— Max, corre aqui! – Asher chamou assim que eu entrei em casa, acenando com a mão para que eu fosse até a janela.

Ao ver que ele estava com o binóculo na mão, rapidamente larguei as compras em cima do balcão e corri até ele.

— O que aconteceu? – perguntei, ansiosa, enquanto ele me passava o binóculo.

Coloquei-o no rosto e o ajustei rapidamente para ver pela janela do sexto andar do prédio da frente, bem na direção do nosso apartamento, onde um homem de meia idade barrigudo e vestido num apertado terno de tweed gritava com uma adolescente vestida com roupas pretas rasgadas, vários piercings no rosto e metade do cabelo verde.

— O Tweed descobriu que a Joker está namorando escondido – Asher respondeu. – Com aquela menina da biblioteca.

Arregalei os olhos. Há duas semanas Joker estava saindo escondida do apartamento pela escada de incêndio depois de todos terem ido dormir, para encontrar a menina simpática que estagiava na biblioteca. E há duas semanas que os dois maiores desocupados de Manhattan ficavam acompanhando o drama, temendo – no meu caso – ou esperando – no caso do meu companheiro de espionagem – que o pai dela descobrisse seu namoro secreto. Eu torcia pela garota – afinal, ela já tinha dezoito anos e podia fazer o que quisesse com a vida; se o pai tivesse problema só por ela namorar uma garota, ele era o babaca da história –, mas o idiota do Lockwood achava que o cara surtaria mesmo se ela estivesse namorando um cacto, já que ele havia ficado meio superprotetor depois que Joker foi presa (ela nem foi condenada nem nada!) e que mentir para ele era crueldade.

Talvez fosse um pouquinho.

Mas e quanto ao verdadeiro amor? O Tweed era muito rigoroso e não deixava a pobre da Joker fazer nada.

Mais de uma vez me indaguei se stalkear as pessoas desse jeito podia me fazer passar uma temporada atrás das grades, mas acho que era só colocar toda a culpa no Asher e mudar de identidade quando ele saísse da prisão sedento por vingança.

Também me perguntei se era saudável. Só uma pessoa muito sem vida passaria mais horas do que gostaria de admitir espiando a vida dos vizinhos, como se fosse um reality show.

Só para constar, sou viciada em reality shows.

— Vai fazer a pipoca – eu mandei, empurrando-o para me acomodar melhor na janela, esquecendo tudo sobre prisões e mudanças de identidade. – Não quero perder quando a veia começar a saltar na testa do Tweed.

Mas ele me empurrou de volta e tirou o binóculo da minha mão, brusco.

— E você acha que eu quero perder? – retrucou. – Vai você.

— Mas fui eu que fiz a pipoca da última vez! – reclamei. – E eu trabalhei o dia inteiro enquanto você ficou jogado nesse sofá coçando o saco e assistindo a documentários do History Channel!

Ele só rolou os olhos pra mim.

— O apartamento é meu, a janela é minha, o binóculo é meu. Até os vizinhos são meus. Então não reclama e vai logo pra cozinha, monstrinha.

Trinquei os dentes. Se eu pudesse estrangular alguém apenas pela força do pensamento, o corpo de Asher Lockwood estaria agora esparramado na calçada da Broome Street.

Quem disse que viver com um cara era fácil com certeza não tinha o meu colega de quarto.