Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 67
O Flagrante


Notas iniciais do capítulo

Meninas, muito obrigada pelos comentários. Eles me animaram bastante, eu só não publiquei esse capítulo antes pois meu tempo está mais apertado.
Pra falar a verdade eu tinha planejado mais acontecimentos pra esse capítulo, mas tive que dividir.
Espero que gostem e comentem muito pra me animar a escrever o próximo, ainda mais agora que meu tempo tá mais curto.



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“Eles parecem dois namoradinhos juntos, só eles não perceberam isso ainda.”

Matilde sobre Laura e Edgar

Por Edgar

Pedrinho virou a maçaneta da porta. Mas essa não abriu e Laura olhou pra mim com um misto de susto e alívio:

– Eu tranquei a porta ontem – afirmei

– Ainda bem – ela suspirou aliviada

Mas Pedrinho continuava tentando:

– Mãe, me deixa entrar. Me deixa! O que o Edgar tá fazendo com você?- ele parecia preocupado

Laura me olhou amedrontada, ela estava constrangida e eu também. Afinal não era pra nosso filho nos pegar num momento tão íntimo. Às vezes, ele podia parecer um rapaz, mas não passava de um menino, um menino muito novo pra saber certas coisas da vida:

– Vista-se, Edgar. Ele quer entrar e a gente não pode ... –ela estava nervosa e não concluiu a frase, me levantei procurando pelo meu pijama, Laura também começou a procurar sua roupa – Filho, espera um pouco. Nós precisamos nos arrumar – ela falou mais alto pra Pedrinho ouvir

Laura e eu nos vestimos com pressa e antes de eu abrir a porta, ela tentou dar uma ajeitada na cama.

Pedrinho entrou como um inquisidor. Olhou tudo em volta e perguntou intrigado:

– O Edgar não estava batendo em você mesmo, mãe?

– Pedrinho, eu nunca faria isso. Um homem não pode bater em uma mulher... Eu não bateria em uma mulher ... Ainda mais em sua mãe que amo tanto. Preferia morrer a bater nela – falei sentido, ele olhou pra mim e Laura pensativo.

– Mas eu escutei umas coisas ... – ele parecia confuso em relação ao que escutara, e eu imaginava o que, era muito novo, não havia entendido e isso me deixava tão envergonhado, Laura também não estava levando a situação bem, seu rosto estava bem vermelho – E por que precisavam se arrumar? Por que demoraram a abrir a porta? Por que os dois estão desarrumados? Porque tudo está bagunçado? O que estavam fazendo? – eu não sabia como responder tantas perguntas indiscretas

– Filho, eu e seu pai estamos juntos ... como um casal, nós íamos contar a você e Cecília... – Laura falava de maneira calma, mas pelo seu aspecto, eu sabia que ela segurava o seu nervosismo – Nós somos casados, nos amamos, e quando é assim, gostamos de passar um tempo sozinhos ... namorando como adultos . A gente tava ... – ela ficava cada vez mais constrangida ao falar, Pedrinho parecia confuso e eu resolvi interceder.

– Laura, talvez seja melhor eu falar com ele sozinho. Ter uma conversa de homem pra homem. Nós dois somos homens não é Pedrinho?- ele fez que sim com a cabeça e Laura parecia aliviada, mas também indecisa.

– Você vai ficar bem com seu pai? Ele pode te explicar? – Laura perguntou

– Pode! – ele disse decidido

Laura colocou um penhoar em cima da camisola e saiu do quarto, mas percebi que ela não foi muito longe, ficou no corredor atenta ao que falaríamos, e de prontidão caso precisássemos dela:

– Senta aqui, filho – disse apontando um lugar na cama e me sentei ao lado.

Pedrinho se sentou, mas ainda me olhava receoso, e eu resolvi começar:

– Pedrinho, esse é um tipo de conversa que eu pensei que só teria com você quando estivesse mais velho. Mas você acabou escutando eu e sua mãe juntos, e sendo um menino tão esperto... Espero que entenda... algumas coisas do que falarei ainda estão acima da sua idade... Posso começar a falar? Quer mesmo saber o que acontecia entre eu e sua mãe?

– Quero, pode falar!- ele continuava decidido, eu não sabia direito o que dizer, mas era melhor falar a verdade.

– O que sua mãe tentava explicar, talvez você já tenha percebido, mas vai entender melhor quando ficar mais velho e se apaixonar, é que o amor entre um homem e uma mulher é diferente de outras formas de amor. Entendo que você ama a sua mãe, a sua irmã e elas te amam, eu também amo você, a Cecília, a minha mãe. Mas a maneira que amo a sua mãe é diferente, é como um homem ama uma mulher, e essa maneira de amar me dá vontade de ficar sozinho com ela, namorar, beijar.

– Edgar, eu sei... a maneira como dois namorados amam.

– Só que eu e sua mãe não somos só namorados... Nós somos casados, e além dos beijos e abraços nós podemos e fazemos outras coisas. E são coisas muito boas. Que nos deixa felizes. È uma forma física de mostrar o nosso amor. O que você escutou foi isso. Nós estávamos nos amando. È confuso, mas não é o som de sofrimento, era de uma sensação muito gostosa ... que nos faz nos brincar com o outro ... pode nos fazer gritar... gemer ... é algo que chamamos de prazer. O prazer que um homem e uma mulher compartilham quando se amam. Sua mãe estava feliz e eu também.

– E eu não podia ver?

– Não, isso é algo que se faz a dois. É algo pra compartilhar em particular. Você não gosta de tomar banho sozinho? Ou ir ao banheiro sozinho? Pois bem, eu e sua mãe, e outros casais, amamos sozinhos. Só compartilhamos com o outro. Não é errado o que fazemos, ainda mais que somos casados, mas é algo íntimo e seria estranho se outra pessoa visse. Você vai entender quando crescer...

– E quanto a precisar se arrumar?

– Ahh, Pedrinho é que nós acabamos fazendo bagunça com nossas roupas, na cama e no quarto também. Fala verdade... Às vezes, é divertido fazer uma bagunça, não?

– É... E por que você falou sobre ser casado? Só os casados fazem isso?

– Bem, pela convenção da nossa sociedade, só pessoas casadas devem fazer amor. É a entrega de dois corpos. É algo íntimo e importante. O casamento abençoa o nosso amor. Talvez o principal motivo seja que ... Não sei se sua mãe te disse de onde vêm os bebês, mas eles vêm do amor de um homem e uma mulher. Eles vêm desse amor físico que eu e sua mãe estávamos compartilhando... que é uma coisa muito bonita e muito boa, e por sermos casados foi abençoada por Deus e pela sociedade. Foi assim que eu e sua mãe geramos vocês dois, que colocamos uma semente dentro da barriga dela.

– E agora tem um bebê na barriga da minha mãe? – ele perguntou assustado

– Filho, vou te falar uma coisa, algo que talvez não devesse, como te disse eu amo a sua mãe, e fico com ela porque quero sentir o nosso amor, não só por um bebê. E nem sempre quando nos amamos fisicamente geramos um bebê. A biologia não é tão certeira quanto um movimento de xadrez, às vezes acontece, às vezes não. Se vier um bebê que é a benção, a recompensa do nosso amor, ficaremos muito felizes. Mas não posso te dizer se já tem um na barriga da sua mãe, pois também demora um tempo pra saber.

– Humm... – ele estava pensativo e depois voltou a perguntar – E como faz esse amor ...físico? Como é?- ele me deixou bem envergonhado com essa pergunta... isso eu não podia explicar.

– Você é muito novo, Pedrinho. Quando for mais velho, um rapaz mesmo, a gente pode conversar de novo. Mas ainda é muito cedo.

– É como os bichos? Já vi um cachorro em cima de uma cadela, um cavalo com uma égua... – eu o interrompi antes que ele enumerasse os bichos, não queria visualizar as cenas.

– Quem falou dessas coisas com você?

– Uns moleques na rua – eu devia imaginar... e tentei explicar melhor

– Não vou mentir e negar que o processo não é parecido. Na verdade, gerar outro ser tem uma ideia similar com todos os seres, animais ou homens. Mas os seres humanos são diferentes... Nós temos sentimentos... Sem contar que nosso corpo é diferente e podemos nos amar de outras formas. Pedrinho... nós temos carinho, um cuidado maior, somos capazes de nos abraçar, nos beijar, de conversar, nos declarar ... de delicadezas. Não quero que pense que eu e sua mãe... dentro do quarto ... agimos como animais... É diferente... Nós nos amamos. Entendeu?

– Um pouco, mas tem umas coisas que ainda não ....

– Filho, já tá bom, não? Vamos dar uma folga pro seu pai... – Laura apareceu nos interrompendo

Ele nos olhou juntos, e parecia que ia dizer alguma coisa, mas Laura voltou a falar:

– O fato de estar com seu pai... Não muda o meu amor por você e sua irmã ... Eu te amo, viu? Meu menino curioso... Você continua sendo o meu amor – ela se aproximou dele, o abraçou e o beijou – Agora vai brincar um pouco, ou tenta dormir... Ainda tá cedo, eu e seu pai precisamos conversar.

– Conversar? – ele nos olhou desconfiado, era algo como só conversar?

– Sim... conversar... – ele estava saindo e Laura voltou a falar – E não conta nada do que ouviu, viu ou conversou com a gente pra sua irmã. Ela ainda é só uma menininha... E seu pai e eu falaremos com ela.

– Tá bom... – ele saiu definitivamente

Nós nos olhamos e caímos na cama em meia a risadas. Tinha sido constrangedor, com alguns momentos de tensão, mas até que eu achava que tínhamos nos saído bem:

– Conseguimos... meu amor. Tirando o sufoco... até que foi engraçado, não?– falei aliviado

– Engraçado foi ... Mas você acabou dizendo mais do que devia a Pedrinho.

– Ele é um menino inteligente, e um bom interrogador... Não consegui me livrar... E era uma conversa entre homens. Você não devia escutar - brinquei

– Se eu não escutasse era capaz de você ensinar posições sexuais pra ele. Ele só tem 7 anos, Edgar...

– O que devia fazer quando ele veio com aquele papo sobre bichos? Quem sabe no futuro, eu já possa dar algumas dicas, hein? – ela me olhou brava e eu continuei - Mas até que podia contar que você gosta quando eu te beijo aqui –beijei a sua nuca – ou aqui – beijei o seu pescoço – Ou aqui! – beijei o seu colo e olhei bem em seus olhos, ela parecia gostar, mas acabou falando.

– Chega, Edgar. Que a porta tá aberta...

– Tá bom, meu amor –me aconcheguei a ela

– Vamos pensar em como vamos falar pra Cecília.

– Sabe que tô adorando isso? Nossos filhos sabendo... Nós poderemos namorar na frente deles ... eles verão como a gente se ama.... Como os pais se amam – eu a beijei

– Eu sei, meu amor. Mas vamos deixar o namoro pra depois e conversar? – ela falou após o beijo

Nós conversamos um pouco, e quando clareou nos levantamos. D. Maria havia trazido uma cesta com café da manhã, e Laura e eu arrumamos a mesa. Depois ficamos esperando as crianças. Pedrinho e Cecília não demoraram muito a aparecer. Tomamos o café da manhã, e após ele começamos uma conversa:

– Nós queríamos contar que eu e seu pai estamos juntos... Nós estamos ...

– Vocês estão namorando? – Cecília interrompeu Laura entusiasmada

– Sim, filha. Pode dizer que eu e sua mãe, de certa forma, somos namorados – falei pegando na mão de Laura, estava encantado com a reação da minha menina.

–Isso é supimpa! –ela continuava contente

– Eles não estão só namorando... Eles são casados, Cecília. E ...- Pedrinho falou

– Pedrinho, olha o que você vai falar pra sua irmã – Laura o interrompeu assustada.

– Eu só ia falar que você e o Edgar dormem no mesmo quarto, mãe – ele deu uma de desentendido e quando Laura se virou pra Cecília, ele sorriu, até parecia que falara aquilo pra brincar.

– É, meu amor... Seu pai e eu vamos dormir no mesmo quarto – Laura continuou

– Não vai ser mais o quarto dos meninos e das meninas. Vai ser o quarto dos adultos e das crianças. – eu disse isso com muita satisfação

Depois resolvemos passear pelas dependências da fazenda. Vimos um monte de animais, como cabras, bois, cavalos, porcos e galinhas. Cecília era a que mais se encantava com os bichos. Queria pegar, fazer carinho. Mas Pedrinho também parecia muito interessado... ele gostava de observá-los, e fazia perguntas aos empregados da fazenda sobre o modo de vida deles, quanto demoravam pra crescer, o tempo que viviam e etc.

Tanto Pedrinho quanto Cecília ficaram bem animados quanto o tratador propôs uma volta a cavalo. Mas eu e Laura já tínhamos falado em ir até uma cachoeira com as crianças e as convencemos a deixar o passeio a cavalo pro dia seguinte.

À tarde, nós pegamos a trilha pra cachoeira. Eu e Laura podíamos andar de mãos dadas, nos abraçar, e em certos momentos até deixávamos as crianças ir a nossa frente pra trocarmos umas carícias mais ardentes.

Num desses momentos, aproveitando uma curva, onde só escutávamos os passos e vozes de Pedrinho e Cecília adiante, começamos a nos beijar com mais fervor, mas acabamos escutando:

– Mãe! Edgar! –era Pedrinho, e nós paramos um pouco.

– Deixa a mamãe e o papai namorarem, Pedrinho- Cecília parecia dar uma bronca nele.

Laura e eu não conseguimos nos conter, e rimos muito. Trocamos mais beijos e depois continuamos a nossa caminhada.

Ao chegarmos à linda e caudalosa cachoeira, estávamos todos suados e nos jogamos na água. Laura e eu brincamos um pouco com as crianças e dessa vez foi até um pouco mais prazeroso. Já que podíamos trocar carícias na frente delas e até brincar de uma maneira mais íntima.

Voltamos a casa. Após o jantar e o banho, colocamos as crianças pra dormir, e nem foi demorado já que elas estavam cansadas pela agitação do dia. Eu e Laura acabamos indo pro outro quarto trocando beijos, agarrões, rindo e conversando:

– Será que as crianças dormiram mesmo? – Laura perguntou em meio a um beijo

– Se quiser, eu posso voltar pra verificar – falei e fiz menção de ir apesar de não querer voltar realmente.

–Não precisa... – ele me segurou- Estão dormindo... Se bem... que depois do que aconteceu hoje, é melhor tomarmos mais cuidado, sermos mais comportados – ela disse se afastando

– Você tá querendo dizer que a gente não vai... – falei desassossegado

– Claro que vamos – ela sorriu insinuante, o que me aliviou – É só maneirarmos um pouquinho no barulho.

Nos beijamos com fervor, fomos pro quarto e nos amamos como se tivéssemos em chamas, ou melhor nós estávamos em chamas. A verdade é que apesar de Laura ter falado, nós não conseguimos maneirar no barulho. A nossa sorte é que as crianças tinham um sono pesado.

Após nos amarmos, começamos a conversar:

– Sabe... Pode não ter acontecido da maneira ideal, mas foi ótimo Pedrinho ter nos descoberto... – ela me olhou contrariada e eu continuei- Foi maravilhoso passar o dia te namorando, podendo te abraçar e beijar com as crianças a nossa volta.

– Edgar... mesmo se Pedrinho não tivesse descoberto... Eu pretendia contar antes de voltarmos...

– Verdade? – estava surpreso, me afastei um pouco dela e a olhei bem.

– Verdade – ela confirmou me abraçando

– Quando estávamos na cidade você não parecia muito disposta a contar ... tão logo.

– Mas depois que você veio, eu comecei a pensar diferente.

– Posso saber o que mudou sua opinião, Senhora Laura Vieira? – perguntei com um pouco de graça

– É que ... de certa forma, você passou num teste, que nem mesmo eu sabia que tinha preparado. - a olhei intrigado e ela continuou - Você veio com a gente... E eu percebi que as coisas mudaram de verdade... Edgar, sempre soube que você nos amava, e que era capaz de atitudes admiráveis pela gente. Só que no passado, quando havia um choque de interesses, você sempre optava pela Melissa. Eu entendo as suas razões, por ela ser frágil, pela mãe que tem. Mas às vezes, eu sentia que éramos menos importante do que ela. Pois você sempre a escolhia. Anos atrás...Na noite em que me despedi de você... Você foi embora com ela e aquela mulher, mesmo tendo uma confusão entre a gente, mesmo depois de nos amarmos ... comigo sofrendo. Mas dessa vez, você continuava preocupado com ela, e mesmo assim veio com a gente, você mostrou que nós também somos importantes pra você. Você sanou as minha dúvidas... Espero que não tenha se aborrecido ... - Laura falou emocionada, e eu sabia que suas palavras vinham do coração, ouvi-las não era tão agradável pra mim, já que de certa forma, eu encarava o sofrimento que tinha lhe infligido, dúvidas minhas e decisões que tinha tomado, mas eu não queria nem podia brigar por seu desabafo.

– Meu amor... Eu não estou aborrecido... Na verdade, foi ótimo escutar isso. É bom saber que estou ganhando a sua confiança. Sanando as suas dúvidas... Vocês e as crianças são muito importantes pra mim. Eu não consigo viver sem vocês. Tudo que quero é viver em paz com você e nossos filhos. Tudo o que quero é estar perto de vocês em todos os momentos – a beijei com ternura

– Nós estamos cada vez mais próximos disso, meu amor- ela falou depois do beijo e me beijou novamente.

O dia começara de maneira, pra dizer pouco, estranha. Mas realmente acabara sendo fenomenal. Eu estava tão feliz, com as esperanças renovadas, sentindo cada vez mais próximo de Laura e dos nossos filhos. Sentindo que todos estavam contentes... Era o meu sonho, o nosso sonho se realizando. Eu estava cada vez mais próximo de alcançá-lo de maneira definitiva, de segurá-lo firme em minhas mãos, o sonho da nossa família feliz e unida.


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Notas finais do capítulo

Então gostaram? Foi um tempo bom... Um tempo de paz, né? Espero que tenham gostado? E as perguntas de Pedrinho? As resposta de Edgar? E a situação vivida?
Espero que tenham gostado e que comentem muito para me empolgar a escrever o próximo, o comentário de vocês tem esse poder.