“- Ora, ora, ora. Quem é vivo, sempre aparece- Berenice

Ora, ora ... E quem já morreu, vem assombrar – Isabel”

Lado a Lado

Por Cíntia

Catarina Ribeiro era daquele tipo que criava confusão com as pessoas , até mesmo quando a confusão não era necessária. Parecia que ela gostava de marcar, aparecer, como uma artista vaidosa ser sempre o centro das atenções.

Ela também tinha o hábito de humilhar os outros. Para isso se aliou a pessoas de caráter duvidoso, e criou muitos inimigos. Com gosto, ela queria seduzir os homens e humilhar as mulheres que entrassem em seu caminho.

Como sabemos, ela causou grandes danos às vidas de Laura e Edgar. Sendo que pra qualquer pessoa, eles seriam os principais suspeitos de matá-la. Mas não são os únicos que teriam motivos para isso...

Passando por Isabel e Lauro, ambos amigos do nosso casal, sendo a primeira também envolvida no escândalo do Pasquim encomendado por Catarina. E que já tivera algumas discussões com essa referente à sua amiga e assuntos do Teatro Alheira, onde a cobra, era como Isabel a chamava, criava bastante confusão.

E o resto do pessoal do teatro, principalmente Diva Celeste que vivia as turras com a cantora entre batalhas de egos, ou até mesmo Neusinha, que como se tem notícia, não tinha um caráter muito confiável e ajudava a cobra em suas armações.

Só que ainda tinha outros... Desde que se mudara pro Rio de Janeiro há quase 8 anos, a casa de Catarina fora frequentada por diversas pessoas, desde amantes, que acabaram decepcionados ou não, e que ela levava sem o menor pudor quando a sua filha era menor, tomando apenas um cuidado maior quando essa cresceu, a visitantes não desejados.

Pouco depois se mudar, Catarina recebeu a vista de Constância Assunção, ou como essa gostava de ser chamada a baronesa da Boa Vista. A baronesa queria saber as reais intenções da cantora, e a aconselhou a se manter discreta e não atrapalhar a vida de sua filha e de seu genro.

Como se sabe Catarina não cumpriu nenhum dos “conselhos”. Atrapalhou como pode a vida de Laura, e Constância só não tomou nenhuma atitude, pois essa prezava a descrição, queria uma carreira política de sucesso pro marido, e nenhuma das ações da cantora tinha chegado aos ouvidos da sociedade, que não sabia da existência de Melissa que na época ela alegava ser filha de Edgar.

Sendo assim, ela achava que Laura era capaz de aguentar, e culpou a filha quando essa fugiu, não podiam saber dessa fuga e ela inventou uma mentira a sociedade pra manter a boa imagem da família Assunção. Mentira que dependia da Catarina pra ser mantida.

Só que quando a cantora resolveu voltar aos palcos, acabando com discrição e colocando em risco a mentira contada. Constância a procurou e após sua ameaça não ser ouvida, resolveu agir. Contratou uma claque pra sabotar o recital de Catarina. O que trouxe um pouco de má fama pra essa, mas não foi suficiente pra acabar com sua carreira.

Assim ambas mantinham certa guerra não declarada. Sempre esperando uma oportunidade de agir, e guardando aquela vontade muda de pisar na outra. Eram duas mulheres vaidosas que destetavam não conseguir o que queriam.

No caso de Catarina era a vingança pela claque, que ela dizia ter atrasado sua carreira, e o modo arrogante que a baronesa a tratava. No caso de Constância, era o fato dela ter acabado com o casamento da sua filha e continuar sua carreira de cantora lírica.

E quando Laura retornou, essa guerra voltou a se acirrar. Embora não houvesse muitos encontros entre essas duas mulheres... Com os acontecimentos cada vez estranhos em volta de Laura, que afetaram a reputação dessa, e em consequência a de todos os seus familiares, também o risco a que sua neta e filha passaram, a baronesa imaginava, ou melhor, sabia quem era a responsável por tudo. E já estava farta da cantora.

Além da baronesa, havia o seu marido, o pai e a mãe de Edgar. Qualquer um desses, podia ter se cansado das ações de Catarina contra os seus filhos e netos. E sabe-se que deles, pelo menos, Bonifácio Vieira, que também já fora amante de Constância, a ajudara na claque, tinha contato com o submundo, e o hábito de pagar marginais pra tentar se livrar dos problemas.

È claro, há de se pensar também nos comparsas de Catarina. O primeiro seria Pascoal Lima. Só que esse não demonstrava um gosto particular de vingança ou uma ligação pessoal com ela.

Mas há Caniço... que fora contratado por Catarina pra executar dois serviços, o sequestro de Cecília, e o incêndio na escola de Laura. O primeiro considerado um fracasso, causara chiliques e gritaria na cantora que se recusou a pagá-lo. Já o segundo fora bem sucedido e mesmo assim, Caniço não tinha visto a cor do dinheiro.

Ele estava sendo ludibriado por Catarina. Com seu jeito sedutor, ambos foram pra cama. E ela conseguiu que ele fizesse o serviço antes de receber qualquer dinheiro por isso, ela só pagaria depois de executado.

Só que mesmo depois, o dinheiro não veio. Catarina tentava enrolá-lo, e não lhe pagava. Enquanto Caniço se via em uma posição difícil, devendo o pagamento pra seus comparsas no incêndio. Além de ser perseguido e descoberto por Zé Maria, Laura e Isabel.

Ele precisava de dinheiro urgente, dinheiro pra fugir, pra sumir... Só que ele não sabia que Catarina não tinha nada, ainda mais depois que a verdade sobre Melissa tinha sido descoberta. Catarina mal tinha dinheiro pra ela, quase tudo o que ela conseguira juntar nos últimos anos tinha sido usado para lançar a edição do Pasquim. Pois diferente de Caniço, Pascoal não caíra na sua lábia.

E claro que nessa tramoia toda, ainda havia Berenice que desconfiava que algo estranho rolava entre Catarina e Caniço. Ela não entendia o fato dele fazer o serviço sem nenhum adiantamento... Ela imaginava algo... E conhecendo Caniço como ela... pensava em um envolvimento sexual.

Com todas essas tramoias, com tantos “amigos” suspeitos e inimigos. Tendo recebido até ameaças de morte...

Catarina foi encontrada morta pela manhã. A empregada mal havia chegado a casa pra mais um dia de trabalho quando gritou de susto a plenos pulmões ao ver a patroa esfaqueada na sala jantar.

A polícia chegou e tomou conta da situação. Foi constatado que Catarina morreu a noite, provavelmente enquanto ceava e que arma do crime era sua própria faca. Ela fora esfaqueada uma vez na região do abdômen. Mas isso fora suficiente pra levá-la a uma hemorragia rápida e fatal.

Os vizinhos informaram que casa da cantora estava tendo certo vai e vem ultimamente, e que naquela noite não tinha sido diferente, só que como isso era normal, eles não repararam nas visitas que ela recebeu.

Informaram que ela andava as volta com um processo de guarda pela filha e que vivia acompanhada por um jovem advogado, que outros confirmaram ser também seu amante, Umberto. E que, às vezes, dava para escutar as discussões de ambos. Ela parecia estar perdendo a guarda da menina.

Há muito tempo, o delegado Praxedes não aguentava o marasmo dos casos em sua delegacia. Ele queria mostrar serviço... Quem sabe conseguir uma promoção assim. Mas quase sempre se via a volta com casos de ladrões de galinha ou denúncias que não iam pra frente.

Era cruel... Mas pra ele, um assassinato era tudo o que precisava pra mostrar serviço, ainda mais o de uma cantora, que mesmo não sendo tão conhecida, ia trazer certo burburinho e conquistar espaço na mídia, afinal era uma artista. E o povo gostava desses mistérios.

No mais, ele já sabia de vários elementos do caso, de algumas sujeiras que ela estava envolvida (como umas denúncias de tentativa de sequestro e um incêndio) e de pessoas que teriam interesse em matá-la. Catarina tinha mexido com gente demais, ele sabia que haveria muitos suspeitos. Isso tornava tudo mais interessante pra ele e provavelmente pra imprensa.

Passou o dia e parte da noite, analisando as coisas, falando com pessoas, juntando provas. E depois disso, selecionou o principal suspeito... Edgar Vieira... De todos os desafetos da cantora, ele parecia um dos mais prejudicados... Era conhecido como um homem de bem... Mas depois de tudo que ela fizera pra ele, que homem de bem não perderia a cabeça?

Estava decidido, ele era o principal suspeito e queria interrogá-lo... No dia seguinte, o delegado iria à casa do Dr. Edgar e o chamaria pra prestar o depoimento.