“-Ai tem alguma coisa acontecendo comigo- Laura

–Eu sei, eu tô vendo - Edgar

–Tô tão feliz- Laura

–Estranho, hein? Pelo visto é contagioso, que eu também tô me sentindo assim. - Edgar

– Qual será a causa desse curioso fenômeno? - Laura

– Será por que você tá aqui? - Edgar

– Será? – Laura”

Lado a Lado

Por Pedro

Algum dia de 1924...

Os meus colegas, às vezes, me perturbam pelo meu modo com as mulheres. Dizem que apesar de meu jeito pessoal reservado, até porque não sou de contar muitos detalhes das minhas conquistas, eu sou muito mole, romântico demais com as garotas. E falta até um pouco de virilidade no meu jeito com elas.

Mas acontece que aprendi que o romantismo não tira a masculinidade de um homem. Mandar flores, escrever bilhetes e poemas, fazer declarações, dar presentes e tratar a mulher como uma pessoa, dar importância a ela, ao que diz, não torna alguém menos macho. Ao contrário, pode conquistar a moça e proporcionar momentos agradáveis. E esse é o objetivo ao se cortejar, não?

Mal eles sabiam que com meu jeito, já consegui roubar beijos, olhares, segurei nas mãos das garotas mais bonitas e encantadoras da sociedade. E que só não tinha um relacionamento mais sério, pois ainda não havia encontrado a garota certa, aquela que tocasse de verdade o meu coração.

Eu não posso criticá-los tanto também. O padrão da sociedade é o do macho alfa e de mulheres mães de família abnegadas. Esse normalmente é o exemplo que eles tiveram em casa.

Já o meu foi um pouco diferente. Tanto em relação a minha mãe, que admirei sempre desde que minha memória alcançava, quanto a meu pai que depois de uns tempos mais tensos, passei a admirar também.

Eu achava que ele não nos amava da maneira que devia ser. A verdade é que foi confuso entendê-lo. Talvez eu fosse pequeno demais. Mas comecei a perceber que ele era um grande homem, e se esforçava para mostrar que seu amor por toda a nossa família era verdadeiro.

E assim eu fui percebendo como funcionava o relacionamento entre os meus pais. E o amor forte que os unia. Essa era melhor palavra que eu podia usar pra caracterizá-lo: FORTE. Eles haviam passado por vários problemas, fazendo o outro sofrer muito. Mas esse amor acabou os atraindo novamente, era uma força irresistível e duradoura, pois estando separados nunca se sentiriam completos.

Uma vez meu pai até entrou num prédio em chamas para salvar minha mãe. Ele era do tipo que gostava de fazer surpresas para ela. Escolhia os melhores presentes que a agradava imensamente, levava o café da manhã na cama com flores de alecrim. A flor deles. Alecrim representava os dois, o amor dos dois. Corajoso, sincero e feliz.

Era tão carinhoso e cuidadoso com ela, queria protegê-la quase como se ela fosse uma boneca de louça, mesmo ela sendo tão forte. Ficava ainda mais encantado e cheio de cuidados quando ela estava grávida. Sempre fazendo planos e aumentando a sua autoestima, mesmo quando ela se sentia mais triste e carente devido à gravidez.

Respeitava, admirava e estimulava o jeito dela. Incentivando os seus sonhos profissionais. Pois ela queria fazer mais no mundo, além de apenas cuidar de filhos e marido. Sempre eram tão parceiros nisso.

E os dois conversavam muito, de assuntos importantes ou não. Pareciam gostar tanto dessas conversas. Riam muito, trocavam olhares apaixonados, se beijavam. Às vezes, eu os observava escondido, e era lindo vê-los nesses momentos.

Assim, aprendi a ser romântico e cavalheiro com o meu pai, e em relação a todas as mulheres. E se meus amigos achavam que isso diminuía a virilidade de um homem, era porque não o conheciam como eu. Porque vigor não faltava a ele. De certa forma, era até um pouco constrangedor eu saber mais detalhes sobre isso, já que se tratava dele e da minha mãe.

Mas D. Laura e o Dr. Edgar eram o casal mais apaixonado que eu tinha conhecido. E isso continuava há vários anos. Já os havia pegado em situações de flagra ou quase flagra (numa delas eu era bem novo e não entendia direito das coisas). Eles viviam se beijando e abraçando quando pensavam estar sozinhos, e eu e meus irmãos chegamos a vê-los em momentos mais íntimos nos quais eles tentavam disfarçar. Só que não eram tão bem sucedidos nisso, já que com os olhares, rostos ruborizados e as respirações entrecortadas não conseguiam esconder o que ocorria. O certo é que com o tempo, todos nós aprendíamos a ficar longe do quarto deles quando se recolhiam.

Meu exemplo de relacionamento amoroso era outro, e minha visão das coisas também. Assim, eu agia diferente, e até estava conseguindo bem mais dos meus colegas imaginavam ou alcançavam. Suas provocações não me atingiam. Pois em relação a esses que se comportavam da maneira dita mais viril, eu me achava muito mais homem no pleno sentido da palavra.

Eles não conheciam Laura e Edgar, provavelmente não sabiam o que era a felicidade conjugal. Não sabiam muito sobre respeito e mulheres. Mas o fato de eu conhecer isso, e com um exemplo tão próximo, talvez me trouxesse uma pequena desvantagem.

Era um páreo duro seguir esse exemplo. Almejar uma mulher que me completasse, uma felicidade como a deles. Algo que ainda não havia encontrado, mas tinha esperança que encontraria...