P.O.V Chloe

Acordei mais cedo que o normal, e me virei na cama não conseguindo pegar no sono novamente. Meu celular começou a despertar, e Come and Get It tocou.

Essa musica está na minha cabeça há semanas.

Levantei, e fui direto ao banheiro. Fiz toda minha higiene matinal e me inclinei em direção ao meu guarda roupa. “Nada mal” sussurrei para mim mesma.

A Chloe de anos atrás ficaria em espantada com as roupas que ali se encontravam. Meu estilo realmente mudou de alguns anos para cá, confesso. Peguei uma jaqueta de couro e corri para a cozinha. Estava atrasada - como sempre. Agarrei uma torrada que tinha feito na noite anterior - que me esqueci de guardar - e apressei o passo para sair do apartamento. Tranquei-o, e o deixei do jeito que sempre está, solitário.

Muitas pessoas estavam na rua, o transito estava caótico, mas não estava preocupada, eu sempre vou de metrô. O Escritório não estava longe, mas senti uma sensação estranha.

“Meu coração deu uma pontada”.

É a expressão certa.

Fechei os olhos e me senti tonta, segurei em um pilar.

–Moça – Um homem se aproximou – você está bem? – Que estranho, as pessoas não costumam ser tão gentis aqui. Senti uma saudade de casa, lá tudo era diferente.

–Estou sim, muito obrigada. – Me desvencilhei dele e continuei andando.

Cheguei ao escritório e trabalhei a manhã inteira sobre uma matéria que fala de meninas que sonham em ter uma festa perfeita. Lembrei de minha irmã, que saudades dela. A pontada voltou – agora mais forte.

–Chloe, você não me parece muito bem. – Minha chefe chegou se aproximando.

–Está tudo bem, Miranda. É só uma dorzinha, nem se preocupe.

–Então tudo bem, querida. – Ela estava falando, mas foi interrompida pelo meu celular que começou a tocar. "Home" era meu toque.

–Com licença. – Falei para ela, atendendo meu celular.

“Alo? Mamãe?”

“Chloe” – a voz dela estava chorosa.

“Mãe, aconteceu alguma coisa? Estão todos bem?”

“Chole, nós tínhamos certeza de que isso iria acontecer” – O que será que podia ter acontecido?

Anna.

“Mãe, é com a Anna, não é?” – As pontadas no coração, todos os sinais, a saudade forte de casa.

“Chloe, a Anna acordou” – Ela riu.

“Eu estou indo, vou pegar um avião agora mesmo.” Desliguei o telefone e não esperei uma resposta.

Estava tremula, e nervosa.

Minha irmã, acordou.

Fui até a sala de Miranda e contei breve parte da história. Ela disse que eu tinha o tempo que precisasse, e ficou muito feliz por mim. Peguei o elevador e sai correndo.

Cheguei em casa muito rápido, e nem sei o que coloquei na mala. Procurei meus documentos, e fui em direção ao aeroporto. Enfrentei 10 horas dentro de um avião com um garoto sentado na poltrona ao lado assistindo Barney no maior volume. Desembarcamos normalmente, mas eu ainda tentava reconhecer o lugar que antes chamava de casa. Peguei um taxi, e fui direto ao hospital. Quando cheguei, tive varias lembranças.

Não tenho boas memórias de quando estive aqui.

De “mala e cuia”, corri pelos corredores do hospital. Eles não tem esse nome porque servem para essa finalidade? Eu estava suada, nervosa, e cansada, mas não parei.

Nada no mundo vai tirar uma das imagens mais bonitas que já vi na vida.

Meus pais estavam sorrindo, há quanto tempo eu não os via assim.

–Chloe! – Minha mãe correu me abraçar.

–Mãe? Como isso aconteceu? Do nada? – falei entre soluços.

Ótimo, eu já chorava agora.

–Olá, querida. – Meu pai me abraçou – Não, filha. Há algumas semanas ela veio apresentando uma melhora, mas só agora ela abriu os olhos.

–E onde ela está? Cadê ela?

–Está em um quarto no final do corredor. – Minha mãe abraçou meu pai.

Eu os deixei ali, e fui até os quartos, tinham três quartos. Abri a porta do primeiro e nada dela, apenas um senhor “dormindo”. Tentei o outro, e então a vi. Ela estava deitada na cama e acordada.

–Anna! –Corri até ela, e a abracei – Eu não estou acreditando, parece um sonho.

–Chloe, eu senti tanto a sua falta – Ela falou me abraçando. Que saudade da voz dela.

Eu me afastei dela e fiquei a observando. Estava tão linda. Escutei um barulho e virei para o lado, notando a presença de outra pessoa no quarto.

Eu não pude acreditar no que vi.

Não, não pode ser.

Ele, aqui? Mas é claro, a faculdade de medicina.

–Chloe, há quanto tempo. – Ryan falou um pouco transtornado. Os mesmos olhos azuis e o cabelo despenteado. A barba por fazer o deixava ainda mais bonito. Maldito.

–É verdade. – Falei limpando a baba. Ficamos nos encarando e não sabíamos se nos abraçávamos ou não. Optamos pela primeira opção.

Enquanto o abraçava, tudo voltava. As nossas memórias, as nossas conversas, o nosso primeiro e único beijo. Eu me lembro como se fosse ontem o dia em que fui embora.

O mesmo dia em que ficamos juntos pela primeira vez.

Flashback On

Eu não suportava mais ficar aqui, estava cansada disso. Meus pais ainda estavam distantes, tristes, e Charles tinha nos deixado e ido embora para terminar a faculdade em outro estado. A mesma coisa todos os dias, a lembrança de Anna em todo lugar.

Eu estava cansada.

Eu sentia muito por deixar meus pais sozinhos com ela, e com a lembrança dela. Tudo mudou quando recebi a carta de admissão da faculdade que nem lembrava ter feito a inscrição. Um acaso que veio a calhar.

Eu estava decidida a ir embora, apesar de que eu sempre ansiei fazer faculdade aqui. Nem tudo é como planejamos,e quem mais ficou chocado e infeliz foi Ryan, meu melhor amigo. Ele pode ser meu amigo, meu melhor amigo, mas nunca ira entender a minha necessidade de voar, de sair daqui.

Estava tudo pronto para minha partida, e meus pais aceitaram o fato de que não queria despedias então me deixaram ir sozinha até o aeroporto. Ryan me ignorava e não falava mais comigo. No dia da minha viagem, fui até o aeroporto sozinha e estava esperando o avião chegar, lendo.

–Eu que te dei esse livro – Olhei para cima e encarei Ryan.

–Foi sim. – Falei e voltei a fita-lo.

–Chloe, não assim.

–Não assim? – Eu já estava gritando – Você que não fala comigo há duas semanas, você que não retorna minhas mensagens, você que não veio se despedir de mim quando eu pedi.

–Talvez eu não esteja pronto para me despedir. – Ele falou me olhando com uma intensidade que jamais vi.

–Nós já conversamos sobre isso.

–Chloe, eu definitivamente não estou pronto para me despedir.

–Ryan..

–Não, me deixe terminar - Balançou a cabeça - Chloe, eu não quero que você vá - seus olhos suplicavam - Eu não quero ficar longe de você, eu não posso ficar longe de você, sabe por quê? Porque eu te amo Chloe. É tão difícil assim? – Eu fiquei boquiaberta – Eu amo você desde que você grudou chiclete no meu cabelo na primeira série.

–Ryan, eu.. – Eu estava sem palavras. – Eu gosto de você, eu gosto tanto. Porque você nunca me disse? Eu chorava por dentro quando via você e outras meninas. Eu sempre te amei. Por que agora?

Por quê?

–Chloe, nós temos tempo. – Ele sorria.

–Não, não dá mais. Eu sinto muito. Eu não agüento mais.

–Então por favor, me deixa pelo menos ter a sensação de ter tentado – Ele foi chegando mais perto, e me beijou. Só Deus sabe quanto tempo eu esperei por aquilo. Ele provavelmente não deve se lembrar daquela vez em uma festa que ele estava um pouco bêbado e me deu um selinho.

Foi meu primeiro beijo.

–Eu sinto muito, eu demorei demais para perceber que não consigo viver sem você. – falou segurando meu rosto.

–Ryan, eu é que sinto muito. – Falei me soltando dele e correndo para o embarque. Eu não olhei para trás.

Entrei no avião e chorei em silencio. Meu celular vibrou.

“Eu te amo. E sempre vou.”

– Ryan

Flashback off

Agora, enquanto o abraçava a mesma sensação de segurança voltou. Olhei para Anna, e ela sorria. Essa malandrinha! Ryan me encarou de volta, ele estava corado.

–Eu vou deixar vocês duas conversarem - ele pegou a bandeja saindo de lá – Foi bom te ver Chloe. – sorriu.

–Hum, o Ryan tá bonito né?

–Cala a boca –falei – Olha só, você acabou de acordar e já está me incomodando.

–Você está tão bonita, Chloe. – Ela me falou com brilho nos olhos.

–Eu digo o mesmo, você está tão crescida. – Ela estava linda.

–Eu ainda não me vi no espelho.

–Isso não será problema – Eu procurei em minha bolsa.– Você sabe que receberá muitas visitas, não sabe? Bom, a sua sorte é que eu cheguei agora, e ainda não fui para casa. Acho que tenho uma base e um rimel por aqui.

–Você sabe que a mamãe não gosta que eu use maquiagem. –A menininha ingênua ainda está dentro dela.

–Você não tem mais treze anos, Anna. – Falei me aproximando e mostrando um espelho para ela.

Ela tentava se reconhecer.

–Você esta linda, mas pode ficar mais bonita ainda. – peguei minhas maquiagens, e a deixei pronta em alguns instantes.

–Obrigada, irmã. – falou encantada.

–Eu morri de saudades de você, pirralha. – Falei a abraçando.

Que saudades.

–Com licença – Era Ryan novamente – Tem algumas pessoas aqui que querem te ver.

Notei os melhores amigos de Anna entrando.

Lilá e Will estavam crescidos também, ambos lindos. Sai de lá e os deixei conversando, seria uma longa conversa. Notei Ryan que me encarava sorrindo.

–Você, médico então? – falei a primeira coisa que me veio em mente.

–Pois é. - riu fraco - Já você voltou com os ares de cidade grande.

–Na verdade continuo a mesma.

–Não. - O encarei – Você esta mais bonita. – corei violentamente. e ele riu. – Vai ficar muito tempo na cidade?

–Não sei ainda. – falei sincera.

Provavelmente muito tempo.

–Bem, a gente pode.. você sabe... sair, o que acha? – falou tímido.

–Por mim tudo bem. - me controlei para não falar rápido demais e parecer desesperada. Não que eu estivesse.

–Eu sei onde você mora – Ele riu – Eu passo por lá.

–Claro, quando você estiver pronto. – se despediu me dando um beijo na bochecha.

Muito, mas muito perto da boca.

–Foi bom te ver, Chloe.

–Digo o mesmo. – Sai, o deixando lá.

Mas dessa vez virei para trás, e ele continuava sorrindo.

Lembrei da música de hoje de manhã.

When you ready come and get it...

Fica a dica, Ryan.