Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 73
Iniciativa


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários.
Sei que demorou, mas consegui postar.
Espero que gostem e que comentem muito pra me animar a escrever o próximo...



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“.... Catarina. Eu quero que você pare de usar o jornal desse senhor pra embrulhar o peixe que apodreceu na feira e reencarnou em você.”

Laura em Lado a Lado

Por Edgar

Eu não devia ter acusado Laura daquele jeito. Não podia... Tinha sido injusto e cruel. A ideia de que ela queria que Melissa fosse embora nunca deveria ter sido colocada em palavras... Era fruto de um debate interno, fruto dos meus devaneios causados por sentimentos ruins, só que num momento de descontrole acabei falando. E como me arrependia disso, já que uma vez dito, não tinha como desdizer. Ela sabia que aquilo estava em minha mente. E eu me remoía por isso. Pela decepção que essa noção causou a ela.

Também pensava em tudo que Laura tinha dito sobre a Catarina. Eu não poder me aliar a ela. Laura tinha razão, eu não podia. Catarina já tinha tentando destruir a minha vida diversas vezes. O fato de sofrer tanto agora era fruto direto de ações dela.

Como eu podia fazer isso, depois de tanto sofrimento que me infringiu? E também a minha família? E ainda por cima depois dela tentar sequestrar a minha filha... E quase matar Laura...

Mesmo que eu tentasse duvidar das coisas que Laura tinha me dito... Eu sabia que era verdade, Catarina era a culpada... Afinal ela já tinha cometido um dos atos mais cruéis possíveis, ela brincara durante anos com a minha vida e a da Melissa.

Que tipo de situação eu poderia dar a Laura, e nossos filhos até mesmo a Melissa se eu não pudesse conter a Catarina? Realmente seria muito difícil pra todos viver assim.

Só que era duro aceitar a partida de Melissa. Durante os últimos anos, a única certeza, o único alento que tinha era cuidar dela, protegê-la. Ela era tão frágil e precisava de mim. Como eu podia encarar que de uma hora pra outra, não a veria mais? Não seria mais o seu pai? E que ela seria criada por outro homem em outro continente? Isso era devastador.

Não conseguia pensar direito. Já começava a sentir que isso me corrompia. Laura tinha razão, eu não era assim... Eu não podia me corromper.

Eu percebia o quanto isso tudo afetava Laura e as crianças. Depois de tantos anos de separação, finalmente tinha conseguido me aproximar deles. Eu tinha prometido que a partir dessa aproximação, só teríamos momentos de felicidade. Só que agora, eu os fazia sofrer.

Eu estava sendo um péssimo pai e marido, um péssimo homem. E sabia que arriscava perdê-los novamente. Algo que me dava um medo enorme. Mas eu me sentia tão mal, tão derrotado. Estava acabado. E talvez precisasse de um tempo pra me reerguer, sofrer, e controlar todos os meus sentimentos ruins. Pois dessa forma, que eu estava só iria ferir a as pessoas a minha volta.

Resolvi ficar em casa. Tinha que pensar muito... O juiz tinha marcado um depoimento meu sobre Catarina dentro de poucos dias. Eu precisava pensar direito no que diria. E também em tudo que estava acontecendo a minha volta.

No dia seguinte a minha briga com Laura. Isabel apareceu com Cecília e Pedrinho. Foi estranho não ver Laura. Era sempre ela que os trazia. As crianças disseram que a mãe não se sentia bem e por isso a tia Isabel os trouxera.

Mas eu imaginava o motivo real da sua ausência, e não me aborreci. O que eu falei com ela era horrível... Não sabia se iríamos nos portar bem na frente das crianças. Talvez não conseguíssemos disfarçar. As palavras ditas durante a nossa conversa ainda deviam lhe doer muito.

Eu a amava tanto. E em outra época a procuraria imediatamente. Tentaria acertar as coisas... Falaria palavras que a fizessem sentir segurança. Só agora eu não conseguiria isso, já que me sentia tão inseguro com tudo. Antes de qualquer coisa, eu precisava ter a segurança em mim e no mundo.

Assim mesmo sem ela, dei um pouco de atenção aos meus filhos, era um dos raros momentos em que eu sentia alívio. E depois de umas horas, eles partiram com Isabel. No dia seguinte aconteceu a mesma coisa.

Só que no outro, não foi a visita de Isabel e meus filhos que recebi e sim a de Lauro. Ele entrou apressado, e eu percebia certa contrariedade em seu olhar:

– Lauro ... Se você veio falar da Laura... Eu ...

– Não. Edgar, não vim falar sobre ela. Pelo menos não diretamente... Não gosto de como as coisas andam, mas não vim me meter nisso- seu modo não era amigável – Sei que você não anda bem... Mas recebi um bilhete do cara do Pasquim... Ele marcou um encontro hoje. Queria saber se ainda está disposto a desmascará-lo?

–Estou... Claro que estou! – na verdade, não tinha me lembrado disso ultimamente, mas era uma ótima oportunidade pra fazer algo por Laura, além do que eu precisava saber se a Catarina também estava ligada a isso.

Lauro esperava no lugar indicado pelo bilhete. Era um banco de uma praça. Eu estava um pouco distante dele pra que não gerasse suspeitas, mas perto o suficiente pra vê-lo.

Um homem se sentou ao lado dele. Ele tinha cabelos escuros, era baixo e franzino. E eu consegui ver o sinal de Lauro caso fosse o homem responsável pelo Pasquim .

Tentei andar discretamente até eles. Mas o homem acabou me vendo. Ele estava prestes a sair correndo, mas Lauro o segurou:

– Eu fui burro demais! Sempre fui cuidadoso...– ele se lamentava remexendo a cabeça.

– Agora já é tarde. Você vem conosco – falei firme e Lauro e eu o escoltamos até minha casa

Eu precisava de um local menos público pra ter uma conversa:

– Então Dr. Edgar Vieira e Sr. Lauro Camargo. Vocês me pegaram... Agora me digam o que querem, o que farão comigo. –ele começou direto e um tanto abusado se sentando no sofá.

– Crápula, você não sabe o que fez? Como afetou minha mulher, meus filhos, a nossa família? Seu mentiroso... – gritei nervoso indo em sua direção, mas Lauro me segurou.

– Calma, Edgar... Ainda não precisamos chegar a isso– ele falou pra mim e depois se virou pro homem – Vamos começar do básico. Já que o senhor sabe o nosso nome, que tal nos falar o seu?

– Pascoal.

– Pois bem, Pascoal - disse já mais calmo – Quem encomendou a edição do Pasquim contra a minha mulher? – fui direto, queria passar o mínimo de tempo com aquele homem, aquele tipo que me causava repulsa.

– O que eu vou ganhar ao responder isso?

– Você ainda está pensando em ganhos? Em dinheiro? – perguntei irritado

– Não exatamente. Veja bem... Vocês conseguiram... Vocês descobriram que eu faço o Pasquim? O que farão com isso?

– Te denunciar. Te mandar pra cadeia- sugeri

– Assim o que eu ganharia ao contar a vocês o que eu sei? Vocês vão me colocar na prisão mesmo. É melhor ficar calado- aquele sujeito era mesmo asqueroso

– Talvez falar com a gente evite uma surra, tranquilize sua consciência- ameaçou Lauro

– Tranquilizar minha consciência é um preço muito pequeno quando o meu pescoço está em jogo. E eu sei que vocês não baterão em mim. Não sei muito sobre o senhor – se virou pra Lauro – Mas o Dr. Edgar é um homem ético e correto.

– Se fosse você não contaria com isso, não sabe a raiva que sinto agora– aumentei meu tom de voz

–Mesmo assim prefiro arriscar. Mas podemos fazer um acordo.

– Um acordo? – perguntei com nojo ao me imaginar fazendo um trato com ele

– Vamos ouvir, Edgar – Lauro parecia sensato, talvez fosse melhor escutar mesmo.

– O que vocês querem de verdade? Saber quem encomendou a edição? Limpar o nome da D. Laura?

– Não fala o nome da minha mulher - disse irritado

– Falo com todo o respeito, Dr. Não era pra ofender. Não estou querendo melhorar a minha situação. Mas o pasquim dela foi o mais torpe que fiz. Ela é uma boa pessoa– ele justificou – Bem... É isso que vocês querem não, é? Essas duas coisas?– eu e Lauro olhamos pro outro, realmente limpar completamente o nome de Laura seria ótimo, ele não esperou a resposta e continuou- Eu posso dar isso. Se não me entregarem, vocês terão ambas. Mas se me entregarem, o que ganharão?

– A justiça sendo feita – respondi

– Justiça? Você acha mesmo que terão justiça? Aqui no nosso país? Dr. Edgar, eu mexi com muita sujeira... Atingi muitas pessoas ruins... Se eu for pra cadeira, tenho plena consciência que não volto. Já podem encomendar o meu caixão. Aliás, se for divulgado que eu sou o responsável pelo Pasquim, é bem provável que me encontrem morto por aí.

– Você optou por isso- comentei

– Eu sei. Mas não quero morrer. – ele tinha razão, se sua identidade fosse revelada, um dos denunciados pelo Pasquim poderia querer se vingar, ou até mesmo um “cliente” poderia querer calar a sua boca.

– O que você pretende fazer pra limpar o nome de Laura?

– Uma edição especial. Uma errata. Um pasquim esclarecendo que minhas informações estavam erradas e que sua esposa é uma mulher distinta.

– Quem me garante que você escreverá essa edição? – perguntou Lauro

– Uma porque eu quero, detestei o que escrevi sobre ela. E a outra, para segurança de vocês, posso levá-los até a minha casa. Mostrarei os meus documentos. Até dou referências de onde trabalhei antes. Entenda que com essas informações vocês saberão como me encontrar fácil, e não vale a pena pra mim, correr o risco de ser denunciado.

– Tá bom, mas há outra coisa. Depois dessa edição, não quer ver mais Pasquins. Não quero ver mais ninguém sendo prejudicado por ele.

– Acho que não seria muito conveniente lançar mais Pasquins depois desse. Afinal quem confiaria em usá-lo pra desmoralizar um inimigo correndo o risco de lançarem uma errata depois?

– Também não tente disfarçar mudando o nome do folheto... Não aceitarei outra publicação parecida... E se aparecer, você será procurado por mim.

– Certo, dr. Na verdade, eu estou pensando em seguir outra linha de trabalho. Algo completamente dentro da lei. Então, trato feito? – ele estendeu a mão, e mesmo sendo um crápula, achei que não faria mal apertá-la.

– Trato feito.

– Pela primeira parte do acordo, bem ... Catarina Ribeiro é quem encomendou a edição contra sua esposa.

Eu já desconfiava, assim essa revelação não foi nenhuma surpresa. Mas isso me afetou... Catarina era mesmo tão cruel.

Após eu e Lauro deixarmos Pascoal em sua casa. Lauro começou a falar animado:

– Conseguimos mais do que eu imaginava, Edgar. Esse Pascoal Lima está em nossas mãos. Quero ver a reação de Laura quando souber de tudo.

– Eu não gostaria que ela soubesse ainda. – falei

– Por que não? - ele perguntou surpreso

– Acho que não é a hora, vamos esperar sair essa nova edição... Aí, depois...

– Edgar, eu disse que não ia me meter. Mas assim está demais. Não pensava que você era tão burro. Você tem ideia do que tá acontecendo? A cada dia que passa se afasta mais da Xará... Da sua família. Essa era uma ótima oportunidade de mostrar a ela que você se importa. Você desistiu da Xará? Quer perdê-la?

– Não. Não quero. Mas eu ainda não consigo....

– Então trate de conseguir. Pois senão a perderá. Sei que você está sofrendo, mas a xará também... Às vezes, penso que você tá merecendo uns belos socos pra acordar. E eu só não fiz isso, como disse que faria se você a fizesse sofrer, pois não tenho hábito de bater em cachorro ferido, e que não reagirá. Não seria uma luta justa. Não vou falar com a Xará agora, só que depois da edição não passa.– ele disse bravo e foi embora

Eu entendia o ponto de Lauro, e pensei muito em suas palavras. Talvez se fosse eu em seu lugar, pensaria o mesmo. Mas aquela coisa de tentar avaliar o sentimento dos outros era polemica. Ninguém sabe o quanto um acontecimento é doloroso pra uma pessoa, quem sofre mais ou menos. Pois sentimento é algo que apenas a pessoa que experimenta sabe a intensidade.

No meu caso, eu não podia avaliar direito o quanto aquilo era doloroso pra Laura, só imaginar. Mas sabia o quanto era doloroso perder Melissa pra mim.

Entretanto Lauro tinha razão, mesmo me sentindo tão mal com isso. Tinha que tomar uma atitude, e não podia demorar muito. Ela não tinha culpa de nada. Eu não podia perder Laura. Só de imaginar isso meu sofrimento se tornava maior.

Quase não dormi naquela noite. Mas me arrumei cedo no dia seguinte, tinha que dar meu testemunho sobre Catarina. Já tinha decidido o que falar.

Contei as coisas que sabia da Catarina, falei do meu relacionamento com ela, o fato dela ter outros amantes conhecidos, e um comportamento liberal. O modo como sua entrada e mentira sobre Melissa bagunçou a minha vida, como ela manipulava as situações, e o fato dela não saber cuidar da filha. Contei das suas últimas ações contra minha família, a tentativa de sequestro, o incêndio na escola de Laura, e até a informação de que ela encomendara uma edição do Pasquim, isso é claro sem revelar, a fonte dessa última.

A cada palavra que dizia, sentia que Melissa ficava mais longe de mim, e isso era muito doloroso, mas ao mesmo tempo, também sentia que fazia o certo, que não era justo Catarina ficar com guarda da filha. Era só isso que me mantinha erguido. Só isso que me fazia continuar falando.

Após o depoimento, esperei um pouco. Imaginava que o juiz já tinha tomado a sua decisão. Vi Filipe saindo contente. Era excruciante para mim... Era difícil encarar que eu tinha desistido da minha filha. E pela expressão dele, sabia que a tinha perdido pra sempre. Me segurei e fui em sua direção. Ele me cumprimentou e disse:

– Obrigado... Seu depoimento fez uma grande diferença na decisão do juiz. Ele me deu a guarda definitiva da Melissa- Filipe disse se contendo

– Eu só falei a verdade.

– Mesmo assim. Edgar ... Posso te chamar de Edgar?

– Claro.

– Então, Edgar... Gostaria de dizer que eu vou fazer de tudo pela Melissa. Cuidarei muito bem dela e que sua felicidade vai ser o meu maior objetivo.

– Assim espero, Filipe. Ela merece... – me sentia derrotado, mas era melhor encarar, e o modo que ele falava dela e a tratava, eu conseguia acreditar que Melissa ficaria bem mesmo.

Eu e Filipe conversamos de forma amigável. Ele me falou dos seus planos, me contou a sua história. Parecia realmente um sujeito muito bom e bem intencionado. Em alguns aspectos percebi que a história dele era muito parecida com a minha.

Mas ele informou algo que me assustou. Disse que já tinha preparado Melissa pra ir embora, e que naquela tarde mesmo, partiria com ela. Depois de tudo que acontecera com ele, tinha medo do que Catarina podia fazer, e também havia as suas obrigações em Portugal. Assim decidiu ir o mais breve possível.

E naquela tarde, eu me despedi da minha filha Melissa no porto. Tentei conter o meu choro, e consegui incentivá-la, falei palavras doces. Mas dentro de mim, eu tentava me habituar com aquela situação. Só que ainda era muito difícil. Senti uma dor pungente ao vê-la partir e ao constatar que finalmente tinha desistido dela. A havia perdido definitivamente.

Voltei pra casa aonde podia chorar e beber livremente. E assim o fiz. Pensei muito. Analisei todos os acontecimentos e meditei sobre o que importava, o que deveria fazer a seguir, o que queria da minha vida.

Pensei muito em Melissa e nos momentos que passei com ela. Momentos que não aconteceriam mais. Pensava que ela ficaria bem. Só que aquela era uma ferida aberta em meu peito.

Mas depois pensei em outros ... Momentos com Laura e nossos filhos, me lembrei de coisas desde o início do nosso casamento. Me lembrei da minha aproximação com Pedrinho e Cecília. Nossa união após a edição do Pasquim. O baile e minhas noites com Laura. As nossas conversas. Ela cuidando de mim enquanto estava doente. O aniversário dela e de Cecília, a nossa ida a praia. Os dias na fazenda que realmente me pareciam ser os mais felizes da minha vida. Mesmo tendo chegado a pensar que não devia ter ido. Não, eu não me arrependia... Não podia me arrepender da felicidade plena.

Eu sabia o que fazer a seguir. Não podia ficar parado. Tinha perdido a Melissa, mas não podia perder Laura e as crianças. Saí de casa com o impulso de ir atrás deles. Queria conversar, fazer as pazes, planejar a nossa vida, pois mesmo com dor no meu coração, tentaria ser feliz de verdade dali pra frente.

Mas no meio do caminho, desisti. Estava bêbado, não queria que Laura me visse naquele estado. Só que o minha urgência de ação era tal, que resolvi não voltar pra casa.

Fui atrás da grande culpada por aquela situação... Fui atrás da pessoa que me manipulava há anos, que brincara com meus sentimentos e não tivera a mínima piedade com a vida dos outros. Eu ainda tinha que dizer algumas palavras a Catarina. Eu precisava falar pra encerrar aquele assunto definitivamente e ela tinha escutar.

Quando dei por mim estava em frente a sua casa e caminhei até a entrada...


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? O Edgar parece tá recuperando o juízo né? Esse capítulo foi sofrido, mas penso que o fim pode trazer uma expectativa melhor. O que será que nos aguarda agora? O Edgar conseguirá fazer as pazes com a Laura?
Espero que tenham gostado e que comentem muito pra me animar. Isso sempre me anima, e estou sempre preciso de estímulos pra escrever o próximo...