash – reclamei enquanto ela puxava a cadeira e se sentava na minha frente.

– Sua simpatia é sempre além desse mundo, Ash – ela comentou depois de se acomodar, sem perder aquele sorriso. – Sempre me deixa emocionada.

– Corta o sarcasmo, Georgie – eu normalmente até gostava desse jeito de vadia irritante dela, mas aquele dia estava prometendo ser tão saboroso quanto uma das bolas de pelo do Nero e eu realmente estava sem paciência para aguentar merda das pessoas. – Diz logo o que aquela bruxa quer desta vez.

Georgie ficou subitamente séria. Ou seja, eu estava fodido. Quando a sempre irônica e irritante Georgina Cass ficava séria, eu sabia que as notícias não seriam boas. Antes que ela tivesse tempo para jogar uma bomba nuclear na minha cara, uma garçonete se aproximou para anotar nossos pedidos – estávamos num café perto da revista dela.

– Para encurtar: a bruxa está puta com você – ela disse quando a garota se afastou para pegar o chá de pêssego com hortelã da Georgie e o meu latte.

Grande novidade.

– E quando aquela velha não está puta comigo? – perguntei genuinamente, com um suspiro. Eu realmente não conseguia lembrar de uma única vez.

– É, mas desta vez ela está realmente demente – Georgie falou, pegando um espelho da bolsa para conferir a maquiagem...ou apenas para admirar a beleza exótica do seu rosto. Depois os homens eram estranhos. – Ela talvez tenha mencionado...cortar o seu dinheiro.

– O quê?! – gritei, quase levantando da cadeira, apenas impedido pela mão de Georgie em meu ombro. Quem diria que uma mulher tão pequenina podia ser tão forte?

– Que tal você gritar um pouquinho mais alto? – ela perguntou, desaprovação colorindo sua voz ao perceber que quase todos no estabelecimento nos encaravam. – Tem um esquimó lá na Sibéria que eu acho que não escutou.

Voltei a me sentar, olhando feio para ela. A garçonete escolheu aquele momento para trazer nossas bebidas, então eu fiquei calado.

– Ela não pode fazer isso, o dinheiro é meu! – exclamei quando a garçonete se afastou novamente, tentando me conter para falar um pouco mais baixo.

– Tecnicamente, Ash, meu querido, ela pode sim – foi sua resposta, seus olhos expressivos me fitando como se dissessem “eu avisei que isso ia acontecer”. – Quando aquele canalha que você, infelizmente, conhece como pai morreu, ele deixou a bruxa responsável por sua herança até os seus 25 anos. Ou seja, se ela quiser segurar o dinheiro até o seu aniversário ano que vem, ela pode.

Afundei o rosto nas mãos, percebendo a verdade nas palavras dela. Apesar de já me considerar com 24 anos, a verdade era que meu aniversário era em vinte dias. Ou seja, eu só poderia me livrar da bruxa e ser responsável pelo meu próprio dinheiro em pouco mais de um ano. Ou seja, fodido nem começava a dar a ideia da minha situação.

– E como ela espera que eu sobreviva até os meus vinte e cinco? – perguntei, frustrado. – De brisa?

Georgie deu de ombros e rolou os olhos. Era a única pessoa que eu conhecia que podia fazer desses movimentos algo completamente elegante.

– Arranjar um emprego não vai te matar.

– Vai sim, odeio trabalhar. E, além disso, não preciso.

– Então eu desisto! Faz o que a velha quer e garante seu dinheiro, seu vagabundo preguiçoso.

– E o que ela quer? – perguntei, sabendo que seria algo que me deixaria puto, de um jeito ou de outro.

– Drogas? Sacrifício humano? Suas bolas num espetinho de churrasco? Vindo dela, não pode ser nada melhor do que isso. Aliás, levar uma dessas piranhas que você vive comendo para a festa dela só vai piorar as coisas.

Tomei metade do meu latte em um gole e joguei um saquinho de açúcar naquela mulher problemática.

– Mais respeito – falei, vendo-a tirar o açúcar do seu casaco de três mil dólares com uma expressão assassina. – Eu só saio com garotas muito legais. E você vai amar a que eu vou levar à festa.

Eu sabia que a ideia de vê-la na fantasia que eu escolhera me agradava. Muito.

– Outra estrela da indústria pornô?

Quase engasguei com o meu café enquanto explodia numa gargalhada.

– Definitivamente, não – consegui dizer, em meio ao riso. – Ela tem um emprego respeitável em uma galeria de arte e fotografia.

Georgie cerrou os olhos para mim, como se não acreditasse em uma palavra.

É que ela não tinha sido agraciada com a imagem mental de uma sexy Max vestida de professora safada e reclamando que os lençóis da cena não foram lavados a seco. Se por um lado, pensar nela como professora safada tinha consequências sérias para a minha libido, por outro, Max nunca deixaria de ser Max – o que significava que ela nunca estaria satisfeita com as condições sanitárias de um set pornô.

– Ela é bem normal, então? – perguntou Georgie, desconfiada.

Normal? Minha monstrinha era definitivamente maluca.

– Claro – foi o que respondi, no entanto, com um sorrisinho.

Ela balançou a cabeça, como se desistisse de tentar me entender, pegou o espelho que tinha tirado da bolsa, ajeitou o cabelo e guardou o espelho de volta. Levantou-se, me beijou na bochecha e disse:

– Você que sabe. Eu já vou, está quase na hora de buscar a Ren. Vou dizer que você mandou um beijo.

– Diga que eu perguntei se ela já ficou bonita ou se ainda tem aquela cara feia.

Georgia se afastou, fazendo um gesto não muito elegante com a mão, que não combinava em nada com a imagem que as pessoas tinham dela. Eu era uma das poucas pessoas que a conheciam de verdade. Não a elegante, bonita e bem sucedida editora, mas a mulher que nunca deixou de ser aquela menina implicante, boca suja e divertida.

Suspirei ao vê-la sair, pensando em quando, exatamente, tomamos caminhos tão diferentes. Georgie costumava ser a adolescente rebelde e problemática. Não eu.

Peguei o celular, procurando o número da velha insuportável. Precisava resolver meus problemas e não ficar tendo dúvidas a respeito da minha vida. Asher Lockwood não olhava para trás e não iria começar agora.

– E aí, Harolds? – cumprimentei quando a sóbria voz masculina atendeu o telefone. – A velha ainda tá viva?

– Mais forte que nunca, Sr. Lockwood – Harolds, o mordomo-barra-criado pessoal da velha respondeu, o tom neutro como sempre.

– Droga. Então pergunta quando ela pode me receber.

Harolds me pediu, gentilmente, para esperar enquanto ia consultar sua patroa. Só ela mesmo para me forçar a marcar hora apenas para estar em sua ilustre presença. Eu odiava aquele estilo de vida, aquela arrogância, aquele pedestal em que ela havia se colocado.

– Sr. Lockwood? – Harolds voltou ao telefone. – Se o senhor estiver aqui em vinte minutos, ela vai recebê-lo.

Merda. Eu demoraria vinte minutos para chegar à Park Avenue apenas se todos os outros carros na rua fossem engolidos pelo asfalto.

Assenti e desliguei, jogando algumas notas na mesa antes de sair quase correndo do lugar, esperando que o trânsito não estivesse tão ruim. Se eu chegasse um minuto depois, a velha faria questão de bater a porta na minha cara. Ou melhor, mandaria Harolds fazer isso, já que nunca cometeria a indignidade de segurar uma maçaneta.

...

Luxo. Não havia outra palavra que me viesse à cabeça todas as vezes em que eu pisava naquela cobertura na Park Avenue. Eram 600 m² milimetricamente decorados por um designer sem alma que cobrava mil dólares por hora. Fortunas em forma de pinturas enfeitavam as paredes, relíquias valiosíssimas eram entremeadas pela tecnologia mais moderna que o dinheiro podia comprar.

O lugar continuava tão frio quanto era durante minha adolescência. Talvez mais. Agora, além dos empregados, só havia uma moradora naquele palácio moderno.

Vivian Lockwood.

– Não vai dar um beijo na sua avó? – perguntou a própria, sentada numa das poltronas confortáveis da biblioteca.

Aquele era o aposento preferido dela. Não era muito grande quando comparado com as outras salas, mas cada espaço – e parede – era coberto por estantes que iam do chão ao teto, transbordando de livros. As estantes eram de maneira escura, o carpete era escuro, todo o ambiente era meio sombrio. Quando eu tinha 15 anos e era chamado àquele lugar por Vivian, a sensação era a de estar indo para o calabouço. E, apesar de eu não ter mais 15 anos nem aquele medo irracional por Vivian, minhas mãos ainda suavam um pouco quando eu entrava naquele lugar.

Velhos hábitos eram difíceis de quebrar.

Aproximei-me e me inclinei para beijar minha avó nas duas bochechas.

Como todas as mulheres da família, Vivian era pequena e delicada. Na aparência, pelo menos. Eu não tinha ideia de quantos anos ela tinha e seu rosto não era um daqueles que entregava a idade. Ela podia muito bem estar entre os 50 e os 80 anos, se alguém me perguntasse. Sua pele era pálida-maquiagem-de-defunto como a minha, ligeiramente enrugada no canto dos olhos levemente maquiados. Olhos cinzentos, exatamente como os meus. Seus cabelos eram de um tom loiro branco, curtos e lisos. Os ossos de suas maçãs do rosto salientes eram firmes quando encostei meu rosto neles. Vivian era magra o suficiente para parecer que sua pele estava esticada em seus ossos – não magra como Max, por exemplo, que não fazia o tipo voluptuosa, mas em nenhum centímetro daquele corpinho parecia menos que saudável.

Vivian parecia ter acabado de passar quarenta dias no deserto. Se eu não soubesse que ela era ateia, eu diria que ela estava querendo bater o recorde de Jesus.

– Olá, vovó – falei, sentando-me na poltrona perto dela. – Você está linda como sempre.

– Nem me venha com elogios – ela retrucou com um aceno da mão. – Sei muito bem porque você está aqui. Assumo que tenha falado com Georgina.

Passei os dedos descuidadamente pelos cabelos, pensando se aquela mulher era uma bruxa mesmo – e onde ela guardava a bola de cristal.

– Nos encontramos hoje – admiti, até porque Vivian farejava uma mentira melhor que um cão de caça.

Ela se recostou tranquilamente em sua poltrona, o queixo erguido e as pernas – vestidas em elegantes calças pretas – cruzadas. Olhava-me como se fosse uma ave de rapina e eu, um inocente esquilo.

Não era um papel que combinava muito comigo. Ou do qual eu gostava muito.

– O que ela lhe disse? – perguntou, ainda me olhando com aqueles olhos afiados.

Dei de ombros.

– Que você não está muito contente comigo, vovó – falei em minha voz mais suave e encantadora. – Embora eu não entenda por que. Eu não me meto com drogas desde a faculdade e já tem alguns anos desde que você precisou ir me buscar na delegacia pela última vez.

Ela fez um som de desgosto.

– Imagino que você encare isso como motivo de orgulho – sua voz era de profunda repulsa.

Eu sorri, mostrando-lhe todos os meus dentes.

– É claro! Duvido que você fosse querer um neto drogado e bandido.

– Mas também não quero um vagabundo e inútil.

– Dizendo essas coisas você realmente me parte o coração, vovó...

– Se você tivesse um, talvez eu me preocupasse.

A velha não me deixava ganhar uma. Certas coisas nunca mudavam. Exatamente como aquele olhar de desaprovação, que tinha sido o mesmo desde que eu me mudara para aquela casa, aos doze anos. Eu podia lembrar de como estava nervoso, de como esfregava minhas mãos suadas uma na outra, de como olhava de maneira assustada para toda aquela suntuosidade e de como ficara animado quando me disseram que ia conhecer minha avó. Eu teria uma avó, como os outros meninos. Uma avó para apertar minhas bochechas e assar biscoitos de gengibre.

E, ao invés disso, eu tinha Vivian.

Ela olhou para mim daquela primeira vez como se examinasse algo que quisesse comprar, torcendo os lábios para os meus cabelos despenteados e minha camisa, úmida nos lugares que eu usara para secar as mãos. Olhara-me com aquela mesma desaprovação. Como se eu não fosse bom o bastante.

E era claro que, para os padrões de Vivian, eu nunca seria bom o bastante. Já havia deixado de tentar há muito tempo.

– Por que não vamos direto ao ponto? – perguntei, me sentindo subitamente cansado daquele joguinho em que eu fingia que era um neto que prestava e ela fingia que se importava. – O que você quer de mim?

Sim, era humilhante, era degradante e nada digno, mas eu morreria de fome sem o dinheiro que Vivian me dava todo mês. Tudo bem que, no fim das contas, o dinheiro era meu, mas ela o controlava. Se eu pudesse arranjar um jeito de ressuscitar meu pai, eu provavelmente o mataria por ter feito aquele absurdo de deixar aquela megera responsável pela minha herança.

Vivian me olhou atentamente, sem nunca perder aquela nuance de desaprovação nas feições. Ela sempre achava alguma coisa para reclamar de mim, mesmo na época em que eu tentava o meu melhor para ser impecável – na época que eu me importava. Agora ela poderia simplesmente me dizer que nem reencarnando eu seria o que ela gostaria e eu continuaria com minha cara neutra, perguntando sobre o meu dinheiro e torcendo para que o ano passasse rápido para eu parar de viver à sombra daquela bruxa.

– Você é meu único neto, Asher – ela começou, surpreendendo-me. Em geral, ela não apontava nossos laços sanguíneos desse jeito, quase como se tivesse vergonha de ter um neto tão miserável. E provavelmente tinha. – Não pode culpar uma avó por querer que seu neto seja mais que um bêbado que não faz nada da vida a não ser colecionar mulheres.

Isso era mais a cara dela.

Dei de ombros, ainda sem saber onde ela queria chegar com aquela conversa. Não era como se fosse novidade minha fama de “colecionar mulheres”. Não era como se eu tentasse esconder minhas parceiras de cama como se estivéssemos fazendo algo sujo e proibido.

Era apenas sexo. Sexo sem compromisso. O que as pessoas viam de tão errado nisso?

Como eu não disse nada, ela continuou:

– Se você pelo menos voltasse para a universidade...

Cortei-a antes que ela se aprofundasse nesse assunto.

– Já disse que não. Quantas vezes vou precisar repetir que não vou voltar a estudar?

– Mas você estava a dois semestres de se formar, garoto! Com honras!

Honras para quem? Pensei. Mas não disse isso, não queria entrar naquele mérito. Não queria ter aquela maldita conversa sobre a universidade e pronto. Meu pai era rico. Ele morreu e me deixou todo o seu dinheiro. Eu não precisava estudar. Não precisava trabalhar. Ponto.

– Vovó, me peça qualquer coisa, menos isso – quando as palavras deixaram meus lábios, eu percebi a grande merda em que havia me metido.

Vivian sorriu. Aquele sorriso que eu não gostava. Nem um pouco. O sorriso que uma aranha daria quando pegasse um inseto em sua teia – claro, se aranhas tivessem lábios.

– Bem, eu acho que podemos chegar a um acordo...

...

Cheguei em casa no início da noite. Não conseguia me lembrar de ter estado mais puto em toda a minha vida, embora com certeza já tivesse acontecido. É que minha cabeça estava tão cheia que eu não conseguia pensar em mais nada a não ser em minha raiva. E em chegar em casa, tomar um longo banho e me enrolar na cama com meu gato.

Não, eu não era uma velha solteirona de 80 anos. Qual o problema das pessoas sobre esse assunto, de qualquer jeito? Gatos são excelente companhia para todo mundo, não apenas pra mulheres que viram um órgão sexual masculino pela última vez antes do Havaí se tornar um estado.

Mas quando abri a porta do meu apartamento – que costumava ser meu santuário... ou como dizia Max, meu bordel particular – percebi que ele já estava ocupado.

Não que eu não estivesse esperando que minha colega de apartamento estivesse ali. Ela estava lá há meses e eu já estava quase acostumado com ela. Quer dizer, não era tão ruim ter uma mulher por perto como alguém poderia pensar. Ela era na dela e eu não tinha mais que me preocupar em tropeçar em lixo pelo caminho nem com baratas saindo pelo ralo do banheiro. Ela também se certificava de que sempre houvesse comida na geladeira, enquanto eu sempre esquecia de fazer as compras no mercado.

Mas Max Hyde também era inacreditavelmente irritante com sua mania por limpeza e organização. Eu já a ouvira acordar às 3 da manhã para arrumar as almofadas do sofá. Ela era alta demais, metida e se achava perfeitinha. É, e meio que era. Era inteligente, tinha senso de humor, um bonito sorriso e olhos calorosos, de um marrom muito pálido – uma cor que eu nunca vira antes. Ela nunca esquecia de pagar as contas, nunca deixava os sapatos fora da sapateira nem a pia suja de pasta de dente.

Max era muito cheirosa. E loira.

Oh Deus, ela era loira.

Eu sempre fui louco por loiras – naturais ou não – e quando aquela criatura apareceu na minha casa balançando aquele longo cabelo loiro – e se apressando em me contar que tinha um namorado de anos e, portanto era inacessível – eu pensei que teria que me livrar dela na primeira semana.

E eu realmente tentei. Fui ainda mais babaca do que era acusado de ser normalmente, mas ela simplesmente não foi embora. Então enchi a paciência da garota até que ela cortou os fios dourados. Eu pensei que seria o fim do meu suplício.

Foi só o começo.

Max estava na sala com a melhor amiga, uma morena muito bonita chamada Erin. Ela era noiva (ou esposa?) de um cara que eu conhecia, o Mitch – e foi através dele que eu conheci a tentação em forma de mulher que agora morava comigo – e fora da mesma escola que Max no Kansas ou algo assim.

– E aí, Lockwood? – ela me cumprimentou.

Ótimo, era realmente tudo o que eu precisava para completar aquele dia maravilhoso. Duas das mulheres mais gostosas que eu já conhecera estavam no meu apartamento e eu não podia ter nenhuma.

Elas não topariam um lance à três. Ou melhor, elas não topariam um lance comigo.

– Como vai, Price? – falei por educação. – Espera aí, você já se casou? Devo te chamar de Reed agora?

Ela riu, mas eu não estava olhando para ela. Max escolheu aquele momento para virar o rosto para a amiga e, como não estava totalmente de frente para mim, eu pude visualizar o que me tirava o sono há muitas, muitas noites.

Eu nunca fiquei obcecado com uma parte específica do corpo de uma mulher. Quer dizer, além das partes que uma lingerie cobre, de qualquer jeito. Nunca fui o cara que tem fetiches com pés, por exemplo. Mas quando aquela monstrinha cortou os cabelos, quando eu pensei que finalmente poderia parar de fantasiar com aqueles fios sobre o meu corpo ou espalhados pelo meu travesseiro, eu só fiquei mais obcecado. Pela nuca dela.

Sim, era bizarro e positivamente psicopata. Mas Max tinha um pescoço tão lindo... fino, frágil, elegante. Eu fantasiava sobre chegar por trás dela quando ela estivesse colocando as louças sujas no lava-louças e distribuir beijos por aquela pele sensível. Queria sentir o cheiro do seu pescoço depois que ela chegasse do trabalho, antes de tomar banho – porque ela sempre cheirava bem, mesmo depois de um dia cheio. Queria passar meus dedos pela nuca dela, bem levemente, até deixá-la arrepiada. Queria ouvi-la suspirar bem baixinho, não querendo mostrar que gosta do meu toque. Queria...

Erin estava falando alguma coisa sobre eu ter sido convidado para o seu casamento, mas eu não estava realmente prestando atenção. Max havia finalmente voltado seus olhos para mim, embora não fosse um avanço tão grande. Ela tinha aqueles olhos que algumas garotas têm. Grandes demais para o rosto, meio desproporcionais, que lhe empregavam uma eterna expressão de inocência.

Eu odiava quando ela piscava aqueles grandes olhos para mim. Fazia-me sentir sujo.

Aliás, eu odiava tudo sobre ela. Odiava seus cabelos dourados como fios de luz do sol. Odiava aquele pescocinho delicado, aquele pele ligeiramente bronzeada, aquelas pernas infinitas, aquele sorriso fácil e aquela mania por limpeza.

Eu a olhava e queria quebrá-la. Max era bonita demais, boa demais, perfeita demais. Fazia-me querer machucá-la, manchá-la, destruir aquela realidade perfeitinha em que ela vivia.

E eu só me sentia pior por isso.

Um miado alto veio do quarto da mulher que mexia com minha cabeça, fazendo-me acordar dos meus devaneios.

– Isso foi o Nero? – perguntei.

Max balançou a cabeça, fazendo com que seu cabelo curto se mexesse, atraindo meus olhos como um imã.

– Erin é alérgica a gatos, então eu o tranquei no meu quarto por um momento...

– Você fez o QUÊ?!

Finalmente, eu podia externar minha raiva. Tudo bem que eu não tinha realmente motivos para ficar com raiva. Aquele maldito gato traidor preferiria ficar trancado no quarto de Max a ficar solto em uma campina. Ele adorava aquela mulher! Mas eu não ia ficar pensando nisso, eu finalmente tinha uma razão para gritar com Max, para ficar com raiva! Eu não podia simplesmente gritar com ela por ter um pescoço tão perfeito nem por ter olhos grandes demais.

Mas eu podia gritar com ela por trancar meu gato em seu quarto.

– Desculpa, eu só – ela começou, mas eu não queria nem ouvir sua voz.

– Você trancou o meu gato?! – interpelei, aproximando-me dela sem nem mesmo perceber que o fazia.

– Ele gosta tanto de ficar no meu quarto que eu pensei que ele não se importaria... – ela falou, parecendo assustada com meu rompante, o que só fazia seus olhos parecerem ainda maiores.

– Você achou que ele não se importaria?! – gritei.

– Você quer fazer o favor de parar de repetir tudo o que eu digo?

– Quando você parar de falar tanta merda, eu posso tentar – falei, indo buscar Nero em seu quarto e voltando para a sala.

Por um momento, eu quase me arrependi de falar assim com ela. Ela piscou aqueles olhos para mim, parecendo chocada e confusa, sem saber por que eu estava sendo um idiota.

E ela não tinha culpa nenhuma. Eu só estava jogando minhas frustrações em cima dela, fazendo-a pagar por coisas das quais não era culpada. Minha avó não era uma vadia fria e calculista nem minha família era disfuncional por causa de Max Hyde. Ela não era nem culpada por me fazer querê-la tanto que, na cama com outras mulheres, eu imaginava o rosto dela. Ela não me queria, não me provocava nem flertava comigo. Ela era perfeitamente feliz com aquele namorado maravilhoso do colegial de quem vivia falando.

Mas eu a queria mesmo assim. Eu a queria tanto que tinha vontade de jogá-la pela janela.

– Qual o seu problema para falar com a Max desse jeito? – perguntou Erin, levantando-se para defender a amiga.

Eu disse para ela não se meter e me aproximei ainda mais de Max, tão perto que eu podia quase sentir o calor de sua pele.

– E você, não chegue mais perto do meu gato. Se quer torturar algum animal, procure aquele seu namoradinho – eu nem tomei conhecimento das minhas palavras, eu só pensava naqueles lábios entreabertos tão próximos dos meus. Eu podia quase sentir o gosto de chocolate em sua boca e instintivamente sabia que seu beijo seria doce o bastante para me fazer perder a cabeça.

Afastei-me, ainda carregando um Nero irritado nos braços e batendo a porta.

Aquela mulher ia acabar comigo – e a desgraçada nem sabia disso!

Eu precisava me livrar dela. E não apenas porque a garota me deixava com tanto tesão que eu não conseguia nem pensar. Eu precisava de Max Hyde fora dali se esperava ter algum êxito na missão que minha adorada avó havia me dado.

E mulher nenhuma, por mais lindo que fosse seu pescoço, me faria abdicar do meu dinheiro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Que nesse natal vocês ganhem muitos presentes, que não briguem com a família, que tenham uma virada de ano fantástica, que suas fics preferidas sejam atualizadas, que vocês tenham muita criatividade e que 2014 seja MUITO melhor que 2013 (pelamordiiii!)
Muito obrigada por me acompanharem por mais esse ano, vocês não tem noção do quanto o nyah (e vocês) são grande parte de quem eu sou agora. Cada palavra de incentivo, cada vez que vocês falam dos meus personagens como se eles realmente existissem e como se seus problemas fossem reais, vocês me fazem sentir como se o que eu escrevo realmente tivesse valor. Obrigada por me fazerem uma pessoa mais feliz.
Desculpem por todas as demoras, por eu nao estar respondendo aos comentários (eu ainda vou fazer isso! não é lenda!).
Adoro todos vocês.
Feliz Natal!