–Fica bonita, Anna. Leo não pode namorar uma feia, ele é um lindinho. - Charles falou rindo.

–Vai se ferrar, seu gay!

Parece que minha família gosta mais dele do que de mim. Menos mal, agora só falta eu ama-lo de verdade.

O que é uma questão de tempo.

(...)

P.O.V Anna

Coloquei meu melhor vestido, meus sapatos preferidos, e Chloe fez uma maquiagem especial. Mesmo assim eu não consegui me sentir segura, confiante.

Eu estava muito nervosa, não conseguia relaxar.

Aconteceram tantas coisas recentemente, é como se eu tivesse vivido nessas nove semanas o que não vivi em quatro anos. As vezes paro e penso, o que poderia ter acontecido se eu não tivesse discutido com Lilá aquele dia.

Talvez não tivesse caído daquela cachoeira e ficado em coma.

Nunca vou saber a resposta, já que não posso simplesmente voltar no tempo. Mesmo se pudesse, acho que não mudaria muita coisa.

Lembro bem de como Leo e eu éramos naquela época. Nós fomos amigos quando éramos pequenos - ele até me deu o Pipoca (que agora já estava gigante).

Mas depois de um tempo, foi como se alguma coisa tivesse se rompido, e tudo mudou. Eu não conseguia ficar no mesmo lugar que ele por mais de trinta segundos. Convencido, marrento, se achava "o cara". Eu o odiava com todas as minhas forças.

Eu era o sim, e ele o não, sempre me contrariando.

Tantas brigas, que não consigo nem contar. Mas agora no fundo eu percebo que essa implicância era apenas a faísca. Eu tinha ciúmes porque ele pegava todas, menos eu. Ele nunca demonstrou nada, tirando sempre as piadinhas.

Quando na verdade sempre gostou de mim, assim como eu que sempre gostei dele. Bem lá no fundo eu sempre soube.

–Filha, você está pronta? - Meu pai bateu na porta. Murmurei um aham, e ele entrou - Você está linda! - Falou me encarando com um sorriso orgulhoso. Eu estava usando um vestido azul turquesa que combinavam com brincos da mesma cor. Meu sapato era nude, e meu cabelo estava semi preso.

–Obrigada - Sorri para ele.

–Você está nervosa? - Acho que ele percebeu minha voz tremula - Querida, você sabe que eu aprovo seu namoro com Valdez, ele é um bom garoto. Não se preocupe, não vou dar uma de pai super protetor.

–Não é isso, pai - O tranquilizei - É só que..

–Você está confusa?

–Não, eu tenho certeza disso. O problema é que não sei se eu sou a pessoa perfeita para ficar com ele. O Leo é um cara gentil, super carinhoso, engraçado, gosta muito de mim. E eu? Eu fiquei em coma, perdi quatro anos em uma cama, e pelos menos nos próximos trinta anos devo ir toda semana no médico. Não sei nem usar um computador, ou até mesmo um iphone. E se eu surtar? Não aguentar tudo isso? Não conseguir lidar com tudo e explodir? Eu não quero machucar ele.

–Filha - Ele se aproximou - Você precisa ter paciência. Isso só o tempo dirá. Para quem passou um bom tempo fora do ar, você sabe muito bem esperar. Não deixe esse fantasma te assombrar - sorriu - Você não está mais confinada naquele lugar. Não pense nisso agora, pense em tudo que você pode ter a partir de hoje. O que passou, passou. - Ele riu.

–Obrigada, pai - Ele me abraçou.

–E agora, você está realmente pronta? - Respirei fundo.

–Como nunca estive antes. - Sorri para ele.

Nós descemos até o andar de baixo onde todos estavam nos esperando. Mamãe, Chloe e Charles estavam muito bonitos. Eles pareciam tão felizes, e por um momento eu tive um flashback de como éramos antes do acidente.

Nós não éramos tão unidos assim.

–Podemos ir? - Papai fechou algumas janelas.

–Acho que estamos prontos - Mamãe veio em minha direção - Você está radiante, querida. - Sorri para ela em agradecimento.

Fomos todos a pé, afinal éramos vizinhos. Fui a primeira, e apertei a campainha.

–Anna! - Sra. Valdez abriu a porta e me abraçou logo em seguida - Você está encantadora!

–Muito obrigada, Sr. Valdez.

–Olivia! - Mamãe a abraçou - É tão bom te ver!

–Digo o mesmo, Ella. Entrem, vamos! Nossa, os seus meninos estão tão grandes.

–Liv - Papai a cumprimentou.

–Como vai, Roger? - Entramos na casa nos acomodando na sala.

–Leo logo virá, ele está finalizando o jantar.

–Nós já tivemos a oportunidade de experimentar essa qualidade do seu filho, Liv. Ele fez um sufle divino lá em casa - Mamãe sorriu.

–Ele puxou ao pai, eu não tenho talento algum na cozinha - Ela fitou o chão.

–Eu sei que faz muito tempo, mas nós estamos aqui. - Mamãe falou pegando na mão dela.

–Eu sei, muito obrigada. Thiago ficaria muito feliz com tudo isso, ele sempre gostou muito de vocês, sabem disso. - sorriu.

–E nós dele. - Papai completou - Consigo ver muitos traços do meu amigo no Leo, eles se parecem muito.

–Alguém me chamou? - Leo apareceu na sala.

Ele estava perfeito.

Usava um avental de cozinheiro, e estava meio sujo de farinha. O cabelo bagunçado, e o sorriso brincalhão de sempre. Não me importaria em ter essa visão pelo resto da minha vida, o que me fez pensar em te-lo como marido. Ele seria um ótimo pai, com toda certeza.

–Leo está preparando um pão doce de entrada, e um macarrão especial. Já que Anna é italiana, ele quis homenagear - Sra.Valdez disse servindo uma taça de vinho aos meus pais.

–Mãe! - Leo corou - Para com isso! - Ele foi até meus pais - Sr. e Sra. Robb, obrigada por virem. Chloe, Charles - Ele acenou com as mãos ainda sujas - Anna. - Ele sorriu e balbuciou um "Você está linda". Sorri tímida para ele. - Eu só vou terminar o resto do jantar, enquanto minha assistente vai colocar a mesa. - Falou voltando para cozinha.

–Você criou ele muito bem. - Papai sorriu.

–Ele é um ótimo garoto. - pelo visto minha família está apaixonada por ele.

–Ele cuidou de tudo, virou o homem da casa muito cedo. Isso trouxe mais responsabilidade.. - Uma música começou a tocar - Só um instante - Ela atendeu o celular - Alo? Sim, é ela mesma. O que? Ah, sim. Eu estou no meu horário de folga, meu plantão é amanhã. Ah, tudo bem. Ok, vou ver o que posso fazer. Até mais. - Ela desligou - Eu vou ter que pedir desculpas, eu sinto
muitíssimo, Anna. - Ela veio em minha direção - Eu não vou poder ficar, sinto muito. Uma paciente está em trabalho de parto e exige a minha presença. Eu não posso abandona-la, é uma mãe solteira.

–Tudo bem, Sra.Valdez. Eu entendo completamente - Sorri para ela e me despedi - Boa sorte, com o parto. E muito obrigada pelo jantar.

–Ella, Roger, eu sinto muito. - Ela estava visivelmente constrangida.

Mas esse é o trabalho dela, quer dizer, ela é médica. Nós deveríamos agradece-la a todo instante por salvar vidas.

–Tudo bem, Liv. Esse jantar é uma mera formalidade, você sabe que por nós dois já está tudo certo - Papai disse. Eles se despediram e a Sra.Valdez foi até a cozinha falar com o filho.

Leo voltou até a sala.

–Bem, já vamos começar a servir, só que sem uma das convidadas ilustres - Ele riu - Assistente, pode trazer.

Lilá entrou na sala com um avental parecido com o de Leo e carregando o macarrão "a la Anna".

–Você pode se sentar agora, assistente. - Leo falou.

–Obrigada, senhor. - Ela tirou o avental e revelou um vestido muito bonito rosa bebe - Boa noite, a todos.

–Não sabia que você trabalhava com esse ramo alimentício, Elizabeth - Papai falou.

–É que seu futuro genro vai me pagar cem dólares, Sr. Robb.

–O que? Nós combinamos cinquenta! - Leo falou a encarando.

–Os convidados são chiques demais, merecem um atendimento especial, não é? - meus pais caíram no riso.

Tentei me controlar, como estava nervosa poderia sair uma risada de hiena.

****

A noite estava sendo mais divertida e tranquila do que eu pensava. O macarrão estava uma delicia, e realmente Leo cozinha muito bem. Charles não calava a boca, e soltou muitas piadinhas. Papai e Leo se davam bem, e conversavam animadamente sobre basquete.

Na verdade Leo se da bem com todo mundo, é dificil dizer quem naquela mesa não estava encantado por ele.

Antes da sobremesa Leo ficou de pé, pedindo atenção. Meu coração começou a martelar cada vez mais forte.

–Sr. e Sra. Robb, o motivo do jantar de hoje é muito especial. É claro que eu adoro a companhia de pessoas tão agradáveis como vocês, mas dessa vez o propósito é outro além de jogar conversa fora. Voces me conhecem há anos, e sabem que sempre tive uma relação muito forte com a família Robb. Bom, eu sempre gostei muito da filha de vocês, e de uns tempos pra cá, posso dizer que ela começou a demonstrar um certo interesse por mim também. Acho que foi meu charme, minha inteligencia, talvez meu humor, que chamou a atenção dela - Ri baixinho, convencido - E finalmente, depois de tantos percalços da vida temos a chance de ficarmos juntos. Eu prometo que vou cuidar muito bem dela, não vou magoa-la, vou trata-la com o maior respeito do mundo - ele ficou em silencio - porque eu a amo.

Ele sorriu sincero.

Nossa, senti todos os pelos em minha nuca se arrepiarem.

–Então é por isso que eu peço a vocês a permissão para namorar a Anna.

–Você não precisava nem perguntar, filho! - Papai o abraçou - Bem vindo a família!

Mamãe também levantou e foi até ele. Charles e Chloe levantaram as taças para cumprimentar. Lilá sentada em minha frente sorriu, e balbuciou um parabéns. Esperei que todos liberassem o MEU namorado - adorei o som dessas palavras - e fui até ele.

–Não tive a oportunidade de dizer que você está lindo - Ele sorriu. Podia ver o brilho em seu olhar.

–Ah, então eu acertei na escolha. Agradei minha namorada. - Sorri o encarando.

–Ahn - Meu pai pigarreou - Se não se importa, Leo, prefiro não ver você trocando saliva com minha filha.

Nós ainda não tínhamos feito isso, pai.

–Claro, senhor. - Leo falou sério - O que acha de assistir o jogo?

–Com certeza - Charles sentou no sofá ao lado de papai.

Eu, Chloe, mamãe e Lilá tiramos a louça da mesa e colocamos na lava louça.

–Podem deixar que eu arrumo tudo - Lilá disse - Voltem para sala.

–Eu ajudo você, querida - Mamãe se prontificou a ir até a cozinha com ela.

Fiquei um bom tempo na sala conversando com eles, até que notei a falta de mamãe e Lilá, que ainda não tinham voltado. Fui até a cozinha, mas notei que elas conversavam.

–E voce, querida? Como voce está?

–Estou levando, Tia Ella. A escola está um pouco dificil, sabe como é. - Ela riu fraca.

–E o Will? Eu notei um desconforto no jantar aquele dia..

–Nós não estamos mais juntos.

–Mas porque? Como assim? Voces faziam um casal belíssimo.

–Não estava mais dando certo, acho que acabou de verdade. Ele esta dividido, não tenho certeza se ele gosta de mim como antes. Não posso ficar sofrendo, e também deixar ele sofrendo com essa angustia. Decidi dar um tempo - ela ficou em silencio - Quem sabe tudo isso vai passar, e pelo menos bons amigos nós possamos ser.

–Você tomou uma sabia decisão, querida. - Ela sorriu - Mas saiba que aquela proposta ainda está de pé. Quando voce quiser, a qualquer hora, é só voce avisar que nós podemos te ajudar. Em dois toques voce poderá estar fazendo aquele curso no exterior.

–Muito obrigada, Tia Ella. Mas acho que ainda tenho que pensar mais um pouco.. - ela parecia confusa, mas estava cogitando a ideia.

–Escutando conversa atrás da porta, é? - A voz de Leo em meus ouvidos me deixou arrepiada.

–Que susto, garoto - Virei para encara-lo - Eu só não queria atrapalhar a conversa, estava esperando ela acabar.

–Aé? - levantou uma sobrancelha - Então eu prometo ficar quieto se voce fizer uma coisa.

–O que? - Falei deixando que ele se aproximasse mais.

–Isso.

E então nos beijamos.

Parece que toda vez fica melhor, eu não sei. Leo tem alguma coisa
que me faz querer te-lo cada vez mais. Eu estava me sentindo muito feliz, e não conseguia conter meu sorriso enquanto o beijava. Era tão bom passar a mão naquele cabeço macio.

Mas não é justo, Lilá merece essa felicidade também. Eu não posso deixar de ajudar uma amiga que fez tanto por mim.

Lilá nunca me abandonou, e eu também não vou fazer isso agora.